quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Grafite na Agulha: 38) A lírica de Lira

Após um razoavelmente longo hiato, volto a dar um pouco de atenção a esta coluna – uma de minhas preferidas por aqui. Na verdade, gostaria de escrever mais sobre música e/ou literatura, que são as áreas que mais me interessam e apaixonam, mas nosso imenso paisinho tem o dom de me dar infelizes matérias-primas que me acabam levando por outros caminhos e, quando percebo, já estou completamente perdido num labirinto (nada a ver com o disco em questão) de assuntos que tenho que vomitar pra não deixar que virem enfermidades. Agora mesmo, enquanto escrevia, soube da prisão de Eduardo Cunha e fiquei cá comigo pensando em por que raios não o algemaram. Deu vontade de escrever algo, mas ainda é cedo. Não sei até que ponto é sério e até que ponto é teatro. Mas deixemos Cunha saborear sua nova residência e voltemos à música.

Mais uma vez, conto com o auxílio dos amigos. Desta feita, a colaboradora é minha querida amiga Vanessa Curci, que não é um bom bril, mas tem 1.001 utilidades. Vou tentar resumir seu currículo: a moçoila é formada em artes plásticas pela Universidade São Judas Tadeu; tem pós-graduação em gestão de produção cultural pela ECA-USP; tem outra formação em design de interiores pela Escola Panamericana de Artes; trabalhou num ateliê de restauração e conservação de obras de arte; faz projetos de móveis, ambientes e cenografia para marcenarias; também é fotógrafa, tem inclusive uma página no facebook, segundo suas próprias palavras, "voltada para a fotografia de palco, onde o projeto é expor o trabalho dos artistas que movimentam o cenário da música independente, principalmente na cidade de São Paulo". Aliás, curta sua página aqui.

E não acabou, não! Também, nas horas vagas (que horas vagas???), mais uma vez segundo suas palavras, escreve umas coisinhas por aí, porque é mais forte que sua vontade de ficar calada – que, pra quem a conhece, é pouca mesmo (e aqui entram aqueles famosos rsrs e kkk). Mas o pior não é isso! O pior é que dona Curci é uma traidora da causa! Anda pra cima e pra baixo com um grupo de moçoilas autodenominadas baleiras (obviamente por serem fãs de Zeca Baleiro) e que não perdem um show do moço de Arari (MA), porém, quando lhe pedi que escrevesse sobre um disco marcante em sua vida... tchan tchan tchan tchan!!! Lá me vem ela com o  tal do Lirinha, aliás, Lira, ex-integrante do Cordel do Fogo Encantado e agora em carreira solo. Realmente imperdoável! Fosse eu membro das baleiras, tirar-lhe-ia (ui! Sai, "temeridade"!) a carteirinha... Brincadeiras à parte, deixemos a palavra com a moça, que, pra meu espanto, escreveu um texto até curtinho. A ele, pois:


A lírica de Lira
Por Vanessa Curci

Se tem uma coisa de que eu gosto nesta vida são as pessoas que se atrevem a sair da mesmice. E entenda! Nenhuma crítica àquilo ou àqueles ou àquelas que são as mesmas de sempre. Jamais! Na verdade, há muito romantismo nisso. Eu estou falando daquela pessoa que dá um passo para fora do eixo e te obriga a virar um pouco o pescoço, fazendo você enxergar a mesma paisagem de sempre, mas de um ângulo diferente. Então, José Paes de Lira.

Este ficou conhecido como o Lirinha do Cordel do Fogo Encantado, e hoje usa apenas Lira, mas, para um coração fanático por sensibilidade como o meu, será sempre Lirinha, pernambucano de Arcoverde, com alma ardorosa.

Um dos poetas musicais mais criativos que perambulam pelo mesmo tempo que o meu, me permitindo a graça de dividir o mesmo espaço algumas vezes. É daqueles que submergem no próprio radical, se impulsionam nas palavras e transcendem no lirismo, ilustrando um mundo para além deste aparente, ora lúdico, ora possível, ora desejável.
Vanessa

Lirinha, que ainda é novidade para muita gente, lançou em 2015 o disco O Labirinto e o Desmantelo, que canta essencialmente as relações, para amar, desamar, manter, desacomodar e mergulhar, sem se descaracterizar de seu arrojo em atirar sutis dardos político-sociais aos ouvidos de seu publico. É o segundo disco solo de sua carreira, e, tanto quanto o primeiro, Lira, este também mistura uma poesia maviosa a um som capitoso e invasivo.

Eu, intensa que sou, não tenho nenhuma parcimônia em dizer que, além de bom cantor, é o melhor declamador do meu mundo. Moço, encantado, de voz afável acomodada por um sotaque cativante. E, sim! Não me censuro absolutamente em dizer que amoleço fácil quando embalada por essa paleta de sotaques nordestinos que colorem este e esses Brasis todos.

É um disco viciante, que liberta um imaginário fértil, como o meu, para percorrer linhas com destinos imprevisíveis. Destaco três músicas, Ser, O Mergulho e Pra Fora da Terra, sendo esta a que mais conecta. Sabe quando estamos naqueles dias em que precisamos de um estímulo? Aqueles mais opacos? Para esses dias,  recomendo Lirinha e seu Labirinto e o Desmantelo. Melhor no palco.


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LiraO Labirinto e o Desmantelo (2015 – Tratore)

1. Desamar

    (Guri Assis BrasilLira)
2. Pra Fora da Terra
    (LiraPupillo)
3. Ser
    (LiraPupillo)
4. Nuvem
    (LiraVitor Araújo)
5. O Labirinto e o Desmantelo
    (LiraPupillo)
6. Filtre-meLira e Céu
    (Céu  – LiraPupillo)
7. O Mergulho
    (Lira)
8. Quem Sabe É pra Sempre
    (Astronauta PinguimLira)
9. Vasto
    (LiraPupillo)
10. Odin
    (LiraPupillo)
11. Jabiacá
    (Junio BarretoLiraBactéria)


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Ouça o CD na íntegra aqui:



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17 comentários:

  1. Muito lindo adorei Leo, obrigado pela partilha, dê um abraço em Vanessa.

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  2. Que maravilha ....Vanessa arrasa ...adorei

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  3. Pô, Leozíssimo! Arrasou na apresentação
    Me sinto obrigadíssima.
    Beijo

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    1. Não se sinta obrigada, Curcíssima. O prazer foi meu.

      Beijos,
      Léo.

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  4. Que beleza de texto! Mais um artista que eu preciso conhecer melhor. Obrigada por isso, Vanessa e Léo!
    Beijos.

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