sábado, 29 de março de 2014

Grafite na Agulha: 23) O mundão sem porteira de Chico César

Nossa democracia (assim mesmo, com d minúsculo), apesar de praticamente balzaquiana, continua trazendo em si uma inconsequência juvenil. Talvez porque, após décadas sombrias, esteja ainda se fartando no desbunde da liberdade plena. Só que liberdade sem memória não passa de prisão maquiada. Vivemos uma época esquisita, em que os homens livres menosprezam nossos avanços e gritam pela volta da mordaça. Hoje estão na moda intelectuais de direita, filósofos de direita, humoristas de direita, compositores de direita(!). A hipocrisia permeia as relações, inclusive as musicais. O debate é ofensivo. Ao menor atrito, o interlocutor se parte em mil pedaços (quando não parte pra cima). Daí que o mais importante deixa de ser a obra e passam a ser as relações "diplomáticas". 

terça-feira, 25 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 125) Um tour pelos banheiros masculinos

Os banheiros públicos são uma espécie de dutty free, uma zona franca das convenções, digamos, fisiológicas. Um dos poucos lugares em que ainda não puseram câmeras (eu acho). Daí, como o grau de fiscalização (externa) inexiste, os comportamentos costumam ser distintos dos que temos da porta pra fora. Sempre tive curiosidade a respeito do que se passa no banheiro feminino. Em certa ocasião cheguei mesmo a perguntar a respeito das "anormalidades" que ocorreriam por lá a uma amiga, que, pra minha frustração, me disse que ali as damas – com uma ou outra exceção – também continuam damas, mesmo porque estão sempre atentas ao deslize alheio, motivo pelo qual, se uma se exalta a portas fechadas, as que estão retocando a maquiagem acabam dando um tempinho a mais pra flagrar a desinfeliz no ato.

quinta-feira, 20 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 124) O deslocamento do eu

O duplo secreto
(René Magritte)
Nós, que viemos da periferia, se quisermos "vencer" na vida, temos de aprender a ir ao centro, que é onde as coisas realmente acontecem. Aliás, ir só não basta. Temos de fazer parte dele de forma tão intrínseca, que não dê pra voltar atrás. De forma que ele é que passe a fazer parte de nós. Vejamos um exemplo sob o aspecto geográfico: o Brasil. Seu centro é, efetivamente, a duplinha São Paulo e Rio de Janeiro. Tudo o mais é periferia. Claro que há as periferias próximas, como Minas Gerais e Paraná, que são quase centro, mas fazem parte de uma minoria. Em geral, uma periferia é uma periferia. Uma ponte que cai em Roraima em nada vai influenciar no trânsito de São Paulo. É como se o acontecido tivesse ocorrido em, sei lá, Liechtenstein.

domingo, 16 de março de 2014

Grafite na Agulha: 22) Mariana Avena e o Raíces de América

Zé Luiz Soares não é um cara de fácil trato; meio fechadão, na dele, nunca foi dado a muitas gracinhas. Confesso que no começo tive dificuldades no lidar com ele. Com o tempo, contudo, fui entendendo-o melhor. O é desses poucos que não andam de mãos dadas com a hipocrisia; opinioso, convicto, jamais fugiu a um bom debate. Um esquerdista à moda antiga, mais que isso, um idealista (e palmeirense, como eu). Não à toa trocou a segurança de um emprego estável pelo risco ao se tornar proprietário (juntamente com Rozana Lima) de uma pequena e charmosa casa de shows no paulistaníssimo bairro do Bixiga, o saudoso Villaggio Café. E o risco mostrou-se tão acertado, que, de tanto abrir espaço a novos e consagrados talentos da boa MPB, Zé Luiz acabou sendo convidado a fundar e dirigir a gravadora Lua Music.

quinta-feira, 13 de março de 2014

Crônicas Classificadas: 36) Minha primeira vingança inconclusa…

Adoro livros não só pelo que contêm dentro deles, mas sobretudo pelo que está contido a seu redor. Muitas vezes as histórias por trás dos livros são igualmente interessantes: processo de criação, momento que o autor estava vivendo etc. E também as histórias dos leitores em relação a tais livros. Eu mesmo tenho muitas. Qualquer dia conto uma ou outra por aqui, mas hoje vim apenas compartilhar o fruto de um furto meu (autorizado pelo furtado): meu amigo Sérgio-Veleiro, grande poeta e cronista, divulgou no face recentemente uma crônica que ele recém-postara em seu blogue (aqui) na qual contou uma deliciosa e peculiar história em que mesclou amor aos livros e uma vingança inconclusa. Aliás, eu diria que a tal vingança se concluiu, por fim, mas revertida. Estou seguro de que vocês vão gostar. A ela, pois:

segunda-feira, 10 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 123) As ervas daninhas (e as redes sociais)

Os novos tempos deviam trazer com eles um manual de instrução pra que nos pudéssemos adaptar mais facilmente. Fora os jovens e as crianças, que são autoadaptáveis, nós, os adultos (ou serei só eu?), costumamos penar pra entender mecanismos que pros pimpolhos parecem simples. Se não me engano, foi Woody Allen quem disse que o computador surgiu pra resolver problemas que antes não tínhamos. È vero. Claro que a modernidade traz com ela muitas coisas bacanas, algumas das quais passam a ser imprescindíveis pra nós, como, por exemplo, o celular. Quando surgiu esssa pequena encrenca, fui dos últimos a comprá-la. Aliás, no início, nem a comprei. Ganhei de presente da consorte seu velho tijolão, que ela trocara por um novo. De lá pra cá, por iniciativa própria, fui renovando os modelos, mas sempre, teimosamente, depois que toda a humanidade já o tinha feito.

quinta-feira, 6 de março de 2014

Crônicas Desclassificadas: 122) A peleja dos inocentes(?) com os culpados(?)

Após quatro dias fora do ar, numa verdadeira maratona de "retiro etílico", nesta quarta, mais que de cinzas, acinzentada, resolvi gastar um tempinho pra ler as notícias dos dias em que estive "fora". Por incrível que possa parecer, a que mais me chamou a atenção... Aliás, chamar a atenção é pouco; diria que a notícia que mais me chocou passou por aqui quase despercebida. Afinal, estávamos todos – cada um a sua maneira – brincando de ser felizes. Pois bem, a tal da notícia, que li na Folha de São paulo de segunda passada (aqui), começava com uma assustadora manchete: Mídia diz que atentado foi '11 de Setembro' da China. Aí é que está! Do 11 de Setembro dos EUA nenhum de nós se esquece, mas dessa versão chinesa ouso dizer que ninguém nem soube, daí, como lembrar?