segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Ninguém me Conhece: 59) Dimi Zumquê, dando a cara pro mundo


Um amigo comentou certa vez que o letrista (e dono da gravadora Velas) Vítor Martins havia dito em determinada ocasião que jamais investiria em cantores da noite, por achar que estes, que tanto se dedicam a cantar repertório alheio, carecem de originalidade. Respeito sua opinião, mas discordo drasticamente. Mesmo porque ninguém garante que um camarada que nunca tocou em bares seja original.

1) Samba Bom (Dimi Zumquê)

E, por sua vez, os chamados cantores de barzinho têm a seu favor o convívio frequente com palco e plateia e, mais, o estudo diário do violão e de harmonias que se dá pela necessidade de eterna renovação de repertório. Claro que há sempre aqueles que copiam o João Bosco ou o Djavan (quer dizer, hoje em dia podemos trocar esses dois nomes por Lenine e Jorge Vercilo), mas estes também existem longe dos bares, nas festinhas, nas praias, nas apresentações estudantis etc.

Digo isso porque conheço camaradas que passaram a vida inteira se dedicando a ser profissionais de música ao vivo e nem por isso perderam a originalidade. Muito pelo contrário, alguns deles, de tanto cantar MPB, aprenderam a, filtrando todos esses sons, ter uma assinatura própria em suas canções. Cito alguns exemplos daqui de São Paulo: Adolar MarinÉlio Camalle, Fernando Cavallieri, Ito Moreno... e Dimi Zumquê.

E chegou a vez de falar justamente de Dimi, a quem conheci há mais de uma década, se não me falha a memória (e ela costuma falhar) por meio da produtora Cláudia Teixeira. Cláudia nesse tempo trabalhava com um leque invejável de artistas. Mas Dimi era seu xodó.  E eu só fui entender sua predileção quando vi uma apresentação do moço. Depois de Élio Camalle, Dimi é o cara (dentre os "ninguém-me-conhece", deixemos claro) com mais desenvoltura no palco que já vi na noite paulistana. Extrovertido, alegre, sedutor, malandro, cheio de suingue, dono de uma bela voz e, além de tudo, violonista esperto.

Dimi é desses caras que quando um apreciador de boa música o vê por vez primeira num palco se espanta e não compreende como um fulano assim não é mais conhecido. Afinal, Dimi é a própria imagem do artista. Sorridente, autoconfiante (beirando a arrogância - eu disse beirando!), cuidadoso com o visual e com o repertório, afiado no discurso na hora das entrevistas, enfim, é a própria imagem de uma estrela. Quando o conheci lembro que tinha mesmo um logotipo com seu nome na traseira de seu carro. Parecia que o sucesso era questão de tempo.

2) 1, 2 e... (Josias Damasceno - Dimi Zumquê)
Thiago Varzé

É, mas o buraco é sempre mais embaixo. E o tal do sucesso não veio. E Dimi acabou voltando pra sua cidade, Ribeirão Preto. Nessa época já nos frequentávamos e tínhamos mesmo uma ou duas parcerias. Mas ele se mandou e acabei perdendo seu contato. Mas foi aí que ele descobriu o circuito dos festivais e, durante um bom tempo, virou bicho papão festivaleiro. Onde houvesse um, lá estava ele. E raramente saía sem uma premiação. Durante alguns anos chegamos a nos encontrar em vários deles, na maioria dos quais eu saía de mãos abanando e ele, premiado.

Mas a fila dos festivais também anda, pra desespero dos festivaleiros, e os queridinhos de ontem viram os injustiçados de hoje. Foi então que Dimi teve a grande ideia de organizar um festival em sua própria cidade. Desenvolveu o projeto, conseguiu apoio, meteu as caras e acabou sendo responsável por um dos melhores festivais do país (dizem os que dele participaram; como nunca me classifiquei, tenho que ficar com a opinião alheia). 

Contudo, engana-se quem pensa que ele desistiu da carreira pra se transformar apenas em organizador de festivais. Tanta energia não se contentaria com tão pouco. No mais, as canções continuavam nascendo, e, embora muitos profetas apocalípticos bradem aos quatro ventos a morte do CD, este continua (re)nascendo todos os dias, e Dimi não viu outra alternativa que não lançar mais um. O quarto! Aqui, um aparte: houve um crescimento como compositor de seu primeiro trabalho pra este, obviamente. Mas que não tem nada a ver com tocar ou não em bares. É que apenas chega um momento em que a ficha cai e o artista se descobre (se revela), em meio a suas influências. Quer dizer, alguns, não... 

