quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Notícias de Sampa: 12) Kana & cia. mandando bala

Ecla – Toca do Saci apresenta:
Kana + Quarteto Saxofonando + Trio do Liw Ferreira
no show Em Obras
Dia: 6ª-feira – 17 de outubro
Hora: 21h
End.: Rua Abolição, 244 – Bixiga (São Paulo-SP)
Contato: (11) 3104-7401
Entrada: R$ 10

Sinopse: Dando continuidade aos shows de lançamento de seu quarto trabalho, Em ObrasKana desta vez se apresenta com sua banda no Ecla (Espaço Cultural Latino-Americano). No repertório, destaque para O Amor Viajou, parceria dela com Zeca Baleiro. O show conta ainda com a participação especial de Gabriel de Almeida Prado.

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Muito bem, a divulgação está feita. Agora, aproveito pra publicar texto sobre Kana que escrevi há alguns meses, quando de seu show no Café Piu Piu. Por uma dessas ironias do destino, o texto havia ficado inédito até a presente data, portanto aproveito a ocasião pra tirá-lo do limbo. Sua publicação serve também pra dar um panorama geral do atual momento da artista. Vamos a ele:

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Kana & cia. mandando bala
Por Léo Nogueira (em 31 de março de 2014)

Existem dois tipos de sonhadores: 1) o que constrói castelos de areia e 2) o que constrói castelos com areia. Oras, me perguntará um arenoso leitor: e qual a diferença? A diferença está na essência. A areia é um elemento imprescindível à construção (seja de castelos, seja de arranha-céus), mas ela não pode virar a base. Esta tem de ser o cimento. O que é mais ou menos como na canção em que um antigo compositor gaúcho me dizia "com a cabeça nas nuvens e os pés no chão". Se os pés estiverem nas nuvens (ou na areia... movediça), a cabeça, pra onde irá? Pois bem, essa pequena introdução foi apenas pra dizer que a cantora e compositora japonesa Kana se encontra na segunda categoria de sonhadores. A que constrói castelos com areia.

Já escrevi bastante sobre a história de Kana, e não vem ao caso repeti-la (quem quiser saber mais, clique em seu nome); resumindo, basta dizer que se trata de uma garota que há 19 anos aportou em nossas terras com uma mala, um violão e um sonho: desbravar o Brasil (musicalmente falando). Detalhe 1: não falava português. Detalhe 2: não possuía nenhum conhecido ou parente por aqui. E o que a trouxe? O amor pela música brasileira, amor este que, com os anos, se expandiu e alcançou também o povo brasileiro em geral e um certo cearense em particular (não coincidentemente, este que ora lhes escreve). Kana, no lugar de areia, possuía algumas economias que, devido à paridade real/dólar, logo se esfumaçaram; então, pra conseguir o cimento, começou ela a trabalhar, em princípio como garçonete num restaurante japonês, tempos depois como professora de... música!

E, durante esses 19 anos de muitas vitórias e algumas derrotas, nunca lhe faltou cimento pra construção de seu castelo. Viajou, fez muitos shows, muitas canções, quatro discos, porém, sempre precavida, nunca abandonou as salas de aula, onde seu sonho se construía. Digamos que a professora providenciava o cimento que a compositora usaria em sua obra. E assim, chegamos até seu quarto disco, não por acaso intitulado Em Obras. E aqui cabe uma importante informação: uma das pessoas que mais a incentivaram foi o saudoso Zé Rodrix, com quem estreitamos relações no Caiubi. sempre dizia que a obra é mais importante que o autor; certo dia, foi enfático: "o homem morre, a obra fica." Chegando em casa, tasquei numa melodia de Kana os seguintes versos: "morrem os homens/ mas as obras são imortais (o nome da canção: Em Obras)." Como ele abriu mão da parceria, dedicamos o disco a ele...

... e a Zeca Baleiro. Em relação a este camarada, nossa dívida a cada ano aumenta. Também já contei essa história (aqui); resumi-la-ei, pois: Zeca, generosamente, aceitou fazer uma participação no terceiro disco de Kana – Imigrante –, cantando uma versão minha pra um sucesso japonês. Esse CD, por uma série de problemas, embora lançado no Japão em 2008 (pela Koala Records, de Vasco Debritto), demorou três anos pra ser lançado no Brasil. Nesse meio tempo, Kana entrou num período depressivo e cogitou mesmo abandonar a carreira. Outro grande sujeito que sempre nos deu uma força, o querido Tavito, ao me ouvir tocar no assunto, desferiu: "Diga a Kana que, se ela parar, eu também paro." Claro, nenhum dos dois parou, pois nesse momento o amor entrou em cena.

