segunda-feira, 28 de março de 2011

Crônicas Desclassificadas: 12) O mar mais silencioso daquele verão

Fulano de tal saiu de casa animado pra ver um filme japonês que estava passando numa dessas mostras que sempre há em São Paulo. No metrô se deu conta de que estava atrasado, o que nele era um comportamento normal, dado o seu grau de relaxamento.

Ao descer no metrô São Bento reparou que a saída mais próxima estava fechada, por ser fim de semana. Teve que caminhar durante preciosos minutos até chegar à rua. Olhou o relógio e só então a ficha caiu. Faltavam cinco minutos pro início da sessão. E o pior: como era uma sessão gratuita, havia o risco de os ingressos estarem esgotados. Uma gota solitária de suor brilhou em sua fronte. Foi aí que pôs à prova seu condicionamento físico, que foi reprovado após um longo minuto de carreira descompassada. Àquela brilhante gota se juntaram outras e em uma fração de segundos já se encontrava com a camisa encharcada.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Crônicas Classificadas: 12) Menino a Bico de Pena

Faz mais ou menos um milhão de anos meu amigo Sérgio-Veleiro me deu de presente o livro de contos Felicidade Clandestina, de Clarice Lispector. Ele queria que eu lesse sobretudo os dois primeiros contos, o homônimo Felicidade Clandestina e Uma Amizade Sincera. Pois bem, li-os. E gostei. Mas estava em meio a leituras outras, de modo que fui adiando e adiando e adiando a leitura desse livro a ponto mesmo de esquecê-lo.

sábado, 19 de março de 2011

Crônicas Desclassificadas: 11) Assento preferencial

Ela era linda! E estava ali, toda sorridente (um sorriso encantador, diga-se de passagem), falando comigo, me dando a maior bola! Sinceramente, eu não sabia o que ela tinha visto em mim, eu, um quatro-olho que de bonito não tinha nada. E o melhor era que eu não precisava nem falar, bastava escutar, porque ela tinha papo por nós dois. E como falava! Sobre tudo! A mina tinha a maior vivência, conhecia metade do mundo, todo fim de ano viajava com os pais pra algum país diferente. E eu ficava pensando, se ela soubesse que o mais longe aonde eu já tinha ido era o litoral sul...

sexta-feira, 18 de março de 2011

Ninguém me Conhece: 42) Às voltas com o mundo de Vicente Barreto

Por ter amigos que pertencem (ou pertenceram) ao catálogo da Dabliú Discos, acabei entrando em contato com a obra do compositor baiano Vicente Barreto que fora lançada por este selo, na época dois CDs, Ano Bom e Mão Direita. Foi amor à primeira ouvida. De lá pra cá procurei acompanhar de perto suas novidades discográficas, e, a cada novo trabalho, era um novo deslumbramento. Sou admirador do trabalho de muitos compositores, mas poucos destes atingiram o nível de Vicente, a quem, sem medo de incorrer no exagero, considero um gênio.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Crônicas Desclassificadas: 10) Submerso

Tive um pesadelo tão real (e surreal) na madrugada de hoje, que ainda no metrô, indo trabalhar, comecei a anotá-lo, pra não esquecer. Chegando ao trabalho, avisaram-me a respeito do tsunami que devastou parte do Japão e no mesmo instante comecei a tremer dos pés à cabeça, dada a coincidência do elemento do pesadelo com a tragédia nipônica. Com um agravante: pra quem não sabe, minha esposa é japonesa, e tenho sogros e cunhada vivendo em Chiba e Tóquio, respectivamente. Graças a Deus estão todos bem, embora estejam sem água e gás canalizado. Mas estão vivos, e é o que importa.

quarta-feira, 9 de março de 2011

Ninguém me Conhece: 41) Madan, raridade

Já comentei aqui várias vezes a respeito daquela reunião no apartamento em que vivia Élio Camalle, quando estive de penetra numa reunião de artistas da Dabliú Discos e conheci, entre outros, Kléber AlbuquerqueMárcia SalomonFernando Forni (Daisy Cordeiro também estava, mas eu já a conhecia)... Pois bem, entre eles estava também Madan, compositor que se dedica à difícil arte de musicar poemas. A primeira impressão que tive dele foi de que era um camarada altivo. Alto, elegante, cabelos longos e barba por fazer à la Mickey Rourke, não era exatamente bonito, mas transpirava charme, classe. Simpatizei com ele na hora, embora tenha notado que a recíproca não foi verdadeira.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Ninguém me Conhece: 40) Los mares de Marcela Viciano


Não sei exatamente o que foi que me levou a visitar sua página no myspace. Talvez tenha sido seu sugestivo nome, ou simplesmente a sorte. Só sei que, quando me deparei com uma gravação "tangueada" de As Rosas Não Falam, fui arrebatado. Além do ritmo, seu sotaque denunciava: era a moça argentina! Havia outras gravações de sucessos brasucas ali, dava pra notar que se tratava de uma apaixonada por música brasileira (Tempos depois, quando tive o privilégio de ganhar seu Mar de adentro, vi que se tratava de um CD da mais alta qualidade, com arranjos primorosos e fino repertório brasileiro. Contudo, a canção de que mais gostei era uma de autoria da própria, em espanhol, Creció el anhelo). Como eu, por coincidência, havia feito uma versão em espanhol justamente dessa música de Cartola, tomei a liberdade de enviar-lhe um convite e, caso ela aceitasse, mostrar-lhe a versão. Ah, o nome da moça: Marcela Viciano.

terça-feira, 1 de março de 2011

Ninguém me Conhece: 39) A utopia de um certo Pe. Zezinho

Resolvi escrever este texto por motivos afetivos. Quando era criança, costumava passar as férias escolares na casa de meus avós. Lá, passava os dias inteiros jogando futebol num campinho de terra e, quando chovia, ou quando anoitecia, jogava damas com os garotos da rua. Só descuidava dessas importantes atividades nas horas de refeição e… oração. Minha avó era uma católica fervorosa, quando não estava ocupada com os afazeres domésticos estava rezando. Inclusive, visitava doentes e rezava com eles e pra eles. Quando eu ia pra sua casa, sabia que ia pôr em dia minha carga de orações. Eu, moleque, louco pra brincar, achava chato para caramba ter que rezar o terço, depois o anjo da guarda, depois a ladainha, depois o credo, depois a salve rainha, depois a novena de não sei quem, depois mais isso, depois mais aquilo… Enfim, me parecia um castigo, muito pagamento pra pouco pecado (mas deve ter servido pros pecados futuros). Porém, se era o preço, então eu pagava, pois teria o resto do dia livre pra brincar.