terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Grafite na Agulha: 43) Nos trilhos da Estação Felicidade

Chegou! Chegou ao Japão a Estação Felicidade, primeiro — e já clássico — disco de Augusto Teixeira! E chegou também às plataformas digitais. Com cerca de dois anos de atraso, mas por um justo motivo. E eu, até com certo orgulho, venho por esta confessar que fui um dos culpados por esse atraso. Explico: há alguns meses, Augusto estava já com o disco terminado e em vias de mandá-lo pra fábrica quando, depois de um encontro em que ele me mostrou algumas faixas, tasquei à queima-roupa: "Cara, bem que cairia como uma luva a voz do Zeca (Baleiro) n'A Luz de Luzia, hem?" Na hora, vi seus olhinhos brilharem e em seguida ele respondeu: "Tá em tempo ainda. Tem o dom de falar com ele? Eu tinha já pensado nisso, mas fiquei com vergonha de pedir..."

Horas depois, a canção já havia sido enviada a Zeca, que no dia seguinte fez um dos maiores elogios que acredito que Augusto (e eu de tabela, como parceiro na canção) já tenha recebido. Disse-me ele: "Léo, a canção é maravilhosa! Sabe quem imagino cantando-a? Chico Buarque. Que tal falar com ele? Eu posso fazer um meio de campo. Daí, eu canto outra." Reparem que quando enfatizo vez em quando por aqui que o moço das balas é de uma generosidade ímpar não exagero. Falou com alguém de sua equipe e me descolou um contato da produção de Chico. Enviei-o a Augusto, que escreveu e obteve resposta imediata: infelizmente, Chico estava em vias de lançar seu novo CD, Caravanas, portanto temporariamente impedido por sua gravadora de aparições paralelas em outros trabalhos.

Zeca, Leo e Augusto
— por Nando Dias Gomes
Na hora, ficamos tristes, mas foi por pouco tempo. Bastou Zeca pôr voz na canção pra qualquer tristeza se ver dissipada. E o cabra arrebentou tanto que Augusto me confessou baixinho: "Dá vontade de deixar só a voz dele." Mas a junção das duas vozes ficou linda, como vocês ouvirão. E os presentes não pararam por aí. Nesse mesmo dia, no estúdio em que Zeca gravava, o próprio me disse: "Léo, do que conheço de sua obra acho que esta é sua melhor letra." Imaginem como o babão ficou. E, como se não bastasse, eis que adentra ao recinto ninguém menos que Elifas Andreato — pra quem não sabe, um ilustrador genial responsável por várias memoráveis capas de nossa MPB.

Elifas vinha presentear Zeca com um desenho que lhe fizera pr'um determinado projeto. Zeca o convidou a ouvir a gravação e o mago das capas foi só elogios. Durante o tempo em que passou por ali, contou vários "causos", o que deixou o ambiente relaxado a ponto de Augusto criar coragem e convidá-lo pra fazer a capa de seu disco. Trocaram contatos, e não é que a mágica se fez? Hoje, com o encarte nas mãos, sinto redobrada a (estação?) felicidade ao me saber de certa forma contribuinte dessa bola de neve que foi crescendo e envolvendo grande parte do trabalho de Augusto. O que me lembra uns versos de outra parceria nossa que diz que "o universo, quando conspira, ninguém segura".

Agora, sim, o CD estava pronto pra ir pra fábrica. Mas... sacumé, né? Atrasado, atrasado e meio. Pois quando é por um bom motivo até Deus abençoa. Augusto aproveitou que a maré estava boa e me confidenciou que seria bem bacana se Ceumar pudesse também participar numa faixa. E lá fui eu de novo ser cupido dos amores dessa estação. Entrei em contato com a mineira, caprichei nas tintas dos elogios ao maquinista desse trem de felicidades e, ao perceber possível sinal verde da cantante de cabelos revoltos, pus ambos em contato, e tudo foi rápido que nem carro na banguela na descida. E quem ganhou um baita presente fomos eu e outro grande parça, Gabriel de Almeida Prado

Ceumar e Augusto
— por Thales Menezes
Nova explicação: eu, Gabriel e Augusto temos uma "triceria" chamada Vírgula, que em princípio não fazia parte do repertório do disco. Só que Augusto caiu na besteira (bendita!) de mostrar, entre outras do disco, nossa virgulina canção; e não é que Ceumar escolheu justo essa? E lá se foi Augusto mais uma vez chamar o coprodutor Leo Costa, contactar músicos e entrar em estúdio pra deixar a canção azeitada pra que a moça encontrasse tudo nos trinques no dia de pôr a voz. Mais uma vez estive no estúdio assistindo ao talento e à versatilidade de Ceumar em ação. Ah, e também o grande sorriso e a maior ainda gentileza. Ver figuras desse nível trabalhando é sempre bom pra alma. Assim, posso dizer que aquela noite voltei pra casa de alma lavada!

Enfim, era hora de dar à luz a cria. E Augusto, que de besta só tem o jeito de andar, pra mostrar que manja do riscado trouxe ao mundo quase ao mesmo tempo logo dois filhos: o supracitado disco e Juan, seu primeiro pimpolho que, operando dentro da mãe em modus augustus, escapou de ser sagitariano e nasceu em berço (esplêndido) capricorniano. Ah, quase não falei do disco! Mas será que precisa? Caro leitor, pense comigo: você acha que se se tratasse de um disquinho qualquer o universo ia dar a Augusto todos esses presentes? Mas de jeito maneira, não é? Pra resumir, acrescento apenas que Estação Felicidade é um desses discos com cara de clássicos, atemporais; sem fricotes modernosos, embasa-se apenas na beleza das canções, dos arranjos e da qualidade dos músicos. E aqui e acolá na contribuição de bastidores e de canetadas deste humilde escriba. Ouçam e digam se me equivoco.


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Augusto Teixeira — Estação Felicidade (2017 — independente)

1. Toda em Si
    (Augusto Teixeira – Marina TavaresÁlvaro Cueva)
2. Home, e o Menino?
    (Augusto Teixeira)
3. Costura
    (Augusto Teixeira)
4. A Quem me Espera na Brisa
    (Augusto Teixeira)
5. Abismos Ancestrais — participação de Pedro Iaco
    (Augusto Teixeira – Léo Nogueira)
6. A Luz de Luzia — participação de Zeca Baleiro
    (Augusto Teixeira – Léo Nogueira)
7. Iara e Eu
    (Augusto Teixeira – Léo Nogueira)
8. Mais Janelas Abertas
    (Augusto Teixeira)
9. Estação Felicidade
    (Augusto Teixeira)
10. Além da Janela
    (Augusto Teixeira – Álvaro Cueva)
11. Destinação
    (Augusto Teixeira)
12. Miragem (Mei Baião) — participação de Lilian Estela
    (Bruna Buschle – Augusto Teixeira – Marina Tavares)
13. Vírgula — participação de Ceumar
    (Augusto Teixeira – Gabriel de Almeida Prado – Léo Nogueira)


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Ouça o CD na íntegra aqui:



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