quarta-feira, 10 de abril de 2013

Joaquín Sabina en Portugués: 15) Adolar Marin e a versão de "Que se llama soledad"

As coincidências, quando boas, são deliciosas. Meu grande parceiro Adolar Marin está de CD novo na praça, o ousado Epílogo, que nasce com uma baita responsabilidade, visto que sucede o Atemporal, disco anterior de Adolar e (de acordo com minha opinião, por supuesto) um dos melhores CDs dos últimos anos, e olha que incluo nessa lista não apenas os CDs daqui do baixo clero, mas também os dos buarques, caetanos, lenines... Mas Adolar não é daqueles que ficam deitados em berço esplêndido, mesmo porque seu berço não tem lá esse esplendor. Como diz o próprio numa canção, ele é o primeiro de seu clã. Daí que, em vez de repetir a fórmula do Atemporal, resolveu voltar às origens roqueiras neste Epílogo. Confesso que fiquei um tanto assustado com esse título. Estaria meu mano tirando o time de campo? Perguntei-lho, ao que ele me respondeu que, pra que uma nova história surja, a velha tem de acabar.

E assim Adolar fecha um ciclo, pra recomeçar renovado. Mas deixemos de lado por hora o Epílogo e tratemos da coincidência: havia tempos que tinha a gravação de Adolar de minha versão da sabineira Que se Llama Soledad, mas, meio desmotivado, adiava sua postagem, visto que meu projetinho se viu mais pretensioso do que aguentavam suas pernas. Contudo, a própria frase de Adolar sobre essa renovação de ciclos me pareceu de bom presságio pra recomeçar as versões sabineiras, agora mais com os pés no chão e sem maiores expectativas que a alegria de ver um bom trabalho exposto e abraçado pelos amigos de sempre. Portanto, a novidade é que alguns camaradas já andam às voltas com novas versões minhas, o que significa que depois desse epílogo uma nova história está pra começar. Curiosamente, estou lendo atualmente o polêmico (e ótimo) romance Os Versos Satânicos (que de satânicos não têm nada, muito pelo contrário), do indiano Salman Rushdie, que rendeu ao autor uma sentença de morte, promulgada pelo aiatolá Khomeini, mas, coincidentemente, uma das frases em torno da qual gira a história é: "Para nascer de novo, é preciso morrer primeiro."

Portanto, Adolar vem fechar a tampa dessa primeira fase com sua interpretação pra Que se Chama Solidão, versão minha pra uma canção de Sabina das antigas, mais especificamente do CD Hotel, Dulce Hotel, de 1987, que, por sua vez, marca um período de amadurecimento de Sabina em relação a suas letras, amadurecimento este que dera os primeiros sinais de vida em seu anterior disco de estúdio, Juez y Parte, de 1985. Foi nessa fase que ele, até então apenas mais uma promessa, transformou-se não só em realidade, mas esboçou o vislumbre do mito que viria a se tornar pouco tempo depois. Tanto que algumas décadas mais tarde gravaria com Joan Manuel Serrat, o maior ídolo espanhol anterior ao advento Sabina. Ambos dividiram os créditos de um disco ao vivo e, em seguida, compuseram em parceria repertório pra um disco novo.

Um colega espanhol enfatizou que os espanhóis consideram Serrat superior a Sabina. Pode ser, o que penso é que Sabina é mais moderno, diria mesmo mais internacional. Mas essa é uma discussão antiga que acho mesmo que já abordei aqui. A novidade é que mordi a língua; escrevi anteriormente que o disco de ambos não chegaria e estas plagas, e não é que, passando dia desses pela Fnac da Paulista, vi-o escondidinho numa (minúscula) prateleira dedicada à música europeia? Ok, era importado, mas já é um avanço. Talvez um sinal de que bons ventos estejam começando a soprar a favor dessa conexão Brasil-Sabina. Enquanto esse navio não atraca por aqui, sigo com meu trabalho de formiguinha e lanço outra garrafa ao mar da incompreensão nacional:
 
QUE SE CHAMA SOLIDÃO
Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira 

Às vezes voo como um inocente
Já outras, me arrasto, qual serpente
Algumas madrugadas, sou urgente
Como o gato mais carente
Que se põe a patrulhar
Em busca de uma felina
Bem nessa hora sovina
Em que os bares vão começando a fechar
Quando a alma desatina
Sem corpo pra acariciar

Algumas vezes morro, outras, vivo
Às vezes, do que escrevo, sou cativo
E saio a procurar um adjetivo
Inspirado e possessivo
Pra arranhar seu coração
E atiro uma mensagem
(Que vai tendo uma garrafa por bagagem)
Ao seu mar de incompreensão
Não quero fazer chantagem
Só te levo de presente uma canção

E vez em quando abro o coração
Como se fosse um divã o ombro da lua
E reclamo dessa amante minha e sua
Que se chama solidão

Algumas vezes ganho, outras, perco
E anões viram gigantes no meu circo
Algumas vezes dou uma mordida
Nessa fruta proibida
Herdada do pai Adão
Ou durmo e não fecho a porta
Pois, quem sabe, a horas mortas
De repente você adentra o portão
Hoje, só o que me conforta
É ver nevar no verão

E vez em quando abro o coração
Como se fosse um divã o ombro da lua
E reclamo dessa amante minha e sua
Que se chama solidão


A letra original:

QUE SE LLAMA SOLEDAD
 Joaquín Sabina
 

Algunas veces vuelo y otras veces
me arrastro demasiado a ras del suelo,
algunas madrugadas me desvelo
y ando como un gato en celo
patrullando la ciudad
en busca de una gatita,
a esa hora maldita
en que los bares a punto están de cerrar,
cuando el alma necesita
un cuerpo que acariciar

Algunas veces vivo y otras veces
la vida se me va con lo que escribo;
algunas veces busco un adjetivo
inspirado y posesivo
que te arañe el corazón;
luego arrojo mi mensaje,
se lo lleva de equipaje una botella…

al mar de tu incomprensión.
No quiero hacerte chantaje,
sólo quiero regalarte una canción

Y algunas veces suelo recostar
mi cabeza en el hombro de la luna
y le hablo de esa amante inoportuna
que se llama soledad

Algunas veces gano y otras veces
pongo un circo y me crecen los enanos;
algunas veces doy con un gusano
en la fruta del manzano
prohibido del padre Adán;
o duermo y dejo la puerta
de mi habitación abierta
por si acaso se te ocurre regresar;
más raro fue aquel verano
que no paró de nevar

Y algunas veces suelo recostar
mi cabeza en el hombro de la luna
y le hablo de esa amante inoportuna
que se llama soledad 


***

... e por falar em Serrat


***

2 comentários:

  1. Leozito, gostei de tudo! Mas muito mesmo, da fotomontagem, embora Sabína tenha uns 30 anos a mais que eu!:-b
    bjnd
    Dodolar

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    Respostas
    1. Não chega a ser 30 não, mas é uma diferença boa. rs

      Valeuzaço, Dodô!

      Beijão,
      Léo.

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