Li há algum tempo que, quando a crise na Europa chegou a seu ápice, os restaurantes de Paris então ficaram entregues às moscas, o que mobilizou seus donos a se reunirem e tomarem certas medidas paliativas a fim de atenuar os efeitos da crise em seus respectivos bolsos. Todos sabem que Paris é famosa também por sua noite, o que reflete em bares, restaurantes, cafés... e na iluminação (tanto, que também é conhecida como Cidade Luz). Portanto, não ficava bem que os parisienses, que sempre foram notívagos, passassem a optar por ficar em casa à noite. Decidiram aqueles então que era mais benéfico baixar os preços do cardápio e trazer de volta essa clientela. Já no Brasil – e principalmente em São Paulo –, o pensamento é um tanto distinto. Há crise? Faltam clientes? Aumente-se o preço e que paguem o pato os patos que podem pagar por ele.
É mais ou menos isso o que tem acontecido com nossa imprensa nos dias que correm. O advento da internet vem paulatinamente – pensando bem, nem tão paulatinamente assim – roubando-lhe leitores. Cada vez menos pessoas têm sujado as mãos com a tinta do papel impresso (eu mesmo cancelei minha assinatura faz eras. Porém, nostálgico que sou, quando me oferecem um mês de assinatura grátis, aceito. Não dizem que, grátis, até injeção na testa? Mas tenho meus limites. Se me oferecessem a Veja, abdicaria do presente de grego). Afinal, por que pagar pra ler só amanhã o que podemos saber hoje, e ao custo único de um clique? Ainda mais porque hoje tudo é pra ontem. Todos querem saber tudo a todo instante. Não à toa existem publicações que oferecem informações minuto a minuto, como se nossa vida dependesse disso. E vai saber...
Mas a comparação com a crise e os restaurantes é outra. Vejo da seguinte forma: já que a maioria não quer mais pagar pra ler um jornal, façamos um jornal direcionado àqueles que podem (e querem) pagar pra ver, digo, ler. Como? Explico: abramos mão da imparcialidade e do compromisso com a verdade (a notícia, os fatos...) e vendamos ilusões. Noutras palavras, vendamos o que o leitor QUER (ou pensa querer) ler. E, infelizmente, é isso o que tem feito nossa imprensa escrita, pra tristeza de leitores que, como eu, sempre gostaram de ler jornais, mas possuem opinião contrária à do veículo em questão. Mas isso não é o pior. O pior é que tais jornais não admitem essa falsa imparcialidade. Segundo eles, um jornal é uma tribuna democrática. Só que não.
Como assinante da(do) Uol, tenho acesso ao conteúdo digital da Folha de S.Paulo. Assim, mais por preguiça de procurar outras fontes que por qualquer outro motivo, continuo lendo-a diariamente. E também (e sobretudo) porque encontro ali ainda alguns colunistas da velha guarda que valem a visita. Contudo – é visivelmente perceptível –, estes estão em cada vez menor número em relação aos novos contratados, que, apesar da aparência de livres, escrevem, ou melhor, transcrevem a opinião do veículo. Não, não quero dizer que estes são coagidos a escrever o que a Folha apita; quero dizer que a Folha tem contratado pessoas cujo pensamento está afinado com o dela, o que é uma forma um tanto maquiavélica de demonstrar idoneidade.
Há alguns dias, ela (a Folha) convidou uma série de personalidades a avaliar o jornal na condição de "ombudsman por um dia". Achei louvável a iniciativa. Inclusive, diverti-me muito com alguns deles. Cheguei mesmo a me pegar surpreso por encontrar em Joaquim Barbosa, ex-presidente do STF, um articulista articulado (ui!) e menos turrão do que de costume (leia aqui). Contudo, discordei dele em um ponto, quando disse justamente que "o jornal erra redondamente no seu esforço de querer se mostrar neutro" (visão semelhante à de Janio de Freitas, um de meus colunistas preferidos da Folha). BatBarbosão acrescenta que "seria mais transparente a direção do jornal pura e simplesmente declarar as suas 'afinidades eletivas', como fazem de tempos em tempos o Le Monde, o New York Times, a revista The Economist...
Discordo. Entendo que deve ser difícil pra um veículo de informação da magnitude da Folha transparecer neutralidade. Porém, a notícia não tem (ou não deveria ter) duas faces. Um jornal não é uma revista. Revistas são – e sempre foram – tendenciosas. Não entendam isso como uma crítica, o que quero dizer é que revistas não têm compromisso com a notícia. Cada uma delas tem um estilo próprio e um universo de abrangência. Assim, temos revistas de moda, humor, ciência, sexo, cinema, música, esportes, decoração, fofoca, celebridades... Enfim, uma infinidade de assuntos. Há, inclusive, as revistas que se pretendem de informação, como são os casos de Veja, Época etc., mas estas, por serem revistas, não têm o compromisso puro e simples com a verdade; seu compromisso é com a opinião de sua diretoria.
Mas jornais não deveriam agir dessa forma. O pior tipo de informação é a informação tendenciosa que se quer passar por verdade. Jornais "fazem cabeças", e, admitamos, o brasileiro não é exatamente um cidadão acostumado a pensar por si só. Ao contrário, ele precisa do respaldo de alguma pessoa pública que ele respeita e/ou admira. Talvez a coisa funcione melhor com os leitores dos jornais citados por Barbosa porque nesses países as pessoas têm, até culturalmente falando, maior facilidade de discernimento. Claro, isso é apenas achismo meu. Voltando a nosso país e seus respectivos leitores, aqui precisamos estar embasados em opiniões alheias pra corroborar a nossa. Tanto que, quando algum pseudointelectual escreve algo, costuma começar já citando este ou aquele.
Por essas e outras, penso que um jornal deve ao menos "tentar" ser imparcial. Assim, consegue o respeito dos leitores em geral (e não só de uma parcela afim) e mostra um panorama mais amplo que dê margem pra que o ingênuo leitor que acredita no escrito se veja na desconfortável situação de ter que pensar por si próprio antes de chegar a esta ou aquela conclusão. E, pra finalizar, ponho em xeque um artificio muito usado pelos meios de comunicação de nossa era: as pesquisas. Sinceramente, além de não saber pra que servem, duvido de sua idoneidade. Tais pesquisas costumam estar mais a serviço de interesses de terceiros e menos da verdade. Além de representarem uma lavagem cerebral. Sobretudo, "tocam o terror", propagando também o voto útil, que, ao contrário do nome, é o mais inútil dos votos.
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Ontem eu li uma notícia da Folha, sobre as pesquisas eleitorais, que dizia assim: "um petista que teve acesso aos números" disse que o Aécio está na frente da Dilma (mais ou menos assim). Eu me indignei com isso que apresentaram como "fonte"! Cadê o nome do tal petista? Onde ele viu os números? A imprensa está cada vez mais especulativa e manipuladora, o que não condiz com jornalismo sério.
ResponderExcluirPois é, Esther. Triste isso. Os jornais, em vez de informar, estão fazendo campanha...
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