Estava preparado pra publicar este texto no sábado véspera da eleição, mas fui alertado de que a partir das 22h usar as redes sociais pra fazer propaganda política seria considerado crime, então aguardei seu término e o publico (e divulgo) agora, adaptado.
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Por Francisco Daniel |
Tal lavagem cerebral desaguou num apoio a Jair Bolsonaro. A esses, aproveitando o infame trocadilho, digo que é melhor já ir se acostumando com a falta de direitos, pois ele não governará pensando na parcela pobre de seus eleitores, ou seja, a minoria. Que, paradoxalmente, é uma maioria, mas, como não exerceu seu poder com consciência, virou apenas mão de obra gratuita pra essa campanha que de longe explorou as maiores baixezas jamais vistas em todas as eleições anteriores. Por essas e outras, desisti de dialogar com os eleitores do dito cujo; a grande maioria deles desconversa sobre tudo o que seu candidato tem dito ao longo de décadas e mantém decisão de votar nele apesar... dele.
Sabia que eu tinha obrigação de, neste momento tão importante de nossa história, escrever algo, posicionar-me. Aí bateu uma dúvida: pra quem? Escrever pra bolsonaristas seria tiro n'água; escrever pra essa imensa multidão de neutros ou indecisos seria supervalorizar meu poder; pregar pra quem já pensa como eu, desnecessário. Então resolvi escrever o óbvio: sobre a impossibilidade de qualquer governo vir a acabar com a esquerda. Portanto, vou logo avisando aos papagaios direitistas que gritam "fora PT" e que acham que uma vitória de Bolsonaro varreria os "comunixtas" do Brasil: é bom já ir tirando o cavalinho da chuva! A esquerda — e a História nos mostra —, quanto mais porrada recebe, mas se agiganta.
Nem o nazismo nem o fascismo acabaram com a esquerda. Nem as ditaduras que se espalharam pela América Latina e abusaram de tortura e assassinatos conseguiram. Enquanto houver injustiçados no mundo vai haver esquerda. Claro, a esquerda é constituída por homens, e homens são falhos. E está provado que o poder corrompe. Não à toa, muitas vezes a justiça se volta contra seu próprio feitor. Entretanto, novas gerações surgem e, sabedoras dos erros do passado, têm a possibilidade de buscar sociedades mais justas por meios mais corretos. A nova esquerda já aprendeu que ditaduras, sob quaisquer vieses ideológicos, não são a solução. Mesmo porque até hoje pagam pelos pecados delas, que são demonizadas, muitas vezes com desconhecimento de causa.
E é pensando nessa nova esquerda que não há como não me vir à mente um nome como o de Fernando Haddad. Acredito que sua escolha pra candidato à presidência foi perfeita; não vejo em todo o quadro petista nenhum nome na atualidade tão bom quanto o dele. Haddad representa a modernidade de seu partido. Jovem, sério, honesto, competente, tranquilo (porém, firme), dado ao diálogo e sobretudo sem medo de debater com quem quer que seja (ao contrário de seu adversário); consciente dos inúmeros erros de seu partido, é um sujeito que se mostra claramente como uma nova liderança capaz de fazer a devida faxina, tanto interna quanto externamente falando. Acredito nele sem medo de ser feliz.
E digo mais, ele será uma oposição atuante, ao contrário de seu colega Ciro Gomes, que tinha tanta preocupação com o futuro do país que bastou ser derrotado nas urnas pra levar sua mágoa e seu rancor pra passearem justo na bela França de FHC — tá, opositores, e de Chico Buarque também, mas quem não gosta da França? O problema não é gostar ou não dela, o problema é não entender a gravidade do momento, pensar no umbigo acima do interesse nacional e se omitir na hora em que sua presença e sua atuação mais se fazem necessárias. Não, não vejo Haddad como vejo Ciro. Sobretudo porque Haddad nem almejava a presidência (ao menos não agora); mas o destino ignora egos.
