domingo, 1 de abril de 2012

Os Manos e as Minas: 6) 47 horas com Dany López ("Como si fuera un día nomás")

Agora se deu aqui, em Sampa, ao contrário das outras vezes, em Montevidéu. Encontrei-o no aeroporto de Congonhas com o kit completo de sempre: sorriso de orelha a orelha, abraço apertado, um beijo no rosto (costumbre de los hermanos), o bom humor contagiante e a velha inteligência. Vinha do Rio, onde, como bom turista, pegara uma insolação. Mas nada que o fizesse faltar com seu compromisso, a saber, a participação especialíssima em dois shows do compositor porto-alegrense Marcelo Delacroix (no CCBB), com quem mantém um trabalho paralelo em duo. Trata-se, claro, do incansável cantautor uruguaio Dany López.

Mal chegou em casa e já disse ao que vinha. Apossou-se do teclado de Kana e começou a mostrar-lhe várias ideias de arranjo que havia tido nas noites de insônia e delírio (graças à "bendita" insolação) no Rio. Ah, falta algo a acrescentar: Kana está gravando em seu novo disco uma canção de Dany, maravilhosa, por sinal, chamada Libélula. Não vou contar maiores detalhes acerca do que estamos preparando pra essa canção pra não estragar a surpresa, apenas conto que Dany aproveitou sua vinda ao Rio e passou por aqui pra gravar o piano da canção (Kana também deixou a cargo dele o arranjo).

Após um vespertino e providencial cochilo, levamo-lo à Quarta Quarta, já tradicional sarau de Tato Fischer, no vizinho Novo Lua Nova, onde sobrou espaço pra que Kana se apresentasse (e apresentasse dois alunos japas), Dany também, e deu até pra eu recitar um poema "pra maiores" (culpa do álcool). Ah, lá estava uma turma da pesada, além do velho (novo) Gabriel de Almeida Prado, a quem apresentei Dany e com o qual compartilhei mesa e duas ou três brejas. No fim da noite, já em sua casa, Gabriel me mandou um torpedo no qual contava que uma de suas irmãs, que o estava visitando, dissera-lhe que um dia antes havia assistido ao show de Dany no Rio e saíra de lá com o CD dele. Essa foi a primeira coincidência dessas 47 horas.

No dia seguinte, de manhã, após um café da manhã generoso preparado por Kana, levei-o a um programa de índio, ou melhor, a um tradicional passeio pela avenida Paulista. Afinal, pra quem é de fora sempre interessa conhecer o coração financeiro do Brasil. O tempo era curto, então fizemos tudo muito rápido, algumas paradas pra fotos em frente aos velhos Masp e Gazeta, visita à Livraria Cultura e à Fnac (Dany, como eu, também sofre do mal de amor aos livros), e volta a casa, onde nos preparamos pra seguir pro estúdio. Aqui, um detalhe que nos trouxe bom agouro (a segunda coincidência): quando abri a porta pra sairmos, entrou em casa uma libélula, e ficamos os três ali, vendo-a voar sobre nossas cabeças, embasbacados, como três crianças que vivenciassem algo fantástico (ela só foi embora no dia seguinte - acho que ficou esperando pela partida de Dany). 

Dany à direita, com o técnico
de som Paulo Coin, o Paulinho
Após um interessante passeio de metrô (em Montevidéu não há), às 15h chegamos no Art Brasil, de Omar Campos, onde passamos seis preciosas horas, tempo em que Dany mostrou todo seu talento. Esperava-nos, além do próprio Omar e do técnico boa-praça (e competente) Paulinho, um piano recém-afinado, grande aquisição de Omar, que, de quebra, aumenta o interesse dos clientes (que já não era pouco) em gravar ali (também estava por ali o músico Zaza, que tocara alguns dias antes com Kana, por coincidência - a terceira -, visto que ensaiava pra tocar à noite com Omar). E Dany deu um banho! Inclusive nos surpreendeu a todos com um método seu (patentea-lo-á?) de tocar percussão no piano com a extensão das teclas, na parte interior deste. Acabamos, com o resultado, deixando a mixagem da canção a cargo dele, em Montevidéu.

Após tão suado trabalho, nada melhor que uma abençoada refeição. Pra isso, escolhemos um lugar especialíssimo, já conhecido de suas patrícias (não confundir com patricinhas) Samantha e Victoria, o restaurante À Mineira. A foto à esquerda podem falar bem mais que qualquer coisa que eu possa acrescentar. Apenas resumo fazendo uma gratuita propaganda do lugar, que tem comida mineira (obviamente) de primeira, mas não só, há uma variedade incrível de pratos, além de uma generosa mesa de saladas e sobremesas (duas mesas, né? Uma pra cada). Ah, o chope é divino e há uma boa cachaça (da casa) que está incluída no preço e que funciona em total harmonia com a comida. Desculpem se me estendi, mas é que mesmo agora, passados já alguns dias, ainda me vem água à boca... Quem quiser saber mais sobre o restaurante À Mineira basta clicar no nome.

Pra testar a capacidade do muchacho, ainda abrimos um vinho ao chegarmos em casa, mas ele aceitou apenas uma pequena taça, só pra brindar, e foi direto pra cama, onde hibernou por quase doze horas! O descanso do guerreiro (afinal, chegando em Montevidéu já terá bastante trabalho, pois grava com Daniel Drexler e terá shows com Samantha Navarro)! Seu sono acabou alterando nossos planos, pois nossa ideia era levá-lo ao centro na manhã do dia seguinte, mostrar-lhe a Catedral da e levá-lo ao Mercado Municipal. Bem, não deixa de ser um motivo a mais pra que ele volte. Por ora basta dizer que sua agradável companhia deixou saudades, em compensação sua participação tende a elevar o nível do disco de Kana (que já está alto). Despeço-me postando abaixo um vídeo de Dany cantando (e tocando) Libélula (a letra segue na sequência, pra que a apreciem em sua totalidade). Em breve traremos maiores informações acerca do novo disco de Kana (Em Obras), em meu blog ou no dela, kanadobrasil.blogspot.com. Saudações! (¡Saludos y gracias, Dany!)


***



LIBÉLULA
Dany López


Libélula buscando el sol
Bichito de soledad
Bicho de mar

Libélula bordeando el río
Antídoto a mi soledad
Tus alas sobre la arena

Que corta que es la vida
Ya llega el otoño
Como si fuera un día nomás
Para un pedazo de tierra


Tus alas son de tornasol 
Verde robado del mar

Luz de un lugar

Donde las musas toman sol

Y el frío es una postal

Una quimera

Que corta que es la vida…

***

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