Minha amiga Monika (assim mesmo, artístico, sem acento e com K) Mendonça é uma espécie de fã profissional. Começou na rua Caiubi, 420, aonde ia religiosamente (foi, inclusive, quem nos deu - a mim e a Kana - a primeira carona lá); em pouco tempo já era a, digamos, fotógrafa oficial dos eventos caiubísticos; em seguida se especializou em filmar as apresentações e disponibilizá-las no youtube. Hoje tem mesmo sua página lá (Brazil Autoral), repleta de preciosidades. Mas o tempo passou, e o Caiubi foi ficando pequeno pra ela, que levou sua câmera pra palcos outros. No fundo, no fundo (não tão no fundo assim), foi a maneira que encontrou de compensar sua frustração por não ser cantora ou compositora e assim manter-se perto do universo musical que tanto ama.
1) Macumba Light (Rafael Iasi - Valdir Mengardo)
O que Monika não levou em conta foi que, independente de seus talentos desenvolvidos, ela já podia se considerar artista somente por ter trazido ao mundo a prole linda que possui. Estes, sim, verdadeiras obras de arte! Claro que não podemos esquecer os 50% de direitos autorais que cabem ao sr. Iasi. Mas o fato é que, frustrado ou não, o desejo de Monika se projetou em seu filho varão, Rafael Iasi, que o transformou em realidade. Deixemos então, por ora, Monika, que deve estar agora ocupada filmando artistas que trilham o caminho do sucesso, e tratemos do moço Iasi, nosso Rafa.
Minto. Lembrei-me de um detalhe interessante não acerca de Monika, mas dos fãs profissionais (e mesmo de uns amadores) em geral que acho relevante. Estes, na condição de profissionais, esperam também profissionalismo de seus ídolos. Vão aos shows, decoram as letras, são amorosos, perseverantes, divulgam, convidam os amigos etc. Em troca, esperam uma única coisa de seu ídolo: que ele, por sua vez, tenha êxito na carreira. Quando o tempo passa e esses fãs percebem que o artista não consegue se enquadrar no perfil dos vencedores, meio que (talvez inconscientemente) se envergonham de ter gastado todos aqueles tempo e dedicação com "projetos de malditos" e passam a buscar em outros artistas, mais novos e vigorosos, o solo fértil onde plantar seu amor de fã. Pode parecer meio cruel, mas num mundo de vencedores qual fã quer se ver ligado a um artista... Sei lá, digamos... A um artista desses que protagonizam os textos do Ninguém me Conhece? Atire a primeira pedra quem nunca abandonou um ídolo! Não sou Jesus, mas tampouco eu a atirarei...
Deixemos de nhem-nhem-nhem e vamos ao Rafa, pois! Conheci-o, como a tantos outros talentosos rapazes aqui já citados, no improvisado palco da rua Caiubi, com um sorriso contagiante, moço bonito que sempre foi, com a autoconfiança de quem tem o público na palma da mão, mais Paul Newman que James Dean. Aparentava mesmo ser muito mais jovem do que era, descobri depois. E, embora não fosse um excelente cantor, tinha charme e belas canções, além de presença de palco. Lembro-me de certa ocasião em que Zé Rodrix, numa das tantas vezes que apresentou as segundas autorais caiubistas, fez um comentário chistoso a seu respeito, ao chamar ao palco meu parceiro Policastro: "Com vocês, Marcio Policastro, que tem andado muito ultimamente com o bad boy Rafael Iasi".
Mas Rafa não é simplesmente um bad boy inconsequente. É um cara ousado, sim, sem medo de errar, questionador, desses que não pensam duas vezes antes de chutar o balde, pôr a mochila nas costas e se mandar sem rumo, como já fez mais de uma vez; no entanto, o moço persegue seus objetivos, e entre os principais está a busca por autoconhecimento (tocar or not tocar). Por conta disso já chegou mesmo a abandonar a música e a urbe e passar um tempo no campo, em contato com a terra, plantando e colhendo. Foi, podemos dizer, seu momento zen. Talvez tenha seguido à risca os versos da canção de Carlos Careqa: "Por que você quer ser artista,/ Por que você quer ser cantor?/ O campo precisa de gente/ Não tem mais agricultor".
