quarta-feira, 9 de novembro de 2016

A Palavra É: 20) Septo

Os poetas vemos uma
borboleta; 
e você?
Um amigo cujo nome não posso revelar, a pedido do próprio (não confundir com o mesmo!)... Hmmm... Dá pra dizer apenas que suas iniciais são MP, como as de medida provisória. Bem, o fato é que ele me confidenciou que vai entrar na faca, pra tratar do desvio do septo. E em plena véspera de meu aniversário. Marcou de propósito, pra que seja uma véspera inesquecível. Se eu fizesse festa, ele seria ausência garantida. Mas o culpado não teria sido eu, e sim o tal do septo, que faz algum tempo se desviou do caminho cepto – e o trocou pelo erradpo. Pra quem não sabe o que vem a ser o septo (como era meu caso até segundos atrás), não custa nada uma visita ao pai dos burros.

Assim, foi o que eu fiz. Até porque, parafraseando um velho poeta maranhense que, como muita gente, tem alergia a lula (com L maiúsculo, acrescente-se), o septo não foi feito pra humilhar ninguém. Ao Houaiss, pois: "1) parede anatômica que divide duas cavidades ou massas de tecido mais mole; 1.1) qualquer estrutura que separa duas cavidades ou estruturas, ger. laminar, tal como as que dividem os lóculos de um fruto composto ou as lojas de um ovário composto ou de uma antera, ou ainda a que é formada pela união das membranas de duas células adjacentes; tabique, dissepimento; e 1.2) cada uma das estruturas transversais que, em conjunto, dividem a concha dos cefalópodes em câmaras internas." 

Entenderam? Se não, posso apenas antecipar que ele poderia ter ido tratar na Nasa, visto que em seu caso é um septo nasal. O interessante (pra mim, não pra meu amigo) foi que, quando ele me contou sua situação, e ao contrário de meus hábitos circunspectos, diria até carrancudos, comecei a emendar uma tirada atrás da outra sem conseguir parar. Uma verdadeira saraivada de septices nunca antes vista neste país. Foi quase um stand-up via whatsapp (pra rimar) – já que por lá nos comunicávamos. E foi quando eu tive a ideia de trazer essa chistosa palavrinha pra cá, com o intuito de enriquecer o conhecimento geral – e meu besteirol particular. 

Mas meu amigo foi camarada, entrou no espírito e chegou mesmo a me ajudar em uma ou outra tirada. Por exemplo: disse-me ele que estava um tanto receoso de que um preenchimento de formulário feito de forma equivocada pudesse causar um problema mais sério, visto que ele estará anestesiado e, portanto, impotente (ui!). Já pensaram? Vai que quem preencheu o danado do formulário tem a letra feia (letra de médico)... Nesses casos, um simples septo pode virar uma grande dor de cabeça (e na de baixo!). Imaginem: o sujeito chega lá, anestesiam-no, o "seu doutor" pega a prancheta, lê o garrancho e avisa aos cupinchas: "Pessoal, é cirurgia de desvio de sexo"!

Espero que tudo dê cepto, digo, certo. Vai que meu amigo sai da sala de cirurgia como um novo membro (ui! 2) do septo feminino... Então, quando ele descobrir, entre lágrimas perguntará ao médico: "Tem septeza, doutor?" Imagino o quão séptico ficará. Como bom amigo, tentei acalmá-lo, e disse que eu ainda o vou ver ficar septoagenário. Mas o curioso foi que me disse ele que, quando foi marcar a internação, pediram-lhe a septidão de nascimento... Daí o cara sai do hospital com complexo de septo, e já viu, né? Se ele resolve se casar na igreja, já antevejo o padre perguntando: "Meu filho, você aceita essa mulher como sua legítima esposa?", e ele respondendo: "Sim, padre, assepto." 

Vocês bem sabem que existem aqueles sujeitos a quem chamamos de insetos, mas meu amigo creerá que são todos inseptos. Para estes, meu bom MP, restará sempre o insepticida. O pior será se você realmente sair com complexo de septo e inventar de querer beijar o próprio nariz! Ou então exatamente o contrário: vai que sai de lá traumatizado e vira um sujeito verdadeiramente asséptico! Ou ainda que vossa majestade resolva caminhar soberanamente pelas ruas com um septro em mãos, sentindo-se um monarca entre septenas de milhares de inosseptos transeuntes que, como eu, não sabem como é dura a vida daqueles que se desviaram do caminho septo...

Não obstante o septo, existem ainda todos aqueles que são adeptos; os que preferem os bendictos; os quase extintos corruptos; os que ficarão decrépitos; os que tomam chá de eucalipto; os que permanecem imaculadamente fétidos; os nascidos em Gotham, ou seja, os góthicos; a turminha dos heréticos; os poucos brasileiros que são ineptos; os dogmáticos; os justos (que não cabem nessa rima); os lunáticos; os mentecaptos; os narcisísticos; aqueles poucos por quem eu opto; os que sabem o valor do producto; os que jamais ficarão quieptos; os que tiram o seu da reta e os reptos; os que zoam o barraco a semana inteira, mas honram os sábados; os que desenham os transeptos; os últimos (que nunca serão os primeiros); os voptos e os veptos; os xistoquímicos; o Zéfiro... e, septamente, meu amigo MP, que com toda a septeza diria, a exemplo do mano Zeca Baleiro, "Tire o seu piercing do caminho, que eu quero passar com a minha dor".

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PS1: Quem escolheu a palavra desta vez, ainda que à revelia, foi MP... Eu apenas a pesquei.

PS2: Trilha sonora: Adrián Berra, Un beso en la nariz (Adrián Berra) – porque um tema tão séptico pede uma trilha sonora fofa.


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2 comentários:

  1. Respostas
    1. Lindo? Pô, Curcinha! Errei a mão então. Achei que tava engraçado... Daí, escrevo outro, lindo, e cê pode vir me dizer que achou engraçado... Hahaha!

      Beijos sem septo,
      Léo.

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