terça-feira, 1 de março de 2016

Notícias de Sampa: 18) Chegou o Dia de São Nunca! (30 de fevereiro)

E eis que, finalmente, chegou o Dia de São Nunca, esse santo tão poderoso, padroeiro das causas impossíveis! Aliás, pra quem crê, não há dias – nem causas – impossíveis, e o dia de hoje, este metafórico 30 de fevereiro, é exemplo disso. E vejam vocês como a arte tem o dom transformador. Dia de São Nunca (a canção) tem uma letra que resvala na autobiografia, feita após um período tenebroso, de depressão e angústia, em que seu autor/protagonista comia as migalhas do pão que o diabo amassou (as que sobraram após os cães terem se fartado, deixemos claro), depois de uma separação traumática e uma volta ao lar materno – em condições vexantes, acrescente-se. Meses depois, veio a reconciliação, que inspirou a letra.

E a letra ganhou melodia (do mano Marcio Policastro), virou canção e ganhou vida própria, indo reverberar mundo afora suas impossibilidades tornadas possíveis até cair nos sensíveis ouvidos deste que viria a ser seu intérprete definitivo (sem detrimento da interpretação do compositor, que é igualmente duka!), Sander Mecca, que também é devoto do santo, como vocês logo perceberão. Mas, antes, um flashback. Conheci 
Sander há cerca de um ano – já escrevi sobre esse encontro antes, mas a ocasião vale o repeteco. Foi meu olhar cair no do moço pra eu perceber que nascia ali, naquele momento, uma afinidade que parecia amizade antiga. E eu nem sabia ainda que se tratava de um ex-integrante da banda teen Twister (graças a Deus, pois tal informação, assim à queima-roupa, poderia ter me assustado).

Sander era a voz (e que voz!, convenhamos) aflita, nervosa, diria mesmo raivosa, que estivera escondida durante esses anos todos à espera dessa minha (nossa, né, Poli?) tão pungente canção – pois ela foi uma das que lhe enviei por e-mail na madrugada do dia em que nos havíamos conhecido. E não é que, menos de um mês depois, ele estreava sua interpretação num memorável show no Tom Jazz? Abre parênteses: casa que, infelizmente, acaba de fechar suas portas... Fecha parênteses. Naquela noite, vendo por vez primeira esse bicho solto no palco que é o intérprete Sander Mecca, senti ser afagado o orgulho de compositor que mora em todos nós e vez em quando sai pra rua. E ele teve ainda a gentileza de me apresentar à plateia(!).

Pra quem não sabe, 
Sander passou um tempo bastante longo (pra um inocente) encarcerado – quase dois anos – por tráfico de drogas, período após o qual foi inocentado(!) em julgamento e, por fim, libertado. Essa experiência resultou no livro Inferno amarelo, no qual o intérprete dos 40 graus de febre mescla relatos ora de sua fase de pop star, ora de sua fase de presidiário. Tenho que fazer a propaganda: trata-se de um livro avassalador. Poucas vezes vi alguém se desnudar tanto escrevendo. Confesso que mais de uma vez um cisco apareceu em meu olho (se é que me entendem). Além disso, pra mim, que vivia uma fase dada a flertes com a depressão, a leitura me fez sentir um completo imbecil por supervalorizar problemas menores – pelo menos se comparados com aqueles pelos quais ele passa no livro.

O parágrafo acima, escrevi porque noto um paralelo entre a saída de 
Sander do cárcere e minha volta ao lar matrimonial sempre que o vejo interpretar com tanta avidez Dia de São Nunca (claro, a coisa pode ser entendida também como ele voltando à liberdade e eu à prisão; tudo depende do ponto de vista). Se bem que, como diz outra canção, "eu posso estar completamente enganado, eu posso estar correndo pro lado errado", visto que Sander também é um ator, condição que indiscutivelmente repercute em sua interpretação quando sobe aos palcos. Contudo, finja ou a sinta de verdade, naquele momento em que está sob os holofotes ele sabe "que é dor a dor que deveras sente". No mais, terminando a citação à canção, "a dúvida é o preço da pureza, e é inútil ter certeza". 

... E, quando o sentimento é verdadeiro MESMO, dificilmente o intérprete passa em brancas nuvens ante os olhos/ouvidos do público que está diante dele. E não só o público, mas todo e qualquer ouvinte. E é aí que entra, novamente, meu barqueiro preferido na travessia do Mar Vermelho: o mano Zeca Baleiro. Quando apresentei o mano 
Mecca ao mano Zeca, este último me sugeriu que fizéssemos uma canção pensando na voz do gajo. Daí nasceu Um Pária, que fará parte do primeiro disco solo do "Tuíste". Além disso, Zeca topou na hora participar desse trabalho, cantando justamente... Dia de São Nunca! Infelizmente, por motivos contratuais, não foi liberado pra participar também do clipe que vocês verão abaixo, mas sua voz está lá. Portanto, relevem se, no clipe, a voz do dono não é a do dono da voz.

Pra encerrar, e voltando ao Tom Jazz, como 
Sander sempre teve uma boa relação com a casa a ideia era que o show O Dia de São Nunca ocorresse lá justamente nesse – repitamos – metafórico 30 de fevereiro, o que não foi possível porque seria o dia em que as portas desse tradicional espaço de shows se fechariam definitivamente. Assim, Sander (auxiliado por sua brava equipe) teve que novamente se ajoelhar ante os pés de São Nunca e pedir-lhe auxílio. O santo não se fez de rogado, tardou em fazer o milagre, é verdade, mas não falhou (antes tarde do que nunca). Assim, Sander celebrará (juntamente com sua trupe caída da nave) o Dia de São Nunca na próxima sexta-feira, também conhecida como 4 de março, no não menos charmoso Espaço Parlapatões, que tem residência fixa na praça Franklin Roosevelt, 158 – a partir das 21h. E nós celebraremos com ele.

E que São Nunca conceda vida longa ao Espaço Parlapatões! E a 
Sander também, obviamente! Pra encerrar, a oração ao santo em forma de clipe:


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E em outro formato, por outro santo, o Santo Cloud:


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PS: Participação especial de Marcio Mecca como São Nunca.

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