quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Os Manos e as Minas: 25) Dylan – the answer is blowin' in the wind!

Meu caríssimo editor Marcelo Nocelli (cuja editora Reformatório acaba de ter o romance A imensidão íntima dos carneiros – de Marcelo Maluf – laureado no Prêmio São Paulo de Literatura) iniciou no facebook interessante discussão sobre a escolha de Bob Dylan como ganhador do Nobel de Literatura deste ano. Segundo ele, apesar de reconhecer a genialidade de Dylan e achar que o artista merece todos os prêmios possíveis – em se tratando de música, of course –, preferia ver um escritor – na verdadeira acepção da palavra – receber o prêmio, principalmente nestes tempos modernos em que, "cada vez mais, ser apenas escritor é cada vez menos" – frase lapidar, diga-se. Finaliza parabenizando Dylan, que "merece tudo o que conquistou" e afirmando que "prêmios são sempre discutíveis; esse também é um intento das premiações".

Entendo o ponto de vista de Marcelo, que, além de editor, é também escritor, e concordo que prêmios são sempre discutíveis, sejam literários, musicais, cinematográficos, teatrais... Pois sempre obras diferentes serão avaliadas por jurados diferentes, e sob o critério de seus gostos pessoais. Aliás, acredito também que as premiações costumam ter uma intenção política que por vezes supera a qualidade da obra avaliada. Dou um exemplo: há muitos festivais de música espalhados pelo Brasil, e muitos deles têm a ambição de lançar futuros ídolos, então, com esse intuito, por vezes ignoram canções até mais bonitas, mas de compositores mais velhos e já sem muita expectativa de projeção, e optam por premiar jovens talentos que têm mais chances de ser absorvidos (engolidos?) pelo Mercado.

Voltando a Dylan e a seu Nobel, é fácil enxergar o caráter político da premiação. O astro estadunidense agrega ao prêmio – que por vezes é visto como demasiadamente austero – uma aura pop, descolada, viçosa. Assim, ganha Dylan, que tem sua obra poético-musical elevada à categoria de literatura, mas também ganha o Nobel, que passa a ser visto como um prêmio mais abrangente, menos preso a critérios rígidos e reducionistas, e, de quebra, tem em Dylan uma propaganda ambulante, e gratuita, dentro do universo do show biz. Como veem, os interesses são perfeitamente plausíveis, ainda mais se levarmos em consideração que a premiação é sempre pelo conjunto da obra, assim qualquer que seja o escolhido não será um perfeito desconhecido, pois deve ser alguém cuja relevância literária já tenha sido evidenciada pelos experts do ramo.

Eu, particularmente – e políticas à parte –, como transito tanto pelos caminhos literários quanto pelos musicais, vi com bons olhos a premiação, e ainda mais porque, se não encerra uma sempre infrutífera discussão, pelo menos a dilui. Explico: desde que comecei minha trajetória como letrista de música popular (e, pensando bem, mesmo antes disso), ouço os mais variados "formadores de opinião" – desde renomados críticos até filósofos de boteco – compararem os letristas de música popular com os poetas sempre com detrimento dos primeiros. Segundo esses nobres cidadãos, a letra de música é – e sempre foi – inferior à poesia, que possui um caráter mais nobre. É como se um poeta tivesse sangue azul ao passo que um letrista seria um fazedor de versos vassalo de algum melodista.

O grande Vinicius de Moraes, lá se vão várias décadas, se não foi o primeiro brasileiro que se atreveu a descer de seu panteão de poeta e se imiscuir entre os plebeus compositores, ao menos foi o que o fez com mais convicção, tanto que se tornou reincidente no ato durante as décadas seguintes, quando praticamente deixou a poesia de lado pra se dedicar exclusivamente à letra de música. Vinicius foi o responsável por que os holofotes que costumavam iluminar os poetas passassem a lançar também suas luzes na direção dos primos pobres, os letristas. Porém, ainda ontem (antes do Nobel de Dylan) éramos vistos como autores de uma arte menor, e tanto é verdade, que sempre preferi me apresentar como compositor e não simplesmente letrista.

