As eleições puseram em pé de guerra nosso país tropical abençoado por Deus e bonito por natureza. A intransigência chegou a tal ponto, que há amigos excluindo amigos em redes sociais pelo simples fato de o outro pensar diferente. Oras, mas democracia não é justamente isso? Ou será que tais pessoas prefeririam o pensamento único das ditaduras? Acho que foi Voltaire quem disse (mentira, procurei no google, onde também dizem que a afirmação não é dele): "Eu discordo do que você diz, mas defenderei até a morte seu direito de dizê-lo." Não é bonito? Num país onde eu posso defender o direito do outro de discordar de mim, supõe-se que a recíproca seja verdadeira, não? Usando uma variável futebolística, é como um palmeirense abraçar um amigo corintiano. Aliás, se todos torcessem prum mesmo time, ia ser muito chato, não?
Então, caros, pra começo de conversa, quero apenas dizer que prezo a amizade dos que discordam de mim acima de suas opiniões. E, após o dia 26 e o fim desse Fla-Flu eleitoral, continuaremos amigos, derrotados ou vitoriosos. Portanto, sintam-se bem-vindos ao diálogo (porém, a quem preferir espinafrar a mãe de alguém, sempre resta o feicibuque). Até porque, e é sempre bom frisar, não cultivo a ilusão de "converter" terceiros, principalmente aos 44' do segundo tempo. Quero apenas, em respeito a minha consciência, deixar aqui registrado este depoimento. Afinal, sempre fui da turma dos que preferem dar a cara a tapa a assistir a tudo de cima do muro. Melhor que amanhã alguém me critique pelo texto de hoje que me chame de omisso pelo silêncio de ontem.
Pois bem, venho por esta explicar por que vou votar em Dilma Rousseff dia 26 de outubro. Porém, antes, gostaria de enumerar as razões pelas quais eu não voto no outro candidato. E são muitas! Vamos a elas. Em primeiro lugar, acredito que um homem público deve ter uma postura que lhe permita servir de exemplo pra sociedade. Deve se policiar 24 horas por dia, principalmente porque nos dias atuais qualquer pessoa munida de um celular pode virar um paparazzo. Assim, se esse homem público é dado a, digamos, certos vícios, melhor que ceda a eles sob a proteção do lar. Mesmo porque, se esse sujeito sai pra beber, dirige e é pego numa blitz, e com a carteira de motorista vencida, é natural que creiamos se tratar de um irresponsável, pessoa sem credibilidade pra presidir um país.
E não adianta vir a público pedir desculpas e se mostrar arrependido. Ele não é um jogador de futebol. Raciocinemos: um cara que sai de casa dirigindo sabendo que está com a carteira de motorista vencida demonstra ter um completo descaso pelas leis. Portanto, podemos facilmente perceber que ele se arrependeu... por ter sido pego. Quantas vezes ele deve ter feito a mesma coisa antes? E, se não tivesse sido pego, quantas vezes faria depois? Essa é a típica irresponsabilidade do adolescente filhinho de papai que se julga acima da lei e sabe que, se se enrascar por algum motivo, papai pagará um bom advogado. Detalhe: esse senhor a quem me refiro não é exatamente um adolescente, trata-se de um cinquentão. E mais: na época, senador da República.
Outro ponto: nos debates, temos visto como ele não tem pudor em se mostrar grosseiro. Não se contenta com seu riso de deboche de quem se julga superior e vai mais longe. Foi deselegante em inúmeras oportunidades, primeiro com a candidata Luciana Genro, passando-lhe pito como se se tratasse de uma adolescente. Depois, em várias ocasiões, com Dilma, que, além de mulher, é presidente de nosso país e, como tal, merece respeito duas vezes. Porém, a essa aula o honorável candidato não assistiu (muito parecido com o caso dos que mandaram Dilma tomar naquele lugar na abertura da Copa. Aliás, estes, já sabemos em quem votarão). É só se ver em maus lençóis, já parte pra agressão, chamando de "leviana" pra baixo. E, segundo sabemos, em seu passado já houve ocasiões em que a agressão deixou de ser verbal e resultou em física.
