segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Cinema & Cia.: 3) Resenha crítica a Chatô, o filme

Meu estimado amigo Carlos D'Orazio — funcionário público em horário comercial, boêmio desses que varam a madrugada só pra despertar o sol, cantor à procura da nota perfeita, tocador de violão em outras rodas, compositor avulso e roteirista inédito (ou seria compositor inédito e roteirista avulso?) — certa vez criticou minha postura de blogueiro "chapa-branca", ou seja, que só escreve pra falar bem de outrem, e acrescentou que não tenho muitos leitores porque o que interessa a estes é a polêmica, o texto descaradamente escrito com o intuito de atingir (ou falar mal de) alguém. Respondi-lhe que meu tempo é muito precioso pra gastar com quem não vale a pena, mas ao mesmo tempo lhe passei a batata quente, convidando-o a ser o autor de um desses textos e prometendo-lhe que, se assim o fizesse, oferecer-lhe-ia espaço nesta humilde morada. Ele, ousado como é, não se fez de rogado e, pouco tempo depois, saiu-me com esta prosa que ora os convido a ler pra que tirem suas próprias conclusões — não só quanto ao texto de D'Orazio, mas também a sua polêmica opinião sobre polêmicas.


Resenha crítica a Chatô, o filme
Por Carlos D'Orazio

Um projeto ambicioso sucumbiu diante da megalomania do ator e aspirante a diretor de cinema Guilherme Fontes. Imaginando ser um Orson Welles dos trópicos e provavelmente inspirado pela desmedida ambição da personagem principal do seu filme, Assis Chateaubriand, ele imaginou que realizaria o maior épico da história do cinema nacional. O resultado final foi um fiasco, uma obra confusa e repleta de problemas durante sua produção.

O filme Chatô, o rei do Brasil foi inspirado no livro homônimo escrito pelo jornalista Fernando Morais, que fez uma grandiosa e detalhada pesquisa sobre a vida do primeiro grande magnata da comunicação no Brasil, o controverso Chateaubriand.

Muitas vezes, é feito um paralelo da vida do Chatô com a do norte-americano William Randolph Hearst, também um grande magnata da comunicação que usou seu império jornalístico para ganhar poder e influenciar na política e nos costumes. Baseado nos feitos deste, surgiu não um livro, mas sim um dos melhores filmes da história do cinema, Cidadão Kane, que mostra basicamente o imenso poder que detém quem tem o monopólio dos veículos de comunicação nas mãos nas sociedades modernas. O filme foi realizado pelo talentoso — e inexperiente diretor na época — Orson Welles.

Quando Guilherme Fontes soube que tinha gente interessada em comprar os direitos do livro Chatô para uma produção cinematográfica, acreditou que era uma oportunidade de ouro e usou toda a sua vivacidade para conseguir os direitos do filme para si (superando até o conceituado diretor Luiz Carlos Barreto) e captar os recursos necessários para a realização por meio de programas governamentais de incentivo à cultura e patrocínios de diversas empresas privadas. O dinheiro necessário foi conseguido com certa facilidade, mas depois o projeto foi ficando cada vez mais caro e audacioso (envolvendo na equipe de criação até o aclamado diretor norte-americano Francis Ford Coppola) e houve inúmeros problemas de produção que se arrastaram por 20 anos e colocaram em dúvida se o filme seria de fato finalizado.

Carlos D'Orazio
A trama é contada mais ou menos assim: entre acontecimentos verídicos, o filme mostra possíveis delírios de um Chateaubriand já moribundo interligados aos delírios dos roteiristas que mudaram situações e personagens para adaptar a biografia ao que seria na verdade uma obra de ficção, como disse mais tarde seu diretor, Guilherme Fontes. Tudo isso, numa sucessão de pequenos fragmentos sem linearidade nenhuma, fazendo do filme uma obra de possível compreensão somente para quem leu o livro de Fernando Moraes.

Apesar de toda a parte técnica, que surpreendentemente até que foi bem-feita, e da ótima atuação dos atores principais, o que poderia ser uma obra marcante no cinema nacional se tornou um filme medíocre e pretensioso que será lembrado mais por sua tumultuada e arrastada realização.

***

PS: Assim como D'Orazio, também eu assisti ao filme, mas confesso que a única coisa que me fez foi perder pouco mais de hora e meia gasta em esquecível entretenimento. Entretanto, se os teimosos leitores quiserem se arriscar, facilito-lhes a vida:


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2 comentários:

  1. Você colocou uma maldade na minha sugestão que não havia. Seria legal ler uma crítica negativa sua sobre alguma canção ou qualquer outra tipo de obra artística que você não tenha gostado realmente. Você poderia esculachar com propriedade uma música insossa e pretensiosa do Jorge Vercilo, uma interpretação pedante do Pedro Camargo Mariano, oi até mesmo escrever sobre um disco ruim perdido de gênios como Chico, Gil e Caetano.

    Também não disse que tem poucos leitores. O blog tem uma boa visibilidade mas quase que predominante dentro do seu círculo de relações sociais. Críticas negativas podem acrescentar novos leitores.

    Só para deixar claro, sou totalmente contra a polêmica vazia e a crítica pela própria crítica. Só sugeri um viés mais jornalista e informativo! Rsrs

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    1. Vou copiar abaixo o que havia respondido no face:

      Mano Carlos, em primeiro lugar agradeço por seu belo texto, que vem trazer um elemento novo a meu blogue. Isto posto, quero te pedir pra não ver maldade em minhas palavras de apresentação; quando muito, uma ironiazinha (rs). Reconheço a importância da crítica negativa; quando bem usada, pode servir de aprendizado pr'aquele que a recebe. O que acontece em meu caso é que não tenho muito estômago pra exercer essa função. Realmente, o que não me toca acho que não merece comentário. Cada artista tem sua verdade, suas escolhas, e arca com elas pro bem ou pro mal. No quesito crítica negativa, prefiro explorar o campo da política, pois este tem muito mais relevância em nossa vida, em nosso dia a dia, do que uma canção ruim (um disco, um filme, um quadro etc.). Entretanto, penso assim hoje, mas vivo em constante mudança; nada impede que depois de amanhã eu venha a escrever alguma crítica negativa. Esperemos, pra ver no que dá. Abração!

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