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Aviso
O texto abaixo é o segundo da trilogia (ui!) iniciada por
Literatura brasileira em trocentos tons de cinza. Se
você não o leu, sugiro que o faça antes de encarar este.
O texto abaixo é o segundo da trilogia (ui!) iniciada por
Literatura brasileira em trocentos tons de cinza. Se
você não o leu, sugiro que o faça antes de encarar este.
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Procuro manter o hábito de escrever sempre, ainda esperançoso de ser contratado pelo jornal cearense O Povo, quando (notem o "quando" em lugar do "se"... sou um otimista!) meu nome se tornar suficientemente "vendável", ou, pra ser mais atual, garantia de vendabilidade. Só que alguns assuntos, que se tornam mais urgentes pela temporalidade (como o da blogueira cubana, por exemplo), vão atropelando outros, assim, uns ficam pra trás ou vão sendo escritos aos poucos, o que resulta numa verdadeira colcha de retalhos. E eis que chega a vez deste, que eu pretendia ter postado na sequência do Literatura Brasileira em Trocentos Tons de Cinza, mas quis o destino que só hoje encontrasse seu espaço.
Na verdade o tema é manjado, como disse Vlado Lima via facebook... Aliás, reparei que muitos que leem meu blogue preferem comentar lá (visto que é um de meus canais de divulgação) em vez de aqui, e fico imaginando os porquês. Há prós e contras: lá a visibilidade é maior, assim, um comentário pode ser lido, inadvertidamente, por pessoas que não foram atrás do assunto; em contrapartida, como lá as novidades são uma bola de neve, o que pensamos com tanto carinho ou com um gasto de tempo considerável (além de neurônios) termina escorrendo pro ralo das antiguidades. Já este espaço pode ser visitado daqui a um ano e o tema continuará pertinente. Resolvi, pois, em respeito a meu blogue e a quem comenta, em vez de responder lá, trazer alguns comentários pra cá, e minha consequente resposta (se for o caso).
Começo então por Vlado: "Léo, o q eu quis dizer é q esse tipo de embate acontece em todas as ramificações da arte. Em todas, literatura, cinema, música e afins, sempre teremos uma arte fácil consumida por um público 'fácil'. Mas concordo com vc, a culpa não é (só) de quem cria. Vivemos um emburrecimento geral, um emburrecimento que cobre toda a cadeia de produção/consumo da arte, q vai do público consumidor, passando pela crítica 'especializada' e chegando até mesmo nos 'criadores'. O descaso de séculos com a Educação ou falta dela deu nisso: um universo consumidor de arte vagabunda. Conheço professores de Português que não conhecem literatura, não conhecem Manoel de Barros, Maiakóvski, tem uns que não conhecem nem mesmo Ferreira Gullar. Assim, meu amigo, fica difícil. Por conta dessa falta de educação o q foi Alta Cultura nos anos 30/40 e 50 hoje soa, até mesmo pra intelectualidade atual, como coisa de outro planeta. Em breve, meu querido, falo sobre isso num poema, Chapolin será incompreensível às massas. Quanto ao teu blog, que eu acho duka, vida longa. Vida longa a'O X do Poema. Abraços."
Não vi necessidade de resposta, visto que estou de acordo; achei apenas que sua opinião merecia constar aqui. Já minha querida (e sempre apaixonada, por isso polêmica) Lucia Helena Corrêa (ou LHC, como prefiram) tascou: "Léo Nogueira, meu querido, desde Leite Derramado, de Chico Buarque, não encontro, na Literatura Brasileira ou de outros países, livro capaz de me emocionar, pelo objeto e, acima de tudo, pelo estilo. Bem... pra você ter uma ideia, meus escritores prediletos são Machado de Assis, Gabriel García Márquez e José Saramago. Os poetas são Manuel Bandeira, Mário Quintana, Fernando Pessoa, Olga Savary, Adélia Prado, Cecília Meireles, Ferreira Gullar, Vlado Lima e o poeta Sérgio Vaz, todos gênios que não se encontram por aí assim... dando sopa!
"Tá difícil... Desculpe a minha intolerância, mas há, sim, muita gente praticando literatura (prosa e poesia) da maneira mais leviana possível. Textos maldesenhados, imagens embaçadas e gastas... lugar-comum e sequer um exercício correto de ortografia. Os saraus de poesia, que proliferam Brasil afora, na maioria, são um desfile de amor com dor (mais dor do que amor pelo ofício...) ou de falsos eróticos (eu sei que são pornográficos rasteiros, porque me envergonham). Vamos torcer para que, de tanto fazer (mal), um dia os poetas de versos quebrados aprendam. LHC"
Pois bem, Lucia preferiu ver a questão não pelo viés editorial, mas pelo da falta de qualidade atual. Em meu texto eu evitei tal comparação, em primeiro lugar porque tenho cá comigo que qualidade (ou a falta dela) não é característica que uma geração tenha mais que outra. Um indivíduo pertence a seu tempo e é diretamente influenciado por ele. Por exemplo: hoje as editoras raramente têm coragem de publicar livros de desconhecidos, pois sabem que, sem uma boa divulgação, não vão vender. Em contrapartida, se fulano é famoso, com gasto menor seu livro pode vender mais. Vejam que o critério "qualidade" passou longe. Não por acaso há muitas celebridades que mal sabem falar e são best-sellers.
