Recebo diariamente por e-mail o jornal uruguaio El País
em sua versão digital. Dia desses li um editorial que me chamou a
atenção (negativamente) a respeito do cerceamento da liberdade de
imprensa no mundo e sobretudo na América Latina. Recentemente ousei
escrever minhas impressões a respeito dos fatos que envolveram a vinda
de Yoani Sánchez (a blogueira cubana) ao Brasil (leia aqui) e
amigos, muitos deles bastante esclarecidos, caíram de pau em cima de mim
pelo simples fato de que eu, que sempre me manifestei politicamente à
esquerda, vinha a público defender o direito a que a moça tivesse a
liberdade de manifestar suas ideias. Pois bem, em vez de revirar
novamente esse caldo, que já entornou faz tempo, preferi traduzir o
editorial e publicá-lo aqui. Esquerdistas, direitistas, centristas e
outros istas tirem suas próprias conclusões.
O jornalismo em perigo
Editorial publicado originalmente no El País Digital
O
manejo da opinião não é um trabalho inofensivo. Quem dispõe de um
espaço pra opinar adquire um poder, que é uma arma cujo alcance cresce
quando enfrenta um regime que não quer compartilhar o acesso à verdade
ou o monopólio da informação. Nesse caso se podem registrar agressões
contra o que emite alguma opinião incômoda, que são tentativas de
intimidação pra que deixe de fazê-lo. Porque há regimes incapazes de
entender que o apoio popular depende unicamente do que façam ou deixem
de fazer em seus atos de governo, e que o risco de perder esse respaldo
devem procurá-lo em seus próprios erros, não nos questionamentos que se
formulem nem nas denúncias ou objeções que os importunem. Ao contrário,
acreditam que o perigo se combate e a estabilidade do regime se afiança
amordaçando as ideias independentes e amedrontando os críticos
inamistosos, cujo silêncio lhes parece que porá a salvo o prestígio
oficial e o controle do poder.
Não é fácil convencê-los de que uma opinião desfavorável ou um critério divergente podem prestar um serviço inesperado, que é o de contribuir com algo pra ajudar a corrigir o rumo. Nisso atuam como certos artistas medíocres quando repudiam uma crítica, convencidos de que seu descrédito deriva do julgamento negativo dessa resenha e não da pobreza das obras que expuseram. Então, alguns regimes também atacam aqueles que não lhes agradam, incorrendo no antigo pecado grego de matar o mensageiro da má notícia, em vez de enfrentá-la, aproveitando a vantagem de ter sido advertido e poder reagir de acordo.
Segundo se informou há alguns dias, na Argentina as agressões à imprensa cresceram 250% durante o ano passado, contabilizando-se "371 casos de limitação do exercício da liberdade de expressão", de acordo com um documento elaborado pela Fundación Led. Essas agressões abrangem diferentes categorias, desde o impedimento do acesso às fontes de informação pública, até a execução de atos de censura ou ataques físicos a jornalistas considerados como "inimigos a derrotar" por parte de certos representantes do poder político. A diretora da entidade que produziu esse relatório sustenta que "é lógico, sob uma concepção autoritária, que se multipliquem os atentados contra jornalistas".
Em escala mundial há exemplos piores, porque em 2012 houve um aumento de 31% na quantidade de jornalistas assassinados no cumprimento de seu trabalho, totalizando 141 vítimas em 29 países, encabeçado pela guerra civil na Síria, com 37 jornalistas que perderam a vida ano passado, 13 deles trabalhando para meios de comunicação estrangeiros. A seguir, nessa lista macabra aparecem a Somália (com 19 colegas assassinados) e o Paquistão, com doze mortos na categoria. Depois se encontra o exemplo alarmante do México (com onze jornalistas assassinados), o Brasil (com outras onze vítimas) e Honduras (com seis). A pesquisa efetuada pelo Instituto Pec acrescenta que no decorrer dos últimos cinco anos foram assassinados 571 jornalistas. Os países onde se registraram mais casos a respeito foram - em ordem decrescente - Filipinas, México, Paquistão, Iraque, Síria, Somália, Honduras, Brasil, Rússia e Índia. Em escala regional parece preocupante a presença de três países latino-americanos na lista.
