segunda-feira, 20 de maio de 2019

Crônicas Desclassificadas: 194) A química acaba

por Francisco Daniel
A química acaba. Assim como o amor. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, de repente do nada você percebe que a faísca que sempre esteve prestes a virar fogueira hoje não passa mais de cinzas, brasa não adormecida, mas restos mortais do último incêndio. E dá uma tristeza danada, porque a gente se põe a pensar naqueles tempos até nem tão longínquos assim quando tudo gerava fogo. É quase um sentimento de morte em vida, um envelhecimento precoce, um vazio que provoca um gosto amargo na garganta, ali mesmo por onde escorria o melhor dos vinhos. E dá-lhe procurar explicações, buscar culpados onde não há culpas. A coisa é assim, um dia está e no outro já não; um dia existe, no outro há apenas o grande Nada — teria ido parar num buraco negro interior?

quinta-feira, 2 de maio de 2019

Esquerda, Volver: 24) Lula Livre — muito mais que um samba

por Malu Freire
Um ano e pouco depois de sua prisão, que tal falarmos um bucadim sobre Lula? E, notem, nem me refiro a sua pessoa física, ao dono de um CPF e de um RG, mas sim a essa entidade que seu nome se tornou com o decorrer das décadas, desde os já longínquos anos 1970. Lula hoje no Brasil é sinônimo de salvador da pátria, adjetivo que carrega em si muito preconceito. Muita gente — entre a qual diversos intelectuais — espinafra essa alcunha. Tenho ouvido e lido bastante contra os salvadores da pátria. O próprio Ciro Gomes em sua campanha ano passado batia repetidas vezes nessa tecla: "Chega de salvadores da pátria!" Foram tantos, e tantas vezes, que eu mesmo cheguei a pôr em xeque a importância desses sujeitos. Até que repensei. Parágrafo novo.