No Brasil, não existe uma palavra que é muito popular em outras línguas latinas, como a espanhola e a italiana: o cantautor/cantautore, que seria o sujeito que canta e compõe canções, mas, mais que isso, escreve letras. Até porque o letrista não é considerado compositor, mas sim autor, daí o cantautor (cantor e autor). Sobretudo agora, depois do prêmio de Dylan, creio que devíamos adotar essa palavra. Afinal, se já adotamos tantas outras piores – e por vezes utilizadas de forma equivocada –, essa viria bem a calhar. E temos muitos belos cantautores por estas plagas. Chico Buarque, por exemplo, se compusesse em inglês seguramente teria alcançado uma fama mundial equivalente à que alcançou Dylan. Como o espanhol Joaquín Sabina, o italiano Lucio Dalla, o argentino Charly García, o... a lista é longa.

E, já que Dylan abriu a porteira, podíamos considerar como seu número dois o canadense Leonard Cohen – e aqui volto à política: Dylan é genial? É. Cohen também é? É, mas... Dylan nasceu na terra do Tio Sam... Pra bom entendedor... Agora, ironias à parte, o que Dylan fez pela arte em seu país – e, consequentemente, no mundo – foi algo conseguido por poucos. Se traçarmos um paralelo com o Brasil, talvez Caetano Veloso esteja mais perto de Dylan que Chico Buarque, pois Dylan sempre foi um sujeito inquieto, que entrou em movimentos pra abandoná-los em seguida, com a coragem dos que não se pautam pelo que espera a grande mídia ou, pior, os fãs. E Caetano foi meio assim no Brasil – Chico sempre permaneceu fiel a seus princípios –, mas flertando com a indústria de um modo que lhe favorecesse profissionalmente, ao passo que Dylan mandava uma banana a tudo e a todos – e não pretendo entrar aqui no mérito artístico; que fique claro.

Portanto, pra finalizar, quero dizer que, dentro do entendimento do que mencionei acima ser a "política" das escolhas, considero um acerto o Nobel de Literatura ir parar nas mãos de Bob Dylan. Pensemos: adoro o Japão e sua literatura, mas faltou pouco pra que o prêmio fosse parar nas mãos de Haruki Murakami, que pode ser visto como uma espécie de Paulo Coelho japonês... ou seja, um escritor que é tudo... menos japonês! E, pra puxar a sardinha pra meu lado, quero dizer que ano passado desenvolvi um projeto, juntamente com meu mano Sander Mecca, de versões de Dylan (entrei com as versões, Sander com a voz). Ou seja, muito antes de que o nome dele fosse sequer citado pra tão inusual prêmio. Não, não tenho bola de cristal, mas vez por outra o universo conspira a favor dos que não mudam de direção ao sabor do vento.

E que conste dos autos que doravante fica proibido considerar que um letrista é um profissional inferior ao poeta. Até porque, convenhamos, assim como há bons e maus letristas, há bons e maus poetas, mas algo faz a diferença: os maus letristas, em sua maioria, são humildes (ou fingem ser)... já os maus poetas são intragáveis! Ergo um brinde a Dylan, aos cantautores em geral e aos letristas em particular! Não sou eu quem sopra as respostas, the answer is blowin' in the wind!


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Presentinho:




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8 comentários:

  1. É isso. A humanidade já deveria ter sacado há tempos que letras de música são tão ricas quanto poemas. Ainda que sejam coisas diferentes, pois têm propósitos diferentes (ou nem tanto assim), sua importância deveria ser a mesma. Eu cansei de estudar, nas gramáticas de português, letras de música. Muitas canções brasileiras, inclusive, eu conheci assim: nas gramáticas. Música pode ser entretenimento, mas não pode ser apenas entretenimento. Aliás, ocorre o mesmo na literatura, correto? ;-)
    Beijos, queridão!

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    1. Dannoca, ia acrescentar algo, mas, conforme fui lendo seu comentário, o que eu queria dizer já tava embutido nele, de modo que só me sobrou dizer que corroboro. E, claro, a boa literatura não deixa de ser também entretenimento, né?