Não discuto com os irmãos Valle quando dizem que "a mão que toca um violão se for preciso faz a guerra", mas as finas mãos de Iasi não nasceram pra manusear uma enxada, muito menos fuzis. Deixemos de lado o garoto que amava os Beatles e os Rolling Stones, e também enxadas, pás, foices, fuzis, tacapes, tridentes... O instrumento do moço é o violão. Por falar em instrumento, uma das primeiras letras minhas que ele musicou só podia mesmo ser cantada por ele, que, com coragem e cara de pau devidas, como se cantasse uma canção infantil, não poucas vezes (e sem camisa de força, nem de vênus), entoou, pra uma plateia incrédula (embora talvez crente), a polêmica O Pau Nosso. Não transcrevo a letra aqui porque pode haver crianças na sala...
Mudando de pau pra cavaco, informo que Rafael Iasi é um de meus cantautores caiubistas prediletos. Sua música sabe equilibrar-se com naturalidade sobre o fio tênue da versatilidade e escapar de rótulos sem cair na rede (que não há em seu picadeiro). Pop, rock, samba, xote? São apenas ferramentas das quais se utiliza, variando de acordo com a letra que tem em mente (ou em mãos, caso sejam estas de terceiros). Da mesma forma, sua poesia flerta com a fina ironia, o deboche, ou mesmo o panfletarismo, sem perder o conteúdo. E Iasi, quando é pra meter a mão na massa, não pensa duas vezes. Em certa época de sua vida gastou uma grana enoooorme pra gravar em qualidade radiofônica uma única canção. Com o dinheiro gasto poderia ter gravado um CD inteiro, mas preferiu primar pela qualidade e lançar um single, que bem poderia ter tido o mesmo título do recém-nascido CD de Lis Rodrigues, Artista de Sinal. Explico: Iasi, com o tal single na mochila, teve a ideia ousada de vendê-lo nos semáforos, o que, além de lhe ter rendido muitos trocados, ainda chamou a atenção de muita gente e virou até notícia de rádio (pena que não tenha virado sucesso de rádio).
Resumindo: Iasi é um compositor mais que necessário em tempos vazios em que a maioria "fala demais por não ter nada a dizer". E é justamente uma pena que ele, que tem tanto a dizer, ande mesmo calado, sumido. Tenho saudades do tempo em que estávamos mais próximos, sempre com uma ideia na cabeça e um violão na mão. Espero sinceramente que ele não tenha voltado pro campo, a não ser que seja pro campo do Rondon, onde este tem um belo estúdio. Agora acabou de me vir à mente uma curiosidade: será que é mal de Rafael essa coisa do sumiço? Tem um Alterio que se enfurna em sua fazenda, um Leite que se esconde sob o teto de uma banca de jornal, um Barreto que vai pra Paris, um Iasi que vai pro campo... Sumir or not sumir...
Demorei pra falar dele pela dificuldade mesmo de encontrar disponíveis suas canções, que lembro só de memória (e de youtubadas). Por isso, por falta de gravações minimamente audíveis, acabei postando apenas vídeos. Esperemos esse bendito CD sair pra comprovar a qualidade do moço. Termino com uma paráfrase conhecida:
Rafael Iasi, quando é que tu vai gravar CD?
***
***
Bom, vou comentar:
ResponderExcluirLéo neste seu texto que ficou lindo, sem ser por quem é, eu não me cabia nele, mesmo!
Quanto ao Rafael tirando a parte mãe, eu o acho um dos melhores compositores que conheço!
Sinto imensa dor de êle neste momento não estar tocando esta carreira e estar sendo Engenheiro (coisa que toda mãe gostaria menos EU).
E Saiba que depois de você insistir tanto em me pedir as canções e as letras, e eu realmente não achar nada de boa qualidade aqui em casa, conversei com o Rafa e por uma dessas coisas que não se explica, ele irá gravar suas canções em estudio fim deste mês, não é um cd apenas para tê-las em boa qualidade e isso é sua culpa no melhor dos sentidos e aí eu digo: Obrigada!
Vale a pena Conhecer Rafael Iasi...com certeza!!!
Valeu, Moniketa! Grande novidade! Quem sabe assim ele toma gosto e faz, ainda que aos poucos, esse tão esperado CD.
ResponderExcluirBeijos do
Léo.
Léo, seria bem melhor se refeir apenas ao compositor Rafael!
ResponderExcluirnada a ver essa mistura de assuntos.
beijo
Eu me identifiquei muito com esta sua teoria de que o fã fica esperando que o seu ídolo faça sucesso. Pois é, eu fico mesmo. Torço muito, fico ansioso, até me preocupo.
ResponderExcluirMas daí acho que você estragou a idéia com a suposição de que o fã acaba virando as costas para o ídolo que não "faz sucesso". Certamente não é o meu caso.
