quarta-feira, 20 de abril de 2016

Notícias de Sampa: 19) A música subversiva da nova MPB Universitária

O charmoso clube paulistano Garagem Vinil acolheu semana passada um show coletivo de artistas contra o golpe, que foi também marco inicial do novíssimo movimento musical MPB Universitária. Mais abaixo, um de seus membros – e seu mentor intelectual –, Edu Franco, explicará a que vem esse movimento (do qual também faço parte juntamente com Adolar Marin, Fernando Cavallieri, Kleber Albuquerque, Marcio PolicastroMarco Vilane, Max Gonzaga, Rica Soares, Ricardo Moreira e nossa musa/madrinha/produtora Solange Rocco... outros estão chegando); antes, contudo, aviso aos navegantes que nesta quinta-feira próxima, 21 de abril, não coincidentemente quando se comemora o Dia de Tiradentes, alguns dos membros do movimento sobem novamente ao palco do Garagem Vinil pra mais uma apresentação, que, ao que tudo indica, estará em cartaz nessa mesma casa em datas a confirmar. Se você estiver por aqui, venha prestigiar. Como disse o amigo Vlado Lima, não é necessário apresentar carteirinha da UNE.


A música subversiva da nova MPB Universitária
Por Edu Franco

O nome MPB Universitária, ao ser ouvido ou lido pela primeira vez, causa uma espécie de lapso no interlocutor: Como??? Mas esse codinome, digamos assim, lembra sertanejo, forró, pagode... Lembra, sim, lembra que esses gêneros entraram em nossas universidades e escolas, mas, ao mesmo tempo, lembra que a MPB está do lado de fora dessas mesmas universidades e escolas, justo ela, que na história recente do Brasil foi o alto-falante dos estudantes, dos jovens, da esquerda, da resistência àquele estado de coisas: estado de violência de vida e morte, estado paranoico de terror constante, de perdas de pessoas pela morte e pelo exílio, estado de censura, de falar nas entrelinhas nossos sentimentos e pensamentos, nossa dor, nossa esperança... Para cada situação, tínhamos uma canção com sua trilha sonora, a MPB nos traduzia, nos consolava, enxugava nossas lágrimas, nos revelava, nos dava alimento, coragem para mais um dia de luta e, além disso, instrumentos (musicais), armados dos quais nos sentíamos aptos a enfrentar e desafiar quem nos queria calar.

A música subvertia a ditadura, a música subversiva (nome genial também, mas que perdeu na votação dos membros), como sugeriu nosso amigo Rica Soares. Eu queria que nosso movimento de invasão escolar se chamasse “A Música Subversiva da MPB Universitária”, mas é um nome muito grande para um pequeno movimento.

O adjetivo de “qualidade” que se associa ao selo “Universitário” atual não inclui a MPB, a filosófica música popular do Brasil; a grife “Universitária” lembra os nomes que entraram na faculdade e não o nome que saiu, mas nós aqui, um grupo de compositores amigos e afins, resolvemos devolvê-la a seu lugar de direito depois de testemunhar aquelas energia e rebeldia incríveis dos alunos das escolas públicas, da Upes (União Paulista dos Estudantes Secundaristas), daquela aula de rebeldia civilizada, refinada, aquelas microencenações que organizavam montando salas de aula em meio ao trânsito, fazendo, sem nenhuma violência, a cidade parar para ver a situação deles...

Tudo isso foi iluminador. Que coisa, que Brasil desafiador se mostrou ali!, um Brasil mais pobre e muito mais intelectualizado e civilizado, progressista, consciente, educado; vimos ali na maneira como enfrentaram a repressão da polícia mais violenta do país, a PM do Alckmin, um novo país, o país das Jéssicas! Nós queremos cantar para essas pessoas incríveis, então resolvemos “subverter” essa ordem do “fora, dentro” e do conceito universitário, resolvemos fazer shows no meio dos pátios das escolas na hora do intervalo, enfim, resolvemos voltar à escola! Chato, né? Quem não quer?

Esse grupo vai atrás dessa gente, são compositores surpreendentes que, esbanjando diversidade e personalidade, trazem um tecido sonoro colorido, de rara beleza, que não se cansa de surpreender o público o tempo todo. Depois, eles têm muito mais pé na periferia e nos interiores do país, são artistas oriundos das populações industriais da grande São Paulo e dos que ali migraram vindos de todas as partes do Brasil e do mundo. Uma música híbrida e sem marca registrada definida, assim é a MPB dessa galera; ouviremos na teia musical desse movimento as principais referências da MPB: o samba, o rock’n’roll, o baião, o pop, o folk, enfim, a música de cada região do país, porque São Paulo é assim, Sampa é assim. Todos e ninguém.

Encontraremos de tudo que se possa imaginar na obra desses compositores muito maduros e muito atirados, ousados, roqueiros, forrozeiros, sambistas, o tal Virado à Paulista. Chamamos um baiano porque São Paulo sem Nordeste é uma mentira, e pronto!, vamos voltar à escola, às aulas, ao centro de onde tudo começou. É para aí que ruma a MPB Universitária desse movimento, ao coração do estudante, à universidade, à escola. Quanto ao show business, que continue vendendo seus modismos sem nós; o que nos interessa é estar perto de nossa gente, e ponto.


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8 comentários:

  1. É isso, Léo! É isso, amigos leitores! Um grupo que se une por várias causas, e a principal delas é a nova safra de músicas, inclusive parcerias entre membros do próprio MPB Universitária.
    Abraço
    Adolar M.

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  2. Valeu Léozito, é nóis mano e agora não tem volta, já conseguimos o mais difícil, coisa que nunca vi em toda a minha vida, a união, um grupo, um por todos, todos por um, vamos lá

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    1. Né não, Edu? Os mosqueteiros da MPB Universitária! rsrs

      Abração,
      Léo.

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