quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Grafite na Agulha: 48) A vida selvagem dos Wings

Meu amigo Erico Baymma, que nasceu em Minas, mas é cearense de coração (e de vivência), compositor inspirado e cabra dono de uma escrita das mais finas, presenteou-me (a meu blogue — e mais especificamente esta coluna — e a seus leitores) com um depoimento belíssimo sobre o disco em questão. Queria ter tempo pra fazer um prefácio melhor, mas, como ele me pediu encarecidamente que publicasse esta prosa antes do dia 7 corrente (data em que o disco em questão será mundialmente relançado dentro de uma caixa com os dois primeiros discos do Wings, entre outras coisas), passei por aqui rapidamente pra viabilizar a publicação. Divirtam-se com o texto e o disco.

domingo, 25 de novembro de 2018

Crônicas Classificadas: 47) A física de Chico Buarque

A vida em sociedade é um ato político. Assim, todo ser humano, em contato com o meio, acaba se transformando num ser político. Inclusive os alienados o são, embora não saibam disso. A política permeia nossas relações, sejam elas profissionais ou afetivas. Quando saímos de casa, independente de pra onde estejamos indo, levamos conosco nossa bagagem política. Assim também o faz um professor. Não existe neutralidade. Claro, existem as ocasiões que se nos apresentam; há os momentos propícios pra algo e os que não o são. O bom senso é primordial. Especificamente falando sobre essa suposta "escola sem partido", considero-a, mais que uma grande bobagem, algo difícil (pra não dizer impossível) de se pôr em prática.

quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Esquerda, Volver: 23) Bolsonaro, é melhor já ir se acostumando: a esquerda não morre!

Estava preparado pra publicar este texto no sábado véspera da eleição, mas fui alertado de que a partir das 22h usar as redes sociais pra fazer propaganda política seria considerado crime, então aguardei seu término e o publico (e divulgo) agora, adaptado.

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Por Francisco Daniel
A esquerda sempre existiu. Se pensarmos bem, Jesus Cristo pode ser visto como um cara de esquerda. Também pacifistas como Gandhi, Martin Luther King Jr., Mandelao papa Francisco... Pepe Mujica é de esquerda. Quem se posiciona como um esquerdista é aquele que se preocupa com a situação dos mais pobres, das minorias. Um esquerdista jamais diria que vai governar pras maiorias e que "as minorias ou se adequam ou desaparecem". A esquerda odeia injustiça e principalmente a lavagem cerebral. Que é o que tem acontecido hoje. Os mesmos inocentes úteis que viram sua vida melhorar durante os governos petistas foram bombardeados implacavelmente por uma imprensa claramente coronelista e acabaram "comprando" um discurso cujas vítimas são eles mesmos.

segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Canções em Colisão: 1) Eu levo a vida ou é ela que me leva?

Tenho trabalhado muito nesta minha fase nipônica, o que me dificulta escrever com a regularidade de que gostaria. Quando as ideias pintam, rabisco rapidamente pra não esquecê-las e vou cuidar da vida até o momento em que o cansaço e a preguiça não me vencem. Reparem: estou retocando esta prosa já faz mais de um mês e não logro finalizá-la. Este prefácio, inclusive, não existia no original; entretanto, resolvi incluí-lo só pra deixar vocês a par deste parto que é o ato de escrever quando o tempo não ajuda. Entretanto, estou contente; esta nova fase tem me trazido muito aprendizado. E o que vem a seguir trata um pouco disso. Pra tal, resolvi estrear nova coluna, que se chama Canções em Colisão (aceito sugestões). Vamos a elas.

