Era uma vez duas lindas e floridas irmãs, Lignina e Suberina, que, apesar da diferença de um ano entre uma e outra, eram idênticas na epiderme e pareciam duas gêmulas. Entretanto, eram completamente distintas no temperamento. Viviam elas felizes no distante e pacato reino de Catafilos. Nossa haustória teve seu começo no exato momento em que ambas deixavam seu doce fascicular pra dar um passeio de pericicleta pela periciclovia da orla, logo ali à beira da Praia dos Parasitas. Como era sábado, não havia caules, e Lignina, a mais velha, como em todos os sábados, não tendo que estudar, estava toda pilosa. Aliás, cá pra nós, Lignina era uma moçoila um tanto epífita, aluna mediana que, fraca nos caulículos, odiava exatas, principalmente meristemática, e a pulso conseguira decorar a tabular do 5.
Lignina era do signo de feixes, portanto uma donzela supersensível, vegetativa, que vivia sonhando acordada com o dia em que aparecesse em sua frente o príncipe clorofilado. Escrevia secretamente floemas de amorfo pra ninguém em seu diário e de vez em quando ia ao xilema, mas só quando estavam em cartaz filos românticos. Daí, sentadinha num canto, protegida pela escuridão, soluçava tão alto que chegava a dar velame. Apesar disso, Lignina era uma jovem alegre e rizoma. Em casa, passava as horas livres ouvindo música no velho grampiforme que fora de seus avós. Na verdade, tratava-se de um aparelho axial do século anterior que, apesar de monocotiledôneo, emitia um som limpo e pilífero. Lignina também era voraz devoradora de literatura hídrico-sacarídea.
Já Suberina era seu extremo oposto. Como boa genesiana, era uma moça muito temperamental, de caráter dicotiledôneo, gostava de discutir e adorava entrar em colênquimas. Ninguém sabia de quem ela herdara seu mau dermatogênio, visto que vivia crivosa. Alguns diziam que era por um problema crônico que tinha no estômato; outros, que era a citoplasma, que lhe dificultava a respiração; já terceiros juravam que não, era por pura gutação. Inquieta, era dada a vascular gametas no quarto dos pais à procura de não sei o quê, mas, quando sua mãe a reprimia, dava estolões e mentia que havia sido a irmã. Contudo, não era de todo malvácea; quando estava em sedimentação, sabia ser amida fiel. No fundo, era até simpátrica, inteligente e cheia de lignificados. Também era parenquimática, fazia o que tinha que ser feito; e, nas aulas de Geotropismo, era uma verdadeira felogênia. Seu livro de cabeceira era Trófico de câncer.
Por essas e outras, apesar das diferenças apicais, as duas irmãs eram insolúveis feito membranas siamesas, e uma defendia a outra quando as situações ficavam tuberosas. Certa vez, assinaram seus nomes numa folha de papel sulfito e fizeram um pacto de seiva, pelo qual juraram que jamais haveria um córtex entre ambas por todos os centríolos dos centríolos, amém. E era bonito de ver quando as duas se divertiam juntas em seu ecossistema, com seus lindos carpelos loiros soltos ao vento, como se quisessem dizer a todos, "Vejam cromossomos unidas". Uma completava a outra, tanto que, quando posavam pra uma fotossíntese, não dava pra saber quem era quem. Na verdade, não passavam de duas ingênuas mocinhas sarmentas.
A família de Lignina e Suberina, apesar de não ser de nobre estipe, gavinha numa escala escandescente depois que seu Cladódio (pai das meninas) tomou colágeno, abandonou o velho emprego, comprou um filotáxi e passou a trabalhar por cutina própria no campo da filotaxia. Então, de um pequeno cumarílico onde mal cabiam os quatro, mudaram-se pra um sobrado lacunoso e bem verticilado, num bairro clorofílico e cheio de alburnos. Por isso, dona Violácea (a mãe) vivia rizoide. Do lar, ela era uma espata cozinheira. Tudo o que fazia ficava delicioso, mas seu cartão de visita era a sopa de lenticela, que era súber! E, nas raras horas vagas, também se dedicava a fazer tricoma. Aos gramíneos, a família unida ia à missa, orava por um mundo sem tanto filódio e com menos xerófitas. Depois, em silêncio, entravam na fila pra receber a ostíola.
