1) CONSPIRAÇÃO
Pra ser bem sincero, tenho certo medo de redes sociais. Além do fato de passivamente nos deixarmos ser observados de modo invasivo (manjam o Grande Irmão?), noto também que ali muitas pessoas, protegidas pela distância (e muitas vezes pelo anonimato – perfis falsos, vírus etc.), acabam deixando transparecer o pior de si. Contudo, admito que, nesse quesito, as redes sociais não estão sozinhas, nem são as únicas culpadas. O ser humano, quando quer pôr pra fora seu Mr. Hyde, sempre acha motivo, local e ocasião. Aberrações à parte, acredito que é bacana nos aproveitarmos do lado bom que esses mecanismos (e a tecnologia em geral) nos oferecem.
Pra ser bem sincero, tenho certo medo de redes sociais. Além do fato de passivamente nos deixarmos ser observados de modo invasivo (manjam o Grande Irmão?), noto também que ali muitas pessoas, protegidas pela distância (e muitas vezes pelo anonimato – perfis falsos, vírus etc.), acabam deixando transparecer o pior de si. Contudo, admito que, nesse quesito, as redes sociais não estão sozinhas, nem são as únicas culpadas. O ser humano, quando quer pôr pra fora seu Mr. Hyde, sempre acha motivo, local e ocasião. Aberrações à parte, acredito que é bacana nos aproveitarmos do lado bom que esses mecanismos (e a tecnologia em geral) nos oferecem.
Por exemplo: uma das coisas de que gosto no facebook é que, além de me aproximar de amigos distantes e me trazer novos, vez em quando ele funciona também como fonte de inspiração; basta estar atento. Várias de minhas mais recentes composições nasceram de filosofias alheias das quais me apropriei. Se observarmos bem, aquilo é um poço sem fundo de possibilidades que podemos usar no ato da criação, seja em prosa, em verso ou em música. Esta, por exemplo, pesquei de algo que meu camarada Fernando Cavallieri escreveu lá certa vez. Não lembro exatamente, mas o que ele quis dizer foi que, quando o universo conspira pra algo acontecer, ninguém segura.
Pois bem, ao ler aquilo, a inspiração começou a se manifestar, e, quando pensei que não, já estava terminando a letra. Detalhe: e música. Nessa ocasião, a letra já nasceu com melodia. Desde então, vim apostando nela, enchendo os pacovás de muitos parceiros pra que a harmonizassem e tal, mas ninguém dava peteca. Até que, dia desses, visitando a casa de meu mano Augusto Teixeira, fiz-lhe uma oferta irrecusável: ofereci a ele parceria pra harmonizar a dita cuja e lhe melhorar a melodia. Ele comprou a ideia, arredondou as notas, compôs uma parte C e justificou os versos que dizem que "o universo, quando conspira, ninguém segura". Confiram:
CONSPIRAÇÃO
Augusto Teixeira – Léo Nogueira
O universo, quando conspira,
Ninguém segura
Não adianta sair da mira
Nem chamar a viatura
O universo, quando atira,
Tira a moldura
Que há na cara da mentira
E na linha da cintura
Ê, universo, pira!
Ê, universo, cura!
Deixa que o verso fira
A carne da usura
O universo quando transpira
Quando costura
Fere o deserto da ira
E ara os campos da fartura
O universo quando delira
Vira cultura
Nessa hora pega na lira
Toda santa criatura
Ê, universo, pira!
Ê, universo, cura!
Deixa que o verso fira
A carne da usura
Vira conspiração
Vira piração
***
2) DOIS SONHOS
Entre minhas tantas parcerias, uma das que mais me enchem de orgulho é a que desenvolvi com Marito Corrêa. Considero Marito um dos grandes compositores brasileiros vivos. Infelizmente, não é tão conhecido quanto merecia, apesar do refinamento de sua obra. Pensando bem, talvez por isso mesmo. Azar do público. Mas, projeções à parte, como Marito é contemporâneo dos monstros sagrados da MPB (e amigo de muitos deles – clique em seu nome e leia texto que escrevi a seu respeito) e possui riquíssimas melodias que dialogam com as destes, deu-me, sem querer, a oportunidade de sentir-me, na condição de letrista, próximo a meus ídolos, criando pras melodias de Marito letras com um grau de lirismo que me agradou bastante.
Tivemos um período bastante rico em criatividade. Certa vez, fui à casa dele e me espantei com a quantidade de ótimas melodias sem letra que ele tinha no baú da memória. Munido de um gravador, registrei o máximo que pude de uma tacada só e, nos dias subsequentes, fiz a festa. Como sempre digo, adoro letrar melodias. Em pouco tempo, já tínhamos canções suficientes pra praticamente preencher um disco. Já disse antes, mas vale repetir. Marito me ensinou uma boa tática: como adora que suas canções sejam cantadas/gravadas por cantoras, me pediu que escrevesse letras um tanto ambíguas, que pudessem ser cantadas tanto por homens quanto por mulheres. Gostei da tática e, sempre que é possível, utilizo-me dela.
