Apesar dos tantos pesares de nossa época – e lembrando que todas as épocas têm seus pesares –, devemos nos considerar privilegiados por vivermos nela. O que pra gerações anteriores era tão difícil, como o acesso a informação, pra nós está ao alcance da mão, ou melhor, a um clique. Contudo, o fato de ainda haver hoje tanta ignorância demonstra que só acesso a informação não basta. Afinal, informação demais – e não peneirada – também representa perigo, principalmente quando não há critérios nessa busca. Porém, como eu sou eu, e possuo meus critérios, só tenho a agradecer por tais facilidades. Por exemplo: sempre respeitei e admirei bons professores, e hoje há na internet uma fartura de vídeos com aulas e palestras de professores notáveis, o que democratiza o acesso a eles. Ou seja, fora das salas de aula também podemos adquirir conhecimento.
E isso me tem sido muito útil na hora de pesquisar sobre temas que me são relevantes, como é o caso da ética, título desta prosa que me foi indiretamente sugerido por meu parceiro Fernando Cavallieri. Explico o indiretamente: Cava (pros íntimos) é um defensor ferrenho da ética e, mais que isso, não o é só de garganta. O sujeito procura pô-la em prática em seu dia a dia, e nossa amizade me faz ser testemunha disso. Assim, dia desses Cava me enviou um samba pra eu pôr letra, mas me pediu que abordasse o assunto, e, como não me furtei ao pedido, nasceu dele o Samba da Ética, que não publico aqui porque Cava tem outros projetos pra ele. Em compensação, a feitura desse samba me animou a me estender mais sobre o assunto.
Assim, visto que não vou poder me aproveitar (ao menos por enquanto) de nossa canção, apelo pra outro camarada – que, aliás, me foi apresentado pelo próprio Cava –, o professor universitário Clóvis de Barros Filho, que, entre outras coisas, ministra aulas de ética. Ele, em suas palestras, aulas ou entrevistas, costuma dizer que ética é uma atividade coletiva que busca o aprimoramento da convivência em sociedade. Um de seus exemplos é o uso do cigarro em locais públicos fechados. Há alguns anos, o fumante exercia seu direito de fumar tranquilamente nesses locais sem maiores preocupações com as pessoas que se encontravam em seu entorno. Dada a insatisfação geral (dos não fumantes, obviamente), houve um consenso pra que se limitasse o uso de tal prática apenas em ambientes abertos.
Obviamente, não foi uma decisão unânime, mas o que o professor quer dizer é que o conceito de ética muda de tempos em tempos. Hoje, por exemplo, vivemos uma época de temores ante o politicamente correto, então muitas vezes o policiamento parte de nós mesmos – e não apenas em relação ao outro; costumamos apontar a mira também pra nós, e não raro calamos um comentário no meio, por medo do julgamento alheio. E, assim, acabamos inventando uma espécie de máscara – ou uma personagem, caso prefiram – que usamos quando em ambientes coletivos, uma máscara que nos aproxima da perfeição. Em público, somos sempre honestos, íntegros, incapazes de um único pensamento sujo. E, como tal máscara nos torna perfeitos, vemo-nos no direito de julgar quaisquer atos de imperfeição. Lembram-se do "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo"...?
Chegamos, pois, à política. Como somos uma sociedade íntegra, sempre achamos que a culpa pelos maus políticos que foram eleitos é do outro. Nós só votamos naqueles que agem com correção. E chega a ser até engraçado, porque, se somos uma sociedade íntegra e temos políticos tão pilantras, dá a impressão de que foram eleitos por uma minoria(!). Porém, quando nos aproximamos demasiadamente de cada indivíduo, percebemos que tal integridade consiste mais no discurso do que nos hábitos. Não preciso entrar em detalhes, cada um de nós (notem que me incluo), quando se acha só ou quando deita a cabeça em seu travesseiro, faz seu mea-culpa. Ou, se não faz, ao menos tenta justificar pondo a culpa de seus deslizes no parente, no patrão, no sistema ou até em Deus.
Mas só até o sono chegar. No dia seguinte, o honesto cidadão continua com seus hábitos arraigados, cada um escolha o seu: dirigir falando ao celular, fazer um "gato" pra não pagar a TV por assinatura, usar a carteirinha de estudante sem ser estudante, dar o troco errado ao freguês, fazer um "acordo" com o guarda pra evitar receber uma multa, entre outras tantas coisas. Ah, mas isso todo mundo faz! Existe praticamente um consenso! E, quando há consenso, não é visto como crime, né? Portanto, quando é pra bater panela, fulano bate com convicção (notem que aqui já me excluo), como se estivesse num ensaio de escola de samba; quando é pra vestir uma camisa da CBF e ir pra passeata, fulano vai com afetação de integridade, como se fosse capaz de atirar a primeira pedra nas Madalenas de plantão. E, se bobear, até em Jesus!
