quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Crônicas Classificadas: 34) Um conto de Natal

Queridos (e raros) leitores:

Outro Natal chega. Como em todos os anos anteriores, é tempo de ir ao shopping gastar o 13º com artigos de primeira necessidade; é tempo de preparar aquela ceia pra um batalhão – e comê-la –, como se não houvesse amanhã ("mas se você parar pra pensar, na verdade não há"); é tempo de assistir a um novo especial do rei Roberto Carlos, a cada ano tão cheio de novidades; é tempo de beber até cair(!), afinal, não é todo dia que temos o privilégio de passar alguns dias sem ter de acordar cedo pra ir trabalhar (e isso merece, sim, comemoração); enfim, é tempo de, de roupa nova, revestirmo-nos de hipocrisia nova e desejarmos Feliz Natal a todas aquelas pessoas que simplesmente não suportamos (e que, provavelmente, amanhã voltaremos a não suportar), mas a quem hoje, repletos de espírito natalino, chamamos de irmãos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 113) O homem e seu falo, digo, carro

O homem ia a pé atravessando o deserto de sua existência, até que um dia percebeu que podia subjugar alguns animais, e a partir daí sua vida nunca mais foi a mesma. Cavalos, burros, camelos, elefantes e mais uns tantos exemplares do reino animal, escravizados, passaram a gastar a vida levando em seu lombo esse outro animal esquisito que caminha sobre duas patas. A roda do tempo girou e a coisa foi se sofisticando, até chegarmos ao dia de hoje, que nos oferece uma gama de modelos de automóveis pra todos os gostos e/ou bolsos. Porém, se nos primórdios se tratava de necessidade, hoje esse novo animal de quatro patas que nos leva pra onde quisermos (desde que o embebedemos) há muito deixou de ser uma necessidade pra se transformar em sinônimo de status.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 14) Sylvio Caldas – O Silêncio do Cantor / Flamboyant

Muito bem, vamos com calma, que esta edição do Grafite na Agulha foi cheia de percalços – no sentido dificultoso da palavra. Pra chegarmos até aqui, houve muita pesquisa, muita dúvida, muita hesitação... Pra começo de conversa, meu querido e admirado Affonso Moraes, quando convidado por mim a escrever pra esta coluna, após alguns dias me respondeu negativamente, dizendo que havia pensado em escrever sobre um compacto (de 1953!), o que talvez destoasse das demais publicações etc. Eu, ao contrário do que talvez ele pudesse pensar, achei a ideia interessantíssima, pois aumentava o leque de possibilidades da coluna. Então, incentivei-o a não desistir.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Cançonetas (5) + Trinca de Copas (23): Álvaro Cueva (e Leonardo Costa), Marcio Policastro e Zebeto Corrêa

Meu camarada Vlado Lima (que me autorizou a tratar do assunto aqui) escreveu dia desses no facebook que havia sido convidado a fazer parte do júri de um concurso de sonetos, mas que declinara do convite porque o cachê não valia o aborrecimento de ter que perder seu escasso tempo analisando uma forma de poesia que não lhe agrada. Caí de paraquedas no assunto e comentei que o problema talvez não seja o soneto em si, mas a (hipotética) falta de ousadia dos novos sonetistas, que ainda se rendem ao tradicionalismo. A resposta de Vlado foi categórica: ele acha que a métrica do soneto limita a inspiração, e foi tão enfático, que chegou a acrescentar que nem sequer curte muito os sonetos sujos de Glauco Mattoso, o que pra mim foi uma surpresa, pois sempre achei a poesia de Vlado um tanto, digamos, mattosa.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 13) Krig-ha, bandolo!

É chegado o momento. Antes que alguém venha (por chatice ou só pra fazer graça) com o já famoso bordão "Toca Raul!", antecipamo-nos e tocamos. Claro, a ideia não foi minha, mas de Alexandre Lemos, que veio enriquecer este espaço com suas sempre tão bem colocadas palavras. Não à toa tem sido um dos letristas mais requisitados do momento. Isso sem falar que ainda se arvora em nobre melodista de letras alheias – e próprias. Não, não vou cair na tentação de citar outro bordão ("com todos menos comigo", rs), afinal, como já dizia mestre Raul, "tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado". Por ora, deixemos que ele nos conte como se deu seu encontro com a música do Maluco Beleza:

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 112) A arte de virar o pescoço

Mirada y Risas by Juan Castro
A ideia desta crônica nasceu semana passada, e, em princípio, eu tinha a intenção de chamá-la Em homenagem à moça que ri, mas hoje, reparando em alguns ilustres pedestres que reparavam numa não menos ilustre moçoila que, inadvertidamente (e literalmente), parava o trânsito, resolvi ser mais abrangente no tema, sem, contudo, abandonar a tal moça que ria. Diria mais, um assunto complementa o outro. Comecemos pelo começo, que isso não é enredo de romance pós-moderno. Pois bem, caminhava eu semana passada pela avenida Paulista, quando me chamou a atenção a expressão de felicidade de uma moça. Aliás, deixem-me consertar: felicidade não seria a palavra mais apropriada; talvez pudesse usar alegria... Não, tampouco seria alegria. Esperem, que já encontro... Hmm... Ah, achei! Cumplicidade! É isso.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 12) "Essas recordações me matam"

Minha ligação com Roberto Carlos já vem de antes de meu nascimento. Minha mãe costumava me contar que, quando estava prestes a me trazer a este mundinho de meu Deus, ainda lá no meio do nada, pra além das fronteiras dos cafundós, numa cidadezinha cearense de nome pomposo, Senador Pompeu, não poucas vezes chorou ouvindo Amada, Amante, canção com a qual embalava meus últimos dias de pré-rebento. Aliás, o disco que contém a supracitada canção (e também DetalhesComo Dois e DoisTraumasTodos Estão SurdosDebaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, entre outras), intitulado simplesmente de Roberto Carlos (como a maioria dos discos do Rei), nasceu praticamente junto comigo, naqueles fins do ano da graça de 1971.

