Acabado o arranca-rabo eleitoral, serei cavalheiro ao menos esta vez e não tripudiarei sobre os derrotados (se bem que essa passeata que houve na Paulista pró-ditadura era digna de umas considerações, mas posterguemo-las). Virando a página, pois, venho por esta dizer que ora inauguro nova coluna em meu bloguinho, esta dedicada a canções que, como bem diz o nome, amo. Mas vou me empenhar pra fugir do lugar-comum e procurar trazer novidades, lados B, enfim, canções menos conhecidas do grande público. A ideia é que esta coluna seja uma espécie mais focada de Grafite na Agulha, ou seja, com a agulha direcionada mais especificamente às canções que a discos como um todo. E, a exemplo da Trinca de Copas e da de Ouro, sempre de três em três. Simbora!
1) APOCALIPSE
Cisma (2012) |
No mais, acho que nem Sonekka tem a fórmula. Imagino que ele não saiba, quando começa uma canção nova, o que vai resultar daquilo. Talvez os hits lhe surjam mesmo desse ofício de exercer a teimosia. Mas a verdade é que conheço poucos com tantas canções de indiscutível qualidade e que, ao mesmo tempo, grudam no ouvido. E ele tem a capacidade de, por meio de sua melodia, valorizar letras menores. Não é o caso desta. Aliás, não é o caso destes. Afinal, Ricardo Soares é um camarada de quem não conheço nenhuma canção feia. Seja só ou em parceria, o cara é fera, daqueles que conseguem fazer mais com menos. E, pra completar o tripé, Zé Edu Camargo é um baita letrista que encontra nas melodias de Sonekka o casamento perfeito pra transformar suas letras em pérolas. Se separados esses três já dão o que cantar, juntos então...
Sinceramente, se o Brasil estivesse à altura de seus compositores, esse trio já estaria rico de tanto essa canção tocar no rádio. Comprovem:
APOCALIPSE
O céu fica mais azul a cada dia
Quando no meu canto eu canto o meu blues
Se no sul há tornados a varrer
Eles nascem aqui dos meus suspiros
Terremotos abalam o Japão
Quando sozinho eu chuto pedras na rua
E quando eu penso em você e eu
Surgem nuvens no céu e manchas na lua
Todas as minhas lágrimas correm pro mar
Por isso que o mar é salgado, meu amor,
De tanto eu chorar
Você foi embora, levou o meu sono
E fez um rombo na camada de ozônio
É um tsunami, é o fim do mundo
Ou apenas um delírio profundo*
Quando no meu canto eu canto o meu blues
Se no sul há tornados a varrer
Eles nascem aqui dos meus suspiros
Terremotos abalam o Japão
Quando sozinho eu chuto pedras na rua
E quando eu penso em você e eu
Surgem nuvens no céu e manchas na lua
Todas as minhas lágrimas correm pro mar
Por isso que o mar é salgado, meu amor,
De tanto eu chorar
Você foi embora, levou o meu sono
E fez um rombo na camada de ozônio
É um tsunami, é o fim do mundo
Ou apenas um delírio profundo*
***
2) LOGRADOURO
Pescador da Lua (2003) |
Quanto à inveja, não careço de análise, resolvo a questão tentando compor algo melhor. Raramente consigo, mas ouvir uma bela canção que nos desperta a criatividade é um duplo presente. Não à toa, quando vou a shows de artistas que admiro, sempre levo comigo papel e caneta, pois sei que é grande a possibilidade de sair dali com alguma ideia de letra. Outro hábito que desenvolvi pra acalmar o coração é tascar nessas canções uma versão em espanhol. Foi o caso desta, mas, confesso, não consegui superar a beleza da original. Aliás, não é segredo que considero Rafael Alterio um dos melhores melodistas da canção brasileira contemporânea. Portanto, juntando sua arte com a de Kléber Albuquerque, outro gênio de nosso cancioneiro, o resultado não poderia ser outro. Ambos deviam fazer mais parcerias, pois a química que possuem é imbatível.
