Por Michael Parkes |
I
Me importa um caralho que as mulheres tenham os seios como magnólias ou como passas de figo; uma cútis de pêssego ou de lixa de papel. Dou uma importância igual a zero ao fato de amanhecerem com um hálito afrodisíaco ou com um hálito de inseticida. Sou perfeitamente capaz de lhes suportar um nariz que ficaria em primeiro lugar numa exposição de cenouras; mas isso sim! — e nisso sou irredutível —, não lhes perdoo, e sob nenhum pretexto, que não saibam voar. Se não sabem voar, perdem o tempo as que pretenderem me seduzir!
Esta foi — e não outra — a razão de eu ter me apaixonado tão loucamente por Maria Luísa.
O que me importavam seus lábios a prestação e seus ciúmes sulfurosos? O que me importavam suas extremidades de palmípedes e seus olhares de diagnóstico incerto? Maria Luísa era uma verdadeira pluma!
Desde o amanhecer voava do dormitório à cozinha, voava da sala de jantar à despensa. Voando me preparava o banho, a camisa. Voando realizava suas compras, suas tarefas.
Com que impaciência eu esperava que voltasse, voando, de algum passeio pelas redondezas! Ali longe, perdido entre as nuvens, um pontinho rosado. Maria Luísa! Maria Luísa... e, em poucos segundos, já me abraçava com suas pernas de pluma, pra me levar, voando, a um lugar qualquer.
Durante quilômetros de silêncio, planejávamos uma carícia que nos aproximava do paraíso; durante horas inteiras nos aninhávamos numa nuvem, como dois anjos; e, de repente, em caracol, em folha morta, a aterrissagem forçada de um espasmo.
Que delícia a de ter uma mulher tão leve... ainda que nos faça ver, de vez em quando, as estrelas! Que voluptuosidade a de passar os dias entre as nuvens e a de passar as noites num só voo!
Depois de conhecer uma mulher etérea, que tipo de atrativos pode nos brindar uma mulher terrestre? Não é verdade que não há uma diferença substancial entre viver com uma vaca ou com uma mulher que tenha as nádegas a 78 centímetros do chão?
Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e, por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível sequer imaginar que possa fazer amor senão voando.
Me importa um caralho que as mulheres tenham os seios como magnólias ou como passas de figo; uma cútis de pêssego ou de lixa de papel. Dou uma importância igual a zero ao fato de amanhecerem com um hálito afrodisíaco ou com um hálito de inseticida. Sou perfeitamente capaz de lhes suportar um nariz que ficaria em primeiro lugar numa exposição de cenouras; mas isso sim! — e nisso sou irredutível —, não lhes perdoo, e sob nenhum pretexto, que não saibam voar. Se não sabem voar, perdem o tempo as que pretenderem me seduzir!
Esta foi — e não outra — a razão de eu ter me apaixonado tão loucamente por Maria Luísa.
O que me importavam seus lábios a prestação e seus ciúmes sulfurosos? O que me importavam suas extremidades de palmípedes e seus olhares de diagnóstico incerto? Maria Luísa era uma verdadeira pluma!
Desde o amanhecer voava do dormitório à cozinha, voava da sala de jantar à despensa. Voando me preparava o banho, a camisa. Voando realizava suas compras, suas tarefas.
Com que impaciência eu esperava que voltasse, voando, de algum passeio pelas redondezas! Ali longe, perdido entre as nuvens, um pontinho rosado. Maria Luísa! Maria Luísa... e, em poucos segundos, já me abraçava com suas pernas de pluma, pra me levar, voando, a um lugar qualquer.
Durante quilômetros de silêncio, planejávamos uma carícia que nos aproximava do paraíso; durante horas inteiras nos aninhávamos numa nuvem, como dois anjos; e, de repente, em caracol, em folha morta, a aterrissagem forçada de um espasmo.
Que delícia a de ter uma mulher tão leve... ainda que nos faça ver, de vez em quando, as estrelas! Que voluptuosidade a de passar os dias entre as nuvens e a de passar as noites num só voo!
Depois de conhecer uma mulher etérea, que tipo de atrativos pode nos brindar uma mulher terrestre? Não é verdade que não há uma diferença substancial entre viver com uma vaca ou com uma mulher que tenha as nádegas a 78 centímetros do chão?
Eu, pelo menos, sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher pedestre, e, por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível sequer imaginar que possa fazer amor senão voando.
***
O original:
I
No se me importa un pito que las mujeres tengan los senos como magnolias o como pasas de higo; un cutis de durazno o de papel de lija. Le doy una importancia igual a cero, al hecho de que amanezcan con un aliento afrodisíaco o con un aliento insecticida. Soy perfectamente capaz de soportarles una nariz que sacaría el primer premio en una exposición de zanahorias; ¡pero eso sí! —y en esto soy irreductible— no les perdono, bajo ningún pretexto, que no sepan volar. Si no saben volar ¡pierden el tiempo las que pretendan seducirme!
