2006
JUNHO
DÉCIMO TERCEIRO DIA
Viernes, 30.
Pontualmente às 6h da manhã chegamos a Havana. Tomamos um táxi até o Hotel Riviera, o melhor de todos até agora, felizmente o último. Dormimos até meio-dia. Acordamos, fomos até o Jazz Café almoçar, boa comida e barata. Voltamos pro hotel e caímos na piscina. Não sem antes ver a cobrança de pênaltis que eliminou a Argentina frente à Alemanha. Fiquei feliz, mas também, inexplicavelmente, um pouquinho triste.
Quase quatro horas depois de sol e piscina (e algumas páginas mais de Saramago), voltamos ao apartamento, banhamo-nos, trocamo-nos e fomos jantar. A comida também estava muito boa (e já inclusa na diária, o que a tornou melhor ainda).
Agora Kana dorme e acabo esse relato. Daqui a meia hora saímos de novo pro Jazz Café, pra vermos o último show da temporada cubana.
Vejam que a felicidade não dá bons capítulos.
Amanhã é nosso ultimo dia em Cuba.
***
Sinto, sinceramente, uma pontinha de inveja das pessoas que riem por nada. É um sintoma de felicidade extrema do qual nunca fui vitimado. Essa noite, tive o privilégio de ter, a dois passos de meus sensíveis tímpanos, uma dessas pessoas. Esse camarada ria tanto, mas tanto, que cheguei a pensar que estava vendo outro show. Mas, recapitulemos.
A noite estava quente, porém agradável. O Jazz Café fica a três minutos de caminhada do hotel onde estamos. Chegamos lá às 23h30. A entrada custava 10 pesos por pessoa, porém consumíveis, uma ótima ideia, pois dificilmente consumiríamos mais que isso em duas pessoas.
O show (de jazz) começou lá pela meia-noite. Não há muito o que falar, além do fato de a casa estar cheia de turistas, em sua maioria, alguns acompanhados por cubanos…
…Esqueci de dizer que, subindo a rampa que dava no Jazz Café, encontramos umas seis ou sete garotas sentadas, esperando companhia pra subir…
O show. Um amigo brasileiro, músico, que mora na Europa, resumiu, sem querer, o que vi hoje. Disse ele que um músico europeu, quando toca música brasileira, quer dar o máximo de si o tempo todo, não deixando espaço pras nuances que a música pede. Foi isso o que vimos. Músicos ótimos, vigorosos, porém excessivos. Kana, no entanto, intercedeu por eles. Disse que talvez fosse uma estratégia da casa. Se é, é furada, pois, pelo menos hoje, antes do final do show, uma grande parte da plateia já se havia retirado. Parecia um show de rock e não de jazz. Todo mundo sentando a mão, até o fim. E o líder, um saxofonista, fazia o camarada atrás de mim balançar as estruturas de tanto rir, o que atrapalhava mais ainda o show.
Num momento pensei que aquela música, praquele tipo de turista, era um brado de desespero. Pra detalhar, cito uma frase bem humorada do saxofonista. Ao apresentar todos da banda, chegando a vez do percussionista, disse que “este é um cidadão da República Democrática de Guantánamo”…
Findo o show, pedimos a conta. Ainda tínhamos $ 4,30 pra consumir. Pedimos três Bucaneros e voltamos ao hotel. Kana lembrou que era a última noite e deu a ideia de que descêssemos e olhássemos o mar. Que estava lindo. Não há praia, há apenas o mar em seu vigor, algumas rochas grandes, pescadores madrugadores e uma série de jovens sem dinheiro, bebendo e dançando ao relento, aproveitando a noite de sexta pra sábado.
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