E isso me tem sido muito útil na hora de pesquisar sobre temas que me são relevantes, como é o caso da ética, título desta prosa que me foi indiretamente sugerido por meu parceiro Fernando Cavallieri. Explico o indiretamente: Cava (pros íntimos) é um defensor ferrenho da ética e, mais que isso, não o é só de garganta. O sujeito procura pô-la em prática em seu dia a dia, e nossa amizade me faz ser testemunha disso. Assim, dia desses Cava me enviou um samba pra eu pôr letra, mas me pediu que abordasse o assunto, e, como não me furtei ao pedido, nasceu dele o Samba da Ética, que não publico aqui porque Cava tem outros projetos pra ele. Em compensação, a feitura desse samba me animou a me estender mais sobre o assunto.
Assim, visto que não vou poder me aproveitar (ao menos por enquanto) de nossa canção, apelo pra outro camarada – que, aliás, me foi apresentado pelo próprio Cava –, o professor universitário Clóvis de Barros Filho, que, entre outras coisas, ministra aulas de ética. Ele, em suas palestras, aulas ou entrevistas, costuma dizer que ética é uma atividade coletiva que busca o aprimoramento da convivência em sociedade. Um de seus exemplos é o uso do cigarro em locais públicos fechados. Há alguns anos, o fumante exercia seu direito de fumar tranquilamente nesses locais sem maiores preocupações com as pessoas que se encontravam em seu entorno. Dada a insatisfação geral (dos não fumantes, obviamente), houve um consenso pra que se limitasse o uso de tal prática apenas em ambientes abertos.
Obviamente, não foi uma decisão unânime, mas o que o professor quer dizer é que o conceito de ética muda de tempos em tempos. Hoje, por exemplo, vivemos uma época de temores ante o politicamente correto, então muitas vezes o policiamento parte de nós mesmos – e não apenas em relação ao outro; costumamos apontar a mira também pra nós, e não raro calamos um comentário no meio, por medo do julgamento alheio. E, assim, acabamos inventando uma espécie de máscara – ou uma personagem, caso prefiram – que usamos quando em ambientes coletivos, uma máscara que nos aproxima da perfeição. Em público, somos sempre honestos, íntegros, incapazes de um único pensamento sujo. E, como tal máscara nos torna perfeitos, vemo-nos no direito de julgar quaisquer atos de imperfeição. Lembram-se do "Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo"...?
Chegamos, pois, à política. Como somos uma sociedade íntegra, sempre achamos que a culpa pelos maus políticos que foram eleitos é do outro. Nós só votamos naqueles que agem com correção. E chega a ser até engraçado, porque, se somos uma sociedade íntegra e temos políticos tão pilantras, dá a impressão de que foram eleitos por uma minoria(!). Porém, quando nos aproximamos demasiadamente de cada indivíduo, percebemos que tal integridade consiste mais no discurso do que nos hábitos. Não preciso entrar em detalhes, cada um de nós (notem que me incluo), quando se acha só ou quando deita a cabeça em seu travesseiro, faz seu mea-culpa. Ou, se não faz, ao menos tenta justificar pondo a culpa de seus deslizes no parente, no patrão, no sistema ou até em Deus.
Mas só até o sono chegar. No dia seguinte, o honesto cidadão continua com seus hábitos arraigados, cada um escolha o seu: dirigir falando ao celular, fazer um "gato" pra não pagar a TV por assinatura, usar a carteirinha de estudante sem ser estudante, dar o troco errado ao freguês, fazer um "acordo" com o guarda pra evitar receber uma multa, entre outras tantas coisas. Ah, mas isso todo mundo faz! Existe praticamente um consenso! E, quando há consenso, não é visto como crime, né? Portanto, quando é pra bater panela, fulano bate com convicção (notem que aqui já me excluo), como se estivesse num ensaio de escola de samba; quando é pra vestir uma camisa da CBF e ir pra passeata, fulano vai com afetação de integridade, como se fosse capaz de atirar a primeira pedra nas Madalenas de plantão. E, se bobear, até em Jesus!