Kana mandara uma melodia a Zeca, e, quando praticamente já a havia esquecido, eis que este, muito tempo depois, enviou-nos um e-mail pelo qual nos contava (e cantava) que havia feito uma letra pra danada da melodia. Não só fizera, como a gravou em seu CD O Disco do Ano. Ah, o nome da cria: O Amor Viajou. Tal acontecimento devolveu a Kana as energias que lhe faltavam pra tocar em frente. Nasceu então o CD Em Obras, lançado ano passado no Centro Cultural São Paulo. Pouco tempo depois, Zeca convidou Kana a participar dos extras do novíssimo Calma Aí, Coração (lançado recentemente em CD e DVD), participação que resultou num agradabilíssimo bate-papo no qual os dois conversam sobre a feitura da canção e, no final, executam-na.

Tentando unir os pontos dessa colcha de retalhos, é importante dizer que ano passado Kana conheceu mais duas pessoas que, de certa forma, mudaram sua vida: o multi-instrumentista Liw Ferreira e sua namorada, a saxofonista Bia Pacheco. Esses dois jovens (talentosos músicos da Orquestra Furiosa, formada pelos melhores alunos da Escola do Auditório Ibirapuera, cujo maestro é Nailor Proveta) se encantaram com a música de Kana, e a empatia foi tanta, que acabaram, eles mais ela, formando um trio que vem se apresentando regularmente no bar 2 Santo, no bairro paulistano do Bixiga. Mas a coisa foi tomando grandes proporções, e Bia e Liw, cada um líder de uma banda (a de Bia, o Quarteto Saxofonando; a de Liw, o The Quintet), resolveram armar com Kana o projeto de um grande show que envolvesse todos esses músicos. 

Moral da história: lá foi Kana fazer novos arranjos pra suas canções, agora pensando nessa inusitada formação. Foram noites e noites gastas nesse complicado (mas prazeroso) trabalho. Numa delas, ela chegou mesmo a ir pra cama às 7h da matina! Claro que Liw se compadeceu dela e acabou ajudando-a, arranjando duas canções do repertório. Eu, de minha parte, liguei pro bom e velho Café Piu Piu e consegui uma data ali pra que esse novo show viesse à luz. E, como a ocasião era pra lá de especial, contratamos pra filmar o espetáculo nosso camarada Augusto Júnior, que já havia gravado o show anterior, no Centro Cultural (veja-o na íntegra aqui). A intenção era (é) usar esse DVD como material de divulgação pra fechar shows futuros.

Sabe quando tudo dá certo? Aquela semana perfeita? A semana do show foi uma dessas. Começou na 2ª (24/3), com a feliz coincidência do lançamento do DVD Calma Aí, Coração no Espaço Itaú de Cinema, com a projeção do show numa das salas. Ali, conhecemos muita gente, e Zeca, sempre generoso, propagandeou bastante Kana, como tem feito também em shows e entrevistas. Chegou então a 4ª (26/3). Minutos antes do show, Liw reuniu músicos e equipe e, quase como numa oração, fez um depoimento emocionado e emocionante que lançou boas vibrações sobre o espetáculo. O resto foi a melhor parte: casa cheia, showzaço (Kana parecia uma criança, de tão feliz), público vibrante e participativo, enfim, noite mágica, que acabou num boteco do Bixiga às 5h da manhã! Agora é trabalhar pra que venham muitas outras.

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PS. Agradecimentos especiais à banda, Liw Ferreira (guitarra e violão), Rogerio Clementino (baixo), Vitor Coimbra (bateria), Beatriz Pacheco (sax soprano), Danilo Rocha (sax alto), Herbert Lucas (sax tenor) e Janderson Bernardo (sax barítono); aos convidados, Gabriel de Almeida Prado (voz) e Shoji Kaneda (violão); e à querida Eliza Otsuka, que atacou de (mais que) assistente de produção improvisada. Fica aqui minha promessa de publicar o show na íntegra em meu blogue tão logo o trabalho de edição da filmagem esteja pronto. Por ora, deixo-os com um aperitivo, apresentação de O Fim do Fim do Mundo (Kana – Élio Camalle – Gabriel de Almeida Prado – Léo Nogueira) no Café Piu Piu:


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