terça-feira, 11 de setembro de 2018

A Palavra É: 45) Espera

Por Francisco Daniel
Auri, mina que não tá no gibi, minha prima, gatinha dupiru, obra-prima de seu Mané e dona Du — cujo mais novo mano, o sagitariano Dênis, que não dá boa rima (não me condenes), quando moleque brincava de ser um calhambeque sem breque —, escolheu assim meio no breu, sem querer querendo, a palavra que ora lhes vendo... pero gratuitamente: a polivalente "espera", que sabe fazer das suas e se virar em duas. Ora submissa e passiva, dessas que não veem outra alternativa que não sofrer, se foder e ainda ver prazer em esperar pela redenção eterna... talvez depois de quebrar o pescoço mais que a perna; e ora a ativa, que, enquanto espera, é radioativa e solta elétrons na saliva, pertencente ao grupo dessa pouca gente que, enquanto espera, quase põe abaixo a esfera.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Esquerda, Volver: 22) Por que eu (ainda) sou Haddad

Quem me conhece pessoalmente ou pelo menos acompanha com certa regularidade meu blogue sabe que tenho sido neste espaço ferrenho crítico dos governos petistas desde que o então presidente Lula se aliou com tudo o que há de pior na política brasileira pra poder governar. Meu amigo Teju Franco, que sabe mais de política que eu e, além do mais, é bastante pragmático, tem sido um sujeito que sempre procuro ouvir — embora vez em quando discorde dele — pra entender melhor a ferramenta da governança, e saquei que em algo estamos de acordo: Lula foi o melhor presidente que o Brasil já teve desde... Juscelino? Vargas? A questão é que, discordando de Teju, entendo que Lula formou mais consumidores que seres pensantes. E eu, que mal compro mais que arte, comida, vestuário e birita, sempre me senti na contramão dessa "formação" de cidadão.

sexta-feira, 3 de agosto de 2018

A Palavra É: 44) Tempo

Por Francisco Daniel
"Quem fica parado é poste." Essa genial frase do grande Zé Simão talvez resuma o que chamamos de tempo. Sim, o tempo deve ser um poste (não confundir com um post), visto que vive parado. Cazuza disse que "o tempo não para"; já eu digo que o tempo não passa. E contrariando também Pablo Milanés, que diz que "el tiempo pasa". Vale, em relação à parte do "nos vamos poniendo viejos" estou de acordo. Só discordo em relação ao tempo: o tempo (o poste) não passa. Quem passa somos nós. Aliás, se é pra ser bem sincero, e abusando dela, da sinceridade, diria mais. Acho até que o tempo não existe, não passa de uma criação do homem (como Deus?). Já entrei em muita prosa viajandona com meu bróder Élio Camalle sobre o tempo. Mas abramos um parágrafo novo.

segunda-feira, 30 de julho de 2018

Esquerda, Volver: 21) Chico & Gil, 45 anos sem se calarem

Por Mauro Pimentel
Era uma vez um maio de 1973. Eu não tinha nem 2 anos, mas depois li, me informei, procurei saber. A ditadura (esta que hoje o sr. Bolsonaro apoia — e a serviço da qual está) andava firme e forte, com a petulância, a arrogância e a ignorância (no meio da ânsia do povo) trocando de papéis na rima pobre. Foi quando Gilberto Gil e Chico Buarque subiram ao palco pra apresentar a então novíssima Cálice, até hoje uma das poucas parcerias entre os dois. Eles sabiam que o mar não estava pra peixe. Aliás, os peixes viviam meio que se fazendo de espécies terrestres. O fato era que a canção composta por ambos, que trazia em si um desafiante trocadilho, passara despercebido pela censura.

terça-feira, 24 de julho de 2018

Grafite na Agulha: 47) Gilberto Gil, o último a sair do avião

Ah, Gilberto Gil... Quanta coisa podemos falar sobre você... Seu violão baianamente orgástico... sua relação sancho-panciana com o lindamente quixotesco Caetano Veloso... sua prosopopeia... sua verborragia; mas sempre a favor da melodia... seu começo rechonchudo e seu final (final?) esquálido... enfim, super-homem é você, meu mano! Sua fase petralha partindo ao meio um ser meio assim ACM ("são dois no ringue: você e você")... Tantas contradições... Tantas tradições... Seu medo de morrer (logo você, que não morrerá nunca!)... Ah, Gilberto Gil, o rei da brincadeira, o rei da confusão... Aquele abraço!

