quarta-feira, 27 de março de 2013

Notícias de Sampa: 7) Kana, do Mundo para o Ceará

O novo Notícias de Sampa vem diretamente do Ceará! Já estava em vias de escrever um texto pra divulgar o show de lançamento do novo CD de Kana, quando recebi por e-mail deliciosa matéria sobre ela escrita pelo cearense José Ribeiro. Os leitores do blogue que me acompanham desde os primórdios certamente se lembrarão dessa figuraça que cometeu o despautério de dedicar umas (longas) linhas a minha pessoa (aqui), alegria que devo a meu camarada Sérgio-Veleiro. Pois bem, como sei que em São Paulo é tão difícil conseguir ser alvo de alguma matéria de jornal, enviei a José Ribeiro (que tem coluna semanal no jornal O Senador) o novo CD da Kana e um release, sem muitas expectativas, claro. E não é que o "cabra" se animou? Meu caro José Ribeiro, somos-lhe muitíssimo agradecidos. Infelizmente a produção não tem grana suficiente pra trazê-lo ao show, mas espero vê-lo em breve em Fortaleza!

Ele merece umas linhas, então colo o que escrevi sobre ele no prefácio do texto que me dedicou: "José Ribeiro [...], além de escrever semanalmente neste jornal a coluna Espie!, é professor de Literatura na Uece (Universidade Estadual do Ceará) e apresenta um programa em Fortaleza, pela rádio Difusora, chamado Ler e Rir, que trata de literatura e humor(!). Pra se ter uma ideia, o programa tem como vinheta de abertura a canção dos Beatles Let It Be, mas, no lugar da frase-título, ouve-se um 'Ler e rir, ler e rir, ler e rir, ler e rir. Cearense sabe ler e rir. Um figuraça, como vocês lerão abaixo (a grafia para palavras estrangeiras é proposital). Mas 'o cabra' é sério! É formado em Filosofia, Literatura e Jornalismo e já escreveu pra mais de vinte livros!". Faltou dizer que ele é avesso a fotos e redes sociais e nega veementemente a autoria de perfis que existem em seu nome, assim como a publicação de fotos em que ele apareça. Respeitei seu pedido, pois. Antes do texto, o programa:

O Centro Cultural São Paulo (Sala Adoniran Barbosa) apresenta:
Kana e banda no show de lançamento do CD Em Obras
Data: 28 de março
Hora: 20h30 (pontualmente)
Entrada: grátis
Endereço: Rua Vergueiro, 1000 (próximo à estação Vergueiro do metrô)
Participações especiais: 4+1 e Gabriel de Almeida Prado

***

Kana, do Mundo para o Ceará
Por José Ribeiro, para a coluna Espie! de O Senador

Vocês nem pensem que vão me fazer passar essa vergonha danada de terem se esquecido de Léo Nogueira, esse cabra muito do safado, compositor massa com selo de qualidade meide in Senador Pompeu, sobre quem eu escrevi já faz uma ruma de anos, vão? Se alembraram? Pois... Espie, menino, que dia desses eu estava em casa aos imboléus, abufelado com um alfenim, afiando a dentadura, de alpercata e tudo, quando escutei a zoada da campainha, e quem era? O cabra do correio, me trazendo uma correspondência lá da caixa-prego, do estrangeiro. De São Paulo. Espie! Era um CD muito do bonito, todo enfeitadim, com dedicatória e tudo, de uma cantora japonesa... é, eu não tô dizendo? É a mulher de Léo, macho véi, a Cana... ou melhor, Kana. Eu também falei dela nesse mesmim dia em que escrevi sobre Léo. Não se alembraram? Se lascaram, que O Senador não tem saite (que o dono é mão de vaca, não espalhem...), mas vão lá caçar por ela no gúgou que tem tudim, inclusive nos iutubes!

Marrapaiz, dava até gosto! Quase que eu me esqueço de botar a bolhachinha no aparelho. Fiquei ali abilolado uma meia hora só reparando na boniteza da bichinha (ói,
Léo, não tô falando de sua esposa, não, viu? Se bem que tu tá ajeitado!). Mas o quê? Se aprumem, que eu sou um cabra muito é do tradicional, aqui em casa eu tenho até uns mil quinhentos e setenta e doze longue-plêis, sou do tempo do 78 rotações, macho. Pois! E aí que eu fiquei ali, fungando na folha do encarte para sentir o cheiro de novo, lendo os nomes dos autores, dos músicos, a ficha técnica... Mas eu não tô dizendo? Essa bacurinzada toda frescando com redifone nas zureias não sabe o que é música, não! Ficam só de fulerage, escutando esculhambação, uma imundiça só... Depois as bacurinhas nem cresceram direito e já ficam buchudas, esperando outro bacurim.  E o pai pica a mula, nem para se amancebarem... Mp3? Arreda, satanás!