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Eu Não Vi, Mas Me Contaram...: 2) A 8 da sorte

... era corintiano roxo. Todos os domingos, jogasse seu clube na capital, lá estava ele no estádio, com a mesma camiseta velha de guerra (dizia que dava sorte), já desbotada e com três ou quatro furos, a eterna 8 do "doutor" Sócrates, da época do bicampeonato paulista e da famosa Democracia Corintiana. Este nem jogava mais pelo Timão, mas o rapaz era enfático: pra ele não tinha Pelé nem Garrincha nem Cruyff nem Beckenbauer nem Rivelino nem Zico nem Deus do céu! O maior craque de todos os tempos era Sócrates, e ponto final. Tanto, que os amigos o apelidaram de "Dotô". Com o tempo, a maioria das pessoas que o conheciam nem sabia mais seu nome de verdade. Pra todos era apenas o Dotô.

domingo, 24 de novembro de 2013

Grafite na Agulha: 11) Beijo Moreno, de Raimundo Sodré

Quando estava pensando em que título daria ao Ninguém me Conhece que então acabara de escrever a respeito de Sonekka, após alguns instantes, súbito me veio a palavra "imprevisível". E agora, ao receber o texto que ele, a meu pedido, escreveu pra esta coluna, novamente a tal palavrinha me vem à mente: Sonekka é mesmo um camarada imprevisível! Bem, neste prefácio eu o deveria apresentar, contudo, a maioria dos leitores que visitarão esta página certamente já terá lido o texto que lhe dediquei, visto que é um dos mais populares deste blogue. No entanto, se você chegou até aqui inadvertidamente, sugiro que, antes de ir em frente, visite O imprevisível Sonekka, que lhe facilitará bastante a leitura que o aguarda a seguir.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 111) Por que ainda ser de esquerda

Escrevo este texto-desabafo a meus amigos que por um motivo ou outro andam pendendo à direita. Quero dialogar com eles, pois sei que são bem-intencionados. Portanto, se você não é meu amigo, mas ainda assim pretende continuar a leitura, aviso de antemão que não pretendo dar corda a comentários ku-klux-klanianos, sobretudo àqueles escritos pelos anônimos de sempre, os que escondem seu ódio e seu preconceito sob a máscara do anonimato. Como dizem, quem avisa amigo é. Se vierem black-bloquisticamente querendo zoar o barraco, sumariamente excluo o comentário e já era. Estamos conversados? Discordar pode, dialogar também, mas manchar o tapete desta residência com a baba infectada com os vírus do ódio, sem chance! Isto posto, vamos ao texto.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Trinca de Copas: 22) Dose tripla de Marcio Policastro

Nenhuma relação sobrevive muito tempo sem química. Com a parceria musical não é diferente. Pelo fato de ser letrista, tenho muitos parceiros, porém, embora a maioria deles me incense, são poucos aqueles que me incitam a tornar a parceria prolífera. Não culpo os demais. Há vários fatores que pesam contra sua eficácia. Pode parecer bobagem, mas noto que condição social, posicionamento político, distância geográfica, ausência física e tantas outras coisas acabam por afastar possíveis parceiros. Aproveito, portanto, pra pedir desculpas àqueles cuja expectativa foi frustrada por minha proletária poesia. Em contrapartida, aproveito também pra homenagear um parceiro que, apesar de ser um dos melhores letristas que conheço – amizade à parte –, possui a generosidade de receber com bons olhos as letrinhas que frequentemente lhe envio e, mais que isso, na maioria das vezes transformá-las em belíssimas canções. Refiro-me a Marcio Policastro, a quem dedico esta trinca.

domingo, 17 de novembro de 2013

Grafite na Agulha: 10) Em busca de um som joia

Afirmar que Daisy Cordeiro é uma das melhores intérpretes do Brasil é pouco, pois ela é muito mais que uma voz. É um ser pensante, uma compositora intuitiva como poucas/os e, sobretudo, uma alma boa, partidária do coletivo e generosa. Vou parar por aqui pra não me tornar repetitivo. Já escrevi sobre ela, quem quiser saber mais sobre a moça, basta clicar em Daisy. Por ora encerro acrescentando que seu belo texto (abaixo) sobre o disco Joia, de Caetano, não me surpreendeu, pois eu já sabia que ela manda bem também na prosa, como vocês terão o privilégio de descobrir. A ele, pois:

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 110) Carta aberta aos amigos (que testam diariamente minha amizade)

O mundo é, na realidade, uma selva na qual usamos a máscara "sociável" da hipocrisia pra parecermos civilizados. Não é fácil viver nele, principalmente tentando ser verdadeiro. Considero-me um lutador. Sou daqueles que não desistem nunca, os teimosos, os turrões, os marrentos. E tô pouco me lixando. Se vou chegar ou não a alcançar meus objetivos é mero detalhe. Não tenho escolha. Se desistir é que não os alcançarei mesmo. De antemão já sei que essa partida de xadrez que jogo com a morte está perdida. Portanto, o máximo que posso fazer é usar dos artifícios de que disponho pra ganhar o máximo de tempo possível no jogo. E isso me basta (... não, não me basta. Até lá aprenderei a roubar nesse jogo). Assim, não tenho tempo pra melindres, visto que foco em meus objetivos sobre todas as coisas.

domingo, 10 de novembro de 2013

Grafite na Agulha: 9) Elizeth Cardoso & Raphael Rabello – "Todo o Sentimento", o álbum...

Minha convidada desta semana é Lucia Helena Correa, segundo suas próprias palavras, "mulher, negra, jornalista, poeta e CARIOCA!". Já lhe dediquei um Ninguém me Conhece, pra lê-lo, basta clicar em seu nome. Por ora, em vez de maiores blá-blá-blás, prefiro apresentá-la por meio de texto-desabafo que ela própria escreveu dia desses no fb. Na sequência dele, segue o outro texto, sobre o LP que escolheu:

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Eu Não Vi, Mas Me Contaram...: 1) Zidane x Ronaldo

... foi num sábado, véspera da final da Copa do Mundo na França. Ronaldo estava comandando sua equipe em Jaguariúna fazia já duas semanas. Ele acreditava que dentro de mais quatro ou cinco dias terminariam o serviço que haviam ido fazer, mas se viu vítima de uma espécie de rebelião: se não levasse seus comandados de volta pra São Paulo pra verem o jogo da final com suas respectivas famílias, todos entrariam em greve. Voto vencido, foi obrigado a ceder. Ronaldo era um cara responsável, trabalhador e daqueles que pensam sobretudo na empresa; sabia que aquela desnecessária viagem acarretaria gastos evitáveis, mas... o que podia fazer?