quinta-feira, 19 de julho de 2018

A Palavra É: 43) Empatia

Por Francisco Daniel
Aprendi a suportar muita coisa na vida: humilhações, trabalho duro, as fatalidades do destino, o fato de não ter nascido rico, a falta de jeito com o sexo feminino etc. e tal. No entanto, nunca aprendi a lidar bem com o descaso. Claro, refiro-me àquele de outrem em relação a mim, visto que me dou às mil maravilhas com o descaso que sinto por terceiros. É neste ponto da prosa que entra nova personagem: uma amiga querida (que nem é tão próxima assim) por quem tenho grande admiração intelectual e com quem compartilho certa visão ideológica de mundo. Ela, mais na teoria; eu, mais na prática.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

Oitavo aniversário d'O X do Poema

Neste 9 de julho de 2018, ano de Copa do Mundo na Rússia e de eleições na Terra Brasilis, escrevo eu por vez primeira desde lejos pra tratar do oitavo aniversário deste famigerado bloguinho (ou seria um humilde blogão?). Muita coisa aconteceu nestes mais recentes 365 dias, muitas sobre as quais escrevi aqui mesmo. Assim, como de praxe, trouxe pra esta publicação as 20  (tá, 21) que obtiveram mais visitas nesse curto (loooongo!) espaço temporal, o que não deixa de ser uma oportunidade pra que aquele leitor que ainda não teve a possibilidade de se deleitar (ou se aborrecer) com a leitura de algum pertencente a esta vintena o faça. Comemoremos juntos esta conquista, que de fracassos estamos fartos.

sábado, 30 de junho de 2018

Crônicas Desclassificadas: 193) Carta a Lionel Messi

¡Che, pibe! que mala suerte que hayas nacido en Argentina, ¿verdad? Dejame que te escriba esta cartita que me sale del corazón. Va escrita en mal español o, mejor dicho, en buen portuñol, pero, como dice un amigo brasilero, "es lo que tenemos para hoy" (né, Mecca?). Te quiero, Messito, me gustás, aunque no te sigo mucho por razones privadas. Pero te vengo a tranquilizar y decir que no, ¡no sos el culpable! ¡Para nada! Todo lo contrario. No encuentro en vos culpa ninguna. Sos todo un inocente. Y, a la vez, capaz que sea esta tu más grande culpa. Hoy día, no está permitido a ninguno eso de ser inocente. Somos todos culpables... Y yo me incluyo a mí, ¡un reculpable! Es decir, si bien que en el tribunal, como diría el gran español Joaquín Sabina, vecino tuyo, "lo niego todo".

quarta-feira, 27 de junho de 2018

Esquerda, Volver: 20) Eu, política e Copa do Mundo

O futebol é o ópio do povo... Será? Essa afirmação vive em nossos corações e mentes há muito tempo. Já disseram que a religião era o ópio do povo etc. Sem entrar no mérito de se é ou não é, vou mais além: e se for? Igualmente não seriam as drogas, o álcool e as artes em geral? Alguém (mais de um) já disse que a poesia não serve pra nada. No entanto, tantos se dedica(ra)m a ela — não é, Lúcia Santos? Não é, Vlado Lima? E, afinal, num mundo tão cruel e injusto como o nosso, um pouco de ópio (no melhor dos sentidos) não seria de certa forma bem-vindo, seja em forma de religião, seja em forma de futebol, seja em forma das tantas artes que pipocam mundo afora...?

domingo, 10 de junho de 2018

A Palavra É: 42) Exílio

A terra é redonda — referimo-nos ao planeta, assim, grafemo-la com maiúscula. Um giro completo dela — a Terra, o planeta — leva 24 horas. A história se repete. Dizem que às vezes em tom de farsa. Farsante eu, como posso dizer que essa afirmação é (ou não) verdadeira? Quando muito, posso apenas afirmar que me coube viver nesta época e que tenho me esforçado pra viver bem, tanto no que diz respeito a desfrutar dela (da época) quanto no que diz respeito a ser um homem de meu tempo, com suas preocupações, seus prazeres e suas (des)culpas. Como de culpas estou até aqui (visualizem, atentos leitores), prefiro pensar em tudo o mais. No mais, como acredito em reenca(de)rnação, melhor pegar leve comigo durante a viagem desta carcaça que me coube habitar...