Mas espie! Tomei coragem e apertei o plêi, escutei trinta segundos e desliguei. Mas foi prumóde botar uma, desinfeliz! Que eu pus atenção nas oiças e vi que o negócio era violento, então, mesmo contra a minha religião, que não me permite ficar cheio dos paus de dia, fui obrigado a lamber os beiços. Sem esquecer do santo, claro! E tomem tento que vocês sabem que eu não sou crítico, Deus me livre e guarde!, minhas aulas, meu programinha de rádio e meus livros não dão para eu viver estruindo, mas, como eu sou um cabra ligeiro nas economias, tenho pro meu baião de dois, com a graça do meu padim padim Ciço! Então, como eu ia dizendo, eu não sou crítico, mas também não sou um lesado, conheço o que é bom e atesto. Sobremaneira, quando é do Ceará, que eu não sou ufanista (sim, porque o Ceará é praticamente um país!), mas todo mundo já tá zarolho de saber que Adão e Eva nasceram foi nessa terrinha boa de Iracema! Francisco é argentino, mas Deus é cearense, o que é que eu posso fazer? Não tenho nada a ver com esse angu...

Mas menino, hoje eu tô com a moléstia, que vai acabar o espaço e eu não falo da japonesa. Aliás, por falar em Francisco, eu não posso jurar com a mão direita sobre a Bíblia, mas com a esquerda sobre um cordel eu juro que essa menina em outra encarnação já foi cearense, ou então Deus depois da merenda bateu pestana se balançando numa rede, descuidou e deixou o globo terrestre dar meia girada, de modos que ela acabou estreando seus dias lá em Tóquio. Mas eu não tô dizendo? Que a bichinha é cearense toda, macho! Espie! Não, não é que este Em Obras que ora eu tenho o privilégio de ter aos meus cuidados (com dedicatória e tudo) seja um disco só de forró, que a mulher é muito da eclética, mas
Léo já tinha me mandado os outros CDs dela, de modos que pelo conjunto da obra não me resta escapatória... Eu tinha era que estar muito mouco para não jurar com a mão esquerda sobre um cordel que essa tal de Kana é cearense. E das brabas!

E ói que
Léo me disse que Kana, com toda a sua educação cearense-oriental, queria até ter me mandado um saquê! Mas eu não tô dizendo? Espie! Um saquê... Escrevi um emêio a Léo mandando avisar a Kana que eu não aceito jabá! O que eu escrevo é por gosto, que eu não tenho o rabo preso com seu ninguém! Inclusive, se eu nunca disse, agora venho a público referendar que neste espaço do amado O Senador que ocupo desde o Paleolítico, sempre tive a total liberdade de escrever o que me desse nas ventas, fosse sobre o que fosse, e ninguém, nem mesmo o dono, jamais roeu a corda do nosso contrato firmado apenas verbalmente (pois se um homem não mantém a palavra empenhada não vale um sibasol!) nem veio se engraçando prumóde me fazer escrever nem uma vírgula que não fosse de minha única e exclusiva vontade! Agora que eu já desabafei, e já estou terminando mais este artigo, quero avisar à minha querida Kana que depois que esta edição d'O Senador for às bancas, ela, de livre e espontânea vontade, pode me enviar esse saquê (Léo tem meu endereço), que de besta eu só tenho a cara, e nunca chupei manga com febre!

Sobre o disco: Kana não revela a idade, mas pelas fotos tenho cá para mim que deve ser balzaquiana, se bem que sua voz, uma preciosidade, é de uma bacurinha mal saída dos cueiros. Simbora começar por aqui. O Brasil já nos deu de Amelinha a Elis Regina, passando pelas semicearenses Gal e Bethânia, por Nara, por Elba, por Nana, sem falar nas rainhas do rádio e em Dolores, Maysa, Elizeth, Ângela Maria, Marília Batista, Aracy... É tanta lindeza, que eu fico encasquetado pensando em onde foi que o diacho desse trem se desmantelou e saiu cafundós afora rodando que nem um cachorro querendo merendar o rabo. Hoje, se um cabra liga o rádio e põe tenência nas oiças, endoida, pois a voz de uma é prima carnal da voz da outra, parece que São Bernardo do Campo deixou de fabricar automóveis em série e se desabalou a industrializar marisas aos montes, cássias elas, ivetes sem galos, e daí pra baixo. Dá até gastura nas oiças tanta gasguita, daí que o cabra fica até engambelado quando marias ritas dão um grau no gogó e se fazem de elises.