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Não acabei o texto acima; estava pensando num desfecho contundente e ao mesmo tempo emotivo, quando (como, creio, metade dos brasileiros, ou mais) me vi debatendo política num grupo de WhatsApp familiar... E não é que achei singelo e sincero o que escrevi em dois minutos??? — pra vocês terem uma ideia, o inacabado texto acima me tomou uma semana!!! Assim, tive a ideia de, em vez de cerebralizar mais um parágrafo, trazer pra cá o que escrevi a meus familiares. Ou seja, isto:
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Família, como prometi, volto ao assunto.
Não estou muito diferente de vocês aí. Em São Paulo, os nordestinos sempre foram vistos como mão de obra barata; aqui no Japão, os estrangeiros são vistos como mão de obra barata, e eu sou mais um entre tantos. Mas graças a Deus tenho trabalho, o que aí no Brasil é coisa cada vez mais rara.
Tio X, ao contrário de você eu gosto muito de política. Leio muito, procuro me informar muito, e tento filtrar tudo, pois viver em sociedade é um ato político. E é por isso que eu acho tão importante o poder do voto. O Brasil passou 21 anos sem que seus cidadãos pudessem votar pra presidente. Por isso acho tão importante que hoje exerçamos nosso direito com muita consciência. Até porque ninguém sabe se poderemos voltar a exercer esse direito caso Bolsonaro ganhe. Sobretudo porque seu vice, o general Mourão, não é lá muito democrático.
Pois bem, o tio X falou com muita ênfase sobre o tema segurança. Eu tenho uma opinião bem clara sobre o assunto. A direita, no mundo todo, quando quer ganhar uma eleição, mete a tal da segurança como a coisa mais importante no dia a dia das pessoas. E não deixa de ser... mas, pensemos: George Bush, nos Estados Unidos, há alguns anos, quando viu que podia perder, fez nascer na mente dos estadunidenses o medo... e acabou ganhando. Algo parecido com o que o presidente Trump fez agora... e não por acaso parecido com o que Bolsonaro prega.
O que eu acho? Eu acho que tudo depende de duas coisas básicas: educação e trabalho! Claro, existem as drogas e os fdp que sempre existiram, mas, em geral, um povo que tem acesso à educação e ao trabalho não vai optar por sair roubando e matando. A saída de Bolsonaro é pôr mais gente nos presídios. Mas, pensemos... quem vai pros presídios? Os pobres! O tio X falou sobre a onda de violência em Senador Pompeu [minha cidade e de meus familiares]... Onda de violência vinda de que lado? Dos ricos? Não; dos pobres! Um pobre sem trabalho — e muitas vezes com acesso a drogas — acaba virando delinquente; mas em nosso país os ricos conseguem bons advogados e nunca vão presos. Assim, as cadeias são só lugares pra "guardar" delinquentes menores. E vocês devem saber quão caro para o Estado é cada um desses encarcerados.
Eu acredito na esquerda porque acredito na educação. Haddad foi ministro da educação nos governos Lula e possibilitou a muitos filhos de pobres o acesso a universidades. É disso que precisamos, tio! De mais pobres nas universidades! Não de mais pobres comprando armas e fazendo justiça com as próprias mãos.
Escrevi demais... tô com sono já, mas preciso dizer uma última coisa: não acho que o PT enganou o Brasil; acho que a política enganou o PT. É fácil dizer que o PT roubou, o PT fez isso, o PT fez aquilo, mas vocês se lembram do quão bonito foi ver um metalúrgico semianalfabeto (e sem um dedo) chegar a ser presidente do Brasil, não se lembram? Foi um orgulho pra todos nós. Depois, o que aconteceu? Na verdade, aconteceram duas coisas: 1) a vida dos pobres/miseráveis melhorou; e 2) o PT se corrompeu. Mas, como assim? O PT se corrompeu como anteriormente Fernando Henrique tinha se corrompido e antes dele Collor, e antes dele Sarney, e antes dele todos os generais, e antes deles etc. etc. etc. Por quê? Porque é essa a regra do jogo! Quer jogar? Tem que se corromper! Não quer jogar, não vem brincar com a gente! O PT pagou o preço. O partido ético, puro, limpo, ao chegar ao poder se viu obrigado a fazer o que todos sempre fizeram. Ponto.