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Grafite na Agulha: 46) Um "engenheiro" no Japão

Sempre me disseram que sou um cara esquisito. E eu acredito, e concordo — toda vez que me olho no espelho. Sou nota dissonante no coro (geral) dos contentes. Por essas e outras, gastei mais de quatro décadas procurando os soldados pra meu exército, o de um homem só. O foda dessa busca é que, quando encontrava alguém, esse alguém fazia parte de outro exército, visto que se alistara em seu próprio... exército de um homem só. Já adolescente, quando todos gostavam de Paralamas, Titãs, Legião, eu (embora gostasse também de todos esses) viajava mais na infinita estrada de uns caras esquisitos vindos lá dos pampas, cujo cantor insistia em cantar, com a maior naturalidade, o erre gaúcho (que é igual ao de Sampa, embora — quase — todos o reneguem). O que me chamava muito a atenção neles era que, como eu, eles tinham fé cega e pé atrás.

domingo, 13 de maio de 2018

Esquerda, Volver: 19) Por mais humor (e amor) na esquerda

Há pouco tempo, meu querido amigo Julinho Camargo, figuraça, grande músico e intérprete da cena paulistana e dono do Garagem Vinil — importante QG da música independente de brasuca e que abriga, entre outras coisas, as noites autorais do Clube Caiubi de Compositores —, fez no Facebook mais uma de suas tantas brincadeiras. Sujeito bem-humorado e com boa quilometragem, soltou ele: "Cheguei à conclusão de que mulher bonita tem que pagar mais caro. Elas dão muito trabalho." Teria sido apenas mais uma inofensiva piadinha, talvez com certo quê machista, admito, mas todos que o conhecem sabem que não houve maldade ou desrespeito no comentário. Eu mesmo, quando li, praticamente o imaginei ao vivo comentando e dando em seguida uma boa gargalhada (vejam como foi aqui).

quarta-feira, 9 de maio de 2018

Crônicas Desclassificadas: 192) A arte do encontro

Sonhei recentemente com o diálogo a seguir. O jeito foi acordar e transcrevê-lo. Com algumas adaptações, claro, mas só pra não dizer depois que não fiz nada.


A arte do encontro


Lá vem ela, apressada, caminhando a passos largos. Ele vai em sua direção, devagar, mãos nos bolsos e assoviando. Quando a vê, abre um sorriso de comercial de pasta de dente, como se acabasse de encontrar uma velha conhecida, e a aborda:

— Oi! Você tá indo no sentido errado. O caminho certo é por aqui.

— O quê? Como assim? Moço, desculpa, mas eu tô com pressa.

terça-feira, 24 de abril de 2018

Notícias de Sampa: 22) Vlado Lima — sabe de tudo, culpado!

Quando neste sábado próximo, também conhecido como 28 de abril de 2018, meu amigo Vlado Lima estará no memorável Garagem Vinil lançando seu terceiro livro de poemas (a saber: Sabe de nada, inocente! de sua editora Sopa de Letrinhas), às 19h (com pontualidade NADA britânica), muito provavelmente eu, homem do futuro (visto que estou 12 horas à frente dos irmãos brasucas), estarei despertando pra manhã do dia seguinte em Tóquio, contudo querendo ter uma dessas máquinas de teletransporte que há (há?) por aí que me possibilite estar lá na rua Mourato Coelho, 585, Pinheiros, na velha Sampa City — ah, faltou falar que nessa mesma noite o sarau Sopa de Letrinhas estará comemorando seus 16 anos de sucesso! Das duas uma: ou virarei pro outro lado e pensarei em dormir mais um pouco, visto que será domingo, ou me levantarei e, contra minha religião, tomarei algo "mais forte" tão cedo só pra fazer um brinde ao evento e a seu sucesso.

