Os homens que carecem de sentido têm sobrevivido por muitos mais anos do que os planos da Terra (e de Deus) o tinham permitido. No princípio, era o verbo, depois veio o berro, de lá pra cá tudo foi erro, inclusive o certo e o errado, o pasto e o arado, o aberto e o fechado, a floresta e o gado, a segunda e o feriado, os secos e os molhados, os vivos e os enterrados. Sem falar nos cremados... e na crème de la crème. Tudo o mais não passa de FM mal-sintonizada, o tudo e o nada, quem se afoga e quem nada, águas que passarão e águas passadas, eles passarão e eu passarinho, o caminhão e (a pedra no meio d)o caminho, os louros e os pelourinhos, os que vão e os que vinhos, os advãos e os adivinhos, os sãos e os sozinhos, os sacristãos e os sacristinhos, a lã e o linho, o Alain Fresnot e o fernet, você e eu, eu e você... juntinhos!
Afinal, quando se fala em sentido, tudo carece de sentido (até onde é permitido). Tem quem vive cem anos e quem morre com poucos meses de vida, fora as perdas e os danos, as dívidas, as bolas divididas, as reses e às vezes, a várzea, a vazante (a cheia e a minguante), o centroavante e o recuado, o inteligente e o retardado, o doente e o Eduardo (Savasini – sem falar no Mickey e na Minie), a seta e o dardo (e o alvo... e o calvo...), o pago e o dado (fora o fodido e o mal-pago), o que eu bebo e o que eu embriago, o devo não nego pago quando puder, o cego e o que não quer ver, o homem e a mulher, o se Deus quiser e o que Deus não quer, o que não tem nada a ver com Deus, o oi e o adeus, os filhos seus e os filisteus, os ébrios e os hebreus, a babilônia e a babel, o lápis e o papel, o pouco e o a granel, o inferno e o céu, o meu, o seu e o nosso, a carne e o osso.
Até porque, num tempo de falta de sentimento, o sentido não passa de particípio passado, não participa, não aguenta a barra de viver e do que há de vir; quem sente mente, ou tão somente finge que sente pra sair bem na foto do presente (isso é fato... embora não esteja consumado, mas consumido). O resto eu duvido, ou não dou ouvidos, talvez olvido, ou olho com olho de vidro, mas sem viagra, que a vida não passa de vinagre, mas quem tem bom paladar pode até achar que é vinho o que é amargo, porque se eu não largo o osso, carne me parece (assim é se lhe parece), só padece quem percebe, quem não percebe não sabe que está padecendo, o que eu dou de graça não vendo, o que eu não tô olhando às vezes eu tô vendo e só fingindo que não vejo, porque o que hoje eu como amanhã sobejo.
E o Tejo não é maior que o rio de minha aldeia, e sua ideia eu não invejo, nem leio a Veja, mas pode ser que ainda seja o que nunca foi, todo touro tem seu dia de boi, todo tolo tem seu dia de herói, o que ontem doeu hoje já não dói, quem ontem deu hoje come, quem ontem comeu hoje tem fome, quem ontem ficou hoje foge, quem ontem se fodeu hoje fode, quem ontem não pôde hoje pode, ontem Nescau hoje Toddy, ontem Tadeu hoje Ted, ontem perdeu hoje pede; nem tudo que se malha é pela métrica com que se mede (já dizia Nelson Ned), a grandeza depende do tamanho da sede e do quanto você (não) sede (ou do quanto você se vende... ou se venda), tudo depende do que você entenda, o resto é lenda... ou Disneylândia. A lêndea terá seu dia de piolho. Olho por olho, dente por dente...
Nem tudo o que não é de propósito é por acidente; gente é pra brilhar (não pra morrer de fome), tem a bola de gude e a de bilhar, tem o ataúde e o alaúde – sem falar no Ataulfo Alves – na clave (e na ferradura), quem ferra tanto bate até que fura, pra cada berço tem uma sepultura, pra cada terço tem um rosário, pra quem se esconde tem um armário, pro pescoço tem o escapulário, mas nem toda Maria tem seu Mário (né não, José?), tem quem vai de avião e quem vai a pé... só que nem tudo depende da fé, que remove montanha, mas num dia perde e no outro ganha, o fracasso e o sucesso dependem do tamanho do medo da façanha, fora a sanha e a senha, a Alemanha e a lenha, o "vai-te" e o "venha", a Lapa e a Penha, quem chora e a fronha, o Palmeiras e a pamonha, quem vive e quem sonha, o que eu tive e o que ainda terei.