Sobre corrupção, nem preciso entrar em delongas, pois Dilma citou nos debates, e categoricamente, muitos exemplos que envolveram o candidato e seus correligionários, "todos soltos". O caso mais engraçado, pra mim, é o desse aeroporto em Cláudio, que o candidato insiste em dizer que foi feito à revelia de seu tio-avô, dono da propriedade "confiscada". Não à toa, ele se irrita e perde as estribeiras. Deve ter aprendido com o prof. Paulo Maluf, que ensinava que quem mais deve mais agride. Pra finalizar, não posso votar num camarada assumidamente playboy, esbanjador, boêmio, metido a comedor e que só escolheu a política por ser a saída mais fácil pra continuar com sua vidinha de bem-nascido. Ócios do ofício. Ele faria melhor se enveredasse pelo caminho das artes. Passaria longe de ser um Chico Buarque, mas talento pra ator canastrão ele tem...
O excelentíssimo FHC dia desses chamou de ignorantes os nordestinos eleitores de Dilma. Eu acho justamente o contrário. Na condição de nordestino com vasta experiência em periferias, seria ignorante se, conhecendo a trajetória de vida dela, votasse no outro. Seria como se eu fosse um escravo que, tendo a opção de ganhar alforria, preferisse continuar na senzala. E o maior calcanhar de aquiles desse senhor é justamente sua aldeia. Acho que ele passa tanto tempo em baladas no Rio, que desconhece seu próprio Estado. A derrota acachapante de seu candidato a governador (e no primeiro turno!) é, pra mim, o sinal mais claro de propaganda negativa. Se nem os que o conhecem o compram, por que o fariam os que nunca o viram mais gordo? Mas ele sempre pode se candidatar a governador daqui a quatro anos... em São Paulo!
Enfim, comparando o outro candidato com a presidente Dilma, a diferença é tão gritante, que chega a ser covardia. Dilma, enquanto seu adversário estava aproveitando as benesses de bem-nascido, lutava contra a ditadura com todas as suas forças. Tanto, que foi presa, torturada e Deus sabe mais lá o quê. De lá pra cá, nunca abandonou seus ideias, tampouco há qualquer mancha em relação a sua honestidade. Claro, pertence a um partido que chegou ao poder por meio de alianças esdrúxulas (a exemplo do que já havia feito anos antes o nobilíssimo FHC), e, em minha opinião, creio que esse é seu maior ponto fraco. Espero que ela ganhe, mas espero sobretudo que nos próximos quatro anos consiga avanços mais contundentes em direção a essa tão esperada reforma política.
Esta é apenas minha opinião. Como nordestino, trabalhador assalariado e compositor, não posso pensar de outro modo. Seguirei ao lado de quem tem metas sociais acima das empresariais. Mas você, que me está lendo, tem, obviamente, todo o direito de pensar diferente. Afinal, cada categoria defende seus interesses. Se, quando o outro candidato melhora nas pesquisas, o Mercado vibra e o dólar cai, sei exatamente que devo seguir na direção oposta. Por último, quero dizer que sou favorável à reeleição. Só não acho certo um candidato continuar exercendo seu cargo enquanto tenta se reeleger. Sob esse aspecto, creio que o mais sensato seria que, durante a campanha, todos os candidatos se afastassem de seus cargos até o fim das eleições. Ah, o outro candidato se declarou contrário à reeleição... mas só a partir de 2022. Por que será?
***
É isso aí, amigo/(e)leitor, faça como eu, vote de acordo com sua consciência. Só peço que, também como eu, tenha a hombridade de se olhar no espelho e ser sincero consigo mesmo sobre os reais motivos por que irá votar em Dilma ou no outro candidato. Eu, como deixei bem claro nas linhas acima, sei os meus. Meu voto é pra que, cada vez mais, o pobre tenha acesso a locais e serviços que antes lhe eram proibidos e os médicos cheguem aos rincões onde são necessários. Por fim, pra ajudá-lo, compartilho aqui reportagem da TV Folha na qual foram entrevistados vários eleitores de ambos lados. Preste bem atenção nos depoimentos, analise os argumentos levantados pelos dois tipos de eleitores e veja quais deles refletem o que você pensa.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário