terça-feira, 24 de abril de 2018

Notícias de Sampa: 22) Vlado Lima — sabe de tudo, culpado!

Quando neste sábado próximo, também conhecido como 28 de abril de 2018, meu amigo Vlado Lima estará no memorável Garagem Vinil lançando seu terceiro livro de poemas (a saber: Sabe de nada, inocente! de sua editora Sopa de Letrinhas), às 19h (com pontualidade NADA britânica), muito provavelmente eu, homem do futuro (visto que estou 12 horas à frente dos irmãos brasucas), estarei despertando pra manhã do dia seguinte em Tóquio, contudo querendo ter uma dessas máquinas de teletransporte que há (há?) por aí que me possibilite estar lá na rua Mourato Coelho, 585, Pinheiros, na velha Sampa City — ah, faltou falar que nessa mesma noite o sarau Sopa de Letrinhas estará comemorando seus 16 anos de sucesso! Das duas uma: ou virarei pro outro lado e pensarei em dormir mais um pouco, visto que será domingo, ou me levantarei e, contra minha religião, tomarei algo "mais forte" tão cedo só pra fazer um brinde ao evento e a seu sucesso.

E isso tudo com a consciência tranquila (e certo orgulho) de quem, apesar de longe pra dedéu, deu sua pequena contribuição não apenas divulgando a festa, mas também tendo feito a ponte entre a poesia pra lá de marginal (eu diria quase criminosa!) de Vlado Lima e os literários olhos famintos de Zeca Baleiro, que cometeu o texto abaixo, que ora roubo do prefácio do livro pra democratizá-lo. Pensando bem, acho que levantarei, brindarei e dormirei de novo. Afinal, tenho andado muito atarefado por aqui. O mais legal (e em dose dupla) é que, embora tendo sido dos primeiros privilegiados a ler esse neoclássico da poesia brasileira que come com a mão, como coincido com o mestre das balas economizo minhas palavras gastando as dele. 

Sucesso, Vlado! Sucesso, Sopa de Letrinhas! Guardem uma cadeira imaginária aí pra mim!


Prefácio 
por Zeca Baleiro

Vlado Lima é um poeta de estirpe rock’n’roll que conheci há pouco tempo e de quem me tornei admirador. Vlado tem um jeito muito particular de escrever e ver o mundo. Seus jabs poéticos soam líricos e épicos, escatológicos e apocalípticos — e às vezes tudo ao mesmo tempo —, mas nunca são socos disparados ao acaso. Seu alvo é claro.

O desencanto com o mundo desola o poeta, mas não o abate, exalta-o. Daí resultam versos coalhados de altivez e raiva, paixão e libido, descaso e engajamento. E a baba do sarcasmo lhe escorre viscosa (e vistosa).

Sua poesia-quase-prosa remonta aqui e acolá ao espírito beatnik. Lembra o melhor do velho Bukowsky e também o timbre surreal-alucinatório de Gregory Corso.

Só que o cara é original, não copia. Tem a verve malandramente brasileira, a dicção suja das ruas, o tom coloquial dos bares, cafofos e randevus de esquina.

Como um cordelista siderado, mistura alusões à cultura pop (cinema, gibis e música) com imaginário familiar e passeios pela mitologia e pela cultura de almanaque, criando o seu próprio fabulário. Em sua aparentemente destemperada fúria de boxer, crava versos antológicos como: “vou costurar um abadá na pele do peito” ou “e eu aqui… peneirando a tez rude/ da voz das ruas/ num suco de caos e cacofonia” ou ainda “só há naufrágios agora/ cachalotes afogados/ e o escombro assombrado/ de um submarino russo”.

Lendo este livro de boa poesia, reacendeu em mim uma certa esperança, não na poesia ou na arte exatamente, mas no sentimento do mundo que sobrevive em todo bom poeta. Aquele sobre o qual já falou o pioneiro Thoreau — “é como um urso, se alimenta do próprio tutano”.

Evoé, saravá, Vlado!

Zeca Baleiro
[São Paulo, 8 de abril de 2018]

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Mais informações sobre o evento aqui.

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