Por isso não acho justo dizer "PT nunca mais!", como se o PT tivesse inventado a corrupção. O PT foi mais uma vítima dela. Vejam Lula: ficou rico? Não? Foi preso por um tal de tríplex que qualquer um de nós com uns anos de trabalho poderia ter comprado. Pra quem passou oito anos administrando bilhões, acho que seria uma enorme burrice ser pego por tão pouco.
Mas o que mais me assusta é que esse ódio a um único partido(!!!), como se todos os demais fossem santos, pode nos levar a eleger amanhã um monstro! Guardem minhas palavras! O voto é nossa mais importante arma! Durante a ditadura, não pudemos votar! E com Bolsonaro no poder isso pode vir a se repetir!!! Um cidadão sem direito a escolher seus representantes não passa de uma criança que quer um brinquedo X, mas acaba tendo que aceitar receber de seus pais uma insossa roupinha Y.
Amo todos vocês, estou com muitas saudades! De vez em quando choro sozinho nesse país que tem tudo, mas onde todos os dias um monte de gente se suicida... Nesses momentos, percebo o quanto a família é importante, e me sinto cada vez mais próximo de vocês, da [falecida] vó, do [falecido] vô, de meus pais, tios, primos, irmão, sobrinho...
O que quero é o bem de todos. Não é o fato de estar longe geograficamente que me faz estar menos sensibilizado com tudo o que de ruim ocorre aí. Aqui também ocorrem muitas coisas ruins. Mas o direito de cada um deve ser respeitado. Nem que seja pra votar em Collors, Malufs e Bolsonaros. Só temos que ter os olhos abertos... E se amanhã não pudermos mais escolher nossos líderes?
Ah, sobre a Venezuela: o PT governou o país durante mais de uma década e não transformou o Brasil em Venezuela (e naquela época, com Hugo Chávez vivo e o valor do petróleo lá em cima, tinha tudo pra ter transformado); por que é que agora, com a Venezuela quebrada, o PT iria querer fazer essa bobagem?
Com erros e acertos, foram anos democráticos. Quem garante que o outro pensa de forma democrática? Basta dar um Google e ouvir de novo, e de novo, e de novo, as merdas que ele defeca pela boca.
PT nunca mais? E prefiro dizer #elenão!
Beijos meus e da Kana (que não tem nada a ver com as groselhas que escrevi. rsrs).
Por isso vou de Haddad!
Léo.
PS1: Meu bróder Marcio Policastro me convidou a escrever uns versinhos pr'uma embolada coletiva contra... aquele! Não me furtei, e o resultado segue abaixo, com a devida ficha técnica:
Léo.