Seu Cladódio era um boa-praça e raramente dava esporos nas filhas. Já dona Violácea vez ou outra ficava fistulosa, mas só quando as meninas iam mal nos estames escolares ou quando, em vez de fazer a venação de casa, ficavam horas falando ao celulose. Apesar disso, dona Violácea era uma mãe atenciosa, a família vivia em harmonia em sua nova casa, e as meninas adoravam brincar no jardim e cheirar as sépalas de rosas e demais foliares. A propósito, pra não dizer que tudo eram rosas, dona Violácea tinha um pequeno probleminha nas angiospermas: umas varizes interfasciculares que lhe dificultavam um pouco as atividades domésticas. Mas ela tirava de letra. Positiva, costumava ver sempre o peciolado bom da vida.
Nessa manhã, no entanto, o tanino iria lhes pregar uma boa peça. Lignina, inadvertidamente, ao desviar de um periclista basal que vinha na circunutação, subiu no mesofilo, e tal manobra acabou furando um dos pneumatódios de sua pericicleta. Com grande agilidade, antes da queda Lignina pulou e caiu de pé. Não fosse isso, talvez a coisa tivesse ganho contornos um tanto sinistrorsos. Agora, já que não tinha estolha, o jeito era ir a uma borracharia. Suberina, solícita, acompanhou a irmã. Lá chegando, foram atendidas por um jovem de lenho estival (pelo aspecto, notava-se que fazia heterofilismo), dono de um belo cortical de carpelo e um citosol brilhante tatuado no ombro direito. Charmoso e rizomo, Tunicado (era este seu nome) conquistou as duas irmãs; foi amorfo à primeira vista.
Ambas estavam se sentindo retículas, mas assuntos do coração são meristemas complexos. E, pra colmo, Tunicado se engraçou por Lignina, o que deixou Suberina pílea da vida. Contudo, na falta de melhor tegumento, e por orgulho, Suberina fez que não era com ela, fingiu mesmo ficar enzima do muro, mas lá no fundo seguia mantendo por Tunicado uma paixão planctônica. Tunicado era um alvéolo moléculo muito do sapéculo. Apesar de filho de italianos recém-chegados da Silícia, parecia um carioteca, era chegado numa heterofagia e nas horas vacúolas gostava muito de dar vazão à lipídio. Foi assim que certo dia fez com Lignina atividades um tanto dextrorsas que findaram por deixá-la barriguda. Tempos depois, ao saber o que seus endodermas haviam feito com a pecíola, fez a linfa em seu quarto, agiu como um verdadeiro estípula e, traidor qual um Judas Eucariotes, caiu no mundo.
Houve muito filocládio no bairro, graças à língua das das insetívoras cromátides vizinhas, que costumam ser chegadas a um adventício; mas o tempo passou e hoje Lignina e Suberina voltaram a ser unidas. Suberina, inclusive, adora brincar com as sobrinhas, duas gemas absolutamente idênticas. Quando uma ou outra se lembra de Tunicado, o faz de forma lêntica e silenciosa, pra não prejudicar a aerênquima que há entre ambas e que por causa de um sujeito xeromórfico e pivotante quase se trofofilou. Não, estão mais unidas que nunca. Mais que irmãs, são duas anagêneses. Abraçam-se paliçadicamente, sorriem e repetem o bordão: "É nóis nas briófitas!"
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PS: Dedicado a Auri Rodrigues.
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Ah! Demais, Léozíssimo!
ResponderExcluirAdorei este conto.
Gracias, Vanessinha!
ExcluirBeijos,
Léo.
No inicio fiquei muito aflita, pensei que me teria acontecido algo de "ruinzinho", que me teria afectado a capacidade de ler, mas não depois de umas consultas ao dicionário, entendi tratar-se de língua assaz cientifica que estava de saúde e perante um belíssimo conto. parabéns pela criatividade e arte.
ResponderExcluirLeo Rossas é o nome da aldeia onde passeia s melhores férias da minha vida. Abraço Mi.
ResponderExcluirAh, doravante saberei associar o nome à pessoa.
ExcluirBeijos, Mi,
Léo.