Eu torço pelo sucesso dos meus ídolos porque quero que eles conquistem recursos para viverem bem, pois todo mundo precisa disso, e para que possam continuar fazendo o que eles gostam de fazer (e eu gosto de vê-los fazer). A questão do reconhecimento, para mim, é nula. Reconhecimento é uma quimera, uma miragem, um ouro de tolo. Só o que vale é cada um ser feliz com o que faz ou - por que não - com o desfrute do que outras pessoas fazem.
Eu sei que a grande mídia é um clubinho, é um jogo de cartas marcadas, sei que não é nenhum demérito não ser aceito nesse ou em qualquer outro clubinho. O clubinho só serve aos interesses do clubinho. Nunca serviu aos meus. O clubinho fala alto, sua voz vai longe, mas continua sendo pequeno, limitado, pobre de espírito. O mundo é muito maior, a diversidade é infinita, o universo é maior ainda. E talvez seja ainda maior que o universo a criação que sai da imaginação do artista. Basta querer pra ver.
A grande mídia virou as costas para mim e para praticamente todos os meus amigos, que também não precisam que ninguém lhes diga do que gostar. Então eu também virei as costas para a grande mídia e vou muito bem, obrigado. Estou melhor ainda depois que descobri o Clube Caiubi, onde tenho o privilégio do acesso a essa maravilhosa desembocadura do verdadeiro poder criativo do ser humano, muito maior e mais belo que a seleção mesquinha do curral da mídia. Só lamento esse acesso não ser facultado a mais pessoas. Pobres pessoas.
Nestes termos, continuo admirando o trabalho dos artistas que EU escolhi, continuo não ouvindo rádio, continuo não vendo televisão, continuo ignorando a premiação do Oscar, do Grammy, da MTV e do diabo que os carregue. Se mais alguém gosta ou não dos artistas que eu gosto não é da minha conta.
A você e a todos os colegas, desejo uma boa viagem, aproveitem o passeio. O passeio de cada um ninguém tem igual. Obrigado àqueles que compartilham um pouco dos seus passeios e nos ajudam a enriquecer os nossos.
Monika:
ResponderExcluirNão censure meus textos! Neles exponho meu pensamento vivo!
Beijos do
Léo.
Luc:
ResponderExcluirAgradeço por seu sincero depoimento. Só que você há de convir que o público em geral não pensa como você. As pessoas veem TV, ouvem rádio, assistem ao oscar, ao grammy etc. Estou me referindo a essas pessoas em meu texto.
Abração do
Léo.
Reconheço que o meu ponto de vista sobre certas coisas é muito diferente do ponto de vista de muita gente, quiçá da maioria, mas nunca ouvi falar de alguém deixar de ser fã de um artista porque o artista não fez sucesso. Na verdade, sempre vi muito o contrário: a pessoa gosta do artista enquanto ele é "alternativo" e desconhecido; depois que vira mainstream, perde o charme, dizem que "ficou muito comercial" etc.
ResponderExcluirMinha mensagem tinha endereço certo, Luc. E, no meu caso, eu conheço, sim. E não poucas pessoas. Mas não queria que a prosa tomasse esse rumo, afinal, o mais importante deste texto é divulgar meu amigo Rafael Iasi.
ResponderExcluirAbração do
Léo.
Fala Parceiro querido!
ResponderExcluirè tão bom ser lembrado!
Confesso que estava esperando a minha vez...rsrs
Em Breve Apareço com novidades... Saudades
Abs Rafa
Valeu, mano!!!
Rafinha, você é sempre lembrado entre os que têm moradia fixa em meu coração.
ResponderExcluirAbração (e vê se aparece!),
Léo.
Como faço para comprar o CD do Rafael Iasi? Se não estiver disponível para venda pelo menos o single "perigo não pare" gostaria de ter.
ResponderExcluirOlá, anônimo.
ExcluirVocê pode perguntar diretamente ao Rafa. Eis seu endereço no facebook: http://www.facebook.com/Rafael.Iasi?fref=ts
Da próxima vez se identifique, assim fica mais fácil estabelecer uma comunicação.
Abraço,
Léo.
Opa! Obrigado Léo Nogueira. Agradeço a pronta resposta.
ExcluirNão seja por isso. Estamos às ordens!
Excluirmuito muito bom!
ResponderExcluirValeu, Martinha! A saudade de vocês é praticamente insuportável!
ExcluirBeijos,
Léo.