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PS1: Meu bróder Marcio Policastro me convidou a escrever uns versinhos pr'uma embolada coletiva contra... aquele! Não me furtei, e o resultado segue abaixo, com a devida ficha técnica:
HORA DELICADA
Marcio Policastro – Gilvandro Filho – Teju Franco – Léo Nogueira
(vídeo por Ravena Olinda)
Tá chegando uma hora delicada
Em que a gente define o futuro
Não se pode estar em cima do muro
Tá de noite, mas vem a madrugada
Na hora de escolher, eu que não paro
Vou com fé e abraço a realidade
Quando chega a hora é da verdade
Voto certo e pra mim está muito claro
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
De um lado nós temos a certeza
De que o dia trará a esperança
Pra jogar o jogo e dançar a dança
E ser livre que nem a natureza
E do outro um sujeito ignaro
Sem moral, sem traquejo ou qualidade
Que só pensa no ódio e na maldade
Cabra ruim se conhece pelo faro
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Se o seu caso é de pura ignorância
Eu entendo e lamento; paciência
Pois encontro resposta na ciência:
Sei que um homem são ele e as circunstâncias
Mas, se o caso é má-fé, aí, meu caro,
Vou pra cima e não tenho piedade
Quando a ira do justo me invade
Fariseus eu enfrento e desmascaro
Como pode um sujeito, tendo Andrade
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Discordo do poeta Vlado Lima
O que Freud não explica, Shell responde
Quem decide os trilhos desse bonde
É a mão invisível dos de cima
Mas a escuridão que se aproxima
Poderá ter um custo muito caro
Esse o homem não tem nenhum preparo
Poço de preconceito e iniquidade
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Os arautos do tal apocalipse
Esqueceram da besta do fascismo
Onde o cão reina sem antagonismo
E o bem escurece em seu eclipse
O pior que há no homem "dicionaro"
A cadela no cio da maldade
Como pode alguém da cristandade
Torturar, estuprar com tal descaro
Como pode um cristão que tem Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
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Marcio Policastro – Gilvandro Filho – Teju Franco – Léo Nogueira
(vídeo por Ravena Olinda)
Tá chegando uma hora delicada
Em que a gente define o futuro
Não se pode estar em cima do muro
Tá de noite, mas vem a madrugada
Na hora de escolher, eu que não paro
Vou com fé e abraço a realidade
Quando chega a hora é da verdade
Voto certo e pra mim está muito claro
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
De um lado nós temos a certeza
De que o dia trará a esperança
Pra jogar o jogo e dançar a dança
E ser livre que nem a natureza
E do outro um sujeito ignaro
Sem moral, sem traquejo ou qualidade
Que só pensa no ódio e na maldade
Cabra ruim se conhece pelo faro
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Se o seu caso é de pura ignorância
Eu entendo e lamento; paciência
Pois encontro resposta na ciência:
Sei que um homem são ele e as circunstâncias
Mas, se o caso é má-fé, aí, meu caro,
Vou pra cima e não tenho piedade
Quando a ira do justo me invade
Fariseus eu enfrento e desmascaro
Como pode um sujeito, tendo Andrade
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Discordo do poeta Vlado Lima
O que Freud não explica, Shell responde
Quem decide os trilhos desse bonde
É a mão invisível dos de cima
Mas a escuridão que se aproxima
Poderá ter um custo muito caro
Esse o homem não tem nenhum preparo
Poço de preconceito e iniquidade
Como pode um sujeito tendo Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
Os arautos do tal apocalipse
Esqueceram da besta do fascismo
Onde o cão reina sem antagonismo
E o bem escurece em seu eclipse
O pior que há no homem "dicionaro"
A cadela no cio da maldade
Como pode alguém da cristandade
Torturar, estuprar com tal descaro
Como pode um cristão que tem Haddad
Votar nesse boçal do Bolsonaro?
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PS2: Faz bem pouco tempo, meu querido parceiro Gabriel Póvoas me convidou a fazer parte via WhatsApp de um grupo de poetas contra Bolsonaro chamado Poecrática. Nem bem entrei, dos muitos poemas feitos lá já rolou um livro coletivo (do qual participei com um) com direito a participação de Caetano Veloso numa canção em homenagem a Mestre Moa; Daniela Mercury, Elisa Lucinda, Guilherme Boulos, Leonardo Boff, Marcia Tiburi, Zélia Duncan etc. prefaciando-o; e uma série de poemas de vários membros do grupo.
Assista ao vídeo com Caetano:
Mestre Moa
autores: Gabriel Póvoas – Alfredo Moura – Sandra Simões
intérprete: Caetano Veloso
O livro #EleNão está disponível pra leitura on-line aqui.
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