      Beijos, queridona,
      Léo.

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  2. Grande Léo. Como sempre, você traz para O X do Poema as melhores discussões culturais. Parabéns.

    Acho a escolha da Academia Sueca realmente discutível — quero dizer: merece discussão. Alegra-me ver homenageado o talento de Bob Dylan, artista inegavelmente genial. Mas não deixo de considerar os argumentos contra. Alguns debatedores, como Anna North, editorialista do New York Times, respeitam Dylan e o Comitê do Nobel, mas acham que conceder o prêmio a um músico significa deixar de lado um escritor. Há também quem considere que, se o prêmio é para incentivar a leitura — ou seja, uma láurea que se refere a livros —, destacar um músico não contribui em nada para esse objetivo. Já vi também argumentos mais desafiadores dizendo que, em sentido contrário, um romancista ou poeta jamais ganharia um Grammy ou entraria para o Rock and Roll Hall of Fame. Enfim, são argumentos decentes, que não podem simplesmente ser postos de lado, mesmo para quem, como nós, aprecia Dylan e gosta de vê-lo premiado.

    Numa coisa o Comitê do Nobel acertou em cheio: trouxe para o mundo da música e da literatura esta discussão, que é produtiva e salutar.

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    Léo, em seu texto, você fala da velhíssima polêmica sobre letra de música e poesia, e cita apenas os que põem o poema de livro acima do texto para música. Penso de outro modo, mas faço parte de uma ala não citada. Acredito que as duas artes são criaturas diferentes. Nesse pensamento, incluo-me ao lado de uma turma insuspeitíssima: Fernando Brant, Edu Lobo, Chico Buarque, Caetano Veloso. Nenhum deles acha que a arte das palavras na canção seja igual à arte poética. Brant dizia que as duas "são primas". Parentas, mas diferentes.

    Concordo com isso. E acrescento: nenhuma está acima da outra. Aliás, do ponto de vista de um não músico, considero a arte de escrever letras mais complexa que a de produzir poemas. O poeta é absolutamente livre em sua criação. Tem, ao seu dispor, todos os temas e todas as formas do mundo. O letrista, ao contrário, está restrito a um conjunto menos elástico de temas. E, naturalmente, a letra não vem sozinha: para o ouvinte, ela sempre aparece colada e condicionada à música (mesmo que a composição tenha ocorrido de forma independente: palavras de um lado e melodia do outro).

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    Você cita Vinicius de Moraes como o poeta que aderiu à letra de música. De fato. Mas observo um detalhe, que em geral as pessoas esquecem: depois que abraçou a canção popular, Vinicius não publicou mais nenhum livro de poesia. Pode ter escrito um ou outro poema, mas a rigor abandonou a poesia. Além disso, todos os grandes poemas de Vinicius vêm de antes da bossa nova. Para mim, isso é um sinal de que a arte da letra musical reclamou dele um regime de exclusividade. Resumo: em Vinicius, todos sabemos, havia um grande letrista e um grande poeta, mas parece que esses dois artistas não compartilharam a mesma mesa de criação.

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    1. Caro Machado, salve! Bom te ler por aqui aderindo à discussão! Vamos a ela, pois:

      1) Sobre Dylan: como você sabe, transito nas duas frentes, mas mesmo antes de compor sempre tive uma relação estreita com as palavras, inclusive as cantadas. Quando comprava um LP (depois CD), tinha o hábito de antes pegar o encarte e ler demoradamente e com gosto a ficha técnica e, sobretudo, as letras. Minha brincadeira era ver se aquelas que eram minhas preferidas quando lidas iriam se manter com o acréscimo da melodia. Ou seja, o disco pra mim já era uma espécie de livreto com direito ao bônus: as canções. Nesse sentido, ainda que não fosse literatura, era leitura, boa leitura, "que no es lo mismo, pero es igual". Pra finalizar, respondi a outra pessoa que há alguns letristas cuja obra é tão poética que, se for compilada num livro, tem qualidade suficiente pra ser alçada à categoria literatura. Mas, sim, concordo que a premiação de um compositor tira o prêmio das mãos de um escritor de fato, mas essa premiação tem servido pra popularizar o prêmio e gerar discussão, o que por si só já é muito bom. E Dylan é gênio e, como tal, merece todos os prêmios que caibam em sua arte.