Ésta fue —y no otra— la razón de que me enamorase, tan locamente, de María Luisa.
¿Qué me importaban sus labios por entregas y sus encelos sulfurosos? ¿Qué me importaban sus extremidades de palmípedo y sus miradas de pronóstico reservado? ¡María Luisa era una verdadera pluma!
Desde el amanecer volaba del dormitorio a la cocina, volaba del comedor a la despensa. Volando me preparaba el baño, la camisa. Volando realizaba sus compras, sus quehaceres.
¡Con qué impaciencia yo esperaba que volviese, volando, de algún paseo por los alrededores! Allí lejos, perdido entre las nubes, un puntito rosado. ¡María Luisa! ¡María Luisa!... y a los pocos segundos, ya me abrazaba con sus piernas de pluma, para llevarme, volando, a cualquier parte.
Durante kilómetros de silencio planeábamos una caricia que nos aproximaba al paraíso; durante horas enteras nos anidábamos en una nube, como dos ángeles, y de repente, en tirabuzón, en hoja muerta, el aterrizaje forzoso de un espasmo.
¡Qué delicia la de tener una mujer tan ligera..., aunque nos haga ver, de vez en cuando, las estrellas! ¡Qué voluptuosidad la de pasarse los días entre las nubes la de pasarse las noches de un solo vuelo!
Después de conocer una mujer etérea, ¿puede brindarnos alguna clase de atractivos una mujer terrestre? ¿Verdad que no hay una diferencia sustancial entre vivir con una vaca o con una mujer que tenga las nalgas a setenta y ocho centímetros del suelo?
Yo, por lo menos, soy incapaz de comprender la seducción de una mujer pedestre, y por más empeño que ponga en concebirlo, no me es posible ni tan siquiera imaginar que pueda hacerse el amor más que volando.
No se me importa un pito que las mujeres tengan los senos como magnolias o como pasas de higo; un cutis de durazno o de papel de lija. Le doy una importancia igual a cero, al hecho de que amanezcan con un aliento afrodisíaco o con un aliento insecticida. Soy perfectamente capaz de soportarles una nariz que sacaría el primer premio en una exposición de zanahorias; ¡pero eso sí! —y en esto soy irreductible— no les perdono, bajo ningún pretexto, que no sepan volar. Si no saben volar ¡pierden el tiempo las que pretendan seducirme!
Ésta fue —y no otra— la razón de que me enamorase, tan locamente, de María Luisa.
¿Qué me importaban sus labios por entregas y sus encelos sulfurosos? ¿Qué me importaban sus extremidades de palmípedo y sus miradas de pronóstico reservado? ¡María Luisa era una verdadera pluma!
Desde el amanecer volaba del dormitorio a la cocina, volaba del comedor a la despensa. Volando me preparaba el baño, la camisa. Volando realizaba sus compras, sus quehaceres.
¡Con qué impaciencia yo esperaba que volviese, volando, de algún paseo por los alrededores! Allí lejos, perdido entre las nubes, un puntito rosado. ¡María Luisa! ¡María Luisa!... y a los pocos segundos, ya me abrazaba con sus piernas de pluma, para llevarme, volando, a cualquier parte.
Durante kilómetros de silencio planeábamos una caricia que nos aproximaba al paraíso; durante horas enteras nos anidábamos en una nube, como dos ángeles, y de repente, en tirabuzón, en hoja muerta, el aterrizaje forzoso de un espasmo.
¡Qué delicia la de tener una mujer tan ligera..., aunque nos haga ver, de vez en cuando, las estrellas! ¡Qué voluptuosidad la de pasarse los días entre las nubes la de pasarse las noches de un solo vuelo!
Después de conocer una mujer etérea, ¿puede brindarnos alguna clase de atractivos una mujer terrestre? ¿Verdad que no hay una diferencia sustancial entre vivir con una vaca o con una mujer que tenga las nalgas a setenta y ocho centímetros del suelo?
Yo, por lo menos, soy incapaz de comprender la seducción de una mujer pedestre, y por más empeño que ponga en concebirlo, no me es posible ni tan siquiera imaginar que pueda hacerse el amor más que volando.
Que delícia! Grata por trazer até nós um escritor tão inspirado, até agora desconhecido por mim. Tocante.
ResponderExcluirOlá, Regina. Que bom que gostou. Volte sempre!
ExcluirBeijos,
Léo.
Bonito!
ResponderExcluirNé, Curci?
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