Não basta mais ser VIP. Agora o sujeito tem que ser V-VIP (Very-VIP). O que chega a ser uma redundância, visto que VIP, que vem do ingrêis, significa Very Important Person. 'Xa ver se eu entendi. Quer dizer que agora temos as pessoas muito-muito importantes, que são aquelas tão, mas tããããão importantes, que não admitem sequer dividir o mesmo espaço com aquelas outras, a gentalha que é só muito importante. Elas precisam de um espaço com um V a mais, um "pico" reservadíssimo, um olimpo onde só se dirigirão a outros VV, seus iguais. Bem, antes de continuar, preciso dizer que só soube que existe um espaço assim tão precioso dia desses, ao passar os olhos por uma dessas colunas tão importantes do jornalismo brasuca dedicadas a essa gente tão importante que entra sem pagar em jogos da Copa e outros eventos tops.
Na verdade, esse é um assunto que estava em minha pasta de rascunhos esperando a oportunidade pra vir à luz; até porque, com as eleições, eu andava tendo mais do que tratar... Só que a prosa secou (talvez em solidariedade à Cantareira). Daí que, como estou num período de, digamos, "inferninho" astral (até porque não quero dar muita importância a ele), vazio filosófico, bazófia em baixa, ressaca intelectual (e moral) pós-amnésia alcoólica, preguiça literária depois de ter acabado de ler a biografia de Sergio Sampaio, espera-expectativa-desespero de escritor prestes a deixar de ser inédito, blá-blá-blás, lero-leros e outros boleros, resolvi atirar pedras em vidraças mais longínquas, e escolhi pra cristo da vez os tais V-VIP.
É que não gosto de falar de gentona. Falar de gentona é como ser partícipe do jornalismo de fofoca, esse que segue humorista casado pra fotografá-lo beijando amante. Mas todos temos nosso período mais fútil, né? Então vou falar de gentona hoje, embora me embrulhe o estômago. Sim, porque tenho dificuldade de tragar aquele que se acha muito-muito importante. Sabe, é que sou um cara bastante preconceituoso com tipos que são preconceituosos em relação a classes sociais, esses que querem estar 24 horas por dia protegidos por um muro de Berlim imaginário que os faça se sentir seguros e acreditar que o mundo é cor de rosa e não existe o inferno – ou seja, os outros do lado de lá do muro. Pessoas que querem estar num lugar privilegiado só pra fazer um selfie tomando bebida cara... mas na bota de quem convidou. Não é um universinho muito enfadonho?
Mas, quando penso nessa gente (que não é minha gente – nem nunca foi – e não tem nada que ver com aquela a que Vinicius e Chico se referiam em sua antológica Gente Humilde – melodia de Garoto, acrescentemos), começo a perceber que o buraco é mais embaixo. Esse joseph-peoplezinho faz parte de uma casta que acha que tem sangue azul, que crê piamente que o Brasil pertence mais a uns que a outros e chama justamente o trabalhador de vagabundo... porque este não afina seu pensamento pelo diapasão dela. Os V-VIP querem mais é que pobre se expl... querem mais é que cada um fique no seu quadrado, desde que o melhor metro quadrado fique "dominado" por eles e o pobre vá achar um lote disponível lá onde Judas esqueceu que um dia teve botas, ou seja, num bairro também conhecido como PQP.
Sabem por quê? Porque quem mais tem está acostumado a pagar menos por tudo. Além de pagar menos impostos (proporcionalmente, claro), acha que tem direito a mamatas, vantagens, sonegações e outras palavras de iguais teor e beleza. A começar pela faculdade. Estamos carecas de saber que nas melhores universidades públicas do Brasil o percentual de alunos abastados (alguns dos quais, também abestados) é infinitamente maior que o de alunos pertencentes a famílias com menor poder aquisitivo. Chega a ser curioso que aqueles que estudaram nas escolas particulares mais caras durante os ensinos fundamental e médio abocanhem a maior parte das vagas das universidades públicas e àqueles que sempre estudaram em escolas públicas lhes restem as faculdades particulares – a maioria de qualidade duvidosa.
Mais é assim que as coisas funcionam por aqui. Vejamos nossos políticos: fora seus salários estratosféricos (cujo aumento eles mesmos regulam), sua aposentadoria precoce, sua imunidade parlamentar e outros quitutes, estão acostumados a não meter a mão no bolso, visto que durante seus mandatos ganham cotas pra despesas, o que os livra de preocupações com gastos como moradia, transporte, contas de água, luz, telefone etc. e tal. Sem falar que são chegados a "enforcar" uma sexta-feira. E ainda são chamados de excelência! Assim, tão cheios de mimos, acabam ficando mal-acostumados e esquecem que são funcionários do povo e não o contrário. Sem falar que a maioria, durante pouco tempo no cargo, multiplica seus bens. Resumindo: quem entra numas de ser V-VIP nunca mais quer perder seus privilégios. Daí, pensar na população? Qual o quê? Cada um no seu quadrado!
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Dá-lhe, Léo Nogueira! Ou seria: dá-lhes?!
ResponderExcluirValeu, Tato! Mas eles que nos deem! rs
ExcluirBeijão,
Léo.
Quás quá rás quás quás!!! É vero!!!
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