sexta-feira, 18 de março de 2016

Esquerda, Volver: 2) A lista (macarthista) de Rodriguinho

Sempre que vi o tal Rodrigo Constantino em vídeo (foram poucas, confesso), fui tomado por uma sensação de me achar diante de uma pessoa com algum problema mental, fosse por seus gestos, sua voz sempre um tom acima (do tipo "você sabe com quem está falando?") ou ainda por sua cara de criança grande. E, quando o masoquismo me permitia ler suas escrevinhações, a impressão se confirmava, pois seus textos me pareciam mais ser gritados que escritos. Tanto que, quando o vi se lastimando por, após ter levado um pé na bunda da Veja, saber que esta havia apagado todos os seus artigos, fiquei mesmo com pena, como se presenciasse uma criança chorando pelo pirulito roubado. Mas agora, ao saber de sua mais recente patacoada, vejo-me obrigado a admitir que esse sujeito REALMENTE não bate bem da cachola.

Pra quem não está a par nem do ato nem da existência desse fulano, tentarei ser sucinto: o cara é um desses tantos chamados "intelectuais" de direita que assolam nosso país. É raivoso, fala babando e se autodenomina "um liberal que, sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda 'politicamente correta', analisa os principais acontecimentos do país e do mundo com independência, focando em economia, política e cultura". Notem que ele acha que tem três olhos, pois "foca" em três coisas diferentes. E esse "sem medo de polêmica" foi o método do qual se utilizou pra ficar "famosinho" no meio dos reaças. Até aí, tudo bem, vivemos num país conhecido por sua pluralidade em diversos campos, sejam étnicos, culturais e mesmo políticos.

Só que o ato ao qual me referi no parágrafo acima é um tiro à queima-roupa na tal pluralidade. Não sei se ele bateu a cabeça ao ser despedido da Veja, está sofrendo a perda de um grande amor (quiçá de esquerda) ou simplesmente se aproveita de sua "faminha" pra usar de mau-caratismo contra pessoas que (além de talvez nem saberem quem ele é) pensam diferente dele. Chega de suspense! O fato é que Rodriguinho, na falta de brinquedo melhor, resolveu publicar em seu blogue novo, pós-Veja, "a lista completa dos petralhas cúmplices dos golpistas", ipsis litteris. Aliás, este é o título de um artigo seu publicado recentemente, no qual, como menino chorão que é, aponta o dedo pra 767 artistas (na verdade, 766 – Marilena Chauí aparece duas vezes!) e intelectuais de esquerda que lhe roubaram o pirulit... digo, defendem o PT.

Rodriguinho não aprendeu em casa nem na faculdade que é feio apontar o dedo. Em determinados setores da sociedade, ele poderia ser chamado de alcaguete, dedo-duro, fofoqueiro, dedurador, entregador, x-9, língua nervosa, delator... Ops! Eis aí uma palavra da moda que lhe cai como uma luva: de-la-tor! Rodriguinho, sem Veja, resolveu criar uma espécie de Lava Jato particular na qual ele brincaria de ser tanto juiz quanto delator. Ao mesmo tempo um Sergio Moro das artes (se é que isso é possível) e um Delcídio do Amaral do PAP (Partido dos Artistas Petralhas). Que feio, fio!, querer entrar numas de ser um Joseph McCarthy tupiniquim em nova "caça às bruxas"... Tão antigo isso de caçar "cumunixtas"... Aaah (bocejo), preguiiiiça...

Faz-se necessário um parágrafo didático, visto que tasquei um "macarthista" no título e citei acima o controverso político estadunidense Joseph McCarthy. Pra galerinha que acha que o maior palavrão que existe é mandar alguém ir pra Cuba, titio (roubei o "titio" do professor Leandro Karnal) vai contar uma historinha pré-cubana. Era uma vez um político, o supracitado Little Joseph, que, assim como Rodriguinho, não gostava dessa gentalha e resolveu fazer uma limpa deles em seu país. Eram os anos 1950, e entraram no balaio também os homossexuais, afinal, gay e comuna são tudo subversivo, não é, bolsonazis? Pois bem, pra vocês terem uma ideia, muita gente foi varrida do mapa por ali, entre eles Charles Chaplin – ele mesmo, o genial Carlitos –, que, acusado de comunista, passou 20 anos sem pisar em solo estadunidense.