segunda-feira, 9 de abril de 2018

Esquerda, Volver: 18) Lula, uma ideia

Por Francisco Proner Ramos
"Nunca antes se roubou tanto neste país" é a frase que mais ouvimos sair da boca dos inocentes úteis. Como se roubar no Brasil fosse uma novidade petista, ou melhor, petralha. O que esses inocentes não sabem é que antes do governo petista nenhum presidente deixava ir em frente qualquer investigação que ousasse chegar a seus calcanhares. Não à toa, o procurador-geral do governo FHC foi apelidado de "engavetador-geral". A História, todos sabemos, é contada pelo viés dos vencedores. Fernando Henrique Cardoso, no entanto, a menina dos olhos dos intelectuais, sociólogo, professor universitário, escritor etc., quando virou presidente pediu pra que esquecessem o que ele escrevera. Ou seja, abandonou as convicções e se deixou engolir pelo poder. Tanto, que não fez seu sucessor...

sexta-feira, 30 de março de 2018

De Sampa a Tóquio: 14) De terremotos e outros tremores

Fazia tempo que não voltava a esta coluna, e devo satisfações à leitora interessada e ao leitor estressado. Quando cheguei aqui, tinha a intenção de escrever regularmente a respeito de minhas experiências — a saga do cearense em Tóquio —, mas os afazeres do dia a dia foram me afastando do intuito. Explico: nos primeiros dias, tudo era novidade — claro, já tinha vindo outras vezes, mas nunca pra morar. No entanto, com o passar do tempo o que era novidade deixou de o ser e a preguiça foi tomando conta de mim. Até porque sempre quis que os relatos fossem interessantes, e escrever por escrever, geralmente coisas sem importância do cotidiano, pareceu-me uma perda de tempo tanto pra mim quanto pra quem lesse.

sábado, 24 de março de 2018

A Palavra É: 41) Logradouro

Não lembro exatamente o ano — quando muito, posso afirmar que foi num dos primeiros depois da virada do século —, o que, sim, lembro bem é o embasbacamento pelo qual fui tomado quando ouvi pela primeira vez a canção Logradouro. Já conhecia seus autores e era razoavelmente próximo deles: Rafael Alterio, pra mim, um dos maiores melodistas que o Brasilzão ainda não teve o privilégio de conhecer, e Kleber Albuquerque, também ótimo melodista e um dos letristas mais originais que surgiram nas últimas décadas. Outra coisa que me vem à memória quando penso nessa canção é a inveja que senti. Falar disso requer novo parágrafo.

terça-feira, 20 de março de 2018

Os Manos e as Minas: 33) A morte e as mortes de Marielle Franco

O assassinato da vereadora carioca Marielle Franco — que, pra informação a quem não mora neste planeta, era negra, lésbica, mãe, nascida e crescida no Complexo da Maré, graduada em Ciências Sociais e eleita na mais recente eleição municipal vereadora pelo Psol, tendo sido a quinta mais votada em sua cidade —, além de gerar comoção Brasil afora, tem servido também pra que desocupados mal-intencionados propaguem suas baboseiras. Entre aqueles que não compartilham dos ideais de Marielle, li alguns relativizarem sua morte e outros mesmo tentarem achar justificativas pra tragédia, ligando-a ao tráfico de drogas.

terça-feira, 13 de março de 2018

Crônicas desclassificadas: 191) Me chame pelos seus livros

Depois do turbilhão de emoções — umas boas, outras nem tanto — que ver este filme me causou, fiquei sem saber como começar esta prosa. Daí, resolvi dar o pontapé inicial tratando de um assunto que aparentemente não tem nada a ver com o tema. Seguinte: acabo de ler Mussum forévis, a biografia do trapalhão Mussum escrita por Juliano Barreto (recomendo, inclusive pra quem não gosta d'Os Trapalhões, porque além do mais mapeia grande parte de nossa música), que me fez fuçar vários vídeos no youtube e parar numa entrevista de Renato Aragão concedida a Jô Soares em que ele fala que não entendia a ferocidade da censura em relação a seu trabalho, visto que nada do que fazia tinha a ver com política, e ouve um comentário mordaz de , que lhe afirma que toda exposição de ideias é política.

