Uma pessoa amiga minha – que preferiu permanecer anônima (não sei por qual motivo) – me desafiou a escrever sobre uma fruta de minha preferência. Não vacilei e decidi tratar sobre o morango. Sou completamente apaixonado por essa fruta, e desde criança. Lembro que quando minha mãe ia me comprar um Nescau ou um Toddy eu sempre lhe pedia que, em vez do de chocolate, escolhesse o de morango. Já grande, me amarrei também na caipirinha dessa fruta. Pra mim, tudo com morango fica bom. Nunca experimentei, mas acho que posso comer morango até com farinha; no meio de uma feijoada, no lugar da laranja; ou mesmo como recheio de um pão francês. E percebam que nem citei a bolacha de morango, o iogurte de morango, o fondue de morango... Ah, e o bolo de morango, hem? E se for de aniversário então... hummm!
Acho que as paixões em geral são assim, desmesuradas, descabidas, excessivas, exacerbadas, pungentes, explosivas, fulminantes. São como uma dor de dente com a qual alguém se apega a ponto de ter com ela uma relação masoquista, praticamente de dependência. Daí, um belo dia, o dente para de doer ou, pior, cai... e lá vai o camarada chorar mais pela ausência da dor que pelo dente perdido. Eu, por exemplo, sou capaz de morrer de uma overdose de morango. E morro feliz. E o engraçado é que nem sou do tipo de pessoas formiguinhas, viciadas em doce (como meu mano Adolar Marin – mas isso é um segredo que deve ficar entre nós). Nem faço questão de açúcar. Tanto que aprendi a beber café puro; nem adoçante ponho. Mas com o morango é diferente, visto que seu doce é natural, seu açúcar é mel.
Gosto tanto de morango, que cheguei mesmo a ter uma ligeira queda por aquela canção-chiclete que um desinfeliz batizou de Morango do Nordeste (AAAAAAAAAHHHHHH!!!). Claro que passou, deixando aquele rastro de vergonha pelo chão, mas a paixão pelo morango continua até hoje. Pensando bem, um sentimento tão duradouro assim, mais que paixão, deve ser amor. Mesmo porque, a cada novo contato "carnal" com a bendita rosada, o prazer só se renova, aumenta, se aprimora. Só há um problema. Vez em quando, digamos bissextamente, no exato momento em que estou saboreando um sangrento morango, lambuzando-me dele às fartas, e com aquela gula de fazer chupar os dedos... eis que me pego pensando numa tenra manga, numa pera durinha...
... num experiente abacate maduro, na acidez de um abacaxi, numa suculenta uva, no sumo do melão, na crosta do caqui, nas formas do pêssego, nas montanhas do mamão, nas gordurinhas da goiaba, no aroma da amora, penso em fazer um ménage à trois com a laranja e o limão... e, seguindo nessa viagem pelas possibilidades do paladar, meu desejo divaga por distantes terras onde as mais exóticas frutas abundam, até que dou a volta ao mundo pra no fim me deparar exausto com a maçã, a mãe de todas as frutas. E chego à conclusão de que só me restam duas alternativas: ou me faço de um frutífero Salomão e preparo uma orgia em forma de salada de frutas, ou me contento em conceber uma onanística relação com a banana, essa fálica representante do reino frutal. Até que, satisfeito, volto pro seio do morango.
Tenho cá pra mim que essa inexplicável atração que o morango exerce sobre este escriba, que é frutivo sem ser frutinha, se dá por causa de sua cor. Desde que me entendo por gente, tenho uma relação de amor e ódio com a geminiana cor vermelha. Eu, que ainda ruborizo, reconheço que até o sangue exerce um estranho fascínio sobre mim. Abrindo um parêntese, confesso que, embora reconhecendo a genialidade de Hitchcock, fiquei um tanto frustrado ao saber que o sangue daquela antológica cena do assassinato no chuveiro em Psicose era, na verdade, chocolate! Por isso, li, o diretor optou por gravar a película em preto e branco, após várias tentativas fracassadas de tentar reproduzir o vermelho do sangue. Sim, pode-se dizer qualquer coisa sobre o vermelho, menos que lhe falte personalidade. O amarelo-coxinha que o diga.
Assim, meu sentimento em relação ao morango certamente se encaixa nessas relações que, dizem, Freud explica. O morango, mais que do ramo, é dos ramos; não se faz de rogado, só de rosado. Na hora do vamo' ver, não brocha nem amarela e, mesmo quando maduro, dá um senhor caldo. Tudo no morango é comestível, até suas sementes. Quando estou na secura, como mesmo seus "cabelos". É um néctar dos deuses que tem a humildade de estar ao alcance de qualquer mero frequentador do McDonald's. O morango, embora possa se dar a todos, não é pro bico de qualquer um; até porque não basta comê-lo como um comedor de ovo frito, há que saber, literalmente, desfrutá-lo. É o tipo de fruta que sabe reconhecer quando é bem saboreada. Ouso dizer que, quando ele percebe o explícito prazer de quem o come, é capaz de morrer gozando na boca do indivíduo.
Mas, além do morango e de seus pares nos pomares, temos a mim, que não me alongo; o bango; o calango; um bom dengo; os sentimentos que extingo; o Flamengo (o campeão dos campeões...); o gringo; los hongos; a letra i, que não dá rima; o presidente Jango; o losango; quem não tem um mango; o orangotango; o pango (que, descobri agora ao procurar no dicionário, é sinônimo antigo de maconha); o quengo (pra quem não sabe, o marido da quenga); um bom rango; o solarengo (vão ver no pai dos burros o que vem a ser isso); o maravilhoso tango; o ultralongo; tudo aquilo pelo qual me vingo; os que merecem quando eu os xingo; e, por último, mas não menos importantes, todos aqueles com quem inutilmente – como um zangão eunuco – me zango.