Mas o mercado de leitura descartável sempre existiu. O problema é que hoje todo mundo quer ser celebridade, inclusive o pretenso escritor sério, que devia estar mais preocupado com o tema de seu próximo romance do que com a possibilidade de ter uma foto estampada em revista de fofoca. Assim, uma questão agravante pro momento é a referente a "quantidade". Como todos querem ser reconhecidos, todos querem ser artistas e levam demasiadamente a sério a "arte" que produzem, inflacionando o mercado e dificultando o garimpo de artistas relevantes. Nesse intuito, o melhor amigo do artista, ou melhor, digamos escritor, pra não fugir ao tema... O melhor amigo do escritor, o senso crítico, acaba excluído de suas prioridades. Exercer o senso crítico é saber se sua arte pode existir numa prateleira ao lado de Cervantes, Machado, Dostoiévski, Pessoa, Flaubert, Guimarães...
Contudo, sou obrigado a admitir que do outro lado da criação de vez em quando encontramos algumas raridades, como a Editora Patuá, de Aline Rocha e Eduardo Lacerda, estes sim verdadeiros garimpeiros de talentos, que têm coragem de publicar nomes como o supracitado Vlado Lima e o multiartista Reynaldo Bessa, entre outros. Mas Eduardo também está do lado de cá, pois é poeta. Só discordo dele num aspecto. Mas antes colo aqui o que ele disse numa entrevista (leia a entrevista aqui): "Para Eduardo, da Editora Patuá, falta engajamento dos próprios autores. 'Pelo menos quem já é escritor deveria ser leitor, mas isso não acontece. A gente recebeu em um ano e meio quase 1.500 originais e 95% é só ambição de dizer eu sou um escritor, eu tenho um livro publicado, sem interesse em ver o que os outros estão produzindo', conta."
Eduardo, meu caro, do pouco que o conheço, considero-o uma pessoa lúcida, porém, nesse aspecto, tenho que discordar. Uma editora precisa de leitores, não pode esperar que um escritor se transforme em leitor desta pela ilusão de ser publicado. Escritores leem, sim, mas não necessariamente os autores da editora que (pretensamente) os publicará. Quanto à questão engajamento, já me deparei com alguns autores de sua própria editora que se aproximaram de mim supostamente por interesses em comum, mas que na verdade queriam apenas que eu comprasse seus livros. Será isso engajamento? Eu já comprei vários livros da Patuá, mas sempre atraído pela qualidade deles, não por camaradagem. Em todas as instâncias é igual; há muita gente que se aproxima de mim só porque quer ter um perfil no Ninguém me Conhece, mas eu só escrevo sobre aqueles que eu curto. Se o cara for camarada, mas for ruim, e eu escrever sobre ele, perco a credibilidade... Pra finalizar, fecho com Charles Bukowski, que falou uma grande verdade pela boca de Henry Chinaski, seu alter ego:
"Tem um problema com os escritores. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um montão de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu um número razoável de cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor foi publicado e vendeu muito poucas cópias, o cara se acha um grande escritor. Se o livro de um escritor nunca foi publicado e o cara não tem dinheiro suficiente pra publicá-lo por si mesmo, aí é que ele se acha um grande escritor. Mas a verdade é que há muito pouca grandeza. Quase inexistente. Invisível. Pode estar certo de que os piores escritores são os que têm mais autoconfiança e se põem menos em dúvida. De qualquer jeito, é melhor evitar os escritores, é o que sempre tentei fazer, mas é quase impossível. Eles sonham com uma espécie de irmandade, de união. Nada disso tem alguma coisa a ver com escrever, nada disso ajuda na máquina."
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Claro que discutir tais assuntos é bem mais prazeroso ao vivo e na boa companhia de algumas loiras geladas. Quem topamos?
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Bingo, Léo Nogueira! Bingo! Não precisamos concordar em tudo... Aliás, da discordância tolerante quase sempre é que nascem grandes descobertas... Amo você, Poeta! LHC
ResponderExcluirA recíproca é verdadeira, Lucia!
ExcluirE vida longa a você e ao Febril!
Beijos do
Léo.
Parabéns,Léo... dedo na ferida... mas não vejo luz no fim do túnel. Rarará! Abraços.
ResponderExcluirValeu, Vldaão! Mas, querido, a luz é o túnel!
ExcluirAbração do
Léo Noguewski (rs).
Bom, as loiras, geladas ou não, eu dispenso, pois não são a minha praia. Mas um dia ainda voltarei a SP e quem sabe na companhia de um vinho e bons amigos... ;-)
ResponderExcluirBeijos,
Danny.
Dannoca, será o maior prazer! Venha! Se for o caso, deixo as loiras fora da geladeira. Hahaha!
ExcluirBeijos,
Léo.