quinta-feira, 16 de março de 2017

Esquerda, Volver: 14) Por que dizemos "não" à reforma previdenciária

Sim, eu sei, sou um utopista; não o fosse, não me dedicaria a versejar melodias mundo afora. Portanto, sonho ainda em ver chegar o dia em que, por exemplo, torcedores de Palmeiras e Corinthians, Flamengo e Fluminense, Atlético e Cruzeiro, Grêmio e Internacional etc. sentem-se um ao lado do outro na arquibancada sem que seja necessário separá-los como separamos suínos de bovinos. Quer dizer, em raras exceções isso já acontece, mas apenas em jogos da Seleção Brasileira. E por quê? Porque nesse caso há um interesse comum. Por essas e outras, estranhei a ausência dos coxinhas na manifestação contra a reforma da Previdência que houve no dia 15 último. Sim, petralhas e coxinhas não se sentam lado a lado na arquibancada quando a disputa é entre Esquerda e Direita, mas o caso era outro, tratava-se então de um "jogo da Seleção".

A primeira coisa que ouvimos dos coxinhas (né, Ricardo Moreira?) é algo tipo "Toma, que o filho é teu", "Quem pariu Mateus que o embale", "A culpa é de vocês, que votaram neles. Eu não votei", e por aí vai. Como se eles não morassem no mesmo país que nós e não fossem igualmente afetados pela farra do boi que ora se engendra em Brasília – com a silenciosa anuência desses até há pouco paneleiros e demais bastiões da ética. Daí, eu penso que quando o Corinthians perde eu fico muito satisfeito, mas quando a Seleção Brasileira toma de 7 a 1 me dá uma tristeza danada. E nossa sociedade como um todo está às vésperas de uma goleada muito pior, porque aquela que a Alemanha nos infligiu, embora ainda doa, não é exatamente uma dor física; já a goleada que se nos impõe goela abaixo vai nos causar dores permanentes da unha encravada do pé ao último fio de cabelo – passando pela alma.

E a quem me diz que a culpa é de quem votou em Dilma eu respondo que, pelo cenário que vejo hoje, culpa maior tem QUEM A TIROU. E assim notamos que quem acertou na previsão foi o Pai Jucá, que vaticinou a necessidade de se estancar a sangria... Ele só se esqueceu de acrescentar que, se estancava de um lado, fazia jorrar do outro – o nosso. Como já cantava em uma antiga canção o rei Roberto Carlos, "saber quem é culpado não resolve nossa vida"; a hora é de esquecermos picuinhas e invadirmos todos juntos essa grande arquibancada que é a rua antes que seja tarde demais. Digo mais: qualquer cidadão que pense em seus pais e/ou filhos (se o pensar em si mesmo não o afetar) não pode ser a favor de uma reforma dessa magnitude, ainda mais vindo de quem vem. Ô, meu povo, acorde! Raposa tomar conta do galinheiro nunca foi bom negócio – pelo menos pras galinhas.

Após o sucesso da manifestação do dia 15 último, que não teve grande respaldo da mídia pelega, fiquei pensando cá com os botox, digo, botões que não tenho que devia haver uma lei que protegesse o eleitor em geral de golpes ainda maiores que o que ora vigora, que são aqueles perpetrados (não confundir com perpetralhas) contra o plano de governo escolhido pela maioria. Explico: esses mesmos silenciosos ex-paneleiros que dizem que a culpa é de quem votou em Dilma, que desembocou em Temer, esquecem que o ilegítimo governo atual governa em oposição àquele do qual herdou (pra não dizer roubou) o poder. Ou seja, nós, que votamos em Dilma, continuamos com a consciência tranquila, pois não o fizemos pra ver o que ora sucede. Um vice (ou mesmo um presidente) devia ser obrigado a obedecer a proposta oferecida ao povo que foi vencedora nas urnas.

