sábado, 26 de fevereiro de 2011

Ninguém me Conhece: 38) Daniel Gonzaga, um homem melhor de ideia

A primeira vez que ouvi falar de Daniel Gonzaga foi num especial da Rede Globo em que ele apareceu, tímido, um tanto inseguro, cantando Sangrando, do pai Gonzaguinha. Tímido, sim; inseguro, sim; mas muito parecido com o pai, sobretudo no timbre e na firmeza da voz, que naquele momento parecia não lhe pertencer. Não tive como não me emocionar. De repente, atrás dele desceu um telão e lá estava o velho Luiz Gonzaga Jr. sangrando com o filho, num tardio dueto. Aí foi impossível conter o pranto. Naquela noite eu não imaginava que nossas vidas ainda iam se cruzar.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Trinca de Copas & Trinca de Ouro - Prefácio

Depois de tanto tratar da vida alheia, tomei coragem e resolvi advogar em causa própria. Explico: Pelas minhas contas, já ultrapassei as 500 canções. A maioria delas, infelizmente, continua inédita, mas, de uns tempos pra cá, a procura por elas por parte de cantoras ou parceiros tem aumentado, lenta, mas gradativamente. Então, pensei que, se tenho um espaço que trata de música, seria muito burro se não o aproveitasse pra divulgar também as minhas. Ainda mais agora que, por conta de tantas "colunas", cada vez mais leitores têm passado por aqui. Vai que cantores/as que não sofrem de preguiça também resolvem visitar meu espacinho pra garimpar canções, né?

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Ninguém me Conhece: 37) Quem conhece Bárbara Rodrix?

Não tenho absolutamente nada contra Mallu Magalhães. Acho mesmo engraçadinho seu som e charmosa sua figura. Suas composições estão de acordo com sua idade. E ponto. O que me deixa embasbacado é ver homens barbados (não, não estou me referindo a seu namorado), críticos que se dizem sérios, tratando-a como a salvação da lavoura. Além de ser muita responsabilidade pra garota levar nas costas, ainda é um baita de um desrespeito a inúmeros artistas do país que têm o dobro de sua idade, talento pra dar com pau e que não recebem nos jornais nem uma linhazinha sequer dessa crítica chamada "especializada". A opinião da grande maioria dos críticos da atualidade parece estar a serviço das gravadoras.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Os Manos e as Minas: 2) Meu amigo Antônio Carlos e a construção de Chico Buarque

Quando comecei o então colegial (hoje ensino médio), acabei, por afinidade, aproximando-me de um rapaz que era uma figura. Nem muito alto nem muito baixo, magro, dono de uma escandalosa gargalhada, era a simpatia em pessoa. E tinha um cabelo que insistia em crescer pros lados, o que o fazia se parecer com uma espécie de Bozo moreno. Não era exatamente bonito, mas tinha uma surreal cantada que sempre pegava as pretendidas no contrapé. Como não tinha um pingo de vergonha na cara, onde estivesse, se lhe interessasse alguma garota, aproximava-se dela com a maior naturalidade e soltava a pérola: “Oi, posso te conhecer?” Dizia isso com um sorriso de orelha a orelha. Tal gesto à queima-roupa deixava a garota, incrédula, sem ação pra dar uma negativa, e era justamente no vácuo desse momento que ele aproveitava pra lançar sua metralhadora de absurdos e fazer que ela se acabasse de rir. Simples assim. Em cinco minutos já tinha conseguido da desavisada um sim pra um cinema ou pelo menos lhe arrancara o número do telefone. Outro talento seu era o xadrez. Foi com ele que aprendi a jogar (mal). E até hoje não o venci mais que duas vezes! Em compensação, poucas vezes na vida conheci alguém tão destrambelhado no trato com a bola. Tê-lo no time era certeza de vitória (do adversário). Ah, o nome do moço: Antônio Carlos, pra turma, o Toninho.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Ninguém me Conhece: 36) A amazônica elegância de Enrico Di Miceli

Fora uma ou outra premiação em festivais, a oportunidade em que me senti mais prestigiado como compositor foi quando viajei pra Macapá pra assistir ao show de lançamento do CD de Juliele (o nome do CD é o nome da cantora), cantora amapaense que gravou Com a Razão, uma parceria minha com Bárbara Rodrix. Detalhe: a passagem e a estada foram bancadas pela produção da moça (abro um parêntesis pra agradecer ao marido-produtor - ou seria produtor-marido? -, Carlos Lobato, grande figura!). Por conta disso, eu e Kana (e mais uma série de compositores responsáveis pelo repertório do disco, entre eles Rafael - e Rita - Alterio, Vicente Barreto, Carlos Henry, Celso Viáfora - também produtor musical do disco - etc.) passamos quase uma semana no mesmo hotel onde uma semana antes o então presidente Lula se hospedara. Além de provarmos uma infinidade de deliciosos peixes típicos da região, fizemos um inesquecível passeio de barco pelo Rio Amazonas, com direito a uísque, cerveja, música e visitas a alguns ribeirinhos em seu habitat. Ah, e o show foi ótimo, com a bela e afinada cantora Juliele acompanhada por uma superbanda. E ainda tive a alegria de presenciar a plateia cantando junto a letra de minha parceria com Barbarinha, que na época vinha sendo executada nas rádios locais.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Crônicas Desclassificadas: 9) Invasores de corpos

