Eu tenho um sonho recorrente: nele, tô procurando em meus arquivos um romance que escrevi, mas que não acho nem fodendo. Trata-se de um daqueles sonhos tão reais que parecem que aconteceram, manjam? Quer dizer, eu devia na verdade escrever "manja?", pois do jeito como as coisas andam talvez eu tenha um único leitor: eu mesmo, manjam? Quer dizer, manja? E isso quando não tô com preguiça de me ler... Bom, foda-se, divagações à parte estava eu falando sobre esse sonho recorrente. E o (mais) foda é que quando acordo e percebo que esse romance não existe me dá uma tristeza danada! Talvez um dia eu deva escrevê-lo pra ver se paro de sonhar com ele...
O fato é que não sei por que cargas-d'água durante o mesmo sonho sonhei que tinha escrito uma crônica sobre o "cabaço de amor". Foi aí que percebi que tava viajando demais e resolvi acordar e escrever a porra da crônica. Até porque, convenhamos, é muito mais fácil escrever uma crônica que um romance, né não? E foi assim que abri o computador e me vi aqui escrevendo essas maltratadas. E tão maltratadas que eu quase podia jurar que o cabaço de amor sou eu. Mas sei que não sou. Já fui muito amado — e ainda sou! Pelo menos, é o que minha mãe sempre diz, e não acho que ela seja uma mentirosa... será?
Enfim, o cabaço é aquele... bem, não preciso explicar aqui o que é um cabaço-cabaço. Afinal, todos nascemos um. O tempo vai passando, vamos crescendo, e por fim, uns com mais esforços, outros com menos, acabamos todos deixando essa condição — nem todos, é verdade. Porém, entretanto, todavia, há aqueles (e aquelas, né, feministas? — se bem que nem precisava acrescentar isso, pois, se ninguém me lê, muito menos uma feminista... continuemos)... dizia eu, antes de ser interrompido por mim mesmo, que há aqueles/as que são os/as cabaços/as (como isso cansa!) de amor. Um cabaço de amor é aquele que pode até ter metido (e se metido a besta), pode até ter amado, mas nunca foi amado!
Triste figura, não, senhoras e senhores? Digo, senhor Léo. Realmente muito triste. Lembra-me, excrusive, aquele poema do Pessoa, sim, o Fernandinho, escondido sob a máscara do Álvaro — não confundir com o Cueva, refiro-me ao Campos. Continuando, nesse poema, o Fernandinho — não confundir com o Beira-Mar (paaaaaara, Léo! Porra!). Enfim, o Fernandinho dizia nunca ter conhecido quem tivesse levado porrada, lembra(m)? Que todos os seus amigos são campeões em tudo, nunca cometeram um ato ridículo e blá-blá-blá. E culmina dizendo "podem ter sido traídos, mas ridículos nunca". Assim que eu o parafraseio dizendo que os cabaços de amor podem (e devem) ter sido traídos, mas amados nunca!
De dar dó, não? Aqui no Japão, pelo que percebo diariamente, há muitos cabaços de amor. Alguns dos quais resolvem seu problema de falta de afeto pulando na frente de um trem — e deixando a bomba de seu desamor (talvez por vingança) na conta da família, que tem que arcar com os custos da despesa causada pelo desa(l)mado, pois aqui, quando alguém se atira na frente de um trem, a família tem que pagar. Se bem que há alguns casos em que a falta de amor não é a mola propulsora. Fiquei sabendo que recentemente um casal pulou junto. Talvez até de mãos dadas. Nesse caso, embora eles não fossem cabaços de amor, visto que morrer juntos é um ato de amor (já dizia o velho Sabina, né, Deisy?), talvez não encontrassem mais amor no mundo todo que neles próprios.
Muitas vezes, o cabaço de amor é um sujeito meio fora de esquadro, se é que me entende(m). Aquele que quando se olha no espelho percebe que será impossível ser amado, pois se ele mesmo fosse outra pessoa não o escolheria pra amar. Nessas ocasiões, quando o cara é ateu pula na frente do trem; mas o mais provável (e produtivo) é que creia em Deus, pois aí ao menos terá alguém em quem pôr a culpa por seu desenquadramento. No que terá muita razão, pensemos: se existe um Deus (assim mesmo, com D maiúsculo), como é que esse divino ser tem a coragem de fazer um sujeito, que devia ter sua imagem e ser seu semelhante, tão anatomicamente imperfeito, justo Ele, que é sinônimo de perfeição?...
Isso me fez pensar no assunto deste novo parágrafo: irmão(s) e irmã(s), se Deus é o, como dizem, "pica das galáxias", como é que lá em sua fábrica divina constrói uns modelos tão mal-ajambrados? Mas, pensando bem, talvez estes nem sejam suas piores unidades, visto que no peito dos mal-ajambrados também bate um coração (tô aqui eu que não me deixo mentir). Talvez o pior mesmo seja Ele construir os cabaços de amor ao contrário, que não são aqueles que nunca foram amados, mas, sim, aqueles que (pasme, Léo!) nunca amaram. Ooooooooohhhhh! Porque aí já é um desperdício feladaputa! Imagine um bonitão ou uma bonitona, desses que passam na rua e deixam o resto dos mortais besta de inveja e admiração... e essas "perfeitas" criaturas nunca amaram. Aí, sinceramente, fosse eu o Todo-Poderoso, recolhia de volta pra fábrica e consertava o mais rápido possíver, antes de me ver obrigado a pagar uma multa pra algum desavisado que adquiriu o produto.
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