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 109) Aprenda ironia em uma lição ou Explicando a piada

Segundo o Aurélio, ironia é: "1. Modo de exprimir-se que consiste em dizer o contrário daquilo que se está pensando ou sentindo, ou por pudor em relação a si próprio ou com intenção depreciativa e sarcástica em relação a outrem. Ex.: Voltaire foi um mestre da ironia. 2. Contraste fortuito que parece um escárnio. 3. Sarcasmo, zombaria. Segundo o Houaiss: 1. Figura por meio da qual se diz o contrário do que se quer dar a entender; uso de palavra ou frase de sentido diverso ou oposto ao que deveria ser empregado, para definir ou denominar algo; esta figura, caracterizada pelo emprego inteligente de contrastes, usada literariamente para criar ou ressaltar certos efeitos humorísticos. 2. Uso de palavra ou expressão sarcástica; qualquer comentário ou afirmação irônica ou sarcástica. 3. Contraste ou incongruência que se afigura como sarcasmo ou troça; acontecimento marcado por esse contraste ou incongruência.

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Eu Não Vi, Mas Me Contaram... – Prefácio

Vejam vocês como as biografias são importantes: estou me deliciando atualmente com O Anjo Pornográfico, biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro. E, pensando nisso, veio-me à mente um pensamento: se damos tanto valor à literatura de ficção, por que achamos biografia uma arte menor? Aliás, a História com agá maiúsculo não é uma espécie de biografia da humanidade? Pra mim só existem dois tipos de literatura: a boa e a ruim. Se é poesia, romance, crônica, ensaio etc., não importa. Importam, sim, a qualidade do texto e a maestria do autor. Isto posto, volto a Nelson. Dizia da importância das biografias. Eu, que gosto tanto de escrever, sobretudo contos, lendo essa pérola da pena castrista, tive um insight... Perdão pela má palavra, quis dizer que tive uma... iluminação?

domingo, 3 de novembro de 2013

Grafite na Agulha: 8) O que é "Zii e Zie"?

Perdi o maior tempão procurando uma entrevista na qual Chico Buarque dizia que o Brasil carece de bons críticos musicais a serviço dos jornais, porque grande parte deles nem sequer sabe ler música. Quer dizer, era mais ou menos isso. Pretendia ser mais específico, e citar a fonte, mas, como não a encontrei, fica aqui a informação assim, "de orelha". Queria citá-la apenas pra dizer que o texto abaixo, de meu chegado Edu Franco, é um primor de crítica, pois ele, além de músico e compositor, é também jornalista... sem falar que escreve bem bagarai! Já lhe sugeri um milhão de vezes que, em vez de postar seus belos textos no fb, deveria criar um blogue pra publicá-los lá, mas ele prefere o contato direto (e fugaz) com o leitor. Então, vamos ao que interessa: quem quiser saber mais sobre ele, leia aqui, por ora acrescento apenas que, quando lhe pedi que escrevesse sobre algum CD que o marcara, ele se lembrou deste texto inédito, que escrevera há quase dois anos, e enviou-mo. A ele, pois:

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 108) Nosso piano interior

Acho que gosto de literatura japonesa desde que me entendo por gente (ou seja, por leitor). Um dia me caiu em mãos um livro de Yukio Mishima (O Templo do Pavilhão Dourado, se não me engano), e pronto! Lá estava eu enredado pra todo o sempre nas linhas da literatura da Terra do Sol Nascente! De lá pra cá perdi a conta de quantos livros e autores já saltaram a janela de meus olhos adentro. Anos depois chegou a vez de eu cair de amores pelo cinema japonês, mais ou menos quando tive idade e sensibilidade suficientes pra perceber que havia um universo cinematográfico vasto e riquíssimo fora dos portões de Hollywood.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 107) Livres pra concordar

"Estou com medo. Sinto-me caminhando sobre um campo minado onde cada passo pode ser meu último. Estou com medo de abrir a boca pra falar qualquer coisa inofensiva e notar, de repente, todos os olhares de reprovação em minha direção. Não deve estar sendo fácil hoje em dia a vida dos humoristas. Como dizem, não há humor a favor; porém, atualmente, não é de bom-tom fazer humor contra. Dá a impressão de que somos (incluo-me) atrasados, brucutus insensíveis, machos obsoletos e desfalcados saídos da idade da pedra. Sendo que quem está cheio de pedras nas mãos são eles, os perfeitos...

domingo, 27 de outubro de 2013

Grafite na Agulha: 7) Vinicius/Toquinho – o disco que eu quero ter

Estivesse vivo dia 19 de outubro último, Vinicius de Moraes teria comemorado um século de vida. Hipoteticamente falando, claro, pois, vivendo como viveu, bebendo como bebeu e amando como amou, acho até que durou muito. Mas o fato é que, graças a Deus, muito se falou do poetinha nesses últimos dias. Porém, é bom que se diga: muito, mas não o suficiente! A tevê, como sempre, ocupada com desimportâncias, praticamente passou ao largo da data. Ainda bem que hoje, pra falar a verdade, não precisamos dela mais pra praticamente nada. Visto que caiu em sua própria armadilha, deixemo-la lá, resolvendo os problemas que ela mesma criou.

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Trinca de Copas: 21) Nova dose tripla de Élio Camalle

Meu mano Élio Camalle não mudou só de CEP, afinal, mudancinha pouca é bobagem. Aproveitou a mudança e se mandou logo pra França, onde passa a maior parte do ano. Assim, como cada vez é mais raro vê-lo, tenho aproveitado estes meses em que ele tem dado novamente o ar da graça por aqui pra retomarmos a antiga parceria.