Sempre tive dificuldade em me adequar ao senso estético coletivo. Quando, vencido, cedia, sentia-me um alienígena dentro de uma roupa que não me traduzia. Na década de 80, por exemplo, voltou à moda o uso de cabelos compridos (esta é uma moda que sempre teima em ressuscitar), só que, desta feita, espelhando-se em Paulo Ricardo & cia ltda., o corte era aparadinho nas laterais e longo só atrás, meio que como um rabo de cavalo. Como todos os meus amigos aderissem, lá fui eu tentar o ridículo corte que em mim ficou ainda mais ridículo. Na tentativa de ficar parecido com o ex-RPM, fui traído por meus crespos cabelos, que, se rebelando, me deixaram mais parecido com um Amado Batista.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Crônicas Desclassificadas: 8) Tratado sobre o Desamor

Um dos maiores males que acometem a humanidade é, sem dúvida, o desamor. Chega a ser pior mesmo que o egoísmo, visto que o egoísta, se não é dotado da capacidade de dar amor, ao menos é capaz de aceitá-lo. Já quem sofre de desamor guarda no lugar do coração um pedaço de gelo seco. Ouso dizer que as guerras existem por causa de cidadãos que, detentores do poder, são portadores dessa doença. Na História há muitos exemplos: Hitler, Mussolini, BushKim Jong-il...

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Ninguém me Conhece: 35) Montevideo, el acuario de Dany López

Eu sou um sentimental! Fazia meses que vinha querendo escrever este texto, mas sempre algo me impedia... E eu não sabia por quê! Hoje eu soube. Fazendo um retrospecto a respeito dos textos desta coluna, constatei que o que sempre a moveu foi, em primeiríssimo lugar, o coração. E este cara que ora lhes apresento merecia um texto que fosse saído, mais que do coração, das entranhas. E foram justamente "detalhes tão pequenos", vindos do cotidiano, que me acionaram o alerta de que a hora de escrever estas maltratadas (by Marcio Policastro) havia chegado. Deu-se assim: Trabalhei o dia todo hoje (escrevo no domingo, 30/01), voltava pra casa cansado, um tanto mal humorado, quando, ao descer na estação Brigadeiro do metrô e caminhar poucos metros pela avenida Paulista, encontro, num boteco no calçadão, ninguém menos que meu amigo Reynaldo Bessa, grande cantautor que guarda um Jabuti na estante e um fabuloso blog (chamado Algarobas) nas estantes virtuais. Em cerca de vinte minutos conversamos o equivalente a três horas. Em determinado momento, ele sentenciou: "Léo, ninguém vai nos agradecer por fazermos o que fazemos! Nós temos que continuar fazendo apenas porque é isso que sabemos fazer!". Voltei pra casa pensativo, um tanto abalado, eu, que sempre fui positivo... Em casa me esperava uma ansiosa e prestativa Kana, que me pôs pra relaxar numa banheira de água espumante (e fria), e, enquanto eu achava que já estava no paraíso, trouxe-me uma Heineken trincando! Amolecido pela água (e pela outra água), gastei uma boa meia hora filosofando sobre as contradições da vida, as palavras do Bessa, e não é que a janela entreaberta me soprou um "vento de Montevidéu"? Na hora me lembrei de que havia visto no facebook que nesta semana faz aniversário mi hermano Dany López... E as palavras do Bessa ecoaram: "Temos que continuar fazendo apenas porque é isso que sabemos fazer"... E a mágica se deu!

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Crônicas Classificadas: 11) Yo y la publicidad

Já deixei claro neste espaço por várias oportunidades que tenho um carinho muito grande pelo Uruguai. Um grande país se faz com grandes pessoas, grandes atitudes, com pensadores que sejam também providos de grandes sentimentos. E, pra mim, o exemplo maior de um grande uruguaio é Mario Benedetti, escritor e poeta falecido em 2009. Na Argentina há espetaculares escritores, mas ser argentino não é fácil; a tradição faz pesar a camisa; a intelectualidade quase europeia, ou, como diria Marcos Aguinis, o atroz encanto de ser argentino, essa conjunção de fatores deu ao mundo escritores de complexa (e por vezes exaustiva) literatura. Benedetti, sem essa responsabilidade, tornou-se um escritor que, sem detrimento da intelectualidade dos vizinhos, alcançou alta carga dramática, resvalando no sentimentalismo sem, contudo, sucumbir a ele. Tal mescla resultou em romances fantásticos, como A Trégua e Gracias Por El Fuego, entre outros (sem falar em seus pungentes poemas).