Poli com outro sagitariano, o saudoso Zé Rodrix (ao fundo) |
No dia de hoje, também conhecido como 13 de dezembro do ano da graça de 2014, e na boa companhia de Luiz Gonzaga, aniversaria outro querido sagitariano (como eu – refiro-me ao sagitariano, não ao querido), meu mano Marcio Policastro, o cara (ao lado de outro mano, Gabriel de Almeida Prado) com quem mais fiz música neste 2014 que dá seus últimos suspiros. Como forma de homenageá-lo (refiro-me a Poli, não ao ano, embora em relação a este eu também não tenha do que me queixar), escolhi três parcerias nossas pra publicar aqui. A elas, pois:
1) E POR FALAR EM WOODY ALLEN
Dia 1º de dezembro, além de mim e outros tantos felizardos, aniversariou o grande Woody Allen, um de meus diretores preferidos. Mas li há alguns meses que ele anda triste. Chegou a dizer que, "por ser ateu e não acreditar em outras encarnações ou numa razão para estarmos aqui, tive uma vida muito triste, sem esperança, assustadora". E arrematou: "Você nasce sem motivo claro, sente um comichão sexual inexplicável para ter filhos, os tem, e então eles têm seus filhos, e você tampouco entende a razão. Mais um pouco, e o mundo desaparece, e depois o universo." Encontrei Policastro alguns dias depois e lhe contei a respeito. Daí surgiu a ideia da canção abaixo, que trata de dúvida e envelhecimento:
E POR FALAR EM WOODY ALLEN
Na dúvida eu creio
E os meus receios tolos de uma vida vã virão
Os fins e os meios
Pra se chegar a algum lugar de que eu não tenho nem noção
Parece clichê
Só pra você, que inda não sabe que isso tudo tem um peso
Se liga, mané!
É que você inda não percebeu que, dessa, ninguém sai ileso
Tá todo mundo preso
Na dúvida eu creio
E os livros que eu não leio, na estante, acumulam pó
Se a vida é um recreio
Por que todo esse medo e o anseio de se encontrar... só?
Parece clichê
Só pra você que inda não sabe dessa missa nem um terço
Pior é não ver
Na hora em que o barco afunda, não importa o berço
Tá todo mundo imerso
Uma é viver por viver
Como se fosse ficção... ficção
Outra é buscar o porquê
E sacar que ninguém tem razão... tem razão
Na dúvida eu creio
Na dúvida, eu creio
Na dúvida
***
2) FABULOSA EMBARCAÇÃO
Minha querida amiga – e também colega de trabalho – Célia dia desses me confidenciou que estava um tanto cansada de ser tão proativa. E acrescentou: "Agora eu quero que as coisas venham até mim!" Obviamente, vocês, que me conhecem tão bem, já devem ter adivinhado o que passou por minha cabeça naquele instante, após receber de bandeja um mote desses. Na hora, anotei uns versos, que chamaram outros, e, não deu 15 minutos, a letra estava pronta. Era uma manhã de sábado, dia em que, em geral, vamos trabalhar com aquela boa vontade imaginável. Portanto, a ideia que virou letra veio me salvar de um mau humor matinal.
O detalhe inusitado foi que, na noite anterior, Poli havia me mandado uma melodia pra eu letrar. Eu ainda não tivera tempo de ouvi-la, o que só fui fazer quando cheguei em casa. Quando a pus pra tocar, senti a estranha sensação de que ela cabia exatamente na letra que eu havia feito poucas horas antes. Fui tirar a prova, e não é que coube? Uma explicação aos leigos: eu, como letrista, componho de três formas, 1) faço a letra primeiro e mando pra algum parceiro musicar; 2) pego uma melodia de algum parceiro e lhe ponho uma letra; ou 3) faço ao mesmo tempo letra e música, na maior parte das vezes, junto com algum parceiro. Só que no caso desta tive apenas o trabalho de "encaixar" a letra na melodia. Claro, havia um refrão, cuja letra fiz depois, mas ainda assim não deixa de ser surpreendente. A ela, pois:
FABULOSA EMBARCAÇÃO
Faz tempo que eu tô por aqui de ser tão proativo
Agora eu quero que as coisas venham até mim
Correr faz bem e é bom, mas é um bocado cansativo
Vou procurar justificar os meios só no fim
A vida vai bem
Como vier, vem
Cansei de programar como um relógio o meu futuro
Agora eu vou deixar nas mãos do acaso a escolha
Ficar bem sentadinho aqui, tranquilo e inseguro
Até que o meu destino me encontre e me recolha
A vida vai bem
Como vier, vem
A vida vai e vem
Ávida vai
Tô nem aí, hoje a surpresa vai ter vez
Ninguém vai dar as cartas, a não ser o azar
Eu vou dormir feliz nos braços do talvez
Divagar
A vida vai bem
Como vier, vem
A vida vai e vem
Ou não
Vou ser um pioneiro navegante à deriva
Na fabulosa embarcação do que der e vier
A dúvida, eu vou deixar que seja a minha diva
Colher co'a mão a flor do bem me quer, do mal me quer
***
3) PALESTINA
É sempre assim: vira e mexe, a excelentíssima senhora patroa de Policastro começa a notar que já faz um tempinho que seu honorável esposo não lhe dedica nenhuma canção. Mas Poli, que, em minha humilde opinião, é um baita letrista, tem um ponto fraco: quando precisa expressar seu romantismo numa letra, sofre uma espécie de bloqueio e não consegue escrever uma linha. Nessas horas, ele apela pra quem? Sim, pra este que vos escreve. Daí, lá vou eu traduzir em versos o que passa por sua cabeça. Obviamente que com a liberdade poética de ser eu outra pessoa. No caso desta canção que que vamos ouvir, ele me mandou a melodia e tascou: "Nogueira, minha situação anda delicada lá no cafofo. Faz uma romântica daquelas!" E, confesso, não foi difícil, principalmente porque já fui eu próprio protagonista da situação relatada na letra. Ei-la:
PALESTINA
Menina
Em qual capítulo de nós
Você deixou minha sina
E desatou os nós
Foi dar palestra na Palestina
E eu nunca mais fui à esquina
Ô, guria
Onde foi que eu errei
Pra você me arrancar de seu dia?
Quis proteger o rei
E vi o quanto a rainha valia
E hoje sou só avaria
Cadê –
Em meio aos discos,
Livros, tudo que rabisco –
Você?
O pouco meu que em mim restou
Nem liga mais a tevê
E se faz sol
Pra mim é o mesmo que chover
Diz pra quê
Guardei só pra você
Em meu coração
Minha melhor suíte presidencial
Pra vir um vendaval
Levar o prédio todo ao chão
***
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