E, como sempre tivemos nossas diferenças, retomamos também as velhas tretas. Contudo, como acho que tal detalhe da amizade já faz parte dela indelevelmente, resolvi compartilhar com vocês três novíssimas canções de nossa lavra, oferecendo-as a ele, em sinal de paz... e amor:

terça-feira, 22 de outubro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 106) Biografias ou A privacidade na Era da Exposição

Cena de Fahrenheit 451
Claro que eu não ia deixar passar a oportunidade de meter minha colher nesse doce de leite que todo mundo tá provando, né ou não é? Só que, do alto de minha "leiguice", como não possuo capacidade/conhecimento pra entrar na questão legal, vou ao menos enfatizar o legal que é ter o privilégio/prazer de ler biografias. Sem querer ser redundante, todos sabemos que há biografias e Biografias. Há aquelas feitas apenas pra saciar a curiosidade mórbida do fã abelhudo, e há outras que resultam de um extenso, complexo e apaixonado trabalho de pesquisa. Ao passo que aquelas estão mais próximas da categoria autoajuda, estas possuem um grau de qualidade que as aproxima dos bons romances.

domingo, 20 de outubro de 2013

Grafite na Agulha: 6) Caminho de estrelas para o céu

O convidado desta semana do Grafite na Agulha é meu queridíssimo Fernando Cavallieri, um dos cantautores brasileiros mais relevantes da geração posterior à dos medalhões da emepebê (em minha humilde – e incontestável – opinião). Já escrevi sobre ele, pra ler basta clicar em... Cavallieri, assim, não preciso me repetir. Resta acrescentar, por ora, que Cava foi o primeiro até agora a ultrapassar as fronteiras da língua portuguesa em sua escolha. Bela aquisição ganhou nosso espaço. Vamos a seu bonito texto, pois!

domingo, 13 de outubro de 2013

Grafite na Agulha: 5) Caetano Veloso é foda!

Extra! Extra! Venho trazer boas novas! Ainda há vida inteligente... Não, não, reconstruamos a frase (vida inteligente sempre houve): ainda há coração pulsante na velha emepebê! E, quando digo pulsante, quero dizer, obviamente, que pulsa. Sim, porque venho notando que, no que se refere a grande parte dos discos dos velhos papas emepebísticos, tem se instalado uma leseira ali. Seus gametas, como diria o velho e indivisível Zé Ramalho, já não se agrupam mais em seu som. Mas eis que de repente um tiozinho grisalho resolveu descer do (des)conforto desse fusca (onde, segundo ele, só cabiam o próprio e mais uma meia dúzia), tirar seus pés do riacho e pisar o solo escaldante de uma estrada por onde ele havia tempos não passava mais.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Trinca de Ouro: 7) Adolar Marin Trio, Drê (+ Tavito) e Lucia Helena Corrêa (+ Élio Camalle)

1) ESSE

Existem canções que foram feitas pra determinado/a intérprete. Daí que, até que este apareça e as descubra, continuam aquelas ali, perdidas, à espera da voz que finalmente as irá cobrir de sons e sentidos (sentimentos)... e, assim, dar-lhes-á vida. Foi o que aconteceu com a Esse em questão. Certa vez tivemos um contato excelente pra encurtar caminhos ao envio de canções a Nana Caymmi, que estava selecionando repertório pra seu disco novo. Tendo tal oportunidade em mente, afiei meu eu lírico feminino e, em menos de dois quartos de hora já estava com a letra de Esse pronta. Liguei pra meu mano Élio Camalle e por telefone mesmo recitei-lha, enquanto ele a copiava do outro lado da linha.

domingo, 6 de outubro de 2013

Grafite na Agulha: 4) Olho de Peixe – Lenine e Marcos Suzano – CD

Juca Novaes é daqueles caras que agarram no gol, defendem na zaga e ainda vão pro ataque. Quando o assunto é música, atua em várias frentes: é cantor, compositor, pianista e violonista; criador da Fampop (Feira Avareense de Música Popular – um dos melhores festivais do país na atualidade); membro do quarteto vocal Trovadores Urbanos; manteve durante muitos anos uma dupla com o parceiro Eduardo Santhana; e, de quebra, é advogado com especialização em direitos autorais. Entre outras coisas. Escrevi a respeito dele no Ninguém me Conhece, pra ler, basta clicar em, claro, Juca. Temos algumas afinidades: ambos somos sagitarianos, gostamos de escrever, de Fernando Pessoa... e de Lenine! Falando nisso, quando lhe pedi que escrevesse um texto tratando de algum disco que o havia marcado, contou-me que já havia escrito um em seu blogue (aqui) e me autorizou a utilizá-lo nesta coluna. Vamos a ele, pois: 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Joaquín Sabina en Portugués: 17) Denilson Santos e a versão de "La canción más hermosa del mundo"

O disco Dímelo en la calle, lançado em 2002, não correspondeu às expectativas dos fãs de Joaquín Sabina por um motivo muito injusto (fazer o quê, se a vida é injusta?): seu disco anterior, 19 días y 500 noches (1999), é considerado até hoje o melhor desse cantautor espanhol. Ok, Dímelo... não é um disco ruim, apenas nasceu depois do irmão gênio (não confundir com irmão gêmeo). E, quando um compositor dá o melhor de si num grande trabalho, dificilmente repete a proeza no seguinte.

domingo, 29 de setembro de 2013

Grafite na Agulha: 3) Zé Ramalho é dez!

Não pretendo estabelecer aqui uma ordem cronológica, tampouco classificatória, pois sensibilidade é um bicho esquisito que muda dum dia pro outro (qualquer semelhança com o sexo feminino é mero propósito). Assim, respeitando-a, escreverei ao sabor dos ventos lembrantícios. Então, se hoje eles quiseram soprar nesta direção, e como nem eu nem Paulinho da Viola nos navegamos, quem nos navega é o mar, deixo a brisa me levar. No mais, tratar deste camarada em meu primeiro texto tem um significado que não dá pra exprimir através de palavras (mesmo porque elas não são vidraças, embora possam ser janelas), mas, como sou teimoso, tentarei, por meio de outras palavras. Com vocês, o admirável:

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Crônicas Classificadas: 33) A volta do filho (de papai) pródigo ou a parábola do roqueiro burguês

Antes de qualquer coisa, é preciso enfatizar que os músicos e compositores do Brasil devem muito a Lobão, por seus tantos serviços prestados a nossa música. Isto posto, acrescento que até há bem pouco tempo eu costumava gostar dele, mesmo quando discordava. Achava-o uma figura necessária num país onde há tanta hipocrisia. Às vezes me sentia representado quando ele chutava o balde. E o via com olhos condescendentes quando falava alguma groselha, no intuito de renegar Caetano, de quem sempre foi herdeiro (e até já lhe deu razão numa canção). Mas, de uns tempos pra cá, parece que o lobo perdeu o foco, começou a falar merda demais, defender os caras que "arrancavam umas unhazinhas" (quando são as alheias vão assim, no diminutivo).