      2) Sobre a velhíssima polêmica, trato dos que, em sua palavras, "põem o poema de livro acima do texto para música" porque são eles que a alimentam e acirram. Os demais simplesmente fazem sua parte e com ela contribuem pro universo da arte. Como costumo dizer, há letristas geniais e poetas medíocres (a recíproca também é verdadeira), portanto não vejo competição nem superioridade em relação a nenhum deles.

      3) Sim, Vinicius fez uma opção. Li sua biografia e acredito que essa opção se deu em parte por seu amor aos palcos. O poeta, quando acaba um poema, termina seu trabalho, o compositor que canta, quando finaliza uma canção, está apenas começando, pois o passo seguinte é executá-la frente ao público. E Vinicius adorava ficar ali no palco cantando e contando... e tomando seu uisquinho, claro. Dou outro exemplo: Chico diz que quando se dedica à leitura afasta naquele momento qualquer possibilidade de criação musical, pois se dedica a um trabalho que lhe exige dedicação integral. Depois, quando termina o livro, volta às canções e igualmente deixa de lado as peripécias literárias. São escolhas. Já eu, por exemplo, caótico que sou, exerço quase que diariamente as duas coisas, às vezes ao mesmo tempo, com uma influenciando e, por que não?, atrapalhando a outra. Sim, porque há ocasiões em que estou envolvido entre personagens literárias e um verso me surge, daí abandono aquelas pra me dedicar a este. Enfim, a liberdade criativa tem que prevalecer sempre. Cada um usando da sua a seu bel-prazer, tendo o livre-arbítrio como aliado.

      Mas essa discussão não termina aqui, daria pra escrever laudas... Se tiver interesse em explanar mais a respeito, ofereço-lhe este espaço. Escreva, e publicarei. Por falar nisso, não esqueci aquele seu outro texto. Peço mais um pouquinho de paciência, que em breve o trarei à luz bloguística.

      Grande abraço,
      Léo.

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  3. Machado, sem querer puxar o saco do Dylan, esse argumentos de que o prêmio é "pra incentivar a leitura" ou "premia o musico e deixa de lado o escritor"acho reducionistas e preconceituosos. Acho que as letras de musicas tem o poder literário de influenciar gerações e sendo a mais popular das artes, não há porque evitar o prêmio a um músico, acho fraco o argumento de que ele não pode ser escritor.
    E não é o primeiro também, segundo o pesquisador Alan Romero, teve um indiano, Tangore, autor de mais de 2000 musicas e autor dos hinos da Índia e de Bangladesh que recebeu a honraria em 1913

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    1. Sonekka, há apenas um detalhe a respeito de Rabindranath Tagore (1861-1941), de Calcutá, Nobel de Literatura de 1913. O homem foi poeta, romancista, músico e dramaturgo. Publicou 13 títulos de poesia e três de romances/contos. Atribui-se a ele o feito de ter reformulado a literatura e a música bengali. Ou seja, era um homem dos livros, sendo também músico. Portanto, não dá para dizer que o Nobel foi dado ao compositor.

      Pelo que escrevi no primeiro comentário, fica claro que não apoio preconceito contra letristas. Afirmei, inclusive, que acho a criação de letras algo mais complexo do que escrever poesia. Afinal, o letrista tem de atender às palavras e também à música.

      Mais: quando falei do Vinicius, a intenção era destacar a importância da letra de música. O poeta consagrado, ao entrar para canção popular, nela ficou. Nem acredito que tenha sido por preferência. Acontece que as artes são como esposas: querem exclusividade. Não dava para Vinicius chegar à excelência dos afrossambas, por exemplo, somente dando uma bicadinha eventual nas letras, mas dedicando-se mesmo à poesia. Então ele entregou-se totalmente à música, porque esta exigia dele essa dedicação. Caso contrário, não teria sido o letrista que foi. Então digo de outra forma: as duas artes são tão diferentes -- e cada uma delas tão importante em si -- que Vinicius, enquanto poeta, não foi músico. E quando passou a ser músico, deixou de ser poeta.