terça-feira, 6 de março de 2018

Os Manos e as Minas: 32) Poetizando o olhar de Rob Gonsalves

O que vê o olhar do artista?
Nem te conto
Aponta pr'outro conto de vista
Ponto

Como parte de meu estudo da língua nipônica, Kana me levou a uma biblioteca e me fez ler inteirinho um livro infantil de uma autora chamada Sarah L. Thomsom — em japonês, もちろん. Ler, eu li; entender já é querer demais. No entanto, fiquei maravilhado com as ilustrações do livro e, chegando em casa, fui pesquisar a respeito do sujeito, um tal de Rob Gonsales (assim mesmo, com S), e descobri que ele foi um canadense reconhecido na arte de criar ilusões visuais, sendo considerado um mestre do realismo mágico, sob a ótica da ilustração. E, mais, descobri que eu já tinha usado uma pintura dele noutro texto, um em que, sob encomenda da amiga Vanessa Curci, escrevi sobre ponte (leia aqui). Mundo pequeno, não? Ah, e acabei achando o danado do livro em espanhol. Compartilho, pois, com vocês, abaixo.

domingo, 4 de março de 2018

Grafite na Agulha: 45) Vinicius & Toquinho e seu traçado de paixão e dor

"Como é que pode a gente ser menino/ Ter sua coragem, traçar seu destino/ Sem pular o muro, trepar no coqueiro/ Ir no quarto escuro, mãe me mete medo, mãe me mete medo, mãe me mete medo/ O bicho te pega, boi da cara preta/ Deus te castiga, medo de careta/ Boi da cara preta, mãe me mete medo, mãe me mete medo, mãe me mete medo/ Mas atravesse o escuro sem medo (3x)/ De repente a gente começa a crescer/ Quer uma mulher que não pode ser/ O pai quer matar, a mãe quer morrer/ Não dá pra ganhar, não dá pra perder/ Não dá/ A mulher se joga do alto do edifício/ Porque o mais fácil fica o mais difícil/ Fica o mais difícil/ Mas atravesse a vida sem medo (3x)...

quinta-feira, 1 de março de 2018

A Palavra É: 40) Vírgula



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"A lua é a boca na cara do céu/ O sol é quem acende o céu dessa boca/ Os sonhos são mais altos que arranha-céus/ Ideias são zumbidos de uma muriçoca/ Estrelas são, no breu, luminoso sorriso/ Montanhas são as esculturas dos lábios/ O pensamento é ave num voo indeciso/ O tempo são as páginas de um alfarrábio/ Os astros interpretam o firmamento/ O rio xaveca a terra, mas se casa com o mar/ Poetas são brisas que ouvem o vento/ A música é o som a um passo de gozar/ Paixão é torpedo que erra de destinatário/ Amor é vírus que se contrai pelo ar/ A vida é uma vírgula no calendário/ Se tudo isso é seu/ Me diga quem sou eu/ E o que mais posso te dar."

sábado, 24 de fevereiro de 2018

A Palavra É: 39) Gengibre

Minha "patroa", Kana, faz um karê dos deuses — pra quem não sabe, karê é a versão japonesa do indiano curry. Antes de nossa mudança pro Japão, fomos recebidos na casa de Sander Mecca & família pra um bota-fora, e, pra enriquecer ainda mais o cardápio preparado pelos anfitriões, Kana mais uma vez nos brindou com seu karê. Sander, maravilhado, perguntou-lhe qual seria o segredo de tão mágico sabor; e Kana lhe respondeu com simplicidade: "O segredo está no gengibre." Claro que eu já estava a par desse "segredo". Aliás, mais que isso; já tinha o costume de propagar o bendito gengibre pra cima e pra baixo, e não poucas vezes fora do contexto culinário.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Os Manos e as Minas: 31) Na ilha de Chico, no barco de Caetano

