terça-feira, 5 de março de 2013

Trinca de Copas: 15) Denilson Santos (dose dupla) e Marcio Policastro

Tenho deixado a música um tanto de lado em minhas mais recentes postagens. Venho por esta, pois, pôr o trem de volta nos trilhos (até novo descarrilhamento).


1) EFEITO COLATERAL

O processo de criação obedece a critérios próprios, que mudam ao sabor da situação. Ex.: se um camarada está em estúdio e precisa da letra pr'aquela melodia pra ontem, o letrista tem que dar seus pulos, vitaminar a criatividade e entregar o produto. Agora, se não há pressa, pode-se deixar por conta do tempo.

Foi o que aconteceu com esta canção. Denilson me havia mandado em janeiro do ano passado. E, pra ser sincero, em meio ao turbilhão dos afazeres cotidianos, cheguei mesmo a esquecê-la. Por sorte, deparei-me com ela praticamente por acaso, e, reouvindo-a, a letra foi nascendo quase que imediatamente.

Só houve um senão. Denilson, quando de seu envio, escreveu-me: "Não pus título nela, nem sei direito que estava pensando quando a fiz. Mas sinto que é uma canção romântica, fala de coisas boas, amizade, vida em conjunto". E acabou que, conforme fui compondo, notei que não seguia o que ele me pedira, mas, sim, ao que, a meu ver, a melodia pedia. Ouso dizer que não me equivoquei. Ei-la:


EFEITO COLATERAL
Denilson Santos - Léo Nogueira

Arrasto aos pés esse amor-
-serpente
Que nem quem carrega o andor
Descrente

Que nem presa ao calcanhar
Corrente
Que existe só pra atrasar
A gente

Quem mandou eu ir regar
Diz pra quê
Como faz pr'ele parar
De crescer?

Fiquei febril sem estar
Doente
Pareço aqui e estou lá
Ausente

Olhando a vida passar
Rente
No bar mamando uma aguar-
dente

Dei pra cantar, e o pior:
Contente

***


2) INCÊNDIO

... e eis que eu, que demorei um ano pra letrar a melodia acima, fiquei ansioso em saber a opinião de Denilson sobre ela, e, como esta não viesse, minha insegurança começou a dar murros na parede, de forma que tive que o agulhar. Ao que ele me respondeu com um lacônico "Estou apagando um incêndio... Te mando notícias em breve".

Bastaram essas duas frases pra eu começar a pôr em ação as engrenagens da criação, misturando fantasia com ficção, achismo e razão, curativo e coração, farofa e feijão e... Peraí, isso aqui tá parecendo até a Ecos do Ão (Lenine - Carlos Rennó). Paremos por aqui antes da cãibra. Resta dizer que, nem bem lhe mandei o tal Incêndio, ele me devolveu de lá com outra bela melodia. A ela, pois: 

INCÊNDIO
Denilson Santos - Léo Nogueira

Era só uma faísca
Um lampejo, uma centelha
Luminosidade arisca
Sentimento assim de esguelha

Foi virando labareda
Quando vi, era fogueira
São João nas alamedas
Inflamável brincadeira

Virou lava de vulcão
Corroendo minhas veias
Rio em brasa é a paixão
Sentimento que incendeia

E o ciúme deu risada
Doentio e demagogo
Era pra ser só queimada
Mas foi se alastrando o fogo

Só que um dia o incêndio passa
Vem o tempo, esse bombeiro,
E o que ardeu vira fumaça
Sentimento passageiro

***

3) RETICÊNCIAS...

Roberto Carlos já nos ensinou, por meio de não poucos detalhes, que a solidão e a dor de cotovelo são bons companheiros do compositor. Assim que, da última vez que Kana me deixou só e foi ver o sol nascer primeiro, fiquei aqui uma vez mais regando depressões, jogando paciência com meus fantasmas... e compondo, claro.

E, como os criadores são dados a viagens (às vezes na maionese), já imaginei todo um conflito onde ele não havia (meio como na Incêndios acima), aumentei os decibéis da tristeza e caprichei na dose de autopiedade que esse tipo de canção requer. E, por sorte, encontrei sintonia atenta no violão de Marcio Policastro. E, sem mais delongas, deu nisso:

RETICÊNCIAS...

Então fica o dito pelo não dito
Eu aqui, e você no infinito
Sem você, tudo é distância
O silêncio soprando o apito
Minha paz no maior conflito
Nada tem mais importância

Então fica o feio pelo bonito
Eu no chão, e você no Egito
Sem você, tudo é ausência
Os poemas que eu tinha escrito
E o vazio que agora eu fito
Tudo são só reticências...

Depois do ponto final
Acabou-se o casal daquele conto
E o que era uma vez virou três pontos...

Então fica o zero no gabarito
Eu na jaula e você no agito
Tudo é renúncia
Sou culpado sem veredito
Vivo preso dentro de um grito
Língua sem pronúncia

Depois do ponto final
Acabou-se o casal daquele conto
E o que era uma vez virou três pontos...

***

4 comentários:

  1. Respostas
    1. Denilson, mano, fazia tempo que eu não sentia uma dobradinha tão "mor-tal" quanto essa nossa.
      Abração,
      Léo.

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  2. Nossa, Léo! Excelentes canções! Incêndios simplesmente me arrepiou!
    Você é foda! Aliás, tão foda quanto o Denilson e o Policastro. :)
    Sensacionais canções!
    Beijão,
    Danny.

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    1. Ô, Dannoca! Divido em três seus elogios e ficamos todos trissatisfeitos (revisor bêbado, não me perguntem se tá certo...).

      Beijão,
      Léo.

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