quarta-feira, 15 de junho de 2016

Trinca de Copas: 35) Adolar Marin (+ Gilvandro Filho), Clarisse Grova e Nando Correia


1) INCONTÁVEL


Há alguns dias, aniversariou meu mano Élio Camalle, o cara com quem mais filosofei, bebi, briguei, ri e compus (não exatamente nessa ordem, mas às vezes tudo isso ao mesmo tempo). Coincidentemente, perto do aniversário dele minha também parceira Clarisse Grova divulgou no fb uma canção dela em parceria comigo feita justamente em homenagem a Camalle. Então, resolvi trazê-la pra cá juntamente com sua história. Deu-se desse modo: há alguns anos, quando eu e Camalle (assim como hoje) vivíamos um período de afastamento, alguém divulgou nas redes sociais uma canção chamada Dia de Estrelas, dele em parceria com meu também parceiro Kleber Albuquerque – ouça-a aqui com o incrível Rubi.

Pois bem, ouvindo-a, não tive como não cair num pranto desavergonhado. Aquela canção, por motivos distintos (mas não muito) dos da letra, me calava fundo e me dava uma saudade danada de uma amizade que até hoje vive em mim (a saudade e a amizade; inclusive, sempre que ouço essa emblemática canção ainda me emociono). Com o rosto banhado em pranto e a visão embaçada, comecei a rabiscar uns versos que traduziam meu sentimento naquele (e neste) instante. Mais que uma letra, era um desabafo, um pedido de perdão e uma surda reclamação – e mais: impossível ser mais atual naquela época que hoje, visto que é uma canção que, infelizmente, tem o dom de se atualizar de tempos em tempos. Resumindo: mandei pra Clarisse, que a musicou lindamente e fez que essa nossa Incontável fizesse luminoso par com aquela Dia de Estrelas. Confiram:


INCONTÁVEL

Enquanto você pensava
Que não tinha ninguém com quem contar
Eu contava com você
Mas você já não estava lá

Você, em vão, alugava
Seu clarão de estrela sem luar
E eu tateava por me ver
No escuro do seu esplendor

Eu contava com seu gênio, seu teatro,
Sua má educação
Contanto que fosse comigo
Você contava, como certa, como fato,
Com a minha perfeição
Contamos ambos com o umbigo

Eu lhe entreguei meus espinhos
E me cortava pra acariciar os seus
De me espelhar em você
Fui eu quem desapareceu

Quando eu traí seu carinho
Eu contava que tinha seu perdão
Quem conta estrelas porque vê
Conta estrelas que não estão
Conta estrelas que não são
Conta estrelas...

***


2) NEM EU, NEM DRUMMOND

Há alguns anos, numa das tantas célebres noites autorais caiubistas (que, depois de um pequeno hiato, voltou, agora mensalmente), conheci, por meio de meu parceiro Pedro Moreno, um camarada mó gente boa que era parceiro deste e atendia pelo nome de Nando Correia. Trocamos contatos e, tempos depois, ele me enviou algumas melodias que eu acabei esquecendo de letrar. Contudo, pra que ele não ficasse no preju, enviei-lhe a letra abaixo (inspirada num comentário de uma amiga), que ele musicou lindamente. No meio do caminho, tivemos algumas diferenças em relação a um ou outro verso, mas no fim chegamos a um consenso, e o resultado é esta Nem Eu, Nem Drummond, filha única por enquanto, mas que me agrada bastante. A ela:


NEM EU, NEM DRUMMOND
Nando CorreiaLéo Nogueira 

Com sua sutileza de elefante
Você nem mesmo sente quando pisa
Meu coração, que bate vacilante
Por seu sorriso meio Mona Lisa

Eu acho até que, pra você, Da Vinci
Não passa de um mero Leonardo
Se eu faço um som, você não é ouvinte
Mas, quanto mais esfria, mais eu ardo

A gente não deu certo nem sorte ainda
Porque entre nós há um abismo
Mas me esnobar te faz ficar mais linda
Seu pessimismo em mim é masoquismo
(E Freud pira)

Você não vê valor em meus poemas
Porém, não vê também nos de Drummond
Nem mesmo nota seus próprios dilemas
E, tendo o cinza, não quer outro tom

Você, num shopping, se sente uma miss
E, quando dança, dorme no barulho
Se ocupa pra não ver que é infeliz
Já eu, faminto, engulo meu orgulho

A gente não deu certo nem sorte ainda
Porque entre nós há um abismo
Mas me esnobar te faz ficar mais linda
Seu pessimismo em mim é masoquismo
(E Freud pira)

***

3) QUEM É ELA, QUEM É ELA?

É com muito orgulho que venho, por meio desta, divulgar minha primeira parceria com o grande Gilvandro Filho, pernambucano porreta, jornalista da velha guarda e letrista dono de vasto arsenal poético e parceiro de vários bambas, alguns dos quais também parceiros meus. Então, era questão de tempo sair essa parceria, e o modo como ela surgiu me deixou ainda mais feliz. Conto: dia desses, Gilvandro me mandou uns versos (inspirados em fatos reais) que tratavam de uma moçoila que era musa da esquerda nos movimentos estudantis dos quais ele fez parte e que, contou-me ele, virou a casaca recentemente. 

Como o tema é pra lá de atual, entrei na brincadeira e finalizamos a quatro mãos a letra, que foi parar nas mãos de um parceiro meu (que não vou revelar quem é, só digo que suas iniciais são F e C) que flertou com ela (a letra, não a moça) um tempo, mas acabou declinando do encargo, por motivos de agenda. Dei então a Gilvandro a ideia de enviá-la ao brou Adolar Marin, que, numa ensolarada manhã andreense, acordou inspirado e tascou-lhe o samba abaixo. Detalhe: quando recebi os versos iniciais de Gilvandro, notei que tinham a mesma métrica de Quem te Viu, Quem te Vê, de Chico, então qualquer semelhança não é mera coincidência. Ouçamo-la:

QUEM É ELA, QUEM É ELA?
Adolar Marin – Gilvandro Filho – Léo Nogueira

Quem é ela, quem é ela,
O que pensa, no que crê?
Bate tampas e panelas
Repete o que é da tevê
Nem parece mais aquela
Que na escola era o quê?
A mais radical e bela
Musa do Pecedobê

Hoje a moça saiu pra manifestação
Por uma pátria sem corrupção
Quem não a conhece gosta da cor do batom
Quem jamais a esquece vai ver que é só frisson

Quem é ela, quem é ela
Quem te viu e quem te vê
De camisa amarela
Guardou aquela do Che
Chama o irmão de mortadela
E nem sabe bem por quê
Acha que só existe cela
Pra ladrão do lado B

Hoje a moça saiu...

Seu herói é um deputado
E um juiz que acha bom
Diz que o povo é coitado
Compra bolsa na Vuitton
Pôs botox faz uns dias,
Silicone no bumbum
Crê na meritocracia,
Ela é só lugar-comum

Hoje a moça saiu...

***

3 comentários:

  1. Já estava com saudade de beber dessa fonte.
    Só sei que adorei tudinhooooo.
    Beijocas

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    Respostas
    1. Credo que issuuu? Sou eu Léo he he
      Lucinda (a linda)

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    2. Oi, Lucinda, queridona! Também conhecida como Unknown e Jacira. Hahaha!

      Bom te ler por aqui.

      Beijocas,
      Léo.

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