É chegado o momento. Antes que alguém venha (por chatice ou só pra fazer graça) com o já famoso bordão "Toca Raul!", antecipamo-nos e tocamos. Claro, a ideia não foi minha, mas de Alexandre Lemos, que veio enriquecer este espaço com suas sempre tão bem colocadas palavras. Não à toa tem sido um dos letristas mais requisitados do momento. Isso sem falar que ainda se arvora em nobre melodista de letras alheias – e próprias. Não, não vou cair na tentação de citar outro bordão ("com todos menos comigo", rs), afinal, como já dizia mestre Raul, "tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado". Por ora, deixemos que ele nos conte como se deu seu encontro com a música do Maluco Beleza:
Krig-ha, bandolo!
Por Alexandre Lemos
Krig-ha, bandolo!
Por Alexandre Lemos
Início
dos anos 70. Barra pesada. Minha família na berlinda, primo preso, tio
desaparecido. Pouco antes de me arrumar pro colégio, vi da janela um
jipe do exército parando defronte à portaria do prédio que ficava sobre o
Três Caravelas, botequim tradicional da nossa rua. Quatro
daqueles PEs bem grandões entraram no edifício e logo em seguida
desceram trazendo um homem encapuzado que foi jogado no jipe e levado
embora.
Eu estava quase terminando o ginásio e, naqueles dias, ir à escola era uma loteria. Não ter aula era coisa comum, de tantos professores que a ditadura tirava de circulação diariamente. Meu cabelo já era grande e eu já fazia música, com meu violão devidamente equipado de um cristal de captação que o tornava num estridente instrumento elétrico.
Tudo era difícil no Brasil àquela altura, mas quase posso garantir que nada era mais difícil do que ser jovem. Tudo era proibido e a repressão prendia ou exilava os poucos adultos que nos interessavam como alguma espécie de referência. Sendo assim, eu escrevia canções em inglês, afinal, era com o rock inglês e com o psicodelismo americano que eu conseguia me identificar. A gente usava muita droga já, apesar da pouca idade. Muitas bolinhas, como Mandrix, Mequalon, Optalidon, e maconha, muita maconha, full time. A iniciação às drogas e ao sexo ocupava nossos dias, mas mesmo as manhãs mais ensolaradas não pareciam mais do que surdas tardes de mormaço.
Eu estava quase terminando o ginásio e, naqueles dias, ir à escola era uma loteria. Não ter aula era coisa comum, de tantos professores que a ditadura tirava de circulação diariamente. Meu cabelo já era grande e eu já fazia música, com meu violão devidamente equipado de um cristal de captação que o tornava num estridente instrumento elétrico.
Tudo era difícil no Brasil àquela altura, mas quase posso garantir que nada era mais difícil do que ser jovem. Tudo era proibido e a repressão prendia ou exilava os poucos adultos que nos interessavam como alguma espécie de referência. Sendo assim, eu escrevia canções em inglês, afinal, era com o rock inglês e com o psicodelismo americano que eu conseguia me identificar. A gente usava muita droga já, apesar da pouca idade. Muitas bolinhas, como Mandrix, Mequalon, Optalidon, e maconha, muita maconha, full time. A iniciação às drogas e ao sexo ocupava nossos dias, mas mesmo as manhãs mais ensolaradas não pareciam mais do que surdas tardes de mormaço.
Alexandre Lemos |
Colocamos o disco e BUMM!!!! Minha cabeça pirou, parecia uma revelação, uma epifania. Mosca na Sopa, Metamorfose Ambulante, Al Capone, Cachorro Urubu, Ouro de Tolo. Estava decretado que era possível ser doidão em português. Levei o disco comigo, emprestado. Quando recebi minha mesada, comprei um pra mim. Ouvi, ouvi, ouvi, ouvi. Durante anos soube de cor cada acorde daquele disco, cada sílaba, cada riff, cada virada. Passei a escrever letras em português, comprei uma guitarra, montei uma banda. Eu ainda não sabia, mas estava virando artista.
Há uns cinco anos, numa maratona de criar canções com meu parceiro Alexandre Castilho, mostrei pra ele uma música minha que Marianna [Leporace] gravara um pouco antes, chamada Moderno. Ele ouviu e me disse: “adorei a letra, mas a melodia é meio antiga, meio Raul...”. Ele estava meio constrangido por fazer a crítica, sem saber como eu reagiria. Eu não disse nada, dei só uma risada e fiquei na minha. Foi o maior elogio que alguém já me fez em toda a minha vida de compositor.
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Raul Seixas – Krig-ha, bandolo! (1973 – Philips)
Lado A
1. Introdução: Good Rockin' Tonight
(Roy Brown)
2. Mosca na Sopa
(Raul Seixas)
3. Metamorfose Ambulante
(Raul Seixas)
4. Dentadura Postiça
(Raul Seixas)
5. As Minas do Rei Salomão
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
(Roy Brown)
2. Mosca na Sopa
(Raul Seixas)
3. Metamorfose Ambulante
(Raul Seixas)
4. Dentadura Postiça
(Raul Seixas)
5. As Minas do Rei Salomão
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
6. A Hora do Trem Passar
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
Lado B
1. Al Capone
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
2. How Could I Know
(Raul Seixas)
(Raul Seixas)
3. Rockixe
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
4. Cachorro Urubu
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
(Raul Seixas – Paulo Coelho)
5. Ouro de Tolo
(Raul Seixas)
Ouça o LP na íntegra aqui:
(Raul Seixas)
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Ouça o LP na íntegra aqui:
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