Convenhamos: uma ética um tanto astigmática. Mas, além dela, temos os nerds da aritmética, as questões burocráticas, as pessoas que são céticas, a letra diacrítica (e os dias críticos), as moçoilas que preferem a estética, a maravilhosa banda As Frenéticas, a desculpa da genética, as doenças hepáticas, os que manjam de informática, quem foi batizada de Jéssica, aquelas a quem chamamos lunáticas, as forças magnéticas, a indústria náutica, a ilusão de ótica, a opinião patética (que sempre é a do outro), cada um na sua quadrática, os receios com a robótica, a filosofia socrática (e a neumártica), o futebol com sua técnica e sua tática, uma sociedade utópica, quem se faz de vítima, quem só bebe na xícara, as assistências zoológicas e, claro, o Will, que merece um parágrafo à parte.
No começo da prosa, falei da máscara. E há outro tipo de máscara, a daqueles que usam perfis falsos pra atingir a integridade de terceiros. Foi o caso de nosso "herói", Will, que visitou meu blogue recentemente, esculhambou minha música, meus parceiros e, não satisfeito, partiu pra ofensas pessoais. Fui visitar o perfil do Google+ do muchacho e só havia uma simpática foto de um jovem de boné, sem maiores informações. Percebi, então, que se tratava de um perfil falso de fulano que, bem ou mal, era (é?) próximo a mim (e aos meus), pois, não podendo vencer o debate quando o tema era música, passou a deturpar detalhes de nossas vidas pessoais com uma sem-cerimônia que só poderia ter quem nos conhece. Assim, pra defender minha integridade e a de meus amigos, fui obrigado a fazer algo que não curto muito: apagar os comentários do fulano.
Tempos depois, meu parceiro Edu Franco (que fora um dos difamados) surgiu com uma melodia e convidou a mim e a meu mano Marcio Policastro (outra vítima da williana língua) pra fazermos a seis mãos uma "homenagem" ao frustrado por trás da fotinha do Will. Encontramo-nos e demos à luz uma chistosa canção, com a qual finalizo essa prosa. Só fiquei pensando depois na esterilidade desse ser e na intensidade de sua inveja. Eu jamais teria a cara de pau de me esconder por trás de um perfil falso pra dar porrada em conhecidos meus (até porque digo na cara). E sabem o que é pior? O infeliz nem vai ter a alegria de poder dizer a algum amigo (se é que tem algum) que foi "muso" de uma canção, pois quem vai ter seus 15 minutos de fama é sua criatura. Recado pra ele: You will never be...
Ética de fake é fétida.
***
UAI, WILL
Edu Franco – Marcio Policastro – Léo Nogueira
Se sou eu que tomo tarja preta
A treta cê comprou?
Velho, vai trollar noutro lugar
Sou macaco véi, cobra criada
Na porrada eu sou
Fio desencapado pra pegar
Se um mané qualquer, de bobeira,
Nessa onda "#prontofalei"
MIja um post cheio de asneiras
Isso é carência, que eu sei
Tanto trouxa no meu quadrado suplicando atenção
Sociopatas entediados me sugando a paixão
Show de horror, iê iê
Show de horror
Vê se me erra,
Matusalém!
Que sua terra
É de ninguém
Sai de trás da tela, brou
Mostra a cara, faz favor
Que isso é tão fake, não colou
Uai, Will
Desculpa, você me causa dó
Uai, Will
Quem disse que você é melhor
Te enganou
Te engrupiu
***
Se sou eu que tomo tarja preta
A treta cê comprou?
Velho, vai trollar noutro lugar
Sou macaco véi, cobra criada
Na porrada eu sou
Fio desencapado pra pegar
Se um mané qualquer, de bobeira,
Nessa onda "#prontofalei"
MIja um post cheio de asneiras
Isso é carência, que eu sei
Tanto trouxa no meu quadrado suplicando atenção
Sociopatas entediados me sugando a paixão
Show de horror, iê iê
Show de horror
Vê se me erra,
Matusalém!
Que sua terra
É de ninguém
Sai de trás da tela, brou
Mostra a cara, faz favor
Que isso é tão fake, não colou
Uai, Will
Desculpa, você me causa dó
Uai, Will
Quem disse que você é melhor
Te enganou
Te engrupiu
***
Valeu meu velho, o Will Robson merece, tanta valentia e dignidade tem que ser homenageada rsrsrsrs
ResponderExcluirOu, parafraseando o velho bordão, "ele merece o que endurece"! Pero sin perder la ternura, siempre!
ExcluirMas não é, que saporra ficou porreta.
ResponderExcluirMuito bom!
Valeu, Vanessinha! É nosso modo de "sentar o porrete". Com elegância. rs
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