domingo, 22 de setembro de 2013

Grafite na Agulha: 2) "Wave" na trilha da novela da Globo

O grande cantor carioca Denilson Santos é um parceiro que adquiri graças à internet (escrevi um pouco acerca de nossas parcerias aqui e aqui). Não o conheço pessoalmente, mas é um camarada que exala pelas palavras genteboíce, e saber ler palavras impressas é quase tão infalível quanto saber ler um olhar. Denilson tem um CD lançado (Do mundo), e está, pelo que ouvi, gravando o segundo, dedicado ao repertório da parceira Luhli. Ele aceitou prontamente meu convite e, antes que eu pudesse soletrar inconstitucionalissimamente, mandou-me seu depoimento, do qual gostei muito.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 105) Os nº 1 e os nº 2 da Fórmula 1

Nunca vi graça na Fórmula 1. Respeito os aficionados, afinal, cada um escolhe do que gostar. Há quem goste de ver dois brucutus se socando; há quem goste de ver nigerianos correndo; há quem goste de ver um camarada agitando um pano vermelho pra chamar o touro à dança; há aqueles que vibram ao acompanhar 22 marmanjos correndo atrás de uma bola no intuito de fazê-la entrar num retângulo; há quem prefira ver belas e torneadas pernas pulando pra que as mãos empurrem uma bola rumo ao outro lado de uma rede... Aliás, em se tratando de bola, há de todos os tamanhos e espessuras, e, nos diversos esportes em que ela é a protagonista, nunca há duas bolas iguais (cuidado com a conotação!). Há a de gude, a de golfe, a de pingue-pongue, a de tênis, a de beisebol, a de futebol, a de vôlei, a de basquete... Interessante, não?

domingo, 15 de setembro de 2013

Grafite na Agulha: 1) Chega de Saudade

É de uma simbologia muito grande que o primeiro relato desta coluna trate do LP Chega de Saudade, pois, incontestavelmente, esse disco revolucionou a música não só do Brasil, mas também do mundo! E a simbologia torna-se maior ainda pelo fato de o texto ter sido escrito por esta figura única que é Luhli (de quem tenho o orgulho de ser parceiro), pois ela já foi corresponsável por outra revolução musical, na condição de compositora de O Vira e Fala (ambas em parceria com João Ricardo), dois sucessos que marcaram uma geração e pertencentes ao histórico primeiro disco dos Secos & Molhados. Mas a mulé é muito mais, se eu começar a falar a respeito dela, não termino hoje. Aliás já falei, no Ninguém me Conhece; pra ler o texto basta clicar em... Luhli! Agora chega de por-enquantos e vamos aos finalmentes, ou melhor, ao Chega de Saudade!

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Grafite na Agulha – Prefácio

Cada pessoa traz na bagagem da memória um mundo de vivências e acontecimentos marcantes, e alguns deles podem ser contados também por meio de sua trilha sonora pessoal. Acredito que, se juntarmos num CD as canções que embalaram nossas vidas, podemos conseguir chegar a um alto grau de conhecimento acerca de nós mesmos que nem pensávamos possuir. Foi pensando nisso que resolvi acrescentar mais uma coluna a este blogue: Grafite na Agulha, por meio da qual pretendo contar um pouco de minha relação com os discos que foram marcantes em minha trajetória; aliás, posso mesmo dizer que o que sou hoje devo, em grande parte, ao que ouvi, pois tais canções ou artistas acabaram me formando, moldando (pro bem e pro mal) esse cara que vim a me tornar.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Joaquín Sabina en Portugués: 16) Sonekka e a versão de "Siete crisantemos"

E eis que chegamos a setembro, este mês tão homenageado em nosso cancioneiro. E no feicebuque! Por ali tá um tal de setembro pra lá, setembro pra cá... um verdadeiro setembramento! Daí que, por falar em sete (sei, sei que o mês é o nono, mas não tenho culpa se se chama setembro), resolvi começar eu também o mês com o pé bom (que varia de pessoa pra pessoa), inaugurando a segunda leva das versões sabineiras com uma canção emblemática no que se refere a esse número. E, como foi Sonekka quem inaugurou a primeira leva, convidei-o pra puxar o bloco também desta (ele indo arrasta muito folião).

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Crônicas Desclassificadas: 104) Pra se vingar do esquecimento

De repente L percebeu que REALMENTE estava ali! Deu-se conta de que não era apenas uma sombra de óculos e dentes sem interação comendo pipoca do lado de cá de uma sala de cinema. Não, ele estava ali em carne e osso, fazendo parte dos acontecimentos! Se bem que tais acontecimentos mudavam de um minuto pro outro e desmudavam do outro pro um. Às vezes L era o protagonista, na cena seguinte passava a ser outra personagem, já na outra cena, não era nem uma coisa nem outra, estava mais pra um privilegiado narrador onisciente, embora invisível... e impotente, visto saber, mas não poder interferir nos fatos.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Crônicas Desclassificadas: 103) Música, esse contrapeso...

Acompanho há tempos as crônicas de Ruy Castro, um dos mais talentosos jornalistas/biógrafos brasileiros. Va bene, trata-se também de um ranzinza radical em relação a bebida, cigarro, drogas etc. Claro, porque ele, que chutava o balde e pagou pelos excessos, acabou virando um abstêmio beato que não perde a oportunidade pra espinafrar os pobres humanos fracos que detêm tais vícios. Contudo, isso é lá com ele, afinal sua abstenção não é a pauta do dia (só lá em seu foro íntimo, onde é pauta diária). O que me abestalhou foi ler sexta passada em seu cantinho diário na nobre página 2 da Folha de S.Paulo uma crônica intitulada Oito a menos (leia aqui).