Sei que não vem ao caso misturar alhos com bugalhos, mas, em outra instância, sou absolutamente louco pelo tomate!
Gosto tanto de morango, que cheguei mesmo a ter uma ligeira queda por aquela canção-chiclete que um desinfeliz batizou de Morango do Nordeste (AAAAAAAAAHHHHHH!!!). Claro que passou, deixando aquele rastro de vergonha pelo chão, mas a paixão pelo morango continua até hoje. Pensando bem, um sentimento tão duradouro assim, mais que paixão, deve ser amor. Mesmo porque, a cada novo contato "carnal" com a bendita rosada, o prazer só se renova, aumenta, se aprimora. Só há um problema. Vez em quando, digamos bissextamente, no exato momento em que estou saboreando um sangrento morango, lambuzando-me dele às fartas, e com aquela gula de fazer chupar os dedos... eis que me pego pensando numa tenra manga, numa pera durinha...
... num experiente abacate maduro, na acidez de um abacaxi, numa suculenta uva, no sumo do melão, na crosta do caqui, nas formas do pêssego, nas montanhas do mamão, nas gordurinhas da goiaba, no aroma da amora, penso em fazer um ménage à trois com a laranja e o limão... e, seguindo nessa viagem pelas possibilidades do paladar, meu desejo divaga por distantes terras onde as mais exóticas frutas abundam, até que dou a volta ao mundo pra no fim me deparar exausto com a maçã, a mãe de todas as frutas. E chego à conclusão de que só me restam duas alternativas: ou me faço de um frutífero Salomão e preparo uma orgia em forma de salada de frutas, ou me contento em conceber uma onanística relação com a banana, essa fálica representante do reino frutal. Até que, satisfeito, volto pro seio do morango.
Tenho cá pra mim que essa inexplicável atração que o morango exerce sobre este escriba, que é frutivo sem ser frutinha, se dá por causa de sua cor. Desde que me entendo por gente, tenho uma relação de amor e ódio com a geminiana cor vermelha. Eu, que ainda ruborizo, reconheço que até o sangue exerce um estranho fascínio sobre mim. Abrindo um parêntese, confesso que, embora reconhecendo a genialidade de Hitchcock, fiquei um tanto frustrado ao saber que o sangue daquela antológica cena do assassinato no chuveiro em Psicose era, na verdade, chocolate! Por isso, li, o diretor optou por gravar a película em preto e branco, após várias tentativas fracassadas de tentar reproduzir o vermelho do sangue. Sim, pode-se dizer qualquer coisa sobre o vermelho, menos que lhe falte personalidade. O amarelo-coxinha que o diga.
Assim, meu sentimento em relação ao morango certamente se encaixa nessas relações que, dizem, Freud explica. O morango, mais que do ramo, é dos ramos; não se faz de rogado, só de rosado. Na hora do vamo' ver, não brocha nem amarela e, mesmo quando maduro, dá um senhor caldo. Tudo no morango é comestível, até suas sementes. Quando estou na secura, como mesmo seus "cabelos". É um néctar dos deuses que tem a humildade de estar ao alcance de qualquer mero frequentador do McDonald's. O morango, embora possa se dar a todos, não é pro bico de qualquer um; até porque não basta comê-lo como um comedor de ovo frito, há que saber, literalmente, desfrutá-lo. É o tipo de fruta que sabe reconhecer quando é bem saboreada. Ouso dizer que, quando ele percebe o explícito prazer de quem o come, é capaz de morrer gozando na boca do indivíduo.
Mas, além do morango e de seus pares nos pomares, temos a mim, que não me alongo; o bango; o calango; um bom dengo; os sentimentos que extingo; o Flamengo (o campeão dos campeões...); o gringo; los hongos; a letra i, que não dá rima; o presidente Jango; o losango; quem não tem um mango; o orangotango; o pango (que, descobri agora ao procurar no dicionário, é sinônimo antigo de maconha); o quengo (pra quem não sabe, o marido da quenga); um bom rango; o solarengo (vão ver no pai dos burros o que vem a ser isso); o maravilhoso tango; o ultralongo; tudo aquilo pelo qual me vingo; os que merecem quando eu os xingo; e, por último, mas não menos importantes, todos aqueles com quem inutilmente – como um zangão eunuco – me zango.
Sei que não vem ao caso misturar alhos com bugalhos, mas, em outra instância, sou absolutamente louco pelo tomate!
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PS1: Trilha sonora (em homenagem a todo o pomar): Raul Seixas, A Maçã (do próprio, com Paulo Coelho e Marcelo Motta)
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PS2: Lembrei que tenho uma canção (Kama Fruta) feita em parceria com Marcio Policastro e Gabriel de Almeida Prado que resume bem a crônica acima. Segue de bônus, na interpretação de Gabriel e seus comparsas. Ei-la:
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Adorei o texto, Leozíssimo!
ResponderExcluirValeu, Curcíssima!
ExcluirBeijos,
Léo.
me deu vontade de comer morango que é a minha preferida tb!
ResponderExcluirY, ahora que pasaste por acá, me dieron ganas de beberme una copita de un rico malbec argentino... jajaja!
ExcluirBesos,
Léo.