Dia desses estava eu mostrando a um amigo canção nova de um compositor que admiro, e ele encasquetou com uma palavra que, segundo ele, já encontrara em duas ou três canções do dito compositor. Meio desconcertado, respondi-lhe que em muitas mais canções encontramos a palavra "amor". E ele não teve como não concordar. Afinal, mais que uma palavra, o amor é uma incógnita. Quanto mais gastamos palavras, teses, livros, canções etc., a seu respeito, mais nos parece misterioso o tal do amor.
E quando tratamos acerca do amor quase sempre vem à baila o casamento. Essa é outra palavrinha não menos complexa; o casamento hoje é uma instituição que obedece a leis, muitas vezes envolve dinheiro, advogados, polícia...
E, como cada vez mais os casamentos estão durando menos, outras teses são levantadas acerca da "eternidade" do amor. Eu mesmo, nesses quase treze anos de casamento, não poucas vezes o pus em xeque. Houve uma ocasião mesmo em que EU fui posto em xeque, convidado gentilmente a passar umas férias em qualquer lugar que não minha casa... Por sorte foram apenas férias.
E, como cada vez mais os casamentos estão durando menos, outras teses são levantadas acerca da "eternidade" do amor. Eu mesmo, nesses quase treze anos de casamento, não poucas vezes o pus em xeque. Houve uma ocasião mesmo em que EU fui posto em xeque, convidado gentilmente a passar umas férias em qualquer lugar que não minha casa... Por sorte foram apenas férias.
E cá estou eu tratando do amor, sem trazer novidade nenhuma, nem uma luzinha sequer, apenas divagando... Raul Seixas, expert em casamentos, em sua brilhante canção A Maçã afirma que "se eu te amo e tu me amas/ um amor a dois profana/ o amor de todos os mortais/ porque quem gosta de maçã/ irá gostar de todas/ porque todas são iguais". Outro doutor em matrimônios, Vinicius de Moraes, em seu Soneto de Fidelidade escreveu, acerca do amor, os versos talvez mais repetidos (muitas vezes fora do contexto) da história da poesia brasileira: "que não seja imortal, posto que é chama/ mas que seja infinito enquanto dure."
Eu, obviamente, não fiquei atrás. Também dei uma boa contribuição ao tema (em parceria com Élio Camalle) com o Samba do Amor Eterno, no qual trato de minhas crenças: "Eu creio na eternidade do amor/ sim, eu creio/ por mais que dissabores nasçam/ o amor troca de endereço/ bate em outro coração/ é que os amantes passam/ o amor não" (leiam mais no Trinca de Copas n° 4). Bem, até este momento tratei dos "humildes". Agora quando o papo é realeza, até o amor muda de figura. Claro, estou falando do Rei, Roberto Carlos. Vejam como ele lida com as separações: "[...] se alguém tocar seu corpo como eu/ não diga nada/ não vá dizer meu nome sem querer/ à pessoa errada/ pensando ter amor nesse momento/ desesperada você tenta até o fim/ e até nesse momento você vai/ lembrar de mim."
É, há quem não esqueça. Mas, dentre todas essas visões do amor, uma em especial me chama a atenção, justamente por tratar o amor como um jogo. Estou me referindo a Amor se Llama el Juego, de Joaquín Sabina, outro grande casador. Essa é uma canção que exagera nos tons de amargura, por isso mesmo tem uma beleza tão doída. Foi lançada originalmente no disco Física y Química, de 1992. Notem que a expressão de Sabina na foto da capa fala por si só.
E coube a ele, Dimi Zumquê, interpretar minha versão de tão pungente canção. E olha que não foi fácil! Não sei se Dimi é do time dos casadores profissionais, mas o fato é que ele, em princípio, disse não se sentir muito confortável pra cantá-la; chegou mesmo a me mandar uma gravação só com metade da canção(!). Acho que foi proposital, no intuito de valorizar seu "passe", pois, após eu ouvir o fragmento que ele me mandou, enlouqueci, e praticamente o obriguei a gravá-la inteira. E o resultado, conforme vocês ouvirão, valeu o sacrifício (o meu e o de Dimi). Aliás, Dimi é tão bom cantor que qualquer canção mediana em sua voz fica linda. E posso afirmar que a canção original está longe de ser mediana (dei uma garibadinha pra que minha versão não ficasse lá tão atrás assim). Tirem suas próprias conclusões:
AMOR SE CHAMA O JOGO
Joaquín Sabina/versão: Léo Nogueira
Já faz meses que eu tento
Mas as minhas palhaçadas não te dão
Vontade de rir
O problema é que o tempo
De suores e de beijos de paixão
Virou hora de dormir
Dói saber que o que foi lindo
Hoje são somente cinzas que o prazer
Espalhou ao chão
Mal e tarde estou cumprindo
A palavra que empenhei de te fazer
Qualquer dia uma canção
Um deus triste e invejoso nos castigou
Por aprendermos o gozo
De dos frutos dessa árvore dispor
E provar o seu sabor
O tempo mata a fome
A água apaga o fogo
O barco vai sem leme
O olho perde o lume
Amor se chama o jogo
Que não tem ganhador
E ninguém sabe como
Seguimos nesse andor
A fim de desandar
Nem sombra do que fomos
Nem inocentes, nem culpados
Corações virando carne de canhão
Quase no estopim
Entre dedos desalmados
Que dão corda no relógio da razão
Na hora do fim
Nem o pranto que choramos, gerando sal
Poderá voltar os anos
Rumo àquela noite, em pleno carnaval,
Quando eu te pus ao natural
O tempo mata a fome...
A original:
AMOR SE LLAMA EL JUEGO
Joaquín Sabina
Hace demasiados meses
Que mis payasadas no provocan tus
Ganas de reir
No es que ya no me intereses
Pero el tiempo de los besos y el sudor
Hace demasiados meses
Que mis payasadas no provocan tus
Ganas de reir
No es que ya no me intereses
Pero el tiempo de los besos y el sudor
Es la hora de dormir
Duele verte removiendo
La cajita de cenizas que el placer
Tras de si dejó
Mal y tarde estoy cumpliendo
La palabra que te di cuando juré
Escribirte una canción
Un dios triste y envidioso
Nos castigó
Por trepar juntos al árbol
Y atracarnos con la flor de la pasión
Por probar aquel sabor
El agua apaga el fuego
Y al ardor los años,
Amor se llama el juego
En el que un par de ciegos
Juegan a hacerse daño
Y cada vez peor
Y cada vez mas rotos
Y cada vez mas tú
Y cada vez mas yo
Sin rastro de nosotros
Ni inocentes ni culpables
Corazones que destroza el temporal,
Carnes de cañón
No soy yo, ni tú, ni nadie,
Son los dedos miserables que le dan
Cuerda a mi reloj
Y no hay lágrimas
Que valgan para volver
A meternos en el coche
Donde aquella noche en pleno carnaval
Te empecé a desnudar
El agua apaga el fuego...
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Como vocês viram, há amor pra todos (pelo menos na música popular). Escolha o seu!
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