Tom Zé, nos primórdios, quando a Tropicália ascendia, ao ser questionado num programa de TV a respeito das diferenças estéticas entre eles (os tropicalistas) e Chico Buarque, tascou sem dó e com a fina ironia que sempre lhe foi característica que respeitava muito o autor d'A Banda, "pois ele é nosso avô". Claro, Tom Zé, que é oito anos mais velho que Chico, referia-se à música deste, que, segundo ele, parecia antiga se comparada com a que os baianos & agregados andavam fazendo. Já eu costumo dizer que a genialidade de Chico foi revolucionar a música brasileira sem violar sua estrutura, seguindo todos os padrões clássicos. A modernidade de Chico sempre esteve na qualidade do que fazia/faz. Creio mesmo que depois da morte de Noel Rosa o Brasil teve que esperar quase três décadas pra ver surgir alguém com a pena tão refinada.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

A Palavra É: 38) Bunda

Aviso aos navegantes: 
Esta crônica foi encomendada por minha amiga Silvia Maria Ribeiro. Sou um blogueiro sério e costumo tratar de assuntos da mais alta relevência, mas, como bom covarde, não fujo a desafios... só por masoquismo.

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El baño — de Fernando Botero
Vinicius de Moraes em certa ocasião deixou escapar uma afirmação que dita hoje causaria furor na nova inquisição que são as redes sociais e, por que não?, o feminismo exacerbado que vê em cada flerte uma ameaça de assédio(/estupro?). Disse ele, sem medo de ser feliz: "Que me perdoem as feias, mas beleza é fundamental." Levada ao pé da letra (sobretudo desta pequena letra que é o pensamento único das ditas correntes), a viniciana aberração levaria seu autor ao corredor da morte ou, na melhor das hipóteses, ao degredo a que são sujeitas as personas non gratas (Woody Allen?). Contudo, se dermos dois passos atrás pra vermos melhor esta chistosa pérola, perceberemos que Vinicius não tratava da beleza vã, mas da beleza como obra de arte.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Filho da preta! — na boca dos leitores (7)

Venho por esta avisar a quem interessar possa que dei o ponto final a meu segundo romance, A Confraria dos Mascarados, já faz algum tempo, porém ele não pôde ser lançado ainda porque minha mudança pro Japão veio modificar meu calendário. Espero que quando volte possa publicá-lo. Por ora, segue mais uma leva de depoimentos de leitores sobre o primeiro, Filho da preta!. E, desta feita, com um acréscimo importante. Um leitor mais sagaz terá percebido que meu livro foi dedicado a três pessoas; uma delas, no entanto, só agora, quase quatro anos depois do lançamento, encontrou tempo em sua ocupada agenda pra dedicar umas horinhas à leitura dessa minha humilde obra.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Grafite na Agulha: 44) Rica Soares falando dylanês em tempos de xablau

Vou começar a prosa dando um conselho. Como alguns de vocês sabem, estou morando no Japão, e por aqui 99,9% dos profissionais engravatados vestem Prad..., digo, preto — a cor da moda. É quase, como direi?, uma ditadura do preto. O preto sóbrio pra usar no frio, o preto charmoso pra flanar no verão, o leve preto-primavera, o digno preto-outono... Daí, eis que na contramão surge um japa (um china? um ceará???) trajando, sei lá, cor de abóbora. Vai por mim: cola nesse cara, que ele deve ter ideias diferentes na cachola! Tá, pode se tratar simplesmente de um esquisitão, mas o que é a vida sem risco? Agora, rebobinemos (desculpem pelo obsoleto verbo).

sábado, 27 de janeiro de 2018

A Palavra É: 37) Opressão

A opressão vem chegando de mansinho, devagar, sem pressa e sem pressão, sorrateira, rasteira como uma cobra e discreta como um cágado, e, quando de repente dá o bote e envolve o oprimido com seu abraço quebra-ossos, primeiro causa uma sensação de mal-estar, enjoo, comprime o peito do sujeito, asfixia-o e lhe propicia uma forte pressão no cérebro que corta imediatamente o fluxo sanguíneo do pobre, não permitindo que seu pensamento respire. Assim, sequestrado o o oxigênio, começa a vir em seguida uma leseira, quase um "barato", como uma droga que vai corroendo por dentro, uma solitária que vai crescendo dentro do bucho do desgraçado e que pede cada vez mais alimento, fazendo que tudo o que seu hospedeiro ingira vá parar na bocarra da imunda.