LOGRADOURO
Canaã, Teerã, Ceará
Algum canto dessa terra
Um chão qualquer, pois tanto faz
Tennesee, Birigui, Bagdá
A paz vai quebrar a perna
Enfim vou alcançar a paz
Você verá
Eu vou ser feliz de dar dó
Vou rir até desaprumar as parabólicas
Você verá
Eu vou ser feliz de doer
Vou ver o sol nascer sem dor nem dó
Em Salvador, Sumaré, Shangrilá
Em cada curva dessa esfera
Na esquina de qualquer lugar
Você verá
Eu vou ser feliz de dar dó
Vou rir até desaprumar as parabólicas
Você verá
Eu vou ser feliz de doer
Vou ver o sol nascer sem dó nem ré
No Cariri, Piauí, Cabrobó
A solidão vai quebrar a cara
Então vou encará-la só
Algum canto dessa terra
Um chão qualquer, pois tanto faz
Tennesee, Birigui, Bagdá
A paz vai quebrar a perna
Enfim vou alcançar a paz
Você verá
Eu vou ser feliz de dar dó
Vou rir até desaprumar as parabólicas
Você verá
Eu vou ser feliz de doer
Vou ver o sol nascer sem dor nem dó
Em Salvador, Sumaré, Shangrilá
Em cada curva dessa esfera
Na esquina de qualquer lugar
Você verá
Eu vou ser feliz de dar dó
Vou rir até desaprumar as parabólicas
Você verá
Eu vou ser feliz de doer
Vou ver o sol nascer sem dó nem ré
No Cariri, Piauí, Cabrobó
A solidão vai quebrar a cara
Então vou encará-la só
***
3) MIGUILIM
Epílogo (2013) |
Pra mim, Miguilim, personagem central da novela, é uma das figuras mais belas da literatura brasileira. O olhar que o menino lança sobre o mundo a seu redor é tocante e inesquecível. Sempre quis escrever sobre ele, mas nunca fui capaz. E não é que meu parceiro Adolar Marin conseguiu, e belissimamente? Ainda lembro de meu primeiro contato com essa canção. Estava Adolar em minha casa, e, em meio a uma agradável prosa regada a cachaça, eis que ele pega o violão e, à queima-roupa, tasca sua então recém-composta Miguilim. Preciso confessar que chorei de dar dó. Claro, o álcool ajudou, mas não foi só por isso, pois durante a segunda audição, tempos depois, a história se repetiu. Agora é a vez de vocês.
MIGUILIM
Que me espante com tudo que veja no mundo
Por mais que eu possa fazer,
Que ande pelos sertões de meu ser mais profundo
Há sempre uma coisa a saber,
Um olhar curioso que investiga tudo
Então eu pergunto,
Questiono e pergunto: por quê?
Por mais que os dias mais lindos,
Os idos e os vindos me brilhem as retinas
Por mais, as pessoas sorrindo
Por todos os lados, meninos, meninas
Há sempre uma coisa que pega
No meio de tudo que acabo sentindo
Então eu pergunto,
Pergunto e pergunto
Eu sou o Miguilim
Procuro pelo Dito e pelo não dito
Eu sou o Miguilim,
Miguilim
Por mais que eu possa fazer,
Por mais que eu tente entender
Há sempre uma coisa a saber
Eu sou o Miguilim
Procuro pelo Dito e pelo não dito
Eu sou o Miguilim
Miguilim
***
Lindezas essas músicas, Léo!!!
ResponderExcluirMiguilim é realmente uma coooooisa!
Não conhecia nenhuma dessas canções, diga-se!
Um beijão,
Danny.
Oi, Dannoca!
ExcluirFico feliz em ter te apresentado a elas. Enjoy! E não enjoe! rs
Beijos,
Léo.