Recentemente, ele me mandou a gravação de uma dessas parcerias, o que me motivou a compartilhá-la com vocês. Antes, preciso dizer que, quando ele me mandou essa melodia, já tinha título, Dois Sonhos. Agora, não lembro bem a história, mas me parece que ele havia tido um sonho dentro do outro ou coisa assim, daí compôs a melodia em questão. Então, resolvi aproveitar o título e, claro, a ideia, juntando dois sonhos: o meu e o dele. Daí, nasceu a canção que ora vocês irão ouvir. A ela, pois:
Recentemente, ele me mandou a gravação de uma dessas parcerias, o que me motivou a compartilhá-la com vocês. Antes, preciso dizer que, quando ele me mandou essa melodia, já tinha título, Dois Sonhos. Agora, não lembro bem a história, mas me parece que ele havia tido um sonho dentro do outro ou coisa assim, daí compôs a melodia em questão. Então, resolvi aproveitar o título e, claro, a ideia, juntando dois sonhos: o meu e o dele. Daí, nasceu a canção que ora vocês irão ouvir. A ela, pois:
DOIS SONHOS
Sonhei
Mas fui além de onde os sonhos vão
E voei, sem lei
Perdi de vista o chão
Dos céus
Dos céus
Menosprezei a civilização
E brinquei de deus
Os sonhos, lírios são
Mas os delírios, não
Delírio é milho aos tontos
Sonhar não dá pra tantos
O sonho vale um ponto
Delírio, um pranto
Pois sonhar é pouco
Delirar é demais
Nenhum nos satisfaz
E os delírios meus
Mas os delírios, não
Delírio é milho aos tontos
Sonhar não dá pra tantos
O sonho vale um ponto
Delírio, um pranto
Pois sonhar é pouco
Delirar é demais
Nenhum nos satisfaz
E os delírios meus
Mataram os sonhos teus
As asas eram do adeus
***
As asas eram do adeus
***
3) RAIVA DA TRISTEZA
Tenho que admitir que devo a meu mano Álvaro Cueva (e a sua caymmiana preguiça) o nascimento desta canção. Explico: certa vez, estávamos numa das noites autorais caiubistas, quando ele se aproximou de mim e disse que tinha uma ideia pra uma letra, mas, como estava com preguiça de desenvolvê-la, queria me repassar, desde que eu, em troca, lhe enviasse o resultado pra ele musicar e, se fosse o caso, fazer-lhe uns reparos finais. Estando Marcio Policastro na mesa, este se autoconvidou a participar da parceria. Anotei os versos soprados por Álvaro, guardei-os e fui curtir a noite.
Mais tarde, já em casa, retomei-os e, após um tempo que pode ter sido tanto 15 minutos quanto três horas (culpa do grau etílico), acabei terminando a letra. Tive o cuidado de não a enviar até que despertasse no dia seguinte e conferisse se não se tratava de delírio de bêbado (gosto de seguir o conselho de Hemingway: "escreva bêbado, edite sóbrio". Quando acordei e a reli, continuava gostando do resultado. Mexi num ou noutro verso e mandei o produto final pra Álvaro e Poli. Só que o segundo, tão ansioso quanto eu, acabou compondo a melodia sozinho. Álvaro já estava na parceria pelos versos iniciais, mas pediu um tempo pra pensar sobre a canção como um todo. Tempos depois, enviou-nos a gravação abaixo, resultado de ligeiras intervenções suas. Ao violão, outro fera, Leonardo Costa:
RAIVA DA TRISTEZA (FLOR DO ABANDONO)
Marcio Policastro – Álvaro Cueva – Léo Nogueira
Eu tô com raiva da minha tristeza
E, quando choro, sou sangue no olho
É o incêndio inundando a represa
É o puro fel com as barbas de molho
É o abismo da dor que me olha
Se me atiro no seu ponto cego
Eu já sabia que não tinha escolha
Quando escolhi sofrer por este apego
Eu fui um tolo lutador
Dando porrada nessa dor
Que me prostrou covardemente
É que no ringue da paixão
Se bate mais o coração
No último round, beija o chão, doente
Eu tô regando com sal as feridas
Pra, do abandono, colher esta flor
Eu sou a fera acuada, esquecida
Com saudades do seu caçador
***
Eu tô com raiva da minha tristeza
E, quando choro, sou sangue no olho
É o incêndio inundando a represa
É o puro fel com as barbas de molho
É o abismo da dor que me olha
Se me atiro no seu ponto cego
Eu já sabia que não tinha escolha
Quando escolhi sofrer por este apego
Eu fui um tolo lutador
Dando porrada nessa dor
Que me prostrou covardemente
É que no ringue da paixão
Se bate mais o coração
No último round, beija o chão, doente
Eu tô regando com sal as feridas
Pra, do abandono, colher esta flor
Eu sou a fera acuada, esquecida
Com saudades do seu caçador
***
Eu só não lembro porquê é que não fazemos mais dessas, já que saem tão bacaninhas! Ah, é! Minha preguiça. Saudade, mano! Abs;
ResponderExcluirMano Cueva:
ExcluirNão fazemos mais porque os afazeres do dia a dia acabam nos impedindo; mas o importante é que, quando fazemos, costumamos acertar!
Abração,
Léo.