Por isso é que eu fiquei atroiado ouvindo
Kana, com sua voz que parece que parece com a de alguém, mas que no fundo não parece com a de ninguém. E o sutaque? É daqueles que parecem que vão desonerar, mas não desoneram, que nem Daiane dos Santos dançando Brasileirinho nas Olimpíadas, cheia de saliência. E Kana ainda é mais saliente, pois a ousada não se limita a papaguear (como ela disse que fazia no Japão, na antiguidade), a abusada compõe que só! Mas eu não tô dizendo que a bichinha é do Ceará? Espie! Vá ouvir! E diz que é arranjadora! Lendo o seu rilise eu soube que no começo ela ficou assim meio desenxabida, porque tinha vindo dos estrangeiros, e não quis se meter a besta fazendo arranjo, mas, não deu dois discos, botou as asinhas de fora e foi zelar pelo que era seu. Afinal, com a brasilidade que lhe é nata, com Buda que é por ela (e a samuraiada toda), mais as referências que vão de Bítous [Beatles] a Jobim, passando por Gonzagão, só podia resultar nesse Em Obras.

E a bichinha é miudinha, mas faz uma zoada que nem gente grande. Eu botei tantas vezes esse disco no ripite, que cada vez uma música diferente me chamava a atenção. A primeira, a faixa-título, é uma lindeza, num ritmo esquisito, um show de metais, e uma letra (do
Léo) fia-duma-égua de boa, com a primeira parte contrastando com a segunda; depois, O Amor Viajou, parceria com o quase cearense Zeca Baleiro, chama a atenção pelos violinos iniciais, que preparam nossas oiças para uma coisa, e depois nos entregam outra, espie! O espaço é pouco, e não dá para o cabra ficar filosofando, então, para não encher o saco do cão com reza, destaco O Fim do Fim do Mundo, um sarapatel russo-cearense dela com mais quinhentos cabras (Léo, Élio Camalle e Gabriel de Almeida Prado), que manga dessas previsões de fim de mundo, me lasquei de rir oiçando, uma das melhores; Tara ou Brincadeira, essa também dela em parceria com uma ruma de varapau (Léo, os Cuevas Alê e Álvaro, e Marcio Policastro), com o instrumental miudinho, mas com um espetáculo de vozes à la MPB4; e Girassóis, dela com Álvaro, de fazer o cabra perder o rumo de casa de tão bonita, só com vozes e violinos.

A única que não é dela é Libélula, que põe a tampa no disco, de um compositor uruguaio (espie!), Dany López (esse cabra tem nome de cearense...), que ela canta em japonês, versão dela. Eu não entendi nadica de nada, mas chorei de dar saudade da mãe... E tem outras, Primeiro de Abril (com Lúcia Santos), canção feminista onde a guitarra escovada de Omar Campos prosopopeia com a voz malina de
Kana; O Show do Bilhão, um xote de Kana e Léo com sanfona meide in Ceará de Ítalo Queiroz; e tem aquela... Cabra, vamos deixar de fulerage, senão eu vou invadir o espaço do vizinho! Se quiser saber mais, compre o CD, macho! Diz que vai ter um show de lançamento no Centro Cultural São Paulo quinta-feira santa, espie! Léo me convidou, mas faltou mandar as passagens (mande, Léo, que eu vou!). Ô, povo do Dragão do Mar, estão esperando o mundo acabar de novo para chamar a bichinha para fazer um show por aqui, é? Avexado, minha gente, antes que o cachê aumente! Mas chega de Kana, que ainda é cedo para se melar. Desejo a todos um bom Domingo de Ramos e antecipo que na coluna da semana que vem tratarei sobre descoberta paleontológica revolucionária ligando a origem dos dinossauros à cidade do Cariri. Espie!

Fortaleza, 23 de março de 2013.

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Aqui O Amor Viajou com Zeca Baleiro (presente de Rita Cássia). Quem for ao show verá/ouvirá a versão de Kana:


4 comentários:

  1. Mas que delícia de texto, Léo! Adorei! Muito gostoso de ler, leve, divertido, cheim de sotaque! Amei! Parabéns pra você, pro José Ribeiro e pra Kana! Sucesso!
    Beijão,
    Danny.

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  2. eu achei o máximo! quero conhecer de pertinho esse cabra! me apresenta Léo, talvez eu conheça mas nem tou ligando o nome a pessoa!!!
    vou compartilhar aqui e se eu pudesse eu ia nesse show! beijos em vcs dois!!!
    apá

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    1. Valeu, Apazita!

      Estamos trabalhando pra levar o show praí também.

      Beijos,
      Léo.

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