Tudo isso é da lei. E é exatamente por isso (chouriço) que eu sempre achei que a vida carece de sentido, apesar de todo sentimento, de toda prece, de toda pressa, quando a hora é essa, não tem quermesse que impeça a vida de acabar (nem Calabar). Um cara vive de bar em bar e não morre, fuma, mete, se droga... já o outro se apruma, não se intromete, faz ioga... e pimba! Bate as botas na cacimba, tão certo quanto são tortas as notas da escala... e morta não fala, e porta que não abre não sabe o sentido de ser porta... mas, sentido? Quem sabe? Se no mundo tudo/nada cabe, e antes que se acabe o mundo vai acabar, e tanto faz se você estiver no altar ou num bar, se você souber ou se ensebar, se deixar a barba ou se barbear, se brincar de Barbie ou cantar "Bárbara, Bárbara, nunca é tarde, nunca é demais"...
Rapaz! Entendeu? Pelotão, sentido! Mas, além do sentido (e da falta de sentido do indivíduo), tem o abduzido, o bandido, o comprimido, o deferido, o enxerido, o falecido, o gemido, o humorado, o ido, o julgado, o latido, o marido, o namorado, o ouvido, o parido, o recém-nascido, o sabido, o tingido, o vencido, o x-tudo, o zoado e o Marcio Policastro, que, no rastro da falta do que fazer (ou num momento de lazer... pra não dizer ócio), foi capadócio e me disse que escrevesse sobre o (sexto?) sentido (talvez estivesse ressentido), ao que eu não me fiz de rogado; sem advogado, aceitei o encargo, não passei ao largo, nem pelo Largo do Paissandu, nem mandei tomar na rima... afinal, quem não fode que saia de cima, quem tem dores tome aspirina, quem tá fraco tome vitamina e pra quem acha que isso tudo não tem nenhum sentido... sinto muito (por você ter sentido tão pouco)!
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PS1: Voltei só pra explicar (e confundir) que a foto acima, além da rima, não tem nenhum sentido, mas se escolhi não foi só por ter escolhido, foi porque sei que tem leitor (que nem tu) que quer ler quando vê um nu, principalmente se for um nu artístico (viu, gente?), porque assim se sente mais inteligente, mais arisco, e nem todo olho tem cisco, nem todo chico é francisco, nem pra todo CD tem disco, nem toda desculpa carece de culpa, nem toda cópula tem dupla, nem toda cúpula tem cópia, nem todo fanfarrão tem bazófia, nem toda estrofe tem refrão, nem toda farofa tem feijão, nem todo feijão tem arroz, nem todo antes tem depois, nem todo depois tem durante, nem tudo o que eu cante vai ser assoviado, nem toda gripe é resfriado, nem toda sensação é sentido e nem todo sentido é mão única. E, pra encerrar, nem toda túnica é de Tonico... e nem toda crônica é pra qualquer bico.
... E vamo' botar ordem na espelunca! Que, se eu não parar agora, não paro mais nunca!
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PS2: Trilha sonora — Pe. Zezinho – Minha Vida Tem Sentido (dele)
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Ah! Leo. Adorei este aqui. Muito legal!
ResponderExcluirMexeu com os sentidos, sim.
Beijão e sucesso!
Valeu, queridona! Sintamos, pois!
ExcluirBeijo,
Léo.
É muito sentido para uma pessoa "sensible como yo"... Adorei isto: """""o que eu não tô olhando às vezes eu tô vendo e só fingindo que não vejo, porque o que hoje eu como amanhã sobejo.""" Pelotão: Sentido! :)
ResponderExcluirOs poetas são feitos de sensibilidade, né não, Anja? Isso faz todo o sentido. rs
ExcluirBeijo,
Léo.