quarta-feira, 29 de novembro de 2017

De Sampa a Tóquio: 4) "Brics family"

O programa do dia 28 de novembro foi ir a um jantar de celebração do casamento da sobrinha mais nova de Kana — que está chamando sua família de brics family, pois ela se casou com um brasileiro e a sobrinha em questão com um chinês (faltam só três iniciais pra completar a sigla). Todos estiveram muito agitados durante o dia, rolaram até umas farpas paralelas. E eu, à margem de tudo, só queria acertar o nó da gravata. Aproveito que ninguém tá lendo pra confessar um segredo: odeio gravatas! Inclusive, já havia escrito a respeito — aqui. E, embora já tenha usado gravata antes em não memoráveis situações, nunca aprendi a fazer o nó, de maneira que passei a manhã recorrendo ao youtube pra resolver essa minha falha grave. Depois de muito treino, cheguei a um resultado razoável — sem o traje que iria usar.

Depois de tão desgastante atividade, o danado do fuso horário fez cair sobre nós seu peso, daí que o jeito foi darmos um tchibum na cama, embora nem fosse ainda meio-dia. Depois de um sono de chumbo, sem direito a sonhos, eis que meus sogros nos acordam... meia hora antes do horário previsto pra encontrarmos o resto da parentada num local pré-agendado pra irmos de carro ao hotel onde jantaríamos. Eles, claro, já estavam prontos e, pontuais, saíram em seguida, deixando-nos de retardatários. E quem disse que eu, sob pressão, conseguia acertar o danado do nó gravatal? Depois de três tentativas fracassadas, desisti e saí com ele assim mesmo, meia-boca, como o cara que o tinha feito. Por mim, ainda tentaria outras três vezes, mas a paciência de Kana, que não é das maiores, demoveu-me da ideia. Detalhe não de todo desimportante: o terno que usei é de meu sogro, que deve ser uns dez centímetros mais baixo que eu.

Depois de uma curta caminhada, encontramos os parentes, que impacientemente nos esperavam. Eu, ingênua e brasileiramente, esperava ser incensado por todos aqueles que fazia anos que não via, mas o que recebi foram cumprimentos frios, como se eles tivessem me visto no dia anterior. Nem sequer me apresentaram ao noivo chinês! É, amigos, os japas são gente boa e tal, mas não esperem deles abraços calorosos e beijos molhados na face. Claro, em toda regra há excessões, mas tais não se encontram na família de Kana. Agora que toquei no assunto, lembrei-me de que já havia acontecido o mesmo quando, vindos do aeroporto, chegamos ao apartamento dos pais dela. Claro, acostumar-me-ei, só espero não me tornar frio como eles, pra não perigar congelar também minha escrita.

Qualquer semelhança
com Mário Fofoca é
mera intriga da oposição
(né, Sonekka?)
Fomos todos em dois carros. A saber, eu e Kana; os pais dela; a irmã e o marido; a sobrinha mais velha com o marido e dois filhos (a menina, mais velha, e o garoto); e a irmã mais nova desta com o supracitado noivo chinês. Aliás, marido, pois já estão morando juntos. Depois de um tempo que pode ter sido de 15 minutos ou duas horas e meia, chegamos ao hotel cinco estrelas (Shinagawa Prince Hotel) onde jantaríamos. Primeiro, fomos levados a uma sala de espera; depois, subimos pro andar X, onde um fotógrafo e seu assistente nos esperavam pra uma sessão de fotos. A primeira foi aquela clássica com toda a família; depois, alguns cliques dos noivos e... outros cliques, dessa vez do casal mais charmoso e humilde entre a brics family... Já adivinharam, né? Eu e Kana, of course.

Descemos novamente e fomos levados por um funcionário afetadamente formal (e com um cabelo de dar medo) até uma imensa sala de jantar com pé-direito de uns 15 metros. Na mesa, cabia todos os cavaleiros da távola redonda, mas, na falta destes, sentamos nós mesmos. No menu, comida francesa. À mesa, 547 talheres pra cada um, todos enfileirados à direita e à esquerda e dispostos de fora pra dentro, de acordo com cada prato que chegava, como sabem os caros e etiquetosos leitores. Frutos do mar, salada e blá-blá-blá, tudo muito gostoso e em porções minúsculas. A sorte foi que havia champanhe e vinho tinto — australiano (???) — à vontade. Uma delícia, diga-se. Claro, pra não dar vexame tomei muito chá gelado também.

Durante o jantar, a bebida ajudou a que as línguas se soltassem, as gargalhadas ecoaram (mesmo!) no recinto, o chinês se mostrou (pra inveja minha) um falante de japonês bem competente, e a brics family por um par de horas quase se assemelhou a uma brasileira (ou italiana). Até eu cometi a audácia de soltar meia dúzia de frases (que decorava mentalmente um milhão de vezes antes de libertá-las de minha boca... apesar de ter errado metade delas) e gerar, por minha vez, duas ou três gargalhadas, além de um ou dois risos amarelos. Contudo, pra não ser injusto, senti-me verdadeiramente acolhido no seio da família. Tanto que o pai da noiva me convidou pra um jantar em sua casa regado a vinho mendocino. Este mesmo responsável pelo jantar... e quem pagou tudo, por supuesto.

Depois do jantar, por uma porta lateral de vidro fomos pro espaço exterior desfrutar da vista e tirar outras fotos, agora cada um com seus respectivos celulares. Vinte idas ao banheiro depois (minhas), a caravana novamente se dividiu acomodando-se como pôde nos dois carros, e voltamos em silêncio, mas, creio, felizes. Fomos deixados em frente ao prédio dos pais de Kana por volta das 20h (havíamos saído às 16h30), subimos até o quinto andar, apartamento 506, trocamos as roupas afoitamente, escovamos os dentes e sem mesmo nos lembrarmos de tomar um banho desabamos na cama como duas pedras.

Dia 29 de novembro, despertamos às 4 de la matina. AAAAAAAAHHHHHHHHHH!!!

To be continued.

***

PS: As fotos "oficiais" não ficaram prontas ainda. Subi-las-ei em publicação posterior. As que forem autorizadas pela brics family, claro. Por ora, mais um par de cliques:



***






4 comentários:

  1. De crónica em cronica vai tecendo um livro de memórias. Fico à espera da próxima. Abraço .

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  2. BRICS family é um achado! E eu vou te dizer que achei o seu terno, cuja foto vi no Facebook, meio parecido com o do Mario Fofoca, mas preferi não dizer isso. Hehehehe! Meu pai se casou com um terno desses e toda vez que víamos o álbum, o chamávamos assim. :)
    Estou adorando acompanhar a sua adaptação à terra do sol nascente!
    Beijão!

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    1. Pô, tinha respondido, mas sumiu... De novo. Então, não achei que valesse a pena comprar um terno só pra uma única ocasião. Mas ficou charmoso, né? Ou, como dizem hoje, vintage. rsrs

      Beijos,
      Léo.

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