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

A Palavra É: 36) Neve

Deus, quando tá de bom humor, lá dos céus manda aos ateus provas de seu amor. E se faz pintor, como se sua janela fosse uma grande tela... e o mundo, uma aquarela. E se faz poeta — sua brincadeira predileta. Digamos que chuva seja prosa; e neve, poesia. Por quê? Porque chover chove todo dia. Já a neve Deus dosa. Versos não são pra qualquer estação. Tem que ser algo especial, grande ocasião, como se Sobral fosse ao Japão. Enfim, tudo isso porque enquanto o poeta escreve lá fora cai neve. E num canto de seu olho cai pranto. Tudo é encanto pra quem sabe lançar a cada paisagem um novo olhar. É assim que a miragem vira realidade; e a verdade, ficção. E quem pode afirmar o que é real e o que não? Na dúvida, vá visitar outra dimensão.

sábado, 20 de janeiro de 2018

De Sampa a Tóquio: 13) Praça 11 é um pouquinho de Brasil

Se você estiver perambulando por Tóquio e de repente bater aquela saudade doída do Brasil, recomendo dar um pulo no Praça 11, tradicional cantinho brasileiro no coração da capital japonesa. É aquele local onde você vai encontrar sempre uma boa caipirinha, um ou outro prato tupiniquim e, se tiver sorte, pode ainda assistir a um bom show de música brasileira. E se estiver REALMENTE com sorte pode ser que justo nesse dia estejam se apresentando por lá nomes tão variados quanto Paulinho Moska, Leila Pinheiro, Grupo Fundo de Quintal, Filó Machado, Arlindo Cruz, João Bosco, Nelson Sargento e muitos outros. E repare que citei apenas alguns entre tantos nomes que já marcaram presença por ali e deixaram sua assinatura na parede central da casa.

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Grafite na Agulha: 43) Nos trilhos da Estação Felicidade

Chegou! Chegou ao Japão a Estação Felicidade, primeiro — e já clássico — disco de Augusto Teixeira! E chegou também às plataformas digitais. Com cerca de dois anos de atraso, mas por um justo motivo. E eu, até com certo orgulho, venho por esta confessar que fui um dos culpados por esse atraso. Explico: há alguns meses, Augusto estava já com o disco terminado e em vias de mandá-lo pra fábrica quando, depois de um encontro em que ele me mostrou algumas faixas, tasquei à queima-roupa: "Cara, bem que cairia como uma luva a voz do Zeca (Baleiro) n'A Luz de Luzia, hem?" Na hora, vi seus olhinhos brilharem e em seguida ele respondeu: "Tá em tempo ainda. Tem o dom de falar com ele? Eu tinha já pensado nisso, mas fiquei com vergonha de pedir..."

sábado, 6 de janeiro de 2018

A Palavra É: 35) Silêncio

Meu querido amigo Paulo Mayr Cerqueira, jornalista, blogueiro (leia seu blogue aqui), frasista merecedor de calorosos aplausos nos tantos saraus nos quais participa pelos palcos paulistanos, microcontista e grande apreciador da boa culinária e de bons tragos (não exatamente nessa ordem), ao me saber neomorador de terras nipônicas teve a feliz ideia de me sugerir um texto em que o tema fosse o tão importante... silêncio. Claro, ele, como intelectual que é, e ao mesmo tempo morador do centro paulistano, ali pelos arredores do Baixo Augusta, sabe dos pesos e das medidas de ser quem é morando onde mora. E eu, que fui praticamente seu vizinho durante o tempo em que morei no bom e velho bairro do Bixiga, venho por esta tentar, de forma humilde e caótica, atender a seus apelos.