por Vanessa Curci |
Pesquisem lá no São Google ou no youtube e verão que desde criança ele era figurinha fácil nos mais variados programas de tevê. Cerca de 30 anos em frente às câmeras e em cima dos palcos deram a ele uma experiência e uma naturalidade que poucos artistas possuem. Seguro de si, domina e encanta o público, improvisa como poucos e ainda por cima aprendeu a conhecer e a usar como quer seu maior instrumento: a voz. Aliás, a voz já fez dele um grande cantor, mas ele superou isso e hoje é muito mais, é um genial intérprete. Pra saber a diferença entre um e outro, basta pensar nesses vários cantores em série que aparecem por aí fazendo malabarismo vocal e destruindo as letras que cantam. Sander não faz parte desse time. Sabe quando ser econômico e quando soltar o gogó.
Por falar nisso, ele aprendeu justamente a fazer o oposto dessa galera: extraiu de seu âmago sons praticamente guturais e desenvolveu uns graves que por mais baixo que soem não perdem o contato com a nota certa. Sander é sobrinho do recém-falecido Leonard Cohen, é irmão mais novo de Cássia Eller; não estica a voz mais que o necessário pra dar o recado do que canta. Por isso, hoje, maduro apesar de ainda jovem, respeita muito o repertório que elege pra cantar. Os altos e baixos de sua vida o transformaram num verdadeiro contraste ambulante: a cútis de menino que parece não ter mudado muito desde seus tempos de Twister esconde um quase ancião. Sim, pois basta cinco minutos de papo com Sander pra sacar que nessas menos de quatro décadas ele viveu como se tivesse o dobro da idade.
Mas ainda não sei se Sander é um cara sortudo ou azarado. Seus irmãos estão aí, estabilizados, e ele continua brincando dentro do olho do furacão. Mas o que se pode fazer? Sander é como o mecânico de que falei acima. Este destrinchando motor e metal; o outro em meio a cabos, microfones, guitarras... Sander é um cara triste quando não está no palco ou no estúdio. Ligado no 220, não para quieto, não quer ir pra cama nem quando o sol já ameaça despontar. Desespera-se. Não sabe fazer outra coisa. Não é bom motorista, não sabe pintar uma parede, muito menos martelar um prego. Que dirá então equilibrar uma bandeja ou consertar aparelhos eletrônicos? Não nasceu pra acordar com as galinhas; pelo contrário, espera que o galo não cante pra não acordá-lo quando finalmente cai no sono.
O cara é quase um vampiro. Quando a lua aparece, ilumina seu sorriso. Já o sol, cruel, lança seus raios implacavelmente sobre sobre as rugas (internas) do velho moço. É um insone que nessas madrugadas em que não está ocupado em cantar preenche o tempo caminhando pelas ruas semi-iluminadas de seu interior em busca não de autoconhecimento, mas quem sabe de esquecimento. É, a barra pesou pra ele, viveu cada dia como se fosse o último, consumiu tudo o que pintou em sua frente, puxou cana entre assassinos, enfim, tem muita história pra contar. Aliás, algumas delas contou em seu emocionante (porque emocionado) livro Inferno amarelo, que me sensibilizou profundamente. Porque Sander é verdadeiro, entregue, um sujeito que está por inteiro em tudo no que se mete. E ele se meteu em muitas.
Talvez você, ao puxar pela memória e se lembrar da banda da qual ele fez parte, sinta certo preconceito em relação ao rapaz. Não tiro sua razão. Eu também trago cá comigo uns tantos preconceitos, mas garanto que se lhe der oportunidade certamente irá se surpreender. E, antes de julgá-lo, pense: quem nunca na vida regou sonhos de fama e sucesso? Ainda mais quando moleque. Eu sonhava em ser craque da pelota. Não rolou. Sander sonhava em ter uma banda. E realizou seu sonho. Conseguiu cedo sucesso nacional e internacional. Só que teve que pagar o preço. Tinha que cantar um repertório que não condizia com o que ele ouvia em casa. Foi paciente. E profissional. Fez tudo o que lhe ordenaram e do melhor modo possível, sabedor de que chegaria o dia em que teria autonomia pra cantar só o que quisesse.
Esse dia chegou. E olha que o moço, quando passou a cantar o que queria, deixou de ser um simples canário e virou um trovão. E o passo seguinte era gravar essas canções. E é aí que você, leitor, entra nessa história. Sander está na empreitada de gravar seu primeiro trabalho solo e precisa de sua colaboração. Já lançou virtualmente o EP Não-Estrutural com três canções (não coincidentemente saídas da pena deste escriba) e quer terminar o trabalho pra voltar a percorrer o país como fazia antes, só que agora cantando sua verdade. Compositor bissexto, foi beber na fonte de uma galera da pesada no ofício de fazer canção: entre outros, Gabriel Povoas (também arranjador do EP), Marcio Policastro, Renato Godá, Rica Soares, Vlado Lima e Zeca Baleiro, que além de compor uma canção especialmente pro intérprete, ainda participou do disco cantando outra faixa.
Sander podia estar roubando, podia mesmo estar infeliz num escritório qualquer, mas bancou essa briga, mais, esse sonho. E está perto de vê-lo realizado. E você pode ajudá-lo nisso. Aproveite o fim do ano, o 13º e tal, apure seu espírito natalino e faça um bem que vai fazer bem a um montão de gente Brasil (e, por que não?, mundo) afora, tanto a seus saudosos fãs antigos (que se surpreenderão com o novo Sander) quanto aos que se tornarão depois de ouvi-lo. Se está em dúvida ainda, abaixo trouxe as três canções do EP e, de quebra, um clipe muito caprichado da canção Dia de São Nunca. Falando nisso, não espere o Dia de São Nunca pra ajudá-lo, pois a campanha de financiamento coletivo tem data-limite (segue o link: https://www.kickante. com.br/campanhas/sander-mecca- cd-nao-estrutural). Ajuda aí, vai! A César o que é de César e a Sander o que é de Sander!
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Que texto legal, Léozíssimo!
ResponderExcluirLindo!
Valeu, Curcíssima!
ExcluirBeijos,
Léo.