Homo Sapiens foi o nome do rebento, que veio à luz ano passado. E, pra alegria e surpresa deste escriba, a canção que ele escolheu pra abrir o disco é justamente uma parceria nossa, Cara de Palco. Aliás, o nome já diz tudo. Sempre achei Dimi muito cara de pau. Daí, quando ele me pediu umas letras, fiz esta especialmente pensando nele, em seu suingue e em sua malandragem quase carioca (embora ribeirão-pretano). Então, durante o decorrer da feitura da letra, ir de pau a palco foi um pulo.

3) Cara de Palco (Dimi Zumquê Léo Nogueira)

Mas vou deixar pra falar mais dessa parceria num futuro Trinca de Ouro. Aliás, apesar de ter demorado pra aparecer por aqui, Dimi este ano deve ser figurinha fácil por estas bandas, pois, além da canção Cara de Palco, da qual falarei em breve, ele também me presenteou com uma bela gravação de uma versão minha pra outra canção de Sabina, sem falar em nossa mais nova cria, Por Que Não?, que finalizamos há pouco mais de uma dúzia de dias. Assim sendo, deixo-os por ora na boa companhia da música de Zumquê! Zumquê! Dimi Zumquê! E fiquem de olho. Como o moço mora longe e não é dado muito a sair da Choperia Pinguim, digo, de Ribeirão Preto, se virem que ele está fazendo show em sua cidade (ou se apresentando no festival local), não deixem de prestigiá-lo. Não se arrependerão!

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Dimi também está no Caiubi.

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8 comentários:

  1. Conheci o Dimi exatamente no FAM em Ribeirão Preto em 2010, quando a música QUANTO VALE UMA PAIXÃO! (AC de Paula & São Beto) foi classificada e ficou entre as 12 finalistas. Concordo com aqueles que dizem que o FAM (ao menos o 2010) foi um dos mais bem organizados, ao menos dos que já participei.Constatei a sua versatilidade e popularidade quando no sábado a tarde (a final era a noite)estive junto com o Luiz Tupinambá, (excelente compositor de Angra dos Reis)curtindo o som do Dimi em um barzinho badalado de Ribeirão Preto. É mais um que já há tempo, merece e deveria estar sendo ouvido por este nosso Brasil. Parabéns Dimi Zumquê pelo aniversário, parabéns Leo, pela merecida lembrança!!! AC de Paula poeta e compositor

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    1. Grato pelas palavras e pelo depoimento, AC de Paula!

      Abração do
      Léo.

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  2. Esse menino eu já conheço de longas datas... Trabalho consistente, sempre com um sorriso no rosto... Nasceu pra cantar samba e por isso conquista o seu espaço fácil, fácil... Abs pra tu Léo e pra o Dimi , sucesso sempre...!

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    1. Sim, Marta! Dimi manda muito bem nos sambas, mas não só!

      Abração do
      Léo.

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  3. Meu querido Leo,
    Confesso que estava ansioso pra saber se vc escreveria sobre mim,
    na sua coluna äniversariante do dia", mas nao tinha certeza se ia rolar, afinal, apesar da admiração mútua, não somos tão próximos assim. Pois bem, chegou o dia, e confesso que fiquei surpreso e emocionado: o texto bem escrito, eu já esperava, mas me despir assim, sem nunca ter entrado no meu quarto, foi surpreendente! Vou postar e divulgar, pois eu adorei o presente!!!

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    1. Dimi, meu velho, salve, salve!

      Antes de mais nada, parabéns, não só pelo aniversário como também pelo lindo CD!

      Rapaz, sabe que, apesar de fazê-lo com prazer, tenho tido algumas dores de cabeça com esta coluna, pois há casos e casos. Há aqueles artistas de quem gosto, mas com quem não tenho maior afinidade, ou mesmo contato pessoal, daí escrever sobre eles é complicado; há outros com quem tenho mais contato, mas de quem não possuo acesso à obra, e, como sempre posto aqui canções também, acaba ficando difícil; e há aqueles que, embora bons compositores, não têm obra gravada, o que também dificulta. Enfim, há uma série de detalhes que vão sendo responsáveis pela escolha ou não de determinados artistas. O que às vezes me deixa em saia justa. Mas é positivo, sinal de que o trabalho vem sendo bem-feito, pois só o fato de gerar expectativas já é por si só um retorno dos melhores.

      No mais, peço desculpas se peguei pesado, mas só consigo escrever dessa forma, com excesso de sinceridade. Bola pra frente!

      Abração e sucesso,
      Léo.

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    2. Leo, sem ressalvas, seu trabalho é ótimo, guardarei meu presente prá posteridade.

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