No México, que é o caso mais clamoroso do hemisfério na matéria, trava-se desde 2006 uma guerra contra o narcotráfico que não tem obtido das forças do governo o resultado inicialmente esperado. Como saldo desse enfrentamento já morreram 70 mil pessoas. Os recentes episódios de violência no balneário de Acapulco, com turistas violentadas e um turista e um turista assassinado no decorrer de poucos dias, não são mais que outro reflexo do horroroso panorama que vive esse país. Os jornalistas não estão à margem desses riscos, porque tanto os que investigam o negócio da droga quanto os que se limitam a informar sofre os fatos diários (como a frequente aparição de cadáveres em vias públicas) costumam sofrer represálias dos traficantes, que vão desde sequestros ou espancamentos até tiros. Em alguns casos esses cronistas se negam a continuar assinando suas notas, mas em outros casos abandonam um trabalho sobre o qual pendem ameaças cada dia mais graves.
Sexta-feira, 15 de março de 2013. Montevidéu, Uruguai.
Não é fácil convencê-los de que uma opinião desfavorável ou um critério divergente podem prestar um serviço inesperado, que é o de contribuir com algo pra ajudar a corrigir o rumo. Nisso atuam como certos artistas medíocres quando repudiam uma crítica, convencidos de que seu descrédito deriva do julgamento negativo dessa resenha e não da pobreza das obras que expuseram. Então, alguns regimes também atacam aqueles que não lhes agradam, incorrendo no antigo pecado grego de matar o mensageiro da má notícia, em vez de enfrentá-la, aproveitando a vantagem de ter sido advertido e poder reagir de acordo.
Segundo se informou há alguns dias, na Argentina as agressões à imprensa cresceram 250% durante o ano passado, contabilizando-se "371 casos de limitação do exercício da liberdade de expressão", de acordo com um documento elaborado pela Fundación Led. Essas agressões abrangem diferentes categorias, desde o impedimento do acesso às fontes de informação pública, até a execução de atos de censura ou ataques físicos a jornalistas considerados como "inimigos a derrotar" por parte de certos representantes do poder político. A diretora da entidade que produziu esse relatório sustenta que "é lógico, sob uma concepção autoritária, que se multipliquem os atentados contra jornalistas".
Em escala mundial há exemplos piores, porque em 2012 houve um aumento de 31% na quantidade de jornalistas assassinados no cumprimento de seu trabalho, totalizando 141 vítimas em 29 países, encabeçado pela guerra civil na Síria, com 37 jornalistas que perderam a vida ano passado, 13 deles trabalhando para meios de comunicação estrangeiros. A seguir, nessa lista macabra aparecem a Somália (com 19 colegas assassinados) e o Paquistão, com doze mortos na categoria. Depois se encontra o exemplo alarmante do México (com onze jornalistas assassinados), o Brasil (com outras onze vítimas) e Honduras (com seis). A pesquisa efetuada pelo Instituto Pec acrescenta que no decorrer dos últimos cinco anos foram assassinados 571 jornalistas. Os países onde se registraram mais casos a respeito foram - em ordem decrescente - Filipinas, México, Paquistão, Iraque, Síria, Somália, Honduras, Brasil, Rússia e Índia. Em escala regional parece preocupante a presença de três países latino-americanos na lista.
No México, que é o caso mais clamoroso do hemisfério na matéria, trava-se desde 2006 uma guerra contra o narcotráfico que não tem obtido das forças do governo o resultado inicialmente esperado. Como saldo desse enfrentamento já morreram 70 mil pessoas. Os recentes episódios de violência no balneário de Acapulco, com turistas violentadas e um turista e um turista assassinado no decorrer de poucos dias, não são mais que outro reflexo do horroroso panorama que vive esse país. Os jornalistas não estão à margem desses riscos, porque tanto os que investigam o negócio da droga quanto os que se limitam a informar sofre os fatos diários (como a frequente aparição de cadáveres em vias públicas) costumam sofrer represálias dos traficantes, que vão desde sequestros ou espancamentos até tiros. Em alguns casos esses cronistas se negam a continuar assinando suas notas, mas em outros casos abandonam um trabalho sobre o qual pendem ameaças cada dia mais graves.
Sexta-feira, 15 de março de 2013. Montevidéu, Uruguai.
