Como diz um famoso verso de Los hermanos, canção de Atahualpa Yupanqui imortalizada por Mercedes Sosa (e também cantada brilhantemente por Elis Regina), "yo tengo tantos hermanos, que no los puedo contar", eu também tenho a alegria de ter um incontável número de irmãos, manos, brous, que são amigos e parceiros sem os quais minha vida teria sido muito mais triste e sem significado. Durante estes dois anos vividos aqui no Japão, tenho sentido na pele (e na alma) a falta deles, da proximidade física, do abraço e do beijo, dos encontros etílicos repletos de gargalhadas, das vozes de consolo nos momentos difíceis ou simplesmente de seu silêncio compreensivo a meu lado nalgum momento de pranto. De sangue, tenho apenas um irmão; mas ao longo da vida fui encontrando tantos outros... que no los puedo contar.
Claro, por aqui fiz outras amizades, mas poucas, ainda insuficientes pra que as eleve ao patamar de fraternidade. E me fazem falta sobretudo os irmãos de música, com quem mantinha uma simbiose que, mais que orgástica, era espiritual. E ainda é, pois a distância não mata tais laços. Ademais, com a alegria de poder contar com as facilidades tecnológicas essa distância é em parte abreviada. Obviamente, não dá pra exercer os sentidos do olfato e do tato, também o do paladar (lembrando as tantas vezes que juntos celebramos); em compensação, seguem presentes os da visão (pelas tantas videoconferências) e da audição (pelos tantos áudios trocados e também pelas canções compostas em parceria a distância).
E eu gostaria justamente de tratar da junção desses dois elementos: fraternidade e música. Eu sempre fui do coletivo, da união, aquele que juntava pessoas, exatamente o oposto de um Augusto Nunes da porradaria (frouxa e sem viço, acrescente-se); sempre fui o Léo dos abraços, dos elos, das alianças. E alguns desses elos estão sendo agora fortificados por outro Augusto, uma augusta pessoa, tanto que o chamo de Bom Gusto, pois é isso que ele é: bom. Seu nome, Augusto Teixeira, seguramente a pessoa mais desprovida de maldade que conheço. Fosse um santo, certamente seria conhecido como Santo Augusto, o bom. Foi dele a ideia de me homenagear num disco a ser gravado só com canções inéditas minhas.
Pra isso, convidou a ser o fiel escudeiro o xará Leo Costa, outro mano talentosíssimo, seja como compositor, violonista ou arranjador. E, no meio de mais essa batalha contra moinhos (que, como todos sabem, são na verdade dragões), convidaram-me pra ser o terceiro pilar desse tripé, pois sou a pessoa que mais possui material acerca de mim mesmo. Assim, ofereci-lhes cerca de 50 canções, todas inéditas e feitas com um leque impressionante de parceiros, e, depois de muito confabular, dentre esse universo de canções chegamos às 13 que farão parte do disco, obedecendo alguns critérios técnicos: 1) as mais votadas entre os três, 2) evitando repetir parceiros, 3) privilegiando as letras, mas sem detrimento da riqueza melódica e 4) levando em consideração um ou outro apelo meu (toda democracia tem seu momento ditatorial)...
E é por isso que aqui estou pra, em primeira mão, convidar a todos vocês, irmãos, demais familiares, amigos, parceiros, comparsas, fãs, admiradores, desafetos, estranhos ou simplesmente amantes da boa música, vistam amarelo ou vermelho, azul ou rosa, pra serem também nossos irmãos neste fraterno projeto que envolve muita gente boa agregada por mim, por Augusto e pelo xará Leo pra que possamos fazer virar realidade esta que seria em princípio uma homenagem a mim, da qual muito me orgulho, mas que passou a ser um projeto coletivo que homenageia esses tantos artistas envolvidos, todos membros da resistência cultural que insiste em não se deixar abater mesmo em momentos de trevas... trevas essas que, quando pensamos que estavam extintas, cobrem-se com novas tintas e ressuscitam.
Pra finalizar, termino com a escalação desse timaço de compositores que fará parte do disco, não sem antes acrescentar que os muitos que ficaram de fora também devem se sentir representados por estes que aqui estão, porque, infelizmente, não temos condições de arcar com a produção de mais músicas que essas 13. Número do qual, diga-se, eu gosto muito (assim como gosto de entrar nos lugares com o pé esquerdo). São eles (por ordem alfabética): Adolar Marin, Álvaro Cueva, Augusto Teixeira, Clarisse Grova, Daisy Cordeiro, Élio Camalle, Gabriel de Almeida Prado, Kana, Kleber Albuquerque, Leo Costa, Marcio Policastro, Marito Correa, Rafael Alterio, Rudy Arnaut, Sonekka, Vasco Debritto, Vicente Barreto e Zeca Baleiro. Ah, e um tal de Léo Nogueira, que tem essa patota toda por irmãos. Venha você também fazer parte dessa fraternidade e nos ajude a fazer girar este mundo em nós.
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PS: Fora o elenco estelar de autores acima citado, há outro de intérpretes e músicos que não cito aqui pois ainda estamos em fase de namoro.
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