quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Crônicas Classificadas: 34) Um conto de Natal

Queridos (e raros) leitores:

Outro Natal chega. Como em todos os anos anteriores, é tempo de ir ao shopping gastar o 13º com artigos de primeira necessidade; é tempo de preparar aquela ceia pra um batalhão – e comê-la –, como se não houvesse amanhã ("mas se você parar pra pensar, na verdade não há"); é tempo de assistir a um novo especial do rei Roberto Carlos, a cada ano tão cheio de novidades; é tempo de beber até cair(!), afinal, não é todo dia que temos o privilégio de passar alguns dias sem ter de acordar cedo pra ir trabalhar (e isso merece, sim, comemoração); enfim, é tempo de, de roupa nova, revestirmo-nos de hipocrisia nova e desejarmos Feliz Natal a todas aquelas pessoas que simplesmente não suportamos (e que, provavelmente, amanhã voltaremos a não suportar), mas a quem hoje, repletos de espírito natalino, chamamos de irmãos.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 113) O homem e seu falo, digo, carro

O homem ia a pé atravessando o deserto de sua existência, até que um dia percebeu que podia subjugar alguns animais, e a partir daí sua vida nunca mais foi a mesma. Cavalos, burros, camelos, elefantes e mais uns tantos exemplares do reino animal, escravizados, passaram a gastar a vida levando em seu lombo esse outro animal esquisito que caminha sobre duas patas. A roda do tempo girou e a coisa foi se sofisticando, até chegarmos ao dia de hoje, que nos oferece uma gama de modelos de automóveis pra todos os gostos e/ou bolsos. Porém, se nos primórdios se tratava de necessidade, hoje esse novo animal de quatro patas que nos leva pra onde quisermos (desde que o embebedemos) há muito deixou de ser uma necessidade pra se transformar em sinônimo de status.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 14) Sylvio Caldas – O Silêncio do Cantor / Flamboyant

Muito bem, vamos com calma, que esta edição do Grafite na Agulha foi cheia de percalços – no sentido dificultoso da palavra. Pra chegarmos até aqui, houve muita pesquisa, muita dúvida, muita hesitação... Pra começo de conversa, meu querido e admirado Affonso Moraes, quando convidado por mim a escrever pra esta coluna, após alguns dias me respondeu negativamente, dizendo que havia pensado em escrever sobre um compacto (de 1953!), o que talvez destoasse das demais publicações etc. Eu, ao contrário do que talvez ele pudesse pensar, achei a ideia interessantíssima, pois aumentava o leque de possibilidades da coluna. Então, incentivei-o a não desistir.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Cançonetas (5) + Trinca de Copas (23): Álvaro Cueva (e Leonardo Costa), Marcio Policastro e Zebeto Corrêa

Meu camarada Vlado Lima (que me autorizou a tratar do assunto aqui) escreveu dia desses no facebook que havia sido convidado a fazer parte do júri de um concurso de sonetos, mas que declinara do convite porque o cachê não valia o aborrecimento de ter que perder seu escasso tempo analisando uma forma de poesia que não lhe agrada. Caí de paraquedas no assunto e comentei que o problema talvez não seja o soneto em si, mas a (hipotética) falta de ousadia dos novos sonetistas, que ainda se rendem ao tradicionalismo. A resposta de Vlado foi categórica: ele acha que a métrica do soneto limita a inspiração, e foi tão enfático, que chegou a acrescentar que nem sequer curte muito os sonetos sujos de Glauco Mattoso, o que pra mim foi uma surpresa, pois sempre achei a poesia de Vlado um tanto, digamos, mattosa.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 13) Krig-ha, bandolo!

É chegado o momento. Antes que alguém venha (por chatice ou só pra fazer graça) com o já famoso bordão "Toca Raul!", antecipamo-nos e tocamos. Claro, a ideia não foi minha, mas de Alexandre Lemos, que veio enriquecer este espaço com suas sempre tão bem colocadas palavras. Não à toa tem sido um dos letristas mais requisitados do momento. Isso sem falar que ainda se arvora em nobre melodista de letras alheias – e próprias. Não, não vou cair na tentação de citar outro bordão ("com todos menos comigo", rs), afinal, como já dizia mestre Raul, "tenho uma porção de coisas grandes pra conquistar e eu não posso ficar aí parado". Por ora, deixemos que ele nos conte como se deu seu encontro com a música do Maluco Beleza:

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Crônicas Desclassificadas: 112) A arte de virar o pescoço

Mirada y Risas by Juan Castro
A ideia desta crônica nasceu semana passada, e, em princípio, eu tinha a intenção de chamá-la Em homenagem à moça que ri, mas hoje, reparando em alguns ilustres pedestres que reparavam numa não menos ilustre moçoila que, inadvertidamente (e literalmente), parava o trânsito, resolvi ser mais abrangente no tema, sem, contudo, abandonar a tal moça que ria. Diria mais, um assunto complementa o outro. Comecemos pelo começo, que isso não é enredo de romance pós-moderno. Pois bem, caminhava eu semana passada pela avenida Paulista, quando me chamou a atenção a expressão de felicidade de uma moça. Aliás, deixem-me consertar: felicidade não seria a palavra mais apropriada; talvez pudesse usar alegria... Não, tampouco seria alegria. Esperem, que já encontro... Hmm... Ah, achei! Cumplicidade! É isso.

domingo, 1 de dezembro de 2013

Grafite na Agulha: 12) "Essas recordações me matam"

Minha ligação com Roberto Carlos já vem de antes de meu nascimento. Minha mãe costumava me contar que, quando estava prestes a me trazer a este mundinho de meu Deus, ainda lá no meio do nada, pra além das fronteiras dos cafundós, numa cidadezinha cearense de nome pomposo, Senador Pompeu, não poucas vezes chorou ouvindo Amada, Amante, canção com a qual embalava meus últimos dias de pré-rebento. Aliás, o disco que contém a supracitada canção (e também DetalhesComo Dois e DoisTraumasTodos Estão SurdosDebaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos, entre outras), intitulado simplesmente de Roberto Carlos (como a maioria dos discos do Rei), nasceu praticamente junto comigo, naqueles fins do ano da graça de 1971.