É interessante saber mais a respeito antes de "comprar" a lista de Rodriguinho. Vamos, pois, a ela. Pensem na história de Chaplin que contei acima e leiam o que essa meiga criatura escreveu no fim de sua lista: "Boicote nos vagabundos, gente! Sem dó nem piedade. Eles querem transformar o Brasil numa Venezuela, num Cubão. Eles são comparsas dos bandidos que tomaram Brasília de assalto e atentam contra nossa democracia. Não comprem nada deles! Não leiam suas colunas! Não frequentem seus shows e peças. É boicote geral a petralha!" Quanto ódio no coração! Parece coisa de gente que não teve o amor da mãe quando criança ou que tem problemas de ejaculação precoce... "Menas", Rodriguinho, "menas"!

Vejamos, escolhendo um por letra do alfabeto: Aldir BlancBetty FariaChico BuarqueDaniela ThomasEmicida, Fernando Morais, Gregório Duvivier, Hector Babenco, Ingra Liberato, José Celso Martinez Corrêa, Kleber Mendonça Filho, frei Leonardo Boff, Marilena Chauí, Najla Passos, Orlando Senna, Paulo Betti, Roberto Farias, Sergio Mamberti, Tizuka Yamasaki, Ubiratan Araújo (coitado, o único com a inicial U), Vincent Carelli, Wagner Moura (e o Tiso também), Xenia França (também única representante da letra X) e Ziraldo. Sem falar em alguns amigos que, batendo o olho, notei, como Alain FresnotHelena Tassara e Tato Fischer. Senti umas ausências na lista. Ô, Rodriguinho, faz uma lista de responsa, pô! Essa delação tá tendenciosa, tá parecendo a outra...

Agora, falando sério, se você não é um completo imbecil não pode levar a sério uma atitude tão fascista como essa. Então, quer dizer que numa sociedade o cidadão tem que aplaudir quem pensa como ele e mandar pra Cuba quem não pensa? Sendo assim, ô, Rodriguinho, vá pra Miami! Xi, atrasei... Alguém me soprou que ele já foi... Ora, bolas, então piorou! Tá em Miami e fica cagando regras de lá? Melhor visitar a Disneylândia e tomar um café filosófico com seu amigo Pateta pra discutir MarxHegel e Lenine (que, diga-se, não tava na lista). Essa sua, , foi uma ideia, parafraseando meu amigo Edu Franco, de "jênio"! Nem o excrementíssimo senhor Bolsonazi teria sido capaz de pensar nela. Cê deu a ideia, agora imagina se outro desocupado resolve fazer uma listinha reaça, hem? Já pensou? Vamos ser todos finalmente catalogados entre vermelhos ou amarelos. E os outros tons que se phodam! Lista? Sou mais a de Schindler!


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PS: A rodriguinhana lista, na íntegra, tá no blogue dele, que não vou divulgar por despeito, visto que o cara nem pôs meu nome entre tão boas companhias...

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8 comentários:

  1. A questão que fica evidente é que, com desonrosas exceções, o outro espectro(latu sensu :-P)político não tem nem artista, nem intelectuais. Tem uns dois ou 3, tanto artistas, quanto intelectuais, dentro dessas exceções, cujas obras possuem relevância estética ou filosófica. o resto é lixo. Mas eu não vou fazer um índex... :-P

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    1. Melhor não fazer mesmo, Cava. Não usemos as armas de quem criticamos... e por tão pouco...

      Bom te ver ontem somando ao grande ato da democracia!

      Beijão,
      Léo.

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  2. Grande Léo Nogueira, sempre antenado para escrever nosso pensamento que muitas vezes nem conseguimos configurar exatamente pra colocar pra fora! Agradecido
    Beijo e luz
    Tato Fischer

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    1. Tatíssimo!

      Parabéns pela presença nessa bela lista da democracia!

      Beijão,
      Léo.

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  3. Gente, mas que lista de responsa, hein? Taí, eu gostaria de constar numa lista VIP como essa! Muita gente boa, até mesmo o Tato!
    Só rindo mesmo, porque levar esse cara a sério, acho que nem o mais ferrenho bolsominion. rs
    Beijos, queridão!

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    1. Pois é, Dannoca... Mas o pior é que muita gente o leva a sério! Aí, só com camisa de força mesmo. rs

      Beijão,
      Léo.

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  4. Léo! a pesar de no conocer al citado personaje, me bastan tus palabras para imaginar el escenario!! y solo quiero decir que en Argentina es igual (peor..la derecha ya está en el poder y el congreso ya votó para volver a endeudarnos con el FMI , incluídos muchos diputados que se "dieron vuelta" a último momento)...triste la falta de memoria y la capacidad de ser manipulada de las masas..
    abrazo!!

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    1. Hola, Marce!

      Qué tristes cosas me contás! Lo siento por vos y por Argentina, este país que aprendí a amar. Y espero que las cosas no sigan acá por el mismo camino. Fuerza, amiga!

      Besos,
      Léo.

      PD: En cuanto al tipo, no vale la pena conocerlo...

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