Queridos (e raros) leitores:
Outro Natal chega. Como em todos os anos anteriores, é tempo de ir ao shopping gastar o 13º com artigos de primeira necessidade; é tempo de preparar aquela ceia pra um batalhão – e comê-la –, como se não houvesse amanhã ("mas se você parar pra pensar, na verdade não há"); é tempo de assistir a um novo especial do rei Roberto Carlos, a cada ano tão cheio de novidades; é tempo de beber até cair(!), afinal, não é todo dia que temos o privilégio de passar alguns dias sem ter de acordar cedo pra ir trabalhar (e isso merece, sim, comemoração); enfim, é tempo de, de roupa nova, revestirmo-nos de hipocrisia nova e desejarmos Feliz Natal a todas aquelas pessoas que simplesmente não suportamos (e que, provavelmente, amanhã voltaremos a não suportar), mas a quem hoje, repletos de espírito natalino, chamamos de irmãos.
Ah, quase esquecia: é tempo também – dizem – de reflexão. Portanto, sei que estão superatarefados, mas, se quiserem uma ajudinha na hora da tal reflexão, trouxe-lhes de presente um conto de Natal seminovo, mas limpinho (que roubei daqui), de um caro parceiro. Recebam-no como minha forma de lhes desejar um feliz Natal.
Um conto de Natal
Dia desses nasceu um menino. Sua mãe é uma moça bonita, muito nova, chamada Maria. Seu pai, José, é um carpinteiro que veio de Pernambuco pra cá pra ajudar a construir o estádio do Corinthians. O menino nasceu aqui pertinho da avenida, de noite, debaixo do toldo de uma clínica veterinária. Os passarinhos ficaram malucos de tanto cantar quando ele nasceu, e os filhotes de dálmata uivavam como se a lua fosse feita de leite. Sei disso porque apareceram aqui em casa três senhores estranhos, vestidos com umas roupas meio esquisitas, e perguntaram se eu tinha notado uma estrela brilhando diferente no céu. E pra falar a verdade eu tinha notado, sim. Mesmo com toda a poluição, eu já tinha reparado naquela estrela enorme, brilhando como se quisesse me dizer alguma coisa, e desde então meu coração vem batendo diferente, com uma alegria que não sei explicar. Os três me disseram que vinham de muito longe e levavam presentes para um garoto: ouro, incenso e um negócio chamado mirra, que eu nem sei pra que serve. Então resolvi acompanhá-los e, como vi que os velhinhos eram meio sem noção para presentes, parei numa farmácia e comprei também um pacote de fraldas descartáveis. Quando cheguei lá, havia em torno do menino uma pequena multidão de pessoas, a maioria gente simples. Estavam em silêncio, mas era como se cantassem. Todos haviam trazido presentes para aquela família de desconhecidos: bolacha, mamadeira, garrafa térmica, chupeta, chocolate, carinho. E era como se na caverna escura do tempo contemplassem o nascer do fogo. Passei a noite toda ali ao lado deles, olhando o sorriso daquela criança e também cantando pra dentro de mim. E me deu uma esperança de que esse menino não precise nunca tomar vinagre na vida nem carregar por aí uma cruz de pau para ensinar ao mundo a sabedoria que já traz nos olhos ao nascer. Que a vida é um milagre.
Feliz Natal a todos!
dezembro/2011
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Lindo! O Kleber é maravilhoso!!!
ResponderExcluirValeu pela visita e pelo comentário, anônimo. Faltou só assinar.
ExcluirSim, o Kléber é craque!
Abraço,
Léo.