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Ninguém me Conhece: 78) Delicadeza, o tempo de Marianna Leporace

Caramba! Lá se vão seis anos! Foi no dia 15 de julho de 2007! Estando eu no Ridijanêro com Kana, liguei pra minha parceira Clarisse Grova (que então ainda dava o ar da graça por ali) perguntando qual era a balada forte da noite, e eis que ela nos levou ao Panorama, casa onde os cariocas da M-Música se encontravam, se não me engano uma vez por mês, pra cantar, tocar e confraternizar. Era praticamente um Caiubi, só que aquele era mensal, e este continua semanal. Pois bem, mas o fato foi que nessa noite fomos apresentados a muita gente boa, alguns dos quais eu só conhecia virtualmente, e entre eles o mestre Tavito, que ainda morava na Cidade Maravilhosa e, pra meu espanto, já sabia de minha existência, graças a propaganda (enganosa?) da Grova. Futuramente Tavito se tornaria meu parceiro e se mudaria pra Sampa, a convite de Zé Rodrix, mas não ponhamos o depois antes do antes.


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Crônicas Desclassificadas: 102) Um vesgo literário

Eu creio piamente que um escritor é uma espécie de vesgo literário. Aliás, que me perdoem os outros escritores. Há, obviamente, aqueles que não o são. Quando digo "escritor" estou me referindo muito mais a minhas próprias experiências. E eu, visto ser um eterno inédito, não posso nem mesmo me classificar como tal. O que sou, na verdade, é um blogueiro teimoso. E esse termo que tasquei acima posso aplicá-lo, sem medo de incorrer em erro, mais que aos demais, a mim. Em primeiro lugar, vejamos o que diz o dicionário. Procurando vesgo, vemos que é sinônimo de estrábico. Procurando estrábico, ficamos sabendo que é um tipo que possui um desvio ocular que não consegue controlar, assim que seus eixos visuais se comportam em relação um ao outro de modo diferente do que deveria ocorrer em condições normais. Sacaram?

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Crônicas Desclassifiadas: 101) O PT e os outros

Sou um cara tão honesto comigo mesmo, que nunca tive medo de pôr o dedo em certas feridas que a esquerda costuma esconder. Por isso tenho sido criticado por alguns amigos que me acham um vendido, neoburguês ou algo do tipo. Entendo pouco de política, confesso, aliás, entendo pouco de tudo. Mas, a despeito de minhas raízes "humildes", tenho orgulho de ser um teimoso, um cara que há uns 30 anos teria o direito de permanecer calado e hoje tem liberdade de expressão. Ainda me envergonho ao tentar mostrar meu pensamento quando imagino que alguns cultos "por herança" em 30 segundos de argumentação me destruiriam, mas sou reflexo de um país onde até os ignorantes já começam a ter voz, e, embora eu não seja um intelectual, não me creio ignorante de todo. E, embora míope e astigmático (ou por isso mesmo), posso dizer que costumo lançar um olhar bem peculiar sobre as coisas.

sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Crônicas Classificadas: 32) Resposta de Luhli a Alexandre Lemos

Há poucos dias postei (aqui) depoimento-desabafo de Alexandre Lemos, no qual ele relatava seu desânimo a respeito dos rumos da profissionalização da música. Poucos dias depois, meu camarada Sérgio-Veleiro me avisou acerca de um texto de minha querida Luhli em resposta ao de... ou melhor, dialogando com o de Alexandre. Como é um assunto que me interessa, e creio ser de interesse geral, achei pertinente postar aqui também esse outro olhar lançado por Luhli, que é mais parecido com o meu. Vamos a ele, pois:

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Crônicas Desclassificadas: 100) O compositor e o sabiá

É interessante como uma coisa leva a outra. Um tanto cansado de literatura adulta, só pra relaxar, resolvi ler Reinações de Narizinho, de Monteiro Lobato. Ponto. Daí que nesse domingo mais recente, após o almoço, lá fui eu encarar a pia lotada. E, como já virou hábito, peguei meu iPod, fui até o youtube e procurei alguma entrevista interessante pra ouvir enquanto lavava os pratos. Acabei escolhendo um programa Ensaio, da TV Cultura, que eu ainda não vira, justamente um cujo entrevistado era Celso Viáfora, um de meus compositores preferidos. Em determinado momento contou ele que o mote de uma de suas canções havia sido roubado de um sabiá. E é aqui que volta o livro supracitado. Na hora deu um "clique" em meu cérebro e, embebido de Lobato e de Viáfora, me disse, taí um bom material pra um conto!. O resultado é o que vocês lerão abaixo.

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Crônicas Classificadas: 31) Aqui, jazz

Em meus primeiros contatos com Alexandre Lemos achei que ele era meio ranzinza. Contudo, amigos em comum eram todo elogios em relação a ele, daí que acabei notando que o problema nessa relação era eu. O tempo passou e isso foi se acentuando mais, visto que constantemente discordávamos acerca dos mais variados assuntos, como pude perceber até neste espacinho que inventei. No entanto, em respeito a esse mesmo espaço e ao grande compositor/intelectual que é Alexandre, vi-me na obrigação de publicar aqui o texto abaixo, que ele postou há pouco no facebook (aqui). 

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Notícias de Sampa: 10) Kana & Cia. e sua Quinta Jam Session

Pois é, Kana não sossega o facho (nem pode, né?), de tempos em tempos tem uma ideia nova pra não deixar a peteca cair. Essa vida de artista não é sopa e todos já sabemos, tem que ralar pra rolar, como diz o ditado. E Carlos Lyra está aí pra não me deixar mentir. Disse ele que seus direitos autorais estão minguados pra caramba, daí que aposentadoria, por ora, nem pensar! Pois bem, é pensando nessas e noutras problemáticas sem solucionáticas que Kana anda enfileirando projetos um atrás do outro.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Notícias de Sampa: 9) Sopa de Letrinhas, 11 anos

Arte: Aimée e Louise Cerpa
Todo artista fica feliz que nem criança que ganha um brinquedo quando recebe um afago no ego. É natural, mais, é uma troca: o cara faz uma canção e vai lá dar a cara a tapa, sobe num palco e procura dar o melhor de si no intuito de emocionar a plateia, entrar em sintonia com ela, como se os dois lados formassem parte de um só corpo, uma só energia, buscando através de sua canção um magnetismo que una dois polos, como se o palco fosse espelho da plateia, e vice-versa. E, quanto mais o tempo passa, mais isso fica difícil. Quem sobe num palco hoje tem que competir com os garçons; o tilintar dos copos; as conversas paralelas; o camarada que se senta de costas pro palco e, sem microfone, quer chamar mais a atenção do que o músico; os celulares, iPods, iPhones; os que nunca ficam afônicos; e tantos outros "atravessadores" que estão ali pra tirar a atenção do público...

