Que me perdoem os amigos coxinhas, mas eu, particularmente, desprezo o prefeito João Doria e, mais que a ele, tudo o que ele representa. Esse papinho migué de gestor, de estado mínimo, essa vontade feladaputa de vender tudo o que é nosso à "iniciativa" privada, como se todo ladrão fosse socialista (e eu, vocês e o Aecinho sabemos muito bem que isso não é verdade), essa lorota de abrir mão do salário e, sobretudo, esse marquetingue de se vestir de gari e varrer uma ruazinha durante o tempo que leva pra sair bem na foto... Sorry, people... Nada disso me convence.
Contudo, enquanto ele está ali, humilde, como prefeito de uma cidade, ainda que essa cidade seja uma das maiores metrópoles do mundo, tudo bem (menos pra nós que moramos aqui). O pobrema é quando ele deixa transparecer, do alto de sua indissimulável ganância, seu "projeto de poder"... Ué? Projeto de poder não é coisa de esquerda? — perguntarão alguns. Não, caro inocente útil! O projeto de poder maior quem tem são os capitalistas, aqueles que acham que todo pobre tem mais é que beijar a mão do patrão por lhe dar o privilégio de fazer parte do quadro.
Só que, nesse quadro, meu querido pobre, você é, no máximo, figura periférica. Mas voltemos a Doria, esse mesmo que não só comprou votos da massa "comprável" tucana pra furar a fila (o pobre do Andrea Matarazzo que o diga), como também pagou do próprio bolso (ou melhor, da grana de suas empresas que ninguém sabe ao certo o que produzem) os gastos da campanha prefeital e, pior, hoje, em agosto de 2017, morde a mão do padrinho Alckmin (que igualmente venderia a mãe pra ser o candidato tucano à presidência em 2018) e o imita, no intuito de, mais uma vez, furar a fila (se continuar assim, em 2020 vai se candidatar a papa).
Ah, desculpem! Não vim aqui falar de dorianas e alckmistas; vim falar de ovo. Bom, pra resumir, tenho uma intimidade grande com ovo, pois, durante um período em que eu (então adolescente) e meu pai nos vimos desempregados em pleno meio do pagamento das parcelas da compra de um terreno, decidimo-nos a erguer ali nós mesmos uma morada, que seria nossa futura residência (a primeira, e tão sonhada, casa própria). Pois bem, nesse tempo de vacas magras e de aperto de cinto, tivemos como base de nossa alimentação o ovo. Ele sempre estava presente, fosse no café da manhã, no almoço ou na janta — não raro mais de uma vez ao dia.
Portanto, é como doutor em ovística que venho tratar do ovo, essa questão tão delicada de nossos dias e que tem, mais uma vez, dividido opiniões. Hoje, o país está dividido de n-ovo, desta feita entre os pró-ovo e os contraovo. Não preciso dizer que me enfileiro entre os primeiros. No entanto, vejo-me obrigado a citar aqui comentário facebuquístico de um querido amigo que se posiciona, ao contrário de muá, entre os segundos. Escreveu ele: "Aconselho a todos meterem nos bolsos e bolsas três ou quatro ovos ao saírem de casa; ao menor sinal de não concordância, arremessem sem dó. Se os ovos acabarem, recorram às pedras. Se não as acharem por perto, usem o revólver."
Tive que concordar com ele, que foi sarcá(u)stico, mas acertou na mosca (não confundir com a doriana testa). A base das revoluções consiste em ter a arma certa na hora certa. Na dificuldade de ter à mão ovos, sempre teremos as pedras; e, em não as tendo, se tivermos armas, provavelmente nossa raiva explodirá em matança. Injustificável, mas facilmente compreensível. Temos notado atualmente que políticos que votaram a favor do indefensável Temer andam tomando cacetada nos aeroportos. Eu daria? Não, mas entendo a raiva de quem dá. Quem demorou décadas pra conseguir direitos e os vê perdidos por uma corja de ladrões e na sequência quer fazer justiça com as próprias mãos tem meu respeito.
Se a cambada de fdp não respeita nada nem ninguém, que ao menos pense duas vezes ao sair de casa, seja por temer (sic) ovos, pedras ou, pior, revólveres. Mas, além do ovo, há aqueles que não aprovo; os que saem de casa escoltados por cachorros bravos; as coisas com as quais não me comovo; aquelas que eu desaprovo; o sorriso dos dentes (feios) que escovo; o mel e seu favo; o mal perene e gradativo; o ovo em espanhol, es decir, huevo; o que inovo; o que é justificativo; os irmãos de Kosovo (e os Karamazov); as mãos que eu lavo; o que, quando me mexo, movo; a gema do novo; ... parágrafo novo?
... o ululante óbvio; o (sempre) esquecido povo; a desculpa do fator qualitativo; os trastes que não removo; esses mesmos fdp que por covardia não sovo; a emoção que me invade quando travo; o uvo (marido não reconhecido da uva); o viúvo; o que, quando me emociono, xovo (do verbo xover); os que não se preocupam cos zovos; e, principalmente, e sobretudo, os que sabem que — da mesma maneira que o cuspe, sobre o qual já tratei aqui — os ovos, assim como os tomates e (se pensarmos numa galera mais mal-educada) os sacos de xixi, são armas dos que, como eu e vocês, temos levado nas fuças diariamente coisa muito pior que um nobre ovo.
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PS1: Desta vez, quem escolheu a palavra foram os baianos, que, sim, me representam.
PS2: Trilha sonora: Arnaldo Antunes, Cultura (Arnaldo Antunes)
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"Teje" marcada, Silvia! rs
ResponderExcluirBeijos,
Léo.
Puta texto mesmo! A d o r e i !!!
ResponderExcluirBeijos pra ti e Kana.
Valeu, Soninha! Outro em você!
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