Por isso, como disse Lula em seu discurso na manifestação, a questão da legitimidade é, mais que importante, imprescindível. Caso contrário, se a moda pega vai ser um tal de impeachment pra lá, impeachment pra cá, e vices donos de escusas intenções assumindo o poder e fazendo o que bem lhes dê na veneta. E isso pode acontecer também com os candidatos do eleitor coxinha – pensem nisso! Imaginem se, numa hipotética coligação, Geraldo Alckmin vence uma eleição à Presidência tendo Marta Suplicy como vice e esta lhe puxa o tapete, assume e vira a mesa. Pensaram? Não seria algo agradável pra vocês, né? E essa minha sugestão vai mais longe, não trata apenas de puxadas de tapete, mas inclusive também dos governos legítimos, visto que no Brasil é praxe um governante rasgar seu plano de governo após a vitória nas urnas. A própria Dilma, acrescentemos, fez isso em seu segundo mandato – ou no pouco tempo que lhe coube. 

Portanto, nós, eleitores, sofremos um duro, e duplo, golpe, um dentro do outro, meio que um golpe Kinder Ovo. Até entendo quando dizem que não há mais esquerdas e direitas, afinal o complexo modus operandi da política brasileira, por meio de obtusos meandros, tratou de tornar completamente inviável a possibilidade de uma ideologia governar sozinha; contudo, o que resta ao qual nos apegarmos, que são os planos de governo, não deveriam ser apenas chamarizes como aquela clássica imagem da cenoura posta à frente do cavalo pra fazê-lo correr. É assim que me sinto ao ver tantos governos irem no sentido contrário ao de suas propostas. E pior ainda quando os chamados governos de coalizão traem suas metas. E, nesse caso, o governo deste ridículo homúnculo (by Fernando Cavallieri) é duas vezes traidor, pois, além de trair a coligação, traiu o eleitor – que, não, coxas, não votou nele!

Ainda que o governo atual fosse legítimo (supondo que o impeachment de Dilma tivesse base na lei e não nos votos de senadores mais preocupados com o próprio rabo – sujo), ainda assim, antes de nos estuprarem com essa fálica reforma deveria ser necessário consultar os estuprados, digo, o povo, fazendo ao menos um plebiscito. Só assim o maior interessado, ou seja, os trabalhadores brasileiros, ver-nos-íamos exercendo nosso pleno direito de escolher entre trabalhar ou ser burro de carga. O que está por ser votado é muito sério, e deixará um rastro de caos por muitos e muitos anos, portanto é bom que estejamos atentos e fortes. Caso esse crime contra a nação seja aprovado, trará com ele um mar de desespero e, obviamente, violência. E do qual ninguém se verá livre. O Brasil já provou por A + A que nossa justiça não é igual pra todos, mas ver essa cambada de canalhas com aposentadorias "diferenciadas" decidir sobre a nossa é a cereja do bolo de merda que em breve engoliremos felizes. Vai um pedacinho aí?

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O bonde da aposentadoria: Fernando Cavallieri, eu,
Teju Franco, Ricardo Moreira e Marcio Policastro
só esses cinco praticamente quebram a banca do Ecad

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6 comentários:

  1. Hoje a minha ideologia é ser contra ao avanço do Neoloberalismo. Qualquer outra opção progressista vejo como utopia.

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    1. Caro AC, já havia respondido no face, replico aqui:

      Mas, AC, sua ideologia, da qual também sou adepto, não chega a ser praticamente uma utopia também?

      Abraços,
      Léo.

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  2. Uma análise direta e objetiva dos fatos!
    E, em minha opinião, a maior vitória dos golpistas foi dividir a sociedade, que julga pela paixão e não pela razão.

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  3. Guilhotina!
    Ops...
    Aí! Esse corretor.
    Quis dizer, reforma política, já!

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    1. Sim, nem que seja pela guilhot... É mesmo, esse corretor é freud! rs

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