segunda-feira, 22 de julho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 99) Lembranças incompletas

Estava dia desses trabalhando, revisando uns exercícios de física (revisão gramatical, expliquemos, pois nessa matéria sou uma nulidade), quando o vento do ar-condicionado mudou subitamente de rumo e enviou em minha direção uma kamikaze lufada de ar frio que balançou meus cabelos (sim, eu ainda os tenho; poucos, mas bravos!). Tal sopro maroto por um átimo deve ter posto em contato alguns fios desencapados de meu cérebro, pois imediatamente me veio à memória uma lembrança... que se foi no segundo seguinte. Fiquei intrigado com aquilo, e cheguei mesmo a perder alguns minutos tentando reacionar (acionar de novo) essa conexão, mas em vão. Por falar em reacionar, vejam que maravilha são as línguas: em espanhol há a palavrinha reaccionar, que significa reagir! Mas voltemos. Bateu-me uma tristeza, pois a tal da lembrança me parecia ser boa.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Trinca de Copas: 20) Clarisse Grova, Élio Camalle+Rafael Iasi+Ricardo Soares+Sonekka+Zé Edu Camargo e Gabriel de Almeida Prado

1) A UM PALMO DO NARIZ

Tratemos de música um pouco, né? Pra começar resolvi resgatar uma canção que nasceu de um forma muito doida. O que Chico Buarque tentou em sua casa certa vez, e não conseguiu, consegui eu. Mas, caramba, como o tempo passa! Eram os idos de 2007! Naquela noite a caiubada em peso estava no (hoje finado) Crowne Plaza; se não me engano havia rolado um show coletivo do Caiubi (se eu estiver enganado, alguém me corrija). Após o show, alguns de nós resolvemos terminar a noite no Rancho Nordestino, boteco chiquérrimo e tradicional do bairro do Bixiga. O Clube do Bolinha era formado por mim mais Rafael Iasi, Ricardo Soares, Tito Pinheiro e Zé Edu Camargo. Após algumas brejas, desafiei a galera a compor uma letra ali, na hora. Vencida certa relutância inicial, os manos se animaram e, um faz um verso aqui, outro acolá, chegamos a um resultado no mínimo razoável.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 98) Minha pátria são minhas línguas

Sempre gostei de viajar, só que de um modo um tanto distinto do de turistas comuns. Não vou dizer que não me agrade visitar pontos turísticos, mas, se a viagem se resumisse a isso, confesso que preferia ficar em casa. Afinal, muitas vezes temos que acordar cedo, passar horas dentro de um ônibus, nos cansamos caminhando e visitando um sem-fim de igrejas e museus, pra no fim só tirar uma dúzia de fotos que, na volta, mostramos aos parentes e amigos, e não absorvemos absolutamente nada da essência do lugar visitado. Vou dar um exemplo, mas num parágrafo novo, pra não sobrecarregar este.

domingo, 14 de julho de 2013

Os Manos e as Minas: 13) Estudando Tom Zé

Fazia algum tempo vinha querendo escrever sobre Tom Zé, e devo (quem diria!) à Coca-Cola a transformação desse desejo em realidade. Soa até engraçado, pois se dependesse de mim ela já teria falido, não por ativismo político, mas simplesmente por questões palatais. Pois bem, o fato é que fiquei sabendo por meio do "tribunal do feicebuque" que Tom Zé havia ganhado uma grana usando sua voz pra um comercial do supracitado refrigerante e, não conseguindo ter paz por causa do "fogo amigo" de seus fãs, viu-se obrigado a se desfazer desse dinheiro, doando-o pra uma banda de Irará (sua cidade natal, no interior da Bahia) que tempos atrás o havia expulsado por considerá-lo "um filho de rico ocupando a a vaga de algum aluno pobre". E eu, que tenho sido sempre honesto com meu patrão (eu mesmo) neste espaço, achei que era chegada a hora de dizer duas ou três palavrinhas sobre o moço.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crônicas Classificadas: 30) Bar ruim é lindo, bicho!

Meu camarada Gabriel de Almeida Prado dia desses me falou que acha meu estilo na escrita muito parecido com o de Antonio Prata, cronista que atualmente escreve no caderno Cotidiano da Folha de S.Paulo. Fiquei contente com o que julguei ser um elogio. Mesmo porque o moço escreve bem bagarai e tem uma originalidade natural que salta aos olhos. E também porque, com esse elogio, equilibro a balança, visto que outro camarada meu, Élio Camalle, justamente depois que virou bourgeois(!), tem achado que tô mais pra Arnaldo Jabor, simplesmente porque não saio às ruas segurando um cartaz escrito em letras garrafais "BASTA DE CORRUPÇÃO!". No mais, acho isso meio genérico. Se tivesse que escrever algo num cartaz escreveria "ABAIXO O CÂNCER! (E VIVA O SAGITÁRIO!)", "QUEREMOS DIAS COM 30 HORAS!", "FILÉ-MIGNON NA FAIXA PARA OS MENDIGOS JÁ!", "FORA COM AS LONG-NECKS NOS RESTAURANTES!" ou algo do gênero.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Texto de aniversário de três anos d'O X do Poema

Hoje O X do Poema completa três anos de existência. Como sempre, é época de balanço, autocrítica, de repensar os erros e avaliar os acertos. Nestes mais recentes 12 meses o fator de maior relevância talvez tenha sido o visível aumento de leitores e, consequentemente, visualizações de postagens. Claro que ainda se faz necessário saber usar as redes sociais como divulgação, além da chamada mala-direta, contudo, cada vez aumentam mais as visitas espontâneas, inclusive de fora do país, o que faz que muitas postagens antigas de repente apareçam nas estatísticas entre as mais visitadas da semana.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 97) "Porque não!"

