sábado, 9 de abril de 2011

Joaquín Sabina en Portugués: 1) Sonekka e a versão de "Más guapa que cualquiera"


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Há alguns anos, ainda na faculdade, meu professor de espanhol, Jorge Cáceres, comentou-nos a respeito de um CD, cuja capa eram dois saleiros, que tinha como artistas o cantautor argentino Fito Páez e um tal espanhol chamado Joaquín Sabina. Foi a primeira vez na vida que ouvi falar del flaco. Algum tempo depois adquiri o CD (chamado, premonitoriamente, Enemigos Íntimos - 1988), do qual, diga-se de passagem, não gostei muito (ainda não era a hora). Aliás, soube depois, não fui o único. Os fãs de Sabina acharam o trabalho menos inspirado que seus CDs anteriores, os de Fito, idem. Contudo, o CD teve um ótimo antimarketing: desgastados pelo extenuante processo de feitura do disco, às vésperas de saírem em turnê (tinham já mais de 60 datas marcadas por Espanha e América Latina), ambos romperam relações. E a turnê foi por água abaixo. Dizem as más línguas que uma das canções do disco, Cecilia, foi o estopim. Cecilia (Roth) era na época a mulher de Fito, mas a letra homônima quem a fez foi Sabina, e, ao que consta, determinados aspectos da letra não teriam agradado nada a Fito. Mas o certo mesmo é que era muito ego pra um só palco.

Fito Páez
A verdade é que é um bom disco. Digo isso hoje, ao reouvi-lo depois de alguns anos, já devidamente "sabinizado". No entanto, talvez lhe falte... Que direi? Sal? Não sei. Em seu livro Sabina en Carne Viva, é este quem diz que "uma boa canção é uma mescla de uma boa letra, uma boa música, uma boa interpretação, um bom arranjo e um algo mais que ninguém sabe o que é". Talvez esse "algo mais" seja o que faltou ao disco. Mas há boas canções. Aliás, aos que reclamam que Sabina é um bom letrista com melodias menos inspiradas, Fito veio trazer uma riqueza melódica inusual no trabalho solo daquele. Embora eu particularmente ache que as melodias de Sabina (ou em parceria) estão de bom tamanho pra suas letras. Afinal, o que vale é o harmonioso casamento entre melodia e letra. Se uma não conversar com a outra, estará cada uma dançando música distinta.


Enemigos Íntimos - 1998
Mas o fato é que Enemigos Íntimos resultou em algumas versões deste escriba. E é justamente desse disco que extraio a primeira da série Joaquín Sabina en Portugués, a belíssima Más guapa que cualquiera, que foi originalmente gravada no supracitado disco por, na ordem, SabinaAndrés Calamaro e Fito. Pra se responsabilizar por gravar minha versão desta, convidei meu mano Sonekka, que, com os maiores prazer e profissionalismo, teve a boa vontade de gravá-la várias vezes (chegou mesmo a lhe fazer um novo arranjo) até que chegássemos a um denominador comum. Foi também dele uma ou outra sugestão pra melhorar a letra, sugestões que não só acatei como ainda vieram a melhorar significativamente o resultado final. Batizei a versão de A Mais Bela de Todas:

A MAIS BELA DE TODAS

Se chamava Soledade e era sozinha 
Como rosa num jardim de ervas daninhas
Colecionava borboletas tristes
Endereços de ruas que inexistem
Mas um dia me encontrou e quis jogar
Pra ver se eu era uma exceção
E uma noite saímos pra dançar 
Mas a um passo do “eu te amo” disse “não”

De Esperança ela não tinha mais que o nome
Já que não esperava nada mais dos homens
Colecionava amores desamados
Soldadinhos de chumbo mutilados
Uma noite quis voltar a se enganar
Abriu-me o coração sem dó
E me amou até o amor se consumar
Como toda esperança, virou pó

Por isso, quando o tempo nos resume
E os sonhos parecem pesadelos
Eu sinto o seu perfume
Em retratos amarelos
Eu bem sei que não era
A mais bela de todas
Mas juro que a mais bela
De todas era ela

Se chamava Imaculada aquela puta
Que curava a catapora dos recrutas
Colecionava gotas no oceano
Sedas e jeans roídos pelos anos
Mas um dia quis querer se apaixonar
E já que lá estava eu
Me implorou que eu a levasse pra bem longe
Dos amores de aluguel

E, mil anos depois, quando outros gatos
Me bagunçam lembranças obscuras
Misturo velhos fatos
Das mais febris loucuras
Eu bem sei que não era
A mais bela de todas
Mas juro que a mais bela
De todas era ela
(A mais bela de todas)

A original:


MÁS GUAPA QUE CUALQUIERA

Se llamaba Soledad y estaba sola
Como un puerto maltratado por las olas,
Coleccionaba mariposas tristes,
Direcciones de calles que no existen
Pero tuvo el antojo de jugar
A hacer conmigo una excepción 
Y, primero, nos fuimos a bailar 
Y, en mitad de un “te quiero”, me olvidó

De Esperanza no tenía más que el nombre
La que no esperaba nada de los hombres,
Coleccionaba amores desgraciados,
Soldaditos de plomo mutilados.
Pero quiso una noche comprobar
Para qué sirve un corazón
Y prendió un cigarrillo y otro más
Como toda esperanza se esfumó

Por eso, cuando el tiempo hace resumen
Y los sueños parecen pesadillas,
Regresa aquel perfume
De fotos amarillas
Y, aunque sé que no era
La más guapa del mundo…
Juro que era más guapa
Más guapa que cualquiera

Se llamaba Inmaculada aquella puta
Que curaba el sarampión de los reclutas,
Coleccionaba nubes de verano,
Velos de tul roídos por gusanos.
Pero quiso quererse enamorar
Como una rubia del montón
Y que yo la sacara de la “calle
De los besos sin amor”

Y, mil años después, cuando otros gatos
Desordenan mis noches de locura,
Evoco aquellos ratos
De torpes calenturas
Y, aunque sé que no era
La más guapa del mundo,
Juro que era más guapa,
Más guapa que cualquiera

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