segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Os Manos e as Minas: 30) O Jekyll e o Hyde de Jerry Lewis

Dizem por aí que a arte em si é inútil, não serve pra absolutamente nada! Não mata a fome; não aquece no frio; não refresca no calor; não leva a gente pra nenhum lugar; não nos acolhe quando temos sono; não nos possibilita comprar algo de que necessitamos; enfim, não passa de lero-lero, enrolation, coisa de vagabundo cumunixta que se escora na Lei Rouanet. Possa ser, mas aí eu paro, penso e reflito: como é poderoso esse Raulzito... Brincadeira; eu penso que, se isso é verdade, eu sou um inútil profissional, porque algumas das coisas que me são mais importantes na vida vêm da arte. Acho que se me tirassem, entre outras coisas, a literatura, a música e o cinema, eu enlouqueceria (se é que já não estou louco e não percebi).

quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Canções que Amo: 6) Agepê + Canário; Luiz Gonzaga + José Clementino; e Roberto Carlos + Erasmo Carlos


Esta coluna andava um tanto enferrujada, então a polêmica a respeito da nova canção de Chico Buarque me motivou a buscar na memória algumas canções que fizeram parte de minha vida e que, ouvidas hoje, fora do contexto, podiam ser igualmente criticadas. Antes de continuar, gostaria de acrescentar que uma canção — assim como um filme, um livro ou qualquer outra coisa a respeito do que tratemos — deve ser analisada levando em consideração o período em que foi feita. Uma criação costuma estar impregnada dos conceitos de sua época, seja em concordância, seja em tom de crítica, ou seja ainda simplesmente como um exemplo dos costumes daquele período. Pensando nisso, trouxe estas três, que, em outro momento de minha vida, já me deixaram rouco de tanto que eu me esgoelava desafinadamente tentando acompanhá-las a plenos pulmões durante seu girar em velhos vinis.

quarta-feira, 9 de agosto de 2017

A Palavra É: 28) Ovo

Que me perdoem os amigos coxinhas, mas eu, particularmente, desprezo o prefeito João Doria e, mais que a ele, tudo o que ele representa. Esse papinho migué de gestor, de estado mínimo, essa vontade feladaputa de vender tudo o que é nosso à "iniciativa" privada, como se todo ladrão fosse socialista (e eu, vocês e o Aecinho sabemos muito bem que isso não é verdade), essa lorota de abrir mão do salário e, sobretudo, esse marquetingue de se vestir de gari e varrer uma ruazinha durante o tempo que leva pra sair bem na foto... Sorry, people... Nada disso me convence.

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Eu Não Vi, Mas Me Contaram...: 9) O enterro de Cinto-Muito

Naquele tempo, macho, o negoço era diferente, num era que nem hoje em dia, não. Por isso é que hoje o mundo tá perdido; se um pai levanta a mão prum fi, vai inté preso. É mais fácil um fi batê no pai. No meu tempo, arre-maria! Qualqué coisinha, o coro cumia. E ai de quem chorasse. Mãe dizia, "Ingole, o choro, muleque!", e nóis tinha que se aquietá, porque, se abrisse o berrêro, aí é que ela dava a lapada com gosto chega zuava. E num é dizê que era porque nóis era malino, não; se um fazia uma coisa errada e o ôtro tava perto, apanhava os dois, que era pro inucente sirvi de inzemplo pros ôtro.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

A Palavra É: 27) Melodia

No princípio, tudo era breu, e eis que do breu se fez a luz (Luiz?). Naturalmente, nesse mesmo princípio tudo era silêncio. Um deus tirano e surdo não permitia o som. Até que uns anjos conspiradores começaram a se reunir em horas mortas em tavernas nas quebradas da periferia celestial pra beber vinho e conchavar contra o despotismo do silêncio. Eles não tinham ainda o domínio da palavra, e tudo eram sussurros, cochichos, grunhidos. Com o tempo, foram aperfeiçoando a técnica, até que um dia, reza a lenda, durante uma dessas bebedeiras, uma garrafa caiu no pé de um dos conspiradores, e este, com lágrimas nos olhos, soltou um dó maior.

terça-feira, 1 de agosto de 2017

Crônicas Desclassificadas: 188) O velho Chico e nossas(?) cantigas

Minha amiga Marina Tavares escreveu recentemente um texto sobre a nova canção de Chico Buarque (o melhor que li até agora — leia aqui) que me encheu de terror e admiração. Explico: 1) Terror: pensei, quem ela acha que é pra "problematizar" uma canção (no caso, uma letra; a melodia é do maravilhoso Cristóvão Bastos) de nosso ídolo maior, que, além do mais, já anda tomando tanta porrada gratuita dos coxas sem noção? 2) Admiração: e por que não? Gal Costa disse certa vez numa entrevista a Jô Soares, cheia de empáfia (digo isso com dor no coração e também com a ousadia de quem sabe que jamais será gravado por ela), que a geração dela é imbatível. Pra mim, ela foi de uma infelicidade ímpar e prestou um desserviço aos compositores que pertencemos a uma geração posterior à sua.