***
Abaixo, o original:
El periodismo en peligro
El
manejo de la opinión no es un trabajo inofensivo. Quien dispone de un
espacio para opinar adquiere un poder, que es un arma cuyo alcance crece
cuando enfrenta a un régimen que no quiere compartir el acceso a la
verdad o el monopolio de la información. En ese caso pueden registrarse
agresiones contra el que emite alguna opinión incómoda, que son intentos
de intimidación para que deje de hacerlo. Porque hay regímenes
incapaces de entender que el apoyo popular depende únicamente de lo que
hagan o dejen de hacer en sus actos de gobierno, y que el riesgo de
perder ese respaldo deben buscarlo en sus propios errores, no en los
cuestionamientos que se le formulen ni en las denuncias o reparos que
los fastidien. Creen en cambio que el peligro se combate y la
estabilidad del régimen se afianza amordazando las ideas independientes y
amedrentando a los críticos inamistosos, cuyo silencio les parece que
pondrá a salvo el prestigio oficial y el control del poder.
No resulta fácil convencerlos de
que una opinión adversa o un criterio disidente pueden prestar un
servicio inesperado, que es el de aportar algo para ayudar a rectificar
el rumbo. En eso actúan como ciertos artistas mediocres cuando repudian
una crítica, convencidos de que su descrédito deriva del juicio negativo
de esa reseña y no de la pobreza de las obras que han expuesto.
Entonces algunos regímenes también atacan a quien dice lo que no les
gusta, incurriendo en el antiguo pecado griego de matar al mensajero de
la mala noticia, en lugar de enfrentarla, aprovechando la ventaja de
estar advertido y poder reaccionar en consecuencia.
Según se informó hace unos días,
en la Argentina las agresiones a la prensa crecieron un 250% durante el
año pasado, contabilizándose "371 casos de limitación al ejercicio de
la libertad de expresión", de acuerdo a un documento elaborado por la Fundación Led.
Esas agresiones abarcan distintas categorías, desde impedir el acceso a
las fuentes de información pública, hasta consumar actos de censura o
atacar físicamente a periodistas considerados como "enemigos a vencer"
por parte de ciertos representantes del poder político. La directora de
la entidad que produjo ese informe sostiene que "es lógico, bajo una
concepción autoritaria, que se multipliquen los atentados contra
periodistas".
A escala mundial hay ejemplos
peores, porque en 2012 "aumentó un 31% la cantidad de periodistas
asesinados en el cumplimiento de su tarea profesional", totalizando 141
víctimas en 29 países, a la cabeza de los cuales se ubica la guerra
civil en Siria, con 37 periodistas que perdieron la vida el año pasado,
13 de ellos trabajando para medios extranjeros. A continuación, en esa
lista macabra aparecen Somalia (con 19 colegas asesinados) y Pakistán,
con 12 muertos en la categoría. Después se encuentra el ejemplo
alarmante de México (con 11 periodistas asesinados), Brasil (con otras
11 víctimas) y Honduras (con 6). La investigación efectuada por el Instituto Pec agrega
que a lo largo de los últimos cinco años han sido asesinados 571
periodistas. Los países donde se registraron más casos al respecto han
sido -en orden descendente- Filipinas, México, Pakistán, Irak, Siria,
Somalia, Honduras, Brasil, Rusia y la India. A escala regional parece
preocupante la presencia de tres países latinoamericanos en la nómina.
En México, que es el caso más
clamoroso del hemisferio en la materia, se libra desde fines de 2006 una
guerra contra el narcotráfico que no ha dado a las fuerzas del gobierno
el resultado inicialmente esperado. Como saldo de ese enfrentamiento ya
han muerto 70.000 personas. Los recientes episodios de violencia en el
balneario de Acapulco, con turistas violadas y un turista asesinado en
el curso de pocos días, no es más que otro reflejo del horroroso
panorama que vive ese país. Los periodistas no están al margen de esos
riesgos, porque los que hacen investigaciones sobre el negocio de la
droga, pero también los que se limitan a informar sobre los hechos de
cada día (como la frecuente aparición de cadáveres en la vía pública)
suelen sufrir las represalias de los narcos, que van desde el secuestro o
la paliza hasta el balazo. En algunos casos esos cronistas se niegan a
seguir firmando sus notas, pero en otros casos abandonan un trabajo
sobre el cual penden amenazas cada día más graves.
Viernes, 15 de marzo de 2013. Montevideo, Uruguay.
***
Uma vergonha ver o Brasil nesta lista macabra.
ResponderExcluirConcordo plenamente.
ExcluirParceiro é melhor vc fazer letra de musica, pô vc encheu uma linguiçestatísticafunestamoribundeska, e por falar nisso kd a letra do Brasil sem Tom?
ResponderExcluirHahaha! Marito, a estatística não é minha, só traduzi. O Brasil sem Tom vai sair. pinta lá no CCSP quinta.
ExcluirAbraço,
Léo.