      Os cínicos, eu sei, dirão que ele ficou com a música porque esta atende mais ao ego, rende mais reverberação e visibilidade. Rende mais dinheiro, também (para os que fazem sucesso).

      Bem, se entrarmos por esse lado da grana e das vaidades, é claro que sem dúvida a música tem todas as vantagens sobre a poesia. Primeiro, pela própria natureza: a música tem condições de ganhar o ouvinte sem que ele queira, ou até mesmo sem que ele se disponha a prestar atenção. A poesia -- ou qualquer manifestação escrita -- exige alfabetização, certo treinamento de leitura, disposição para ler, conhecimento do idioma -- uma corrida com barreiras.

      Por tudo isso é que músicos ricos podem existir às pencas. Agora poeta rico -- quer dizer, que tenha ficado rico graças à sua poesia --, não conheço nenhum, por mais celebrado que seja.

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    2. Caro Sonekka,

      Bem, você sabe: sou do tipo que mata a cobra e não sossega enquanto não exibe o instrumento antiofídico. Fui ao site do Nobel ver o motivo expresso pelo Comitê para conceder o prêmio de 1913 a Rabindranath Tagore.

      Transcrevo abaixo o primeiro parágrafo do discurso de apresentação do Prêmio Nobel de Literatura de 1913, proferido por Haral Hjärne, presidente do Comitê do Nobel da Academia Sueca, em 10 de dezembro de 1913.

      Ao conceder o Prêmio Nobel de Literatura ao poeta anglo-indiano Rabindranath Tagore, a Academia encontra-se na feliz posição de reconhecer um autor que, em conformidade com a orientação expressa no testamento e última vontade de Alfred Nobel, escreveu durante o ano corrente os mais refinados poemas de "uma tendência idealista". Além disso, após exaustiva e conscienciosa deliberação, tendo concluído que esses poemas do autor se aproximam do padrão prescrito, a Academia decidiu que não havia razão para hesitar perante o fato de o poeta ainda ser comparativamente desconhecido na Europa, devido à distante localização de seu país natal. Havia menos razão ainda, tendo em vista que o fundador do Prêmio deixou estabelecido como sua "vontade expressa o desejo de que, ao conceder-se o prêmio, não se fizesse nenhuma consideração em relação à nacionalidade do candidato".
      [tradução minha]

      Seguem-se longas considerações sobre alguns livros de poesia de Tagore publicados em 1912 e 1913. Não há nenhuma menção ao fato de ele também ser músico. Portanto, o Tagore ganhou o prêmio exclusivamente por causa de sua poesia publicada em livros.

      O discurso completo, em inglês, está aqui para quem quiser conferir:
      http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/literature/laureates/1913/press.html

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    3. Caros amigos:

      A boa discussão vai longe! concordo com Sonekka quando diz "que as letras de músicas têm o poder literário de influenciar gerações" e, portanto, "não há por que evitar o prêmio a um músico". No caso, um músico letrista, ou mesmo um letrista não músico. Pra ficar entre os nossos, dou o exemplo de Aldir Blanc, erudito, popular e poético como poucos. Escrevesse em inglês, talvez entrasse na disputa também. Sim, porque aqui notamos a desvantagem da língua em relação ao Nobel: um escritor considerado tem seus livros traduzidos a diversos idiomas, já um letrista "conversa" apenas com aqueles que entendem sua língua (excetuando uma ou outra versão). Daí o fato de Dylan estar em vantagem frente aos demais, visto ser o inglês uma língua universal...

      E parabenizo Machado pela argumentação e pela pesquisa (com direito a tradução e tudo!), o que vem em direção ao que escrevi sobre a importância da língua no que se refere a letras de música. No mais, já respondi acima a seu comentário anterior. Sigamos em frente, enquanto seu Nobel não vem morar por estas plagas.

      Abraços,
      Léo.

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