JLRN, 41, portador do RG XX.XXX.XXX-X e do CPF NNN.NNN.NNN-NN, é um cidadão trabalhador, paga seus impostos e suas contas, não é dado a luxos nem excessos, na pior das hipóteses, se tivéssemos que adjetivar-lhe um defeito, diríamos que de vez em quando gosta de, digamos, molhar o paladar. Pois bem, esse cidadão, de RG tal e CPF tal, contribuinte em dia com seus ônus etc. etc., teve a infeliz ideia de ir ao supermercado Extraordinário (nome fictício, afinal, esta é uma obra de fixação), o gigante da avenida Doce de Brigadeiro, que mantém suas portas abertas 24 horas por dia 363 dias por ano. Pois bem, JLRN dirigiu-se em primeiro lugar à seção de vinhos, escolheu dois argentinos, pela dobradinha custo-benefício. Em seguida foi ao piso superior, onde escolheu três lâmpadas de 90 w. E, como estava lá mesmo, rumou em direção ao caixa mais próximo, que, estrategicamente, ficava naquele mesmo andar.

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 96) Em defesa de Neymar

Caramba, o Brasil tá ficando um país muito chato! Ou, pelo menos, de chatos! Eu sei, eu sei, escrevi há alguns dias apregoando a morte do futebol (aqui), mas, como sempre (e graças a Deus!), mordi a língua. O futebol brasileiro vai bem, obrigado (fora o Palmeiras). E em menos de um mês enfileirou vitórias contra nada menos que três campeões mundiais! Não tem jeito, o lugar-comum é verdadeiro: aqui é o país do futebol, e, quando onze fulanos resolvem jogar bola, não tem pra ninguém! Notem que eu acrescentei "quando resolvem", quando não querem o papo é outro. Temos muitos exemplos por aí: Adriano, Kaká, Ronaldinho Gaúcho... A lista é grande. Por isso a figura do técnico é importante. No caso da Seleção, a figura paternal e enérgica de Felipão faz, sim, a diferença.

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Trinca de Copas: 19) Gabriel de Almeida Prado, Kana e Marcio Policastro

1) A FLAUTA DE PÃ

foto de Gabriel de Almeida Prado
Por acaso me lembrei de uma canção antiga que fiz com Kana que tem uma história bem interessante. Na época da faculdade fiz um trabalho a respeito de (também conhecido como Fauno. Lembram-se do filme O Labirinto de Fauno?), um estranho deus da mitologia grega que tinha uma aparência assustadora: era meio homem, meio bode, pois era filho de Zeus com uma ama de leite, que por acaso era uma cabra. Resumindo mal e porcamente, se apaixonou por uma moça que não lhe dava trela e chegou a persegui-la por um bosque. Syrinx (era este o nome da moça), chegando à beira de um rio, pediu que as ninfas dos rios mudassem sua forma, e foi transformada em bambu. , lá chegando, encantado com o som que os bambus produziam pelo contato com o vento, juntou alguns deles de diversos tamanhos e improvisou uma flauta. Essa flauta emitia um som maravilhoso, então, ele, apesar de feio, ao tocá-la, passou a ser perseguido pelas moças, que ficavam como que enfeitiçadas por sua música.

sexta-feira, 28 de junho de 2013

Ninguém me Conhece: 77) Admirando (publicamente) o Poema Novo

São Paulo, 27 de junho de 2013.

Passa um pouco da 1h da madrugada. Acabo de chegar do sobrevivente Café Piu Piu, no ainda charmoso bairro paulistano do Bixiga, onde hoje (aliás, ontem, porque hoje já é amanhã) rolou um projeto do grupo Vitrine (que lembra, na proposta, o Caiubi), que envolveu várias bandas e alguns poetas, pelo que entendi. Cheguei atrasado, e só pude ver o último show, do grupo Poema Novo. Mas me dei por satisfeito. Fazia tempo que eu não me surpreendia como hoje. Saí de lá praticamente correndo, pra poder chegar em casa e escrever estas linhas ainda inebriado do que presenciei. Estou um pouco "alto", do vinho ruim que ingeri, confesso, mas estou um gigante da música que ouvi/vi. Tenho em mente a frase de minha amiga Lucia Helena Corrêa, que diz: "Se beber, não escreva, nem leia", em contrapartida li também que Hemingway falou: "escreva bêbado, edite sóbrio", então vambora!

terça-feira, 25 de junho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 95) De médicos estrangeiros, imigração japonesa e mão de obra barata

Um dos cursos superiores mais procurados no Brasil é o de Medicina. Consequentemente é um dos que possuem mais candidatos por vaga. E por quê? Porque os brasileiros adoram essa profissão? Não! Porque é uma cujos profissionais são mais bem remunerados. Contraditoriamente, li há alguns dias que há várias regiões do país onde há carência de médicos. Confesso que a notícia me surpreendeu. E me surpreendeu mais saber que, por causa disso, o governo brasileiro começa a se mobilizar pra contratar médicos estrangeiros, sobretudo de Cuba, Portugal e Espanha. Nesses dois últimos há um grande número de bons profissionais na área que se encontram desempregados, devido à crise europeia. Já no caso de Cuba, é notório o reconhecimento da qualidade da medicina nesse país, e, como o sistema de governo ali não remunera bem tais profissionais, a um sinal do governo brasileiro haveria um batalhão deles disposto a trabalhar onde quer que fosse.

domingo, 23 de junho de 2013

Crônicas Desclassificadas: 94) O preço da ignorância

No texto passado (este) tentei destrinchar um pouco os intrincados meandros do MPL (Movimento Passe Livre). Hoje vou deixá-lo de lado e exprimir meu pensamento a respeito da outra parcela dos manifestantes: o povo. Pelo que pude notar, as pessoas estão cansadas do modelo vigente. E eu consigo entender os motivos. Atualmente o dinheiro fala mais alto em todas as relações, inclusive as partidárias. Daí a corrupção, os mensalões, os caixas dois, os dinheiros em cuecas, os pmdbs, os ministérios usados como moeda de troca, os sarneys, os renans, os felicianos, os... Todos são frutos desse sistema corrompido, que já há tempos não consegue se equilibrar sobre as pernas. E o povo, que desde sempre tem sido a parte mais sufocada nesse estranho organismo, começa a dar sinais de que não aguenta mais. Toscamente, claro, cambaleante, sem discurso